Estava no carro com minha mãe. Estava com meu laptop no meu colo, para o caso de ele ter esquecido nosso meio de comunicação. Mamãe estava toda animada. Cantando uma música da banda Nexus como se soubesse a letra. Queria estar confiante como ela, mas parecia que eu teria um convulsão a qualquer momento de tão nervosa que estava.

                                    Agora que eu sabia de tudo, que a 'magia' existe na minha família - isso é tão ridiculamente inacreditável, mas é verdade - estava muito mais nervosa do que ontem, quando eu falei com ele e não sabia de nada. E eu já estava muito nervosa ontem. E pior. O que eu diria a ele hoje. Quer dizer, como eu diria alguma coisa? Estava extremamente envergonhada por ter julgado ele ontem. É nessas horas que você deseja que as coisas fossem normais...

                                 De repente começou a tocar uma música dele no rádio,. Senti um calafrio e de repente pareceu que eu iria desmaiar. Ouvir a voz dele ali me deixou mais desconcentrada.  Minha mãe parara de cantar e estava prestando atenção na letra.

                                  _Ele canta muito bem Lua. Quem diria que o garoto seria o Naten Smith. Você foi buscar muito longe meesmo.

                                  Fiz uma careta pra ela.

                                  _Nem enche mãe, eu ainda acho ele mimado, tá. Eu acredito nessa história toda, mas ainda não me acostumei. - Não mesmo. Vou ter uma síncope.

                                  Minha mãe apenas riu e não falou mais nada o caminho todo.

                                  Eu havia contado as meninas que eu tinha resolvido ir encontrá-lo hoje, mas não contei a história que minha mãe falou. Resolvi contar isso a elas só depois disso tudo se resolver. Depois de eu lembrar. Se eu lembrar. Lie quase teve um ataque no telefone dizendo que eu iria ser sequestrada, mas depois se acalmou quando eu disse que minha mãe conhecia ele e que não haveria perigo algum, o que era verdade. Ela conhece Naten Smith. As outras meninas me encorajaram, e Mel quase gritou ao telefone dizendo que eu não estragasse tudo e que daria certo. Completamente louca. 

                                  Minha mãe estava estacionando o carro no acostamento da calçada quando eu o vi. AI. Agora eu iria vomitar mesmo. Ou iria desmaiar. Sei lá! Quando eu o vi meu corpo todo começou a tremer e eu deduzi que o tremor iria me matar. Isso não é uma coisa legal de sentir...

                                   Ele estava encostado no conversível preto, com uma blusa de capuz azul e um óculos, mexendo no mesmo celular de ontem. Parece que eu não iria usar o laptop, afinal.

                                   Minha mãe parou o carro. Eu não me movi um centímetro no banco.

                                    _Filha, você não vai descer não? Eu acho que é ele ali...

                                    _Não consigo descer. - Falei, ainda olhando pra frente.

                                    _Ah... Vai logo! - Disse ela me sacudindo. - É o garoto da sua vida, Ali.

                                    _Ai. - Foi a única coisa que eu consegui falar enquanto ela me empurrava pra fora do carro. Mostrei a língua pra ela quando desci.

                                    _Quando quiser que eu venha te buscar, me ligue. - Ela se despediu e eu fiquei parada lá, com medo de olhar pro lado.

                                    Quando eu finalmente olhei para o lado, percebi que ele ja havia me notado. Ai meu Deus! Quero sair correndo! Calma Lua, vai dar tudo certo. Eu acho.

                                    Ele estava me olhando, ainda encostado no carro, com um sorriso extremamente feliz. Fiquei extremamente sem jeito.

                                     Lembrei que tinha que andar pra chegar até ele, então comecei a mover os pés. Acho que eu estava parecendo aqueles desenhos animados japoneses andando quando estão constrangidos. Andei até ele, olhando pro chão. Quando estava a 2 metros dele, parei e olhei para cima.

