_ Por onde agente começa? - Perguntou Tom enquanto saíamos do estacionamento no carro dele.                           

_Da uma volta pela casa de show. Elas não devem ter ido pra longe. - Ela não pode ter ido longe.                            

Tom assentiu e começou a dirigir por onde eu falei. Olhava para cada canto, banco, calçada e garotas que eu via, prestando atenção a tudo. Mas então Tom terminou a volta e parou o carro no acostamento do lado da casa de show. Eu devia estar com uma cara péssima. Ele olhou pra mim desapontado.                           

_ Olha Naten, a gente pode ir mais longe. A praia fica só à 3 minutos daqui á pé. Vai ver elas foram pra lá.                            

Assenti e pedi pra ele ir dar uma volta lá, mas eu já estava sem esperanças. Se ela não estava lá por perto porque teria ido pra longe? Ela teria ido pra casa, isso sim. Coloquei a mão no queixo e fui olhando a calçada da praia, sentindo o desespero surgir de novo.                            

_Tom, pode parar aqui por favor? Eu vou descer. - Ele sabia que eu queria descer não porque tinha encontrado ela, mas porque ja estava começando a desistir. Ele encostou o carro.                             

_Se precisar de alguma coisa eu vou estar aqui dentro. - Ele falou enquanto eu descia do carro.                             

Me sentei na calçada, de frente pra o mar e fitei o vazio. Nem acredito que tinha chegado até aqui pra no final dar em nada. Que irritante! Mas isso é tudo culpa minha. Eu devia ter chamado o nome dela no palco.

Causaria o maior reboliço mas e daí? Pelo menos ela me notaria e eu falaria com ela.

Nããão.

Eu tinha que perder a voz e ficar sem ação no instante em que a vi.

Idiota.

Agora não da mais.

Já era.

A perdi pra sempre. Nem sei o que eu to sentindo. É tanta coisa que ta me deixando confuso.

Frustração.

Tristeza. Sensação de que podia ter feito melhor que isso. Acho que já ta na hora de esquecer isso.                           

Enxuguei o rosto molhado e me levantei pra ir de volta pro carro.

Foi quando escutei um riso alto de uma garota, que eu reconheci imediatamente. Virei o rosto e quase não acreditei no que estava vendo. Ela estava um pouco longe, mas vinha na minha direção com  as amigas, com o sorriso que eu não via há meses.                           

A empolgação tomou conta de mim enquanto ela se aproximava. Eu não consegui me mexer, só observá-la. Era tão estranho vê-la assim, sem pijamas, sem estar no meu quarto. Senti mais alívio do que alegria, porque eu tive certeza que era isso que eu queria.

Ela.  

Estava com um vestido preto e um tênis vermelho. Mas o que me tomou completamente foi o seu rosto. Ela estava mais linda que nunca, ou eu tinha me esquecido do quanto ela era linda. Seus olhos brilhavam tanto junto com o sorriso que não consegui prestar atenção em outra coisa.                          

Elas vinham chegando cada vez mais perto quando de repente a menina morena de cabelos longos, que eu deduzi ser a Mel, se sentou e falou com as outras meninas pra se sentarem também. Eu não falo português mas acho que só podia ser isso.                            

Elas se sentaram e ficaram conversando. Ela estava ali, a apenas alguns metros de mim. Dei um passo pra frente pra ir falar com ela quando percebi que eu ainda não tinha pensado no que dizer.

Inteligência. Voltei no carro e Tom quase pulou do banco quando falei com ele.                             

_TOM! Preciso do seu celular! Ela esta ali!! Vai me da seu celular! - Ele não disse nada, apenas me deu o celular dele enquanto ria . Acho que da minha cara de empolgação e pressa.                           

 Peguei o celular dele, que mais parecia um computador, e coloquei no google. Engraçado. Agora era a minha vez, e ela nem fazia ideia. Li como se falava 'posso falar com você por favor' em português e então comecei a andar.                             

Enquanto eu me aproximava, elas começavam a olhar para mim, uma de cada vez. Ali foi a última e me olhar, quando eu estava bem perto. Ela olhou pra mim confusa. Nessa hora tive um embrulho no estômago. Ela deve estar achando que eu sou um ladrão, de óculos e capuz no meio da noite. Coragem Naten.                             

Enfim cheguei perto dela. Nem acreditei. Acho que tinha alguma coisa me sacudindo e me fazendo tremer. Ela olhava pra mim mais confusa que antes.                             

_Anh... Lua, posso falar com você? - Ela ficou supresa quando eu disse o nome dela. Daria tudo pra que ela lembrasse de mim. Mas ela vai se lembrar. Não sei como mas, vai.                             

