Eu estava no ônibus indo para a casa da Mel com ela. Karen me pediu que eu fosse para ver as músicas que ela tinha feito. Ela compõe e canta muito bem. A Mel também canta. Pensando nisso, parece que quase todo mundo ao meu redor tem alguma ligação com a música.

Acho que é porque você acaba atraindo sem querer as pessoas que tem o mesmo gosto e interesses que você.         

O dia na escola foi bem engraçado. Até os professores estavam falando da briga de ontem. Toda a escola ficou sabendo o que aconteceu, e saiu no jornal da escola. Que mico! Mas eu estava muito feliz hoje para me importar com isso. A minha mudança de humor estava freqüente essa semana. Ontem eu estava muito triste e hoje estava parecendo um burro quando acha um campo grande de grama bem verde. Estranha.             

  Demoramos cinco minutos no ônibus, com um velho se insinuando para a Mel. Tudo que eu conseguia fazer era rir e Mel já estava irritada com o elemento. Quando íamos descer ele chegou perto dela, mas ela nem o deixou falar, foi logo gritando:           

    _Seu Senhor, porque o senhor não procura um caixão e se enterra? Quem gosta de velho é passado e mulheres que querem matá-los para ficar com o dinheiro. Espero sinceramente que o senhor encontre uma! - O velho só ficou com a boca aberta enquanto descíamos do ônibus. Eu não conseguia parar de rir a até o motorista do ônibus riu também.             

  _Já vi que você ta com cara de asilo hein Mel?- Falei para ela. Ela jogou o longo cabelo para trás e começou a desfilar no meio da rua.                _ATÉ PARECE! Não enche branquela. - Disse ela desfilando.

Um garoto que olhava pela janela de um prédio assobiou e quase caiu de lá quando ela passou.                

E finalmente, chegamos na casa da Mel. A casa dela é grande e bem moderna, ao contrário da minha, que é bem clássica por causa da minha mãe. Tem várias cores e móveis tipos 'adolescentes', por causa da mãe dela, Teresa, que parece mais ser irmã dela do que mãe. Karen nos ouviu chegar e foi logo gritando meu nome. Percebi que ela estava no quarto da Mel.

A relação das duas é bem estável, elas nunca brigam por nada sério, apenas por besteiras, o que não se pode chamar de briga. Deve ser porque elas também não são lá tão maduras e nunca falam de nada sério. Eu também sou assim, na verdade acho que todos os meus amigos são. Deve ser por isso que gosto deles, porque eles sabem realmente curtir a vida mesmo em situações difíceis.               

 Fui em direção ao quarto da Mel enquanto ela foi beber água, ainda desfilando.           

    _Belinda, já terminou o tapete vermelho. - Chamei-a pelo seu nome. Ela não gosta muito que a chamem de Belinda, apenas Mel, que é um apelido que ela tem desde pequena, porque uma vez foi pega aos 5 anos com um pote de mel na mão e toda lambuzada. Só a mãe dela a chamava assim quando queria irritá-la.         

      _Não se encontra no momento, portanto deixe seu recado após o bipe. BIIIIPE. - Falou ela com voz de secretária eletrônica. Eu balancei a cabeça, pensando em onde que fui arranjar uma amiga assim. Entrei no quarto.               

O quarto da Mel é bem maluco, com uma decoração lilás e preta e várias coisas espalhadas pelo quarto, entre essas coisas as roupas dela. Em todas as paredes há pôsteres da Nexus e do Rodrigo. Não há um buraco sem um pôster. Tem um armário bege no canto da parede e o computador do lado, e a cama no centro, da mesma cor do armário.

Karen estava Jogando GTA no computador, mas quando me viu fechou o jogo e começou a pular e ficar louca, dizendo para mim a ajudar com as músicas dela.           

     Nós almoçamos e depois fomos ver as músicas da Karen. Geralmente as músicas dela são bem de revolta, mas eu gosto. Ajudei ela com o ritmo e fizemos 5 músicas que ficaram o máximo. Depois fomos assistir a um filme. Mel escolheu Piratas do Caribe, por causa da paixão da Karen por Johnny Depp. Quando acabou o filme, fomos para o quarto da Mel e conversamos muitas bobagens, e Karen só falava o quanto estava gorda. Ela tem complexo de gordura, apesar de ser magra.  

     Mais ou menos 7h, minha mãe veio me buscar então eu fui embora.                 

Assim que cheguei em casa, tomei um banho e fui procurar minha camisola roxa pra dormir. Eu estava com muito sono ultimamente. Procurei a camisola no meu armário, mas não encontrei. Minha mãe.                 _MÃAAAAAAAAANHÊ! Cadê minha camisola roxa?! ta fazendo calor e ela é a mais confortável pra dormir no calor!                 

