1997 escrita por N_blackie


Capítulo 37
Harry




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Harry sentiu as costas baterem violentamente contra a pedra bruta da parede quando Ginny pressionou seu peito com as duas mãos, sorrindo antes de colar seus lábios nos dele. Fechou os olhos, aproveitando um raro momento de solidão que podiam ter no meio de tantos amigos, e escorregou as mãos geladas por debaixo do uniforme de quadribol dela, sentindo a pele arrepiada da cintura dela esquentá-lo mais um pouco. Puxou-a para perto, aproveitando para trocar de lugar com ela. Ginny riu quando ele a apertou contra a parede.

“Você estava tão... estressado...” disse a ruiva em meio ao amasso desenfreado, puxando de leve os cabelos negros arrepiados. Harry grunhiu.

“Todo mundo. Não param de falar...”

Tirou as mãos de dentro da blusa dela e passou-as pelo maxilar delicado dela, aproveitando para sentir o cheiro delicioso que florescia de cada centímetro que tocava. As mãos dela escorregaram, e as unhas arranharam de leve seu abdômen. Um arrepio gostoso percorreu o corpo do garoto, e ele apertou os olhos. Como era bom ficar com ela...

“HO HO HO, CRIANÇADA! ” Pirraça saltou de dentro da armadura ao lado, e Harry soltou Ginny como se tivesse sofrido um choque. O rosto da ruiva ficou da cor de seus cabelos flamejantes, e o rosto rechonchudo do poltergeist abriu-se num sorriso irritante enquanto ele derrubava um copo de pó brilhante no casal.

“FELIZ NATAAAAAAAAAL...” gritou, voando para longe.

Cego com aquela sujeira toda, Harry tirou os óculos e bateu a varinha neles, olhando para Ginny em seguida. Suas roupas estavam amarrotadas, e os cabelos ainda meio molhados do princípio de neve que caia do lado de fora. Combinado com o brilho que Pirraça jogara, parecia uma estátua de prata e ouro vestida de jogadora. Olhou preocupado para ela, mas quando os olhos castanhos miraram-no, ela jogou a cabeça para trás e riu.

“Acho que acabou o clima, né. ”

“É, acho que sim...” Harry não conseguiu ficar sério ao olhar para ela, e deram as mãos firmemente. Ginny beijou-o por debaixo da bagunça, e foram ao salão principal.

Faltava uma semana para o Natal, mas o cheiro de peru assado e frutas secas dominava o corredor desde onde eles estavam até a chegada ao salão principal. As quatro mesas piavam de empolgação, com o ocasional bum! das bombinhas bruxas aqui e ali.

“Ginny! Aqui! ” Samantha gritou, apontando para o canto em que ela, Mary e Luna se sentavam. Mesmo usando um uniforme da corvinal espantosamente fosforescente, Lovegood acenou como se pertencesse à grifinória. Harry retribuiu o aceno das duas últimas, e olhou irritado para Samantha.

“Acho que vou ficar por aqui, ” Ginny riu, dando um selinho estalado nos lábios crispados do namorado, “nos vemos mais tarde? ”

“Não pode dispensar Sam por um segundo? ”

“Harry, você tem os seus amigos, ” a ruiva piscou, se afastando, “eu tenho os meus. Aposto que eles querem conversar contigo também. Mais tarde nos vemos, quem sabe o clima volta? ”

Harry riu da última proposta, e piscou para ela. “Tá legal, até mais tarde. ”

Seu lado da mesa estava proporcionalmente mais barulhento que o das meninas, e seus ouvidos zumbiram um segundo antes de se acostumar ao calor da discussão que se passava. Ron estava disputando o que aparentemente seria uma partida de xadrez muito lucrativa contra Seamus Finnigan. Do lado do irlandês, Dean Thomas, Hermione, e Neville cruzavam os dedos segurando suas bolsas de moedas, enquanto do lado de Ron, Romulus, Adhara, e Lewis urravam na torcida, com uma pilha considerável de dinheiro ao lado.

“Harry, entre aqui! ” Hermione chamou-o com esperança, e Ron comeu um dos cavalos de Seamus. Harry se assustou com o barulho de ossos quebrando quando o rei do ruivo acertou a cabeça do cavaleiro com um golpe violento de seu trono, urrando silenciosamente aos restos da peça adversária.

“O que estão fazendo? ”

“Ron está acabando com Finnigan no xadrez de bruxo, está pavoroso de se ver.” Leonard disse, sobressaltando Harry. Virou-se e deu de cara com o corvinal, que o encarou como se tivesse ficado maluco. “Que foi? ”

“Eu não te vi... Não te vi aí, desculpa. ”

“Hm, ok. “ o corvinal deu de ombros, encostando em Violet para continuar assistindo ao jogo. Sua irmã menor não estava prestando atenção, contudo, e tampouco parecia interessada na tentativa ridícula de Jack e Richard de fazer um rap para tentar decorar a matéria da prova de feitiços. Olhava apenas para o prato, que não tinha tocado, e apoiava o rosto nas mãos pensativa. Dispensou participar nas apostas, e pediu para abrirem espaço ao lado dela.

“Oi, bom dia, ” disse carinhosamente. Violet sorriu sem muito entusiasmo, “podemos conversar? ”

“Claro. ”

A menina se desvencilhou de Leonard, avisando onde ia, e o garoto Black sorriu e deu um beijo na bochecha dela. Harry pegou um pouco de pão para comer, e sentou-se com ela no corredor.

“Aconteceu alguma coisa? ”

“Não, nada de mais. ”

“Percebi que está quieta, Viola, pode falar comigo, de verdade. ”

Violet fitou-o amuada, e um brilho choroso passou pelos olhos dela. Mexeu com os dedos no colo. Harry ficou mais preocupado. Violet sempre fora do tipo delicado e sensível, mas não era chorona. Se alguma coisa a incomodara ao ponto de deixa-la assim, ele iria descobrir.

“É algo com Leonard? ” Harry insistiu, com mais firmeza, “porque se ele não estiver te tratando bem, eu vou ter uma conversa séria com ele, aposto que Padfoot me ajudaria e-“

“Não é com ele, Harry. Eu... eu não sei se posso conversar sobre isso. ”

“Porque não? Não confia em mim? ”

“Não! Não é isso, eu confio em você... Ah, Harry, é tão complicado...” o olhar dela vagava dele para a parede, para o chão, para o teto. Harry achou melhor não insistir mais.

“Sabe que pode me dizer qualquer coisa que estiver te incomodando, então...” começou a se levantar para voltar à mesa, mas os dedos dela agarraram seu braço, impedindo-o de sair.

“Não pode dizer pra mais ninguém o que vou te contar, tá? ”

“Claro. ” Intrigado, se aproximou dela. O tom de Violet era preocupado e assustado, e ela começou sua história sussurrando.

“Então, outro dia o Professor Snape me chamou na sala dele para conversar...”

Conforme Violet lhe contava da bizarra reunião que tivera com Snape, Harry sentia o chão embaixo de si desmoronar, e um buraco ansioso no estomago se abrir. Quando