Fiquei esperando a resposta dela quando de repente as amigas dela começaram a falar um monte de coisas. Acho que uma não gostou de mim porque me olhava com indiferença. Devia ser a Lie. Ali não falava nada, só olhava de mim pras garotas, confusa.                               

_Por favor? - Pedi a ela antes que ela dissesse não. Mel me deu um sorriso e falou alguma coisa pra Ali. Acho que a encorajou porque Ali se levantou e balançou a cabeça positivamente, ainda confusa.              

_Claro. - Ela falou. Ouvir a voz dela me deixou ainda mais desconcertado. Acho que meu rosto estava vermelho vivo. Abri um sorriso e nessa hora Juli olhou pra mim com curiosidade. Parei de sorrir na hora, com medo de ser descoberto.                             

Fiz menção pra Ali me acompanhar e sentamos a alguns metros das amigas delas. Ela ainda estava um pouco confusa e com um certo medo no olhar, então me apressei e peguei o celular pra escrever.                  _ Me desculpe chegar assim desse jeito. Eu não sou ladrão, pode ficar tranquila. Nós poderíamos conversar por esse celular se você não se importar? É que eu não falo português...                              

Entreguei o celular a ela. Ela ficou em mais calma depois que leu. Olhou pra mim e sorriu, o que me deixou mais nervoso. Ela escreveu e depois me entregou o celular. Isso era um tremendo de um dejávu.                   _Não achei que fosse um ladrão. Eles não usam roupas caras. Eu estava confusa porque estava tentando te reconhecer de algum lugar, mas pelo visto não conheço. Não me lembro de nenhum amigo extrangeiro que fale comigo pelo google. Mas quem é você e como me conhece?  - Ela olhava pra mim com curiosidade. Apertei o lábio numa linha reta e escrevi.                               

_Primeiro você tem que me prometer que não vai gritar ou ter uma reação desse tipo, e que só vai dizer alguma coisa pelo celular.                        Ali leu e concordou, a confusão voltando pros olhos.                                _Eu sou o Naten Smith.                              

Ela pegou o celular e deu uma risada. Eu sabia que ela não acreditaria.                             

_ Ta legal. E eu sou a Madonna. - Revirei os olhos com a resposta dela. Bem típico da Ali. Então falei:                             

_Look. - Ela prestou atenção enquanto eu tirava os óculos para encará-la por um segundo, e depois coloquei de volta. O arfar dela foi quase engraçado se não fosse pelo susto que ela tomou.                             Então ela me pediu o celular e escreveu em letras grandes.                          _ NATEN SMITH? QUE.LEGAL. COMO VOCÊ ME CONHECE E O QUE VOCÊ IRIA QUERER COMIGO?                               

Por mais que eu não quisesse, estava me divertindo muito com a cara dela, que era um misto de surpresa, incredulidade e curiosidade. Parei de rir e me concentrei pra escrever o que eu diria a seguir. Tinha que escrever muito bem o que eu iria falar agora. Ela ainda estava com a boca aberta, esperando.                             

_Bom... Eu sei quem você é Lua. Sei quase tudo sobre você. E você também sabe muito sobre mim, só que não sabe disso... - Dei o celular a ela e ela ficou ainda mais confusa com o que eu escrevi.                      _Impossível. EU não sei nada sobre você e nunca quis saber. Você deve estar me confundido com a Juli, ela que sabe tudo sobre você. Acho que devo chamá-la. - Quando eu terminei de ler, ela já se virava pra chamar a amiga dela quando eu falei um 'NO' quase gritando.

Toquei no braço dela quando fiz isso e pude sentir uma energia passando entre nós, como quando aconteceu quando eu a abracei pela primeira vez. Ela puxou o braço mais pra perto dela com o toque, e ficou confusa. Percebi que ela também sentiu, e percebi também que isso significava que eu ainda estava lá na mente dela, em algum lugar. Isso me deixou bem mais feliz.                           

Pedi a ela com o olhar para que ela se acalmasse e me deixasse escrever. Ela entendeu e esperou.                           

_Não, Lua. É você mesmo, não é sua amiga. -AAh eu tava complicando tudo. - Olha, acho que é melhor eu começar do começo, e contar a história toda, não é mesmo? - Ela leu e balançou a cabeça.                  _É melhor sim. Bom, eu acho que tenho tempo. - Ela deu um sorriso tímido e se virou para as amigas para que esperassem mais. Acho que ela também disse que estava tudo bem, por que a amiga dela, a Lie, se acalmou visivelmente.                           

