Eis que o dia se iniciou com uma tranquilidade habitual. Era por volta das seis da manhã quando Alexia acordou. Mesmo que sua vontade fosse a de continuar dormindo, ela se levantou e foi para a saleta de estar. Sua tutora, Eleanor, já havia se levantado e estava cuidando dos afazeres domésticos. Quando viu que a menina acordara  apenas sorriu para ela e voltou ao que estava fazendo. A cabeça da garota doía um pouco, mas ela ignorou.  Havia preocupação que estava consumindo-a por completo.

Seu aniversário de nove anos se aproximava e logo teria de abandonar Malta. Mas era a lei em Battleon e não se pode desonrar uma lei - principalmente uma de sua terra natal – ainda mais para ela, tão fundamental nessa grandiosa cidade.

Battleon é apenas uma das maiores cidades-estado de todo o Mundo Mágico. É claro que as pessoas conhecem esse mundo, mas parecem ignorar a sua existência, o que, para os nativos de lá é um alívio e chega a ser um problema a menos para estes. Tem-se três grandiosas estados-países nesse mundo:  Lorosia,o país das navegações; Athenas/Minerva, a terra do conhecimento; e a maior e mais magnífica de todas: Fairy Tail, a terra  da inspiração e do romance. Esta última por ser a mais consagrada de todas, até se tornou um anime no mundo em que ela até então vivia. Não que ela soubesse disso, logicamente.

Dizia a lei que toda criança especial ficaria aos cuidados de uma família escolhida pelos Sacerdotes ou Sacerdotisas, pelo menos até durante os primeiros  nove anos de idade, sendo que essa é apenas uma média, já que toda regra tem a sua exceção.

Ela saberia que, quando chegasse o seu nono aniversário alguém de Battleon viria em sua casa e a levaria para sua cidade natal, caso ela aceitasse ir. Mas ela era uma exceção e teria de ir, querendo ou não.

Tentou acalmar-se enquanto tomava um banho, antes de ir para a escola. Ao sair do banheiro sentindo um pouco de frio pós banho. Entrou em seu quarto e vestiu o uniforme escolar. Sentou-se no sofá de sua, digamos, casa e esperou que Eleanor trouxesse o seu café da manhã já pronto. Enquanto esperava, aproveitou para assistir à um episódio do Bob esponja que passava na televisão, penteando seus cabelos até então molhados.

Chegava a ser engraçada a cor dos cabelos da garota. Era de um roxo mas não em um tom chamativo ou escuro demais. Além de ser longo e um pouco ondulado sua cor era exatamente violeta. Algumas meninas de sua escola até chamavam-na de Violeta, mas isso ela nunca se importou muito. Deveria ser apenas inveja ou ciúme idiota vindo de garotas de nove anos – mas ela nunca se importou com isso também.

Eleanor chegou trazendo  sanduiches de queijo e suco de laranja. Uma curiosidade da maioria das pessoas mágicas: estes nunca comem carne. Não é por frescura ou até mesmo por opção deles, mas sim uma necessidade de seu próprio corpo. Já era um sacrilégio matar um animal no Mundo Mágico do que dirá se alimentar deles! É claro que essa é apenas mais uma pessoa com dotes mágicos.

Ela sabia que sua tutora também não come carne, mas ela não tem poder algum – ou se tem ela não o usa, e muito menos chegou a mencionar algo do tipo. Isso é apenas uma das coisas em que ela gostaria de compreender, mas nunca tinha tido oportunidade ou até  mesmo coragem para perguntar. Mas já sabia que só teria suas dúvidas eliminadas quando chegasse em Battleon, o que só aumentou sua -curiosidade.

- Pode me falar mais sobre Battleon? – ela perguntou. Eleanor tenta disfarçar enquanto bebe um pouco de suco e meche em seu cabelo vermelho.

- Eu não tenho permissão para falar sobre isso, você sabe.

A garota franziu o cenho. Nunca tinha ouvido falar sobre isso e caso fosse verdade seria uma explicação e tanto.

- Por favor, isso é importante para mim. – sua voz saiu em um tom pueril e até um tanto...seduzente. Ela colocou sua mão sob a mão da outra e usou os olhos para persuadi-la com uma piscadela de olhos que sempre funcionava. – Sabe que estou prestes a ir embora em semanas e pouco sei sobre lá. Pode ser a sua versão sobre qualquer outro lugar que tenha estado, mas conte-me algo, por favor.

- Está bem. – respondeu, em protesto. – Não posso falar sobre Battleon, sua família ou qualquer coisa relacionado  a isso, mas não me falaram nada sobre eu poder ou não falar algo de minha história.

Alexia se aproximou mais da mulher, ignorando seu sanduiche. Eleanor fez um sinal com a cabeça indicando para a garota tocar em sua comida até então  intocada. Ela disfarçou dando uma mordida no sanduiche e encarou-a.

- Eu sou de Fairy Tail, da capital que é Fairy Tale. Não nasci lá e nem posso mencionar aonde nasci, mas, isso não chega a ser importante no momento. O que, especificamente, você gostaria de saber?

A menina se aprumou no sofá vendo que sua oportunidade de ouro chegara. Sendo que não poderia questionar nada relacionado a si mesma, o que iria perguntar? Decidiu saber mais sobre a cidade da mulher – isso era, de longe, o melhor que conseguiria obter de informação.

-  Como é a sua cidade?  - Eleanor riu, surpresa.

- É uma cidade magnífica, eu diria. Você já deve  ter visto imagens de Paris e de algumas cidades japonesas, eu creio. Assim é Fairy Tale, de acordo com minhas próprias definições. Eu não tinha muita importância por lá então me mandaram para cá. Creio que as escolas de Battleon devem levar seus alunos, mas não posso te garantir de mais nada. E isso é tudo.

Fim de papo, isso ela compreendeu. Faltava alguns minutos para ir à escola e por isso decidiu terminar o seu café da manhã assistindo a um desenho que passava na televisão.  Mas sua mente estava distante dali. Tentou encaixar as últimas informações de modo que fizessem algum sentido, obtendo nenhum resultado. Era tudo tão vago e estranho que decidiu deixar para lá. Terminou de comer e se despediu de Eleanor, em seguida indo para a escola.