                                     Qunado olhei para ele, meu coração começou a martelar freneticamente. Ele tirara os óculos, me olhando nos olhos com aqueles olhos verdes intensos e o maior sorriso do mundo. Eu não conseguia sorrir. Não conseguia nem respirar direito. Queria sair correndo. Me esforcei para falar alguma coisa, mas foi ele quem falou primeiro.

                                    _Hi. - Falou ele com uma confiança explícita na voz. Tentei me acalmar controlando minha respiração. Estava funcionando. Ele continuou. - You ok?

                                    _Yeah, i'm ok. - Minha voz pareceu mais um miado de gato do que uma voz. Me concentrei mais ainda em me acalmar e dei um sorriso tímido para ele. Naten parecia bem feliz. De alguma forma o humor dele me ajudou a acalmar também.

                                    Naten fez menção para que eu esperasse e se virou para pegar alguma coisa no carro. Percebi que ele veio sozinho. De repente Naten se levantou com um laptop roxo nas mãos. Colocando o celular no bolso. Aquele laptop era estranho, parecia familiar. Dei um sorriso ao perceber que era familiar.

                                    Naten foi andando em direção ao banco da calçada da praia e gesticulou para que eu o acompanhasse. Ele estava visivelmente mais calmo que ontem, apenas com uma preocupação aparente no rosto. Naten se sentou e abriu o laptop. Me sentei ao lado dele.  Então ele começou a escrever.

                                    _Estou tão feliz que você veio! Nem consegui dormir ontem pensando nisso... - Me senti mais culpada ainda quando li isso. Olhei para ele e ele ainda estava sorrindo, esperando eu escrever. O que eu escreveria?

                                    _Naten, pra começar, me desculpe por ontem. Eu estava completamente errada.

                                    Ele leu ficou com a linha de um sorriso no rosto, enquanto escrevia.

                                    _Não se preocupe. Eu entendo perfeitamente. Então você acredita no garoto mimado? - Conseguir dar uma risada com a tentativa dele de descontrair. Funcionou. Me apressei em escrever.

                                    _Quando eu fui pra casa ontem Naten, eu falei com minha mãe, sobre o que você disse. E ela me contou que era tudo verdade o que você havia dito, e disse que essa coisa de viajar à noite está na minha família há anos. Ela me explicou tudo. Acho que eu acredito no garoto mimado.

                                   Dei o laptop para ele ler. Seu rosto ficou completamente radiante com o que eu havia escrito.

                                   _Então, você se lembra de tudo?

                                   _Essa é a parte ruim... Eu não me lembro de nada ainda Naten. Só sei que você não está mentindo. Minha mãe não me falou como me lembrar, só disse que era uma coisa bem simples... - Enquanto ele lia, fiquei olhando fixamente para ele pra ver se lembrava de alguma coisa. Coisa simples nada! Coisa simples... Fala sério. Quando ele levantou o rosto pra me olhar, virei o rosto, constrangida. Naten começou a escrever.

                                   _Não se preocupe, nós vamos dar um jeito. - Enquanto eu lia, ele me olhava como se estivesse tentando  decifrar alguma coisa.

                                    Não escrevi nada no laptop. Apenas o olhei com um sorriso tímido. Quando ele percebeu que eu não escreveria nada, pegou o laptop.

                                    _A música. Você lembrou dela, não foi?

                                    O nervosismo voltou quando ele falou da música.

                                    _Eu acordei com um papel com aquela letra escrita um dia e a guardei. Eu fiquei um pouco confusa, porque eu não a havia escrito, mas não pensei muito nisso. Lia aquela letra todos os dias. De onde ela veio? - Ele leu e levantou a sobrancelha, dando um sorriso de satisfação. Depois começou a escrever ficando com as bochechas rosadas. Aquilo era fofo.

                                    _Eu a escrevi para você na última noite em que te vi. Eu não conseguia completá-la, então quando você chegou naquela noite, completou o resto que faltava comigo. Foi como mágica. E então eu te beijei, e então você não voltou mais. Queria que você se lembrasse.