_É...vai parecer maluquice, mas... A uns meses atrás, precisamente uma semana depois do nosso aniversário, você apareceu no meu quarto de madrugada, e você ficou aparecendo todo dia, e eu me apaixonei por você e você por mim. Mas ai eu te beijei e sei lá, acho que foi por causa do beijo, você não voltou mais, então foi ruim pra mim... - Eu já estava jogando as palavras no texto, numa tentativa frustada de fazer aquilo parecer menos maluco possível. Mas acho que não adiantou.                           

_Ah ta. Isso deve ser uma pegadinha e eu devo estar sendo filmada nesse momento. Fala sério garoto. Só porque você é famoso não pode sair por ai inventando ridicularidades... - Ela revirou os olhos e depois me encarou séria. Eu deveria ter ficado triste com o que ela falou, mas aquilo só me fez ter certeza dela, afinal, eu já havia escutado isso antes. Ela ficou mais brava ainda porque eu sorri.                           

_Olha...Como eu vou fazer pra te provar? - Ela leu e deu de ombros. Então eu escrevi. - Já sei! Olha, um dia depois do seu aniversário, você levou uma pancada na perna jogando. Você pensa que não gosta de mim, o nome das suas amigas são Lie, Mel, Mille e Juli e você toca violão e tem uma voz linda.                            

Esperei que ela entendesse e aceitasse enquanto lia, mas não aconteceu. Ela ficou mais confusa e olhou pra mim com incrédula.                     _Isso não existe! Você só pode estar fazendo um reality show onde a vítima é uma garota que não goste de você. FALA SÉRIO! Isso é muito infantil! - Ela olhava pra mim brava. Tive que confessar que ela tem uma imaginação e tanto.                           

_Não Luali! Por favor, acredite em mim. - Olhei pra ela suplicando. - Olha, você acha mesmo que eu faria uma coisa dessas? E acha mesmo que eu conheceria essa cidade se você não tivesse me falado sobre ela? Não mesmo. - Ali leu e deu de ombros outra vez. Continuei a escrever. - E tem uma coisa que eu não saberia se você não tivesse me contado. Você me deixa chamá-la de Ali, que era um apelido que só o seu pai falava.                           

Eu esperava que dizendo isso ela acreditasse, mas o tiro saiu pela culátra. Ali olhou pra mim furiosa e parecia que estava começando a chorar.                           

_ Se isso for uma pegadinha é de muito mal gosto garoto! Volta pra sua vidinha e me deixa em paz, ta legal? Isso não tem a menor graça!                         

 Ali jogou o celular em mim e começou a se levantar, agora chorando. Eu tinha que fazer alguma coisa. Não podia deixar ela ir embora desse jeito. Não podia perdê-la quando ela estava assim tão perto. Não era justo.                            

Agarrei o braço dela e ela se contraiu, mas não puxou o braço.                 _Ali, please, wait! Please Ali, just listen me... - Falei pra ela olhando-a nos olhos. Ela olhou pra mim por um momento, como se esperasse acontecer algo, e então se sentou de novo. Enxugou o rosto e esperou que eu escrevesse. Eu queria abraçá-la, mas não podia. Isso só a assustaria mais. Escrevi:                           

_Ali, por favor acredite em mim. Isso deve ser bem confuso e maluco mas é verdade. Pelo amor de Deus, porque eu mentiria? Olha, vamos fazer assim. Vá para casa, pense um pouco, e me encontre aqui amanhã, essa mesma hora, ta bem? Por favor, eu vou te provar que não estou mentindo. Eu não posso te perder de novo.                             

Ela leu tudo e não respondeu por um momento. Depois levantou a cabeça para me olhar nos olhos. Ela me devolveu o celular sem escrever nada e se levantou.                             

_Maybe.                              

_Please, Ali. Comom.                             

Ela olhou pra mim por um momento e depois se virou, começando a andar.                             

Eu tinha que fazer alguma coisa rápido. Tinha que ter certeza de que ela viria. Pensa em algo, idiota! Logo! Isso! É isso.                               Comecei a cantar a música que eu compus com ela. Ela teria que se lembrar. A letra ficou com ela!                               

Quando ela se deu conta do que eu estava cantando, parou de andar imediatamente, e ficou de costas pra mim por um segundo. Continuei cantando. De repente ela se virou e me olhou, confusa e recomeçando a chorar. Avancei um passo para poder abraçá-la mas ela estendeu a mão, me impedindo. Olhou um pouco para o lado, chorando, e acenou para mim.                                  

Não havia mais o que fazer. Comecei a rezar para que ela viesse amanhã enquanto eu entrava no carro, triste por vê-la chorar, mas feliz por ela ter se lembrado da canção. No final havia esperança. Ela se lembraria. Eu farei de tudo pra que isso aconteça.

Amanhã.