A Caçada escrita por Bia_C_Santos


Capítulo 20
Capítulo 20 - Três se perderam


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não me esqueci da minha fic :P
Pessoinhas, desculpem o meu atrasado. Ontem eu não tive tempo de entrar no computador, não pude postar o capítulo 20. Mas aqui está ele. E na próxima semana, segunda, vai ter o capítulo 21 sem atrasos (espero).
Então, podem ler agora. Narrado pela Kate. Espero que vocês gostem e desculpem os erros.



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Abri parte dos meus olhos. Era difícil. Eles pareciam estar grudados e a luz entrecortada, por mais que fosse pouca, queimava.

            Fechei-os de novo. Me sentia cansada, mesmo sabendo, de algum jeito, que eu estivera dormindo por bastante tempo. Mas meus membros doíam. Minha cabeça latejava.

            Afinal, como eu peguei no sono? Eu não me lembrava de ter deitado em uma cama ou mesmo no chão para dormir. Será que eu tinha caído? Bom, isso explicaria porque minha cabeça estava doendo. Mas como?

            Forcei minha mente a lembrar de todos os últimos detalhes. Eles pareciam ter fugido. Meu cérebro parecia estar voltado no tempo, mas ao mesmo tempo eu não conseguia distinguir nada.

            Até que eu me lembrei de alguma coisa. A imagem não estava nítida. Ah, vamos lá... Ei podia lembrar mais um pouco...

            Então uma mulher apareceu. Ela era linda. Eu tinha certeza que era Afrodite. O modo que ela incorporava exatamente como eu queria me parecer... Sim, aquela era a deusa da beleza.

            Seus cabelos eram castanhos da cor do chocolate. Em cima era liso, mas acabava em cascatas de perfeitos cachos que pareciam efeito de babyliss. Os seus olhos eram uma espécie de verde-água. E sua pele então? Igual a deu um bebê. Eu tinha certeza de que, se eu a tocasse, seria tão macia quanto veludo. O nariz fino, a boca cheia. Suas feições eram delicadas e bondosas.

            Eu não conseguia lembrar o que ela dizia. Algo sobre sentir muito pelas nossas perdas. Que deveria ser realmente doloroso e que ela ia nos ajudar. Seria isso?

            Mas que perda?

            De qualquer forma, aquilo fora um sonho e não me ajudava de nada para saber como eu tinha dormido. Então, forcei minha mente a trabalhar mais.

            Dessa vez, meu cérebro pareceu funcionar. Voltei mais no tempo do que eu queria. Eu vi Lana novamente muito pior do que eu estava. Parecia simplesmente que ela não respirava.

            Ela pediu que saíssemos de lá. Eu mesma já estava bem mal. Não havia mais ar puro lá dentro, só fumaça. Mas eu resistia o máximo que eu podia.

            Concordei com ela e, depois de jogar uma última lata de pêssegos em calda na Hidra, me virei e comecei a correr. Logo ouvi passos atrás de mim. O que era bom, já que eu não tinha chamado ninguém.

            Continuei correndo, os outros me seguindo. Em um momento, passei por Oliver. Não ouvi nenhuma música, e ele não parecia estar tocando sua flauta, o que, rezei, significava que todas as pessoas já tinham saído dali.

            Ou então que Oliver não tinha conseguido tirar as pessoas de lá, e só nós sairíamos vivos.

            Mas, não, isso será impossível, não? Ouviríamos pessoas gritando por ajuda lá dentro, berros e choros. Elas não passariam despercebidas.

            Se bem que os barulhos do fogo e da Hidra não me deixariam prestar a atenção em outras coisas, e até mesmo nas pessoas.

            “Por favor, que todas tenham saído com vida de lá”, pensei. Eu não queria ser culpada da morte de mais de vinte pessoas que eu nunca tinha visto a cara.

            Mas o que será que aquelas pessoas viram, afinal? A névoa não permitia que eles vissem um monstro com sete cabeças, não é? Então, o que será que eles viram que os deixaram tão assustados?

            “Não importa”, falei para mim mesma, “concentre-se em se lembrar de tudo”.

            Recomecei de onde tinha parado. Então, eu estava correndo, tentando ser rápida. Agora que eu saíra de lá de dentro, via que o fogo não demoraria a atingir o posto de gasolina e explodir tudo por perto.

            Eu continuei correndo e já estava praticamente chegando na floresta, quando eu ouvi a explosão. Por sorte, ela não chegara até ali.

            E depois... Nada.

            Minha mente parou. Que impossível! Não podia simplesmente para ali. Não fazia sentido. Então, do nada, tudo tinha escurecido?