                                    _ Eu também queria me lembrar, Naten. Mas eu não sei como.

                                    Ele leu e não escreveu nada, apenas suspirou. Me virei para olhar o mar quando vi que a conversa dera uma pausa. Naten fez o mesmo. Pensei por um momento naquilo. Porque eu não conseguia me lembrar? Se era simples, era só eu vê-lo, então eu lembraria, não é mesmo? Fiquei pensando naquilo por um minuto. Ele ja me tocou. Nada aconteceu. Me lembrou de uma coisa que fizemos juntos. Nada aconteceu também. Olhei fixamente para ele. Boba. Claro que não aconteceria nada. Então faltava o que? A resposta veio imediatamente a minha mente ao mesmo tempo da pergunta, mas não me obriguei a mencioná-la. Eu sou muito tímida pra isso. Simples. Simples e constrangedor. Não tomaria essa iniciativa. Não com o garoto que eu sempre disse que não gostava. E daí se ele é minha alma gêmea?  Tenho meus princípios.

                                  Ainda continuei fitando o mar quando percebi que Naten pegara o laptop e estava digitando, com o rosto completamente vermelho.

                                  _Lua... Eu tive uma idéia. Mas preciso da sua permissão. - Enquanto eu lia, ele estava com a cabeça baixa, ainda vermelho. Será que ele pensou o mesmo que eu? Minhas mãos já estavam suando...Pra onde foi a menina forte que não liga com nada? Pro espaço...

                                 _Bom, pode tentar. Tem minha permissão. - Ele leu e hesitou um pouco, com esperança e timidez no rosto. Depois começou a escrever.

                                 _Sabe, eu aprendi uma frase em português a um tempo atrás por sua causa. - Ler aquilo me deu uma sensação intensa de dejávu. Eu já tinha visto aquilo antes. E aquilo me deixou mais nervosa.

                                  _Qual? - Perguntei. Acho que de novo.

                                  Naten de repente fechou o laptop e colocou ao lado dele, se aproximando de mim, cada movimento estudado. Minha pulsação aumentava com cada movimento dele. Eu estava totalmente paralisada de nervosismo, não conseguia fazer nada. Então Naten pegou minhas mãos entre as dele, com a cabeça ainda abaixada. A mesma sensação de ontem voltou ao toque dele, mas eu não me importei. Eu já tinha visto aquilo em algum lugar. Naten demorou um pouco segurando minhas mãos e depois levantou o rosto para me olhar.  Não consegui prestar atenção em mais nada, só nos olhos dele.

                                Então Naten falou.

                                _Eu te amo.

                                Antes que eu pudesse ver meu coração saindo do peito e ir pulando para ele, Naten se aproximou e juntou seus lábios nos meus, juntando também todas as peças do quebra-cabeças.

                                Com o beijo dele veio também tudo que eu não me lembrava. As conversas, o abraço, a música, e tudo que ele representava pra mim veio num jorro de certeza enquanto ele envolvia minha cintura e me beijava do mesmo jeito que fizera a um tempo atrás. Agora eu tinha certeza de tudo, e não precisava mais hesitar. Coloquei minhas mãos no seu rosto e o puxei para mais perto de mim, tendo certeza do que eu queria. Ele. Nada me importava naquele momento, só ele.

                              Quando ele afastou o rosto para me olhar, hesitante, dei o maior sorriso que pude em resposta para ele, depois peguei o laptop ao lado dele e escrevi.

                              _Dessa vez eu não vou sumir.

                              A felicidade dele era visível enquanto lia.

                              _Você se lembrou. - Escreveu ele com o maior sorriso do mundo.

                              _A camisa ainda é minha? - Perguntei a ele. Naten leu e depois deu uma risada.

                             Ele fechou o laptop de novo e me envolveu, me dando o beijo que marcou o fim de toda essa confusão. Ou iniciava outra.