_Está na roupa suja. Você deixou jogada no meio do quarto, e você sabe que hoje é dia de lavar roupa! – Falou ela da cozinha. Como só morávamos eu e ela em casa, ela lava roupa só nas quartas feiras, ou seja, hoje. E como eu sou muito organizada, deixo minha roupa jogada pelo quarto, porque depois ela pega e lava. Infelizmente hoje de manha deixei minha camisola preferida jogada no chão porque estava apressada para a escola.             

 _Falou mãe. Eu pego outro pijama. – Se havia uma coisa que eu colecionava, eram pijamas e camisolas. Havia uma parte do meu armário cheias dessas peças. Tenho que parar com isso.              

 Peguei um conjunto de camiseta branca e short azul, ambos de algodão. Deitei-me na cama e dormi em dois segundos.

 10ª noite - 15 de março        

       Quando me dei conta de que estava outra vez no quarto dele, minha felicidade foi quase absurda. Falei um graças à Deus baixinho por minha mãe ter colocado a camisola na lavanderia.               

Controlei-me e prestei atenção na cama, ele estava lá. Mas o que é isso? Ele estava acordado, sentado na cama e completamente arrumado! Com calça jeans azul, tênis roxo, blusa cinza com mangas até o cotovelo e boné de aba reta roxo. Me deu vontade de gritar com ele nessa hora! Ele sabe que eu não sei que viajo à noite, portanto eu não vou arrumada para os lugares! Sempre estou com pijama, e ele sabe disso. Ele estava com a cabeça baixa, mexendo as mãos e batendo o pé impaciente.

O laptop já estava ao seu lado. Quando eu dei um passo para frente na direção dele, e levantou a cabeça e sorriu para mim, como se tivesse acabado de ganhar um presente muito desejado. Parei de repente e minha barriga revirou, parecia que eu iria vomitar, e comecei a ficar nervosa outra vez, como sempre acontece quando ele dá esse sorriso.

Então minha raiva sumiu completamente, a expressão dele tomou conta de toda minha mente. Sorri para ele em resposta. Estava inteiramente desconfortável com ele completamente lindo, todo arrumado e eu de pijamas. Que legal.                 

Andei até ele e dei um beijo em sua bochecha, o que o deixou um pouco vermelho. Contornei a cama e sentei do outro lado, de como que eu pudesse ficar de frente para ele. Ele ainda estava sorrindo quando pegou o laptop, que já estava aberto e começou a digitar. Subi em cima da cama e fui para o lado dele, para poder ver enquanto ele digitava. Isso fez com que aquela sensação de bem estar voltasse novamente.                   _Até que enfim você chegou! Eu estava te esperando... Ah! Boa noite... – Sorri com o ‘boa noite’ atrasado dele.                 

_Good night. – Falei para ele enquanto o olhava nos olhos. Não tinha reparado que seus olhos eram de um verde-escuro intenso,como um lago profundo e cheio de mistérios, e acho que se a luz do abajur se apagasse naquele momento, eu nem perceberia, porque seus olhos eram tão brilhantes que fiquei hipnotizada neles.

Me concentrei bastante para não passar a noite olhando para ele. Ele sorriu outra vez para mim, e repetiu o ‘good night’ com a voz mais suave que eu já ouvi.                 

Concentrei-me na conversa e peguei o laptop dele. Ele se aproximou ainda mais de mim, colocando seu rosto atrás do meu ombro.

Ele tinha um cheiro suave, mais que ao mesmo tempo era inconfundível, um cheiro que eu nunca havia sentido antes. O seu hálito era de um frescor de avelã e menta, que eu adoro. Tive que fazer mais força mentalmente para me concentrar no laptop.                  

_ Você não precisa me esperar, Naten. Vai te prejudicar porque você vai ficar muito tempo sem dormir. – Enquanto eu escrevia, ele balançava a cabeça negativamente. Ele pegou o laptop.                 

_Não vou não. Eu posso dormir pela manhã, porque só tenho aula e trabalho à tarde. E você falou ontem que poderia vir e não me acordar, e eu me esqueci de dizer que era para você me acordar. Então fiquei te esperando... -  Senti um pouco e culpa enquanto ele escrevia.  

    _Seu bobo. Mesmo assim, você deveria estar dormindo. – Ele olhou para mim e fez uma careta. – Ta bom, ta bom. Vamos esquecer isso. Porque você está todo arrumado? Você veio de alguma festa?- Quando ele leu, o rosto dele corou novamente. Então ele começou a escrever bastante tímido.                 

_Eu não estou arrumado, só coloquei essa roupa para te esperar. É que eu não queria que você me visse com cara de sono e de pijama de novo... - Eu ri alto quando ele escreveu, o que o deixou mais tímido ainda.                  

