Memória escrita por Guardian


Capítulo 11
Sozinho...


Notas iniciais do capítulo

Narrado pelo Matt.



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Onde eu estou? O que eu estou fazendo aqui? E quem são essas pessoas? Por que...

Estava tudo escuro ao meu redor, não importava para qual lado eu olhasse. Não, não era como se estivesse um breu e eu não enxergasse nada; quis dizer que absolutamente tudo e todos estavam “vestidos” de preto, o que de fato, não deixava de escurecer ainda mais o cenário.

Parecia ser a sala de uma casa. Uma casa de aparência antiga e que cheirava fortemente à algo que eu não conseguia identificar o que era.

Não era grande o número de pessoas que estavam ali reunidas, e por algum motivo, eu não conseguia reconhecer o rosto de nenhuma delas. Na verdade, eu não conseguia enxergar o rosto delas. Era estranho. Eram apenas homens e mulheres de roupas escuras, fazendo algum movimento hora ou outra, com os cabelos no lugar que deveriam estar, mas sem olhos, boca, nariz, nada.

Assustador.

Tentei falar com elas mesmo assim, mas não obtive nenhuma resposta. Elas conseguiam me ouvir? Elas conseguiam me perceber ali? Pelo jeito não.

Passei a prestar mais atenção no ambiente ao meu redor, então. Aquele estranho e enjoativo cheiro persistia, assim como murmúrios que eu não sabia da onde vinham. Pareciam... Lamentos. Mas lamentavam o quê?

Foi então que eu percebi.

Eu deveria ter pensado nisso desde o início...

Um velório.

Mas de quem?

Aproximei-me devagar do fundo da comprida sala, onde havia um pequeno altar rodeado por algumas das pessoas. Ali repousava um porta-retratos cercado de flores pequenas e delicadas, mas sem perfume algum. Forcei a vista, apertei os olhos, cheguei o mais perto possível, mas também não conseguia enxergar aquele rosto. Aquela pessoa na foto não passava de um borrão para mim.

De quem era aquele velório? Por que eu não conseguia ver? Por que eu não conseguia ver ninguém?

...

Era... Alguém importante para mim? Se fosse, eu não deveria estar triste?... Eu estou triste? Eu não sei.

“Eu sabia. Eu sempre soube que acabaria assim”.

...

Ahn? Quem falou isso?

Olhei avidamente para os lados, procurando quem tinha dito aquilo. Percorri toda a sala, que não chegava a ser exatamente "grande", olhando para cada “sem-rosto” com atenção. Até que eu acabei voltando para aquele mesmo lugar, em frente às flores e à fotografia.

“Todo esse tempo...”

De novo. Mas desta vez eu soube quem tinha falado, não precisei procurar. Eu. De alguma forma, me ocorreu que aquela voz estava vindo de dentro da minha própria cabeça, como um pensamento dito em voz alta sem querer.

Mas eu não tinha pensado nisso... Tinha?

Eu não estava entendendo nada...

De repente, uma maior movimentação começou à minha volta. Todas as pessoas estavam andando, todos estavam indo embora. Uma a uma, o lugar foi-se esvaziando.

Não...

Eu não quero ficar sozinho...

Não... Por favor, fiquem!

...

Não havia mais ninguém. Apenas eu, e o retrato. As flores também tinham sumido.

Peguei o objeto, um pouco hesitante, e o abracei contra o peito. Um vazio enorme começou a me invadir, e aquilo em minhas mãos era tudo o que havia restado na sala. Precisava sentí-lo, ao menos aquilo... Senti meus olhos começarem a arder no mesmo momento que eu percebi que estava abraçando a mim mesmo no lugar do porta-retrato. Tinha sumido também...

Eu estava totalmente sozinho, sem pessoas, sem objetos, sem vida, sem nada. Totalmente sozinho.

Alguém... Eu não quero ficar sozinho... Alguém, apareça, por favor...

Por favor...


– Uh...

Abri os olhos, me surpreendendo por eles estarem realmente cheios d’água. O que tinha sido esse son... Do jeito que minha cabeça doía, acho que tinha sido mais do que um simples sonho.

– Urgh... – não consegui conter o gemido de dor que escapou dos meus lábios úmidos pelas lágrimas que rolavam sem cessar e chegavam até ali. Não sabia dizer se era de dor ou por algum outro motivo.

Encolhi-me na cama, com ambas as mãos pressionando minha cabeça, como se isso fosse ajudar de alguma coisa. Eu queria gritar, eu queria muito gritar. O vazio dentro de mim não tinha sumido ao despertar, e me sufocava de forma desesperadora; e doía, doía muito.

Não tenho certeza se gritei ou não. Não tinha noção de muita coisa no momento. Só...

Só consegui sentir duas mãos em mim, quentes, me virando e tirando minhas mãos de onde estavam, segurando-as forte.

Tentei vencer a vista embaçada e o enorme peso e pontadas que só aumentavam, para conseguir ver quem estava ali, mesmo já sabendo quem era.

Não me deixem sozinho!

...

Eu não estou sozinho, Mello está aqui. Eu não estou sozinho...



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Notas finais do capítulo

Agora, um agradecimento super especial à Reira chan pela recomendação linda dela *----------*
Mas e então? Por algum motivo eu sempre me divirto muito escrevendo sonhos ~