            “Talvez eu desmaiei”, conclui, “por falta de ar. Ou algo me atingiu. Explica porque minha cabeça está latejando”.

            Bom, agora que estava tudo resolvido, eu podia finalmente abrir os olhos. Não que eu desejasse isso. Mas acho que já estava mais que nada hora de andar naquela floresta.

            Então, os abri. Meus olhos queimaram. Eu não podia ver nada a não ser a não ser a luz. Porém, não fechei os olhos. Depois de algum tempo, eles se acostumaram com a claridade.

            Era como se eu estivesse em uma pequena clareira. Eu via as folhas das árvores acima de mim, e, bem no meio, havia uma pequena abertura, por onde entrava a luz.

            Ergui os braços para leva-los aos olhos e limpá-los, mas acabei fazendo duas observações antes disso: primeiro, meus braços doíam; segundo: minhas unhas estavam limpas.

            Estranho. Fazia algum tempinho que minhas unhas não ficavam limpas daquele jeito.

            Limpei os olhos, mesmo assim. Eu já ia tentar me sentar, quando alguém entrou no meu campo de visão, interrompendo a claridade.

            — Você acordou — James disse.

            Ele tinha um sorriso torto nos lábios. Mas, eu não sei. Não parecia natural. Não havia contraste com os sentimentos mostrados nos seus olhos, que seria... O que? Pena?

            Apenas assenti e sentei. Eu estava muito dolorida. Dormir no chão não era exatamente confortável. Olhei ao redor. Parecia mesmo uma pequena clareira, meio vazia. Era, claro, bem maior que o buraco entre os galhos das árvores. E a grama não estava tão alta.

            Oliver estava sentado por ali. Era estranho, mas ele não me olhava. Parecia que ignorava o fato de eu estar ali. Deixava seu olhar fixo na sua flauta, em suas mãos.

            — Que horas são? — perguntei.

            — Ainda são seis e meia — James respondeu, olhando no relógio. — Não imaginei que você dormiria mais que 10 horas mesmo.

            — Mas eu dormi bastante — comentei. Só por precaução, perguntei, depois. — O que aconteceu depois da explosão?

            — Você desmaiou — James disse. — Talvez por falta de ar. E então dormiu. Eu e Oliver dividimos dois turnos de vigias. Mas eu acabei cochilando por meia hora e, quando acordei, estávamos assim.

            Eu estava prestes a perguntar “assim como?”, quando eu entendi. James devia estar usando uma camiseta sem uma manga, roupa suja e calça jeans, além de estar desarrumado. Mas ele usava bermuda, camiseta gola polo vermelha e parecia ter saído de um banho.

            Direcionei-me para Oliver. Ele estava sem calças, deixando suas pernas de bode a mostra, o que o ajudaria na hora de andar pela floresta. Usava uma camisa azul bebê, com a manga dobrada no cotovelo, o que, incrivelmente, combinou com ele.

            E então, olhei minhas roupas. Calça legging preta e uma camiseta absolutamente fofa rosa clara. Era bem soltinha e ia até metade das minhas coxas, com um bolsinho do lado direito, além de um tênis roxo All Star.

            Perfeito. Ou seja, Afrodite.

            Foi aí que eu percebi por que a clareira parecia meio vazia.

            — Onde está Lana, Mary e Phoebe? — perguntei. Elas não estavam em nenhum lugar por ali. Talvez tivessem ido vasculhar o local.

            James abriu a boca imediatamente, como se tivesse uma resposta automática para aquela pergunta. Mas nada saiu. Ele só ficou com a boca aberta, como se não pudesse falar.

            Até que Oliver respondeu por ale:

            — Três se perderam.

            De início, eu não me lembrei da profecia.  Fazia tanto tempo, parecia, que eu não entendi o que Oliver disse. Então, minha reação foi perguntar:

            — O que?

            Então, foi a vez de James falar:

            — Assim que você desmaiou, Kate, nós nos viramos para te arrastar. Não a vimos caindo, só ouvimos. E quando nos viramos... Elas simplesmente não estavam lá.

            E eu entendi. E não entendi ao mesmo tempo.

            — Mas elas estavam logo atrás de nós! — falei, com os olhos ficando embaçados. Não podia ser verdade. Não podia.

            — Eu sei. — James parecia cansado. — Mas algo deve ter acontecido, porque quando nós vimos, elas não estavam lá.

            Eu apenas fiquei olhando a cara dos dois. Fiquei esperando que eles gritassem que era brincadeira e Phoebe, Mary e Lana saíssem de trás das árvores rindo com a minha reação.