_Obrigada por se importar comigo, Naten, mas você não acha isso um pouco injusto? Eu sempre estou de pijama e nunca estou arrumada quando apareço aqui. – Ele balançou a cabeça como se tivesse lembrado alguma coisa que eu havia dito a ele. – Aliás, eu vou ficar muito mais à vontade se você for colocar o pijama. - Ele começou a falar ‘but’, pra me convencer a deixá-lo ficar com aquela roupa. - VAI LOGO, NATEN! - Escrevi rapidamente e comecei a rir. Ele me mostrou a língua e se levantou indo pegar a roupa no armário. Foi para o banheiro e trocou de roupa.                  

 Eu ainda estava rindo quando ele voltou, com um pijama cinza de blusa e calça. Sentou-se novamente ao meu lado e eu escrevi:                   _Agora estamos igualmente normais. - Escrevi e sorri para ele. Ele me deu um beijo na bochecha, fazendo uma cara falsa de triste. Depois ele pegou o computador.                   

_Você me prometeu que hoje me falaria sobre você. – Eu fiz uma careta. – Nem vem! Você me prometeu e acabou. Eu quero saber tudo, desde a sua escola e seus amigos até as suas manias e o que você gosta.                  

 _And you?- Falei para ele. Ele começou a escrever de novo.                   _Por favor, não me faça falar de mim. Eu tenho que fazer isso quase todo dia para um monte de repórteres chatos que até abusei de falar sobre minha vida. Eu quero saber de você. – Ele olhou para mim com cara de desconsolo e eu falei um ‘ok’ indiferente. Então peguei o computador.                 

 Acho que escrevi por uns cinco minutos, com ele com a cabeça quase encostada no meu ombro, lendo tudo. Falei sobre morar só com minha mãe, sobre meu pai, como era minha casa, meu quarto. Ele falou um ‘cool’ quando eu disse como era meu quarto. Eu sorri timidamente, ainda escrevendo.                 

 Escrevi sobre minha escola, que eu estava no último ano, sobre o que eu gostava de fazer e por último falei de cada uma de minhas amigas. Quando falei de Juli, acrescentei que ela era completamente maluca por ele e que sempre briga comigo porque eu falo mal dele. Ele riu alto.                   

_Então, é isso. Resumi toda a minha vida para você. O tédio não te matou? – Ele fez uma cara de ‘fala sério’ quando eu perguntei isso.                 _Ta brincando? Ali, sua vida é tão legal! Sinto muito pelo seu pai. Mas parece que você leva isso na boa. Você é forte. – Balancei a cabeça positivamente. – Admiro você ainda mais por isso. E suas amigas são malucas, eu gostei delas, principalmente da Juli, ela parece ser legal e consciente. - Quando ele escreveu isso, fiz igualmente a cara de ‘fala sério’ enquanto ele sorria.

Então balancei seu cabelo de novo, mas dessa vez ele não ficou com raiva. Fez uma cara de surpresa e começou rir.                   

Quando eu baguncei o seu cabelo, ele afastou o laptop e puxou a mão com a qual eu baguncei o cabelo dele. Então eu cai na cama e Naten começou a fazer cócegas em mim. Quando eu consegui escapar dele, me levantei da cama e saí correndo pelo quarto, com ele atrás de mim. Quando ele conseguiu me alcançar, dessa vez ele não fez cócegas. Naten puxou minha camisa e envolveu minha cintura num abraço mais apertado e carinhoso que eu já senti.

A sensação de bem-estar tomou conta de mim mais intensamente que nunca, então eu esqueci o resto do mundo naquele momento. Levantei meus braços e envolvi o seu pescoço, puxando-o para mais perto de mim, se é que fosse possível. Ele me apertou mais contra ele e eu fechei meus olhos, querendo que essa sensação nunca acabasse.

Parecia que ele também não queria me soltar, mas eu lembrei que só tinha uma hora ali, então soltei seu pescoço e peguei suas mãos, desfazendo o abraço para olhar para ele. Quando eu fiz isso, ele fez uma cara de triste. Sorri para ele e peguei sua mão, levando-o de volta para se sentar na cama.  Peguei o laptop.                   

_Naten, nós também não íamos ficar a noite toda daquele jeito. - Ele fez uma cara feia, discordando. -Íamos ficar com câimbra. - Ele riu alto quando leu isso. – Além disso, eu só tenho uma hora aqui, você sabe.                   

Ele balançou a cabeça, concordando. Ficamos nos olhando alguns segundos, então ele voltou a atenção para meu cordão, tocando-o. Depois escreveu:                 

 _Sim! Você esqueceu de falar sobre o colar, o que tem escrito nele?                   

_Está escrito ‘a música me move’, eu ganhei de aniversário das meninas.                    

