Ela caiu, batendo a cabeça no chão. Era aula de educação física e todas as crianças corriam, felizes e entretidas. Alexandra, ou simplesmente Alex, se levantou e limpou-se, sem vontade alguma de votar a jogar. Seu professor a chamou, mas ela ignorou, fechando os braços em torno de sua cintura. Sentou-se no balanço da escola e ficou lá, sentada e observando calmamente o movimento dos colegas. Por alguma razãoela não se sentia feliz ali - era como se estivesse destinada à algum feito mais grandioso. Estava nublado hoje, como sempre era ali. Fazia um pouco de frio (o que já era habitual, pelo menos no inverno), mas ela apenas esfregou os braços tentando se esquentar. Se bem que ela já havia se acostumado com o frio de Porto Alegre, e gostava disso. Lembrava-se bem das viagens de férias que fez com sua família à Rússia, mesmo que nesse país fosse bem mais frio. Estava tudo tão calmo e tão tranquilo que ela apenas desejou estar lá agora e sentir todos os seus temores desvanecerem. Mas tudo o que ela podia fazer agora era esperar os minutos passarem. Sua ansiedade aumentava, pois sua vontade maior era voltar para casa e apenas descansar um pouco. Ouviu-se um movimento de carros o que indicou que a aula já acabara. Correu, antes pegando suas coisas e indo à direção ao carro de seus tutores. Era estranho nunca ter ouvido falar de seus pais verdadeiros e até mesmo nunca os ter conhecido, mas ela sentia que um dia iria conhecê-los. Disso ela estava convicta.Se bem que por mais que tentassem, era impossível esconder a verdade dela. Ao entrar no carro, eles apenas perguntaram como tinha sido o seu dia e ela apenas respondeu que havia sido bom. Vivia apena com um casal que era bastante rico e seu filho único de quinze anos. Depois disso ficaram em silêncio até chegarem em casa. Alex entrou em seu quarto, jogou a mochila no chão e deitou-se em sua cama adormecendo em seguida. Minutos depois bateram na porta, mas ela apenas ignorou colocando o travesseiro em sua cabeça. A batida continuou até que a porta foi aberta.Ela já sabia que era David, o filho do casal, chamando-a para almoçar. Mas ao olhar a hora no relógio percebeu que era cedo demais para isso. E o que estaria acontecendo então? - Visita para você. - ele dise, como se estivesse lendo sua mente. Mas estava longe de ser isso. Reclamou ao sair da cama mas ainda assim o acompanhou até a sala. Como sempre, a mobília estava em seus devidos locais. A parede que possuía a mesma cor esbranquiçada em todos os cômodos estava um pouco velha e acabada. Mesmo com todos os sofás quentes e confortável aquelas pessoas insistiam em permanecer em pé. Ela não se importava muito com isso. Apenas gostaria de voltar para o seu quarto e dormir, mas não era o que aconteceria. Pela primeira vez notou quem seria a tal visita. Nunca havia o visto antes, mas aquele rosto lhe era familiar. Estava parado como uma estátua, suas expressões frias e vazias.Era um homem alto, careca e cuja pele tinha a cor chocolate. Ele vestia uma calça caqui e um smoking da mesma cor , e usava um cachecol vermelho em volta de seus ombros. Os três se perguntavam se isso seria uma uma brincadeira de mau gosto - porém a expressão daquele homem provava justamente o contrário. - Esse homem veio vê-la, alex querida. Creio que saiba quem ele é. - disse a mulher, a senhora chamada Rosa. -Ah não. - a menina respondeu, sentando-se completamente aturdida. - Deixe-me apresentar. - disse ele, sua voz fria como gelo e cortante como o vidro. - O meu nome não interessa no momento, mas eu sou o Sacerdote Econômico da Família Imperial de Battleon. E sob ordens de nosso mundo eu vim levá-la para sua cidade natal. Hum, finalmente seu dia havia chegado, ela pensou. Não se lembrava bem de terem falado de um lugar chamado Battleon, mas tudo bem. Ou se falaram, ela não se lembrava disso no momento. Tudo o que ela sabia era que o que ele falava era a pura verdade. - Se você diz... qualquer coisa é melhor do que esse lugar. - ela se voltou para a famíla, que a olhava os olhos arregalados. - Não me levem a mal, vocês são boas pessoas. Mas esse não é o meu lugar. - olhou novamente para o Sacerdote. - Quando vamos? - Imediatamente. Antes de irmos à Battleon faremos uma parada em um lugar. Tenho que buscar a minha...parceira. -Ótimo, e as minhas coisas? - ela sentiu seu estomago contrair e depois relaxar. Ele estalou os dedos antes de responder.Os outros três individuos naquela sala apenas observavam, querendo que fossem embora logo. E não eram os únicos. - Já estão em Battleon. Agora vamos estamos atrasados. Ela deu uma última olhada em seus tutores, antes de se despedir. - Eu sei que vocês não iram sentir a minha falta, e nem adianta dizer o contrário. Só quero que saibam que o tempo que passei aqui foi único e obrigado por cuidarem de mim. Foi bom ter conhecido-os, mas agora vou ver os meus pais verdadeiros. Deu uma última olhada neles e saiu de casa. O Sacerdote já esperava por ela do lado de fora. Ela percebeu que de frente a ele via-se um feixe retangular do tamanho de um espelho grande, constituído de uma luz cor negra. Era o Portal. O Sacerdote ergueu o braço e ela segurou, ambos indo em direção ao Portal. Ao atravesá-lo ela sentiu o ar perfumado, um cheiro de lavanda caloroso e pueril invadir-lhe os cabelos. Uma sensação de paz e calmaria preencheu o seu corpo externamente - mas, por dentro, o seu corpo se sentia comprimido e com medo. Fechou os olhos como se isso pudesse resolver.Só os abriu quando sentiu que havia chegado, o que não demorou muito para acontecer.