            Mas... Nada.

            Não era verdade. Não podia ser. Era para ser eu. Eu e somente eu. É, eu não estava preparada para a morte, mas eu estava muito menos preparada para perder alguém que eu amava.

            Era a minha irmã...

            Era minha culpa. Ei devia estar olhando para trás, conferindo se as três estavam nos seguindo. Afinal, eu era uma das “líderes” daquela missão. Era meu dever.

            As lágrimas se ajuntavam nos meus olhos. Como eu deixei isso acontecer? Logo eu, que era tão cuidadosa com os detalhes.

            Os pensamentos se embaralhavam na minha mente. Ao mesmo tempo em que eu lamentava pela perda das três, eu gritava comigo mesma por ser tão estúpida.

            Como eu não vi? E agora nós tínhamos perdido três ótimas garotas. Eu tinha sido tão estúpida! E eu perdi minha irmã, minha única família...

            Eu simplesmente explodi em lágrimas. Um choro auto, que podia chamar os monstros em um raio de um quilômetro. Eu não consegui guardar aquilo dentro de mim. Os soluços começaram um pouco depois.

            Nem Oliver nem James pediram para eu parar, nem porque era desconfortável, nem porque era perigoso. Eles me deram “privacidade”. Ficaram no outro canto da clareira.

            O tempo passava, mas eu não sentia. Eu poderia continuar assim por anos, só não para sempre porque eu não tinha a eternidade.

            Quanto tempo se passara? Minutos? Horas? Eu não fazia ideia. Mas foi pouco tempo considerado o quanto eu sofria.

            Quando cai em mim, vi que não estava mais sentada chorando. Estava deitada, na posição de um feto, me abraçando. Eu ainda chorava, mas eram lágrimas silenciosas. Os gritos e soluços tinham passado. Eu só chorava como se estivesse na minha cama e Lana na cama ao lado.

            James estava ajoelhado ao meu lado. Tirou uma mecha de cabelo da frente dos meus olhos e pôs atrás da minha orelha, de forma que eu pude vê-lo inteiro.

            Ele estava com pena. Talvez estivesse também triste por causa da morte das três. Tudo bem, não conversávamos muito com Mary e Phoebe, e James não falava com Lana. Mas éramos todos semideuses. E doía ver os outros morrendo.

            — Kate — ele disse, gentilmente —, eu sei que deve ser difícil para você. E nós sentimos muito. Mesmo. Mas precisamos ir. Precisamos salvar as Caçadoras.

            Sentei e assenti. Passei as mãos pelo meu rosto. Ele devia estar inchado e meus olhos deviam estar vermelhos. Fazia horas que eu estava chorando, percebi. O sol estava bem mais forte.

            Agora que minhas lágrimas estavam se acabando, eu percebia que minha boca estava seca e minha barriga doía de fome. Lembrei que tínhamos ido ao supermercado, mas não conseguimos comprar nada.

            — Acabou que não conseguimos pegar nada para comer e beber, não é? — falei.

            — Ah — Oliver pegou três mochilas do seu lado. — James conseguiu roubar algumas coisas para nós. Tem dois pacotes de bolacha doce, dois pacote de salgadinhos, daquele grande, duas barras de chocolate, dois pacotes de bolinhas, e... pêssegos em calda?

            — Era a coisa mais fácil de pegar naquela hora — explicou. — Tem duas em cada mochila. O único problema é que eu só consegui salvar duas garrafas de água para cada um de nós, o que é bem pouco.

            Eu não me importava. Para quê? Não me importava com mais nada. Minha irmã tinha morrido. Não havia razão de eu me importar com qualquer outra coisa.

            — Tudo bem — respondi. — Vamos dar um jeito. Talvez nem vamos demorar muito. A profecia dizia que algo ia nos guiar. Mas acho melhores comermos e bebermos um pouco antes.

            Os dois concordaram. Cada um de nós pegou um pacote de bolacha dentro da bolsa. Comemos apenas metade do pacote, mesmo estando com muita fome, já que não sabíamos se nosso guia ia demorar. Completamos com uma das barras de chocolate, que logo derreteria.

            O mesmo foi com a água. Tomamos apenas o suficiente  para matar a nossa sede e tirar toda cesura da boca.

            Assim que o fizemos, nos levantamos e começamos a caminhar. Nenhum de nós dizia coisa alguma, o que não era bom para mim. Isso fazia com que eu pensasse sobre tudo cada vez mais, o que consequentemente fazia meus olhos encher de lágrimas e eu acabava tropeçando.

            James dizia que não lembrava muito bem onde a Wolf Mine ficava, mas sabia mais ou menos a direção. Ele também dizia que talvez houvesse uma espécie de trilha por ali que nos levaria até a mina.

            Mas para mim, era apenas como se nós estivéssemos perdidos no meio do mato. Não parecia que estávamos seguindo um caminho. Algumas vezes James parava e pensava em voz alta para onde deveríamos ir. Então, mudávamos de direção.

            Alguns trechos eram realmente difíceis. Ou as plantas estavam muito altas, ou havia muitos galhos que nos atrapalhavam. Eu geralmente gostava desses lugares. Fazia com que os pensamentos sobre Phoebe, Mary e Lana ficassem mais longe.

            É claro que era inevitável. Ainda mais com aquele silêncio. Por mais que eu tivesse parado de chorar a ponto de não poder andar, várias lágrimas caíam durante o percurso. Era como se, toda vez que eu pensava “como eu pude?”, uma delas caía.

            Ficamos andando até ficar escuro. James ia à frente, sempre avisando quando tinha um galho no caminho, ou coisa do tipo. Mas, na quinta vez que eu caí, resolvemos que era hora de parar.

            Comemos um pouco, terminando os pacotes de bolacha. Bebemos água também, mas tive cuidado de deixar o que restava ainda na metade.

            Concordamos que por mais que fosse desconfortável, era melhor dormir nas árvores. Elas tinham largos e espessos troncos e era o suficiente para nos segurar. Oliver ia ficar vigiando embaixo de onde estávamos.

            Escalar uma árvore fora realmente difícil, mas eu acabei chegando ao topo, em um tronco. Sentei e procurei por uma posição mais confortável. Era impossível. Desisti.

            Eu não conseguia dormir. Tudo bem que eu tinha dormido bastante na outra noite, mas eu também estava bastante cansada depois de caminhar tudo aquilo.

            Me contentei então em apenas ficar chorando o mais silenciosamente o possível, olhando para o céu, ou pelo menos o que eu podia ver do céu.

            Meia hora depois eu ouvi Oliver me chamando.

            — O que? — perguntei, com a voz meio embargada.

            — Eu sinto muito por Lana — Oliver respondeu. Sua voz dizia que ele realmente sentia. — Eu também conheci bastante ela. E, por mais que às ela parecia um pouco chata, ela era uma boa pessoa.

            Não respondi nada. O que eu podia responder? Aquilo só me fazia ter vontade de chorar mais.

            — Mas chorar não vai adiantar muito — ele continuou —, não vai trazer ela, nem Phoebe, nem Mary de volta. — Oliver não dizia isso como se quisesse me machucar. Ele só falava gentilmente.

            Não chorar seria muito difícil. Mas Oliver estava certo. Não iria trazê-las de volta. E eu não tinha certeza se Lana    ia querer que eu ficasse chorando por dias após a sua morte.

            Morte. Era uma palavra terrível. Era tão real. E era a primeira vez que eu estava aceitando essa verdade.

            Lana estava morta.

            Não só ela, mas duas garotas maravilhosas que ainda tinham a eternidade para viver.

            Isso era tão injusto.

            — Por isso eu acho — Oliver me tirou dos meus pensamentos — que e melhor você dormir. Até porque, algumas de suas lágrimas estão caindo em mim.

            Soltei um pequeno riso. Era um som estranho. E então disse:

            — Me desculpe. Vou dormir.

            Fechei os olhos. Era mais fácil daquele jeito. Com o tempo, ouvi uma melodia. Eu a conhecia, Oliver já devia ter tocado. Talvez ele estivesse treinando...

            Demorou um pouco, mas acabei pegando no sono.

           

Oliver nos acordou cedo no outro dia. Ele disse que não era muito bom demorar muito, então às 7 da manhã estávamos acordados.

            Era horrível não poder escovar os dentes ou lavar o rosto. Minhas mãos estavam incrivelmente limpas, pelo menos, o que devia ser uma coisa de Afrodite. Isso significava que eu podia comer em segurança.

            Eu não era a única. James e Oliver também estavam limpos. Na verdade, Afrodite devia estar mesmo nos ajudando de um jeito. Eu nem estava com vontade de ir ao banheiro.

            Comemos e bebemos um pouco. Resolvemos abrir um pacote de salgadinhos. James tinha felizmente pegado daqueles pacotes enormes e acabou que no fim nem comemos um inteiro.

            Aquele dia fora mais monótono. Não trocamos nem uma palavra. Não havia nada para falar. De qualquer forma, estávamos cansados demais. Uma noite de sono não fora o suficiente.

            Acabou que o sol nem tinha se posto quando resolvemos parar. Era quase sete da noite, mas nós não aguentávamos mais. Tínhamos que restaurar as nossas forças.

            Além disso, nessa hora tínhamos achado uma clareira. Seria mais confortável ficar ali no chão do que em uma árvore de novo. Então, não íamos deixar essa oportunidade passar.

            Acabávamos de comer e eu pensava como era estranho que nenhum monstro não tinha nos atacado ainda. Era estranho mesmo. Afinal, devia ter montes deles ali. Assim que as Caçadoras foram pegar, não?

            Claro que elas estavam em maior número e uma deusa as acompanhava, o que facilitava o rastreamento. Mas não era difícil nos achar.

            E foi aí que apareceu.

            Ficamos em pé imediatamente. Entre as árvores, saía uma mulher. Na verdade, ela parecia mais ter a nossa idade. Ela era linda. Tinha cabelos loiros encrespados, olhos verdes e uma pele bem clara, como de uma pessoa alemã. Seus lábios eram tão vermelhos quanto sangue.

            Ela usava um vestido bem cuidado, mesmo com as circunstâncias. Mas ele parecia intacto. Tinha um decote exageradamente grande, mas pelo menos não era curto. Sua saia ia até o joelho.

            Imaginei como ela conseguia. Eu, mesmo tendo isso de filha de Afrodite e estando limpa, não estava com minhas roupas limpas. Minha legging mesmo estava um pouco rasgada das vezes que ela enrocava em galhos.

            — Olá, garotos. — Sua voz era suave, como se ela estivesse querendo acalmar alguém. — Não sabem como é perigoso ficarem sozinhos aqui?

            Eu não sabia o porquê, mas tinha a impressão que ela estava mesmo falando com os garotos. Como se eu não estivesse ali.

            Olhei para os dois. Eles pareciam hipnotizados. E isso não era bom.

            — Não precisam de ajuda?

            Não era normal aquilo. Por mais que ela parecesse normal. Devia ser a névoa em ação. Forcei meus olhos a ver. E eu vi.

            Uma de suas pernas era totalmente peluda. Não como se ela não raspasse, mas como a pernas de um animal. Como a perna de um burro. E tinha cacos. E a outra... Parecia de um metal, bronze.

            O que era aquilo?

— Vocês dois — tentei falar, mas minha voz estava meio fraca depois de um dia inteiro sem falar. E minha boca estava seca. — Acordem.

A garota olhou para mim.

— Apenas ignorem a garota. Não gostariam de vir comigo?

— Eu... — James começou, mas deixou a palavra pendendo no ar.

— James... — sussurrei. Estava tão fraca. Era como se tudo que passara nos últimos dias estivesse caindo sobre mim. A morta de Lana e das Caçadoras, o cansaço de ficar naquela floresta, as vezes em que eu caí, tudo, como pedras me soterrando.

— Venham comigo.

— James, olhe para mim.

— Cale a boca, garota — aquela coisa disse. — Você é um nada. Nada. Eu só vou terminar com seus dois amiguinhos e depois daremos um jeito em você.

Ela deu um passo. Pude ver suas garras onde deveria estar as suas mãos. Sua pele tinha ficado ainda mais clara e seus olhos tinham mudado para um vermelho.

Como uma vampira.

A raiva se apoderou de mim. Não, eu não ia aguentar mais. Minha irmã estava morta e mais duas amigas minhas e, se aquela coisa achava que podia chegar ali, me chamar de nada e tirar dois amigos meus, bom, ela estava muito enganada.

Tirei meu colar, esperando minha espada, mas obtive um chicote. Eu já tinha visto algumas filhas de Afrodite usando aquilo, mas eu não fazia ideia de como usá-lo.

Não havia tempo para pensar naquilo. Um grito saiu da minha garganta, furioso, ao mesmo tempo em que eu descrevia um movimento vertical com o chicote.

E a coisa desintegrou.

James e Oliver acordaram do transe. Olharam para mim, em silêncio. Eu também estava muito surpresa. Como eu tinha feito aquela coisa?

            Quando eu ia perguntar isso em voz alta, ouvimos um barulho entre as árvores. Devia ter mais daquela coisa por ali. E meu grito não deve ter ajudado.

            Mas nada saiu das árvores.

            Com o chicote preparado, dei passos em direção ao som, um pouco hesitante. Dentro, como todas as árvores, tudo estava escuro. Eu não podia ver nada. Então fui obrigada a penetrar a floresta.

            E foi como se eu estivesse olhando para um espelho.


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Notas finais do capítulo

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