_Que legal! Você gosta muito de música, não é? - Olhei para ele e balancei a cabeça.                    

_Você tem algum violão fácil aqui?- Perguntei a ele. Ele olhou para mim com surpresa e digitou.                 

 _Aqui não. Sabe, cada vez mais eu me surpreendo com você. Vem comigo. - Ele fechou o laptop e o segurou com a mão esquerda enquanto me puxava com a outra.                 

Fiquei sem ação enquanto ele pegava minha mão e abria a porta do quarto. Fiquei espantada com a casa! Parecia aquelas casas que eu assisto no Teen Cribs. Não, era maior. Muito mais luxuosa. 

 Quando ele saiu correndo comigo pelo corredor, minha perna começou a doer. Parei na hora e o puxei para trás. Ele olhou para mim confuso e eu apontei para minha perna ainda enfaixada.

 _OH! I’m sorry, Ali! You ok? – Perguntou ele com espanto e bastante preocupado.                    

_Yeah. - Queria dizer a ele para parar de andar como se estivesse numa corrida maluca, mas não sabia, então só falei isso.                    Naten ficou mais tranqüilo e me trouxe para mais perto dele, dessa vez andando mais devagar.

Andamos o corredor inteiro até chegar à penúltima porta. Quando ele a abriu e me puxou para dentro, meu queixo caiu.                   

A sala era praticamente o paraíso dos músicos. Acho que fiquei o tempo todo de boca aberta. Tinha as paredes roxas, com vários violões de um lado, duas baterias do outro, guitarras, teclado e um piano no centro. Também havia caixas de som, um sofá preto, um tapete felpudo branco e um enorme pufe vermelho. Em uma parede havia uma foto dele com um violão, em preta e branca. Ele olhava para mim sorrindo enquanto eu olhava a sala.                 

 Naten me levou para sentar no sofá e abriu o laptop.                                _Pode pegar o que quiser. – Ele escreveu.                   

Me levantei e fui até onde estavam os violões. Tinha de várias cores e tamanhos, mas um em especial me chamou a atenção. Era preto com tarrachas de ouro e estava escrito ‘Music is everything to me’ na borda. Peguei-o na hora. Naten deu um sorriso quando o peguei e digitou:                   

_Você gostou dele? É o meu preferido.                  

Coloquei o violão do lado e peguei o laptop.                 

_É o violão mais lindo que eu já vi.                 

_É seu. Presente de aniversário. – Olhei para ele surpresa. Ele queria me dar aquele violão? Devia valer milhões! Eu já ia discutir com ele quando me dei conta que meu tempo lá já estava acabando, então apenas peguei o violão e comecei a tocar.                 

Toquei a música que eu tinha feito semana passada. Enquanto eu tocava e cantava, Naten olhava para mim com a expressão mais maravilhada que eu já vi. Seus olhos brilhavam intensamente e iam das minhas mãos para meu rosto várias vezes.

Quando terminei a música, olhei para ele timidamente. Ele ainda estava com cara de bobo enquanto escrevia no computador.                             _A sua voz é a mais perfeita que eu já ouvi na vida. Queria te escutar cantar por toda a vida. E essa música é tão harmoniosa, a melodia e a letra se encaixam perfeitamente, e junto com a sua voz, deveria ser proibido de existir uma coisa tão perfeita. - Fiquei completamente vermelha quando li.             

_Você está exagerando. E o astro aqui é você, não eu. - Ele pareceu não ligar para o que eu escrevi.            

 _Você sabe cantar em inglês?- Olhei para ele e respondi com a cabeça positivamente. Pensei por alguns segundos em uma música em inglês.             

Então comecei a cantar. Cantei Hate that i Love you, a primeira que me veio à cabeça. Ele deu o maior sorriso enquanto eu cantava então pegou o violão.  Ele começou a tocar me acompanhando. Então ele sabia essa música. Quando cheguei ao refrão, ele me acompanhou, cantando.

Fiquei surpresa com a combinação de nossas vozes, e parece que ele também percebeu, porque o brilho dos seus olhos aumentou. A junção da minha voz com a dele produzia um som único, que eu nunca havia escutado antes, como se fôssemos apenas uma alma, apenas um som singular. Era tão perfeito que eu trocaria todos os meus CDs por aquele som.              

Então terminou. Aquele som único sumiu na sala enquanto nos olhavámos, surpresos. Enquanto ele abria o sorriso que me deixava sem ar, minha cabeça começou a pesar. Quando ele ia pegar novamente o violão, eu o puxei e dei-o um abraço.

Ele entendeu que eu tinha que ir então deu um beijo na minha bochecha e sussurrou ‘bye’ no meu ouvido. A voz dele fez todo o meu corpo tremer. Uma sensação bem desconcertante.                

Retribuí o adeus e o olhei nos olhos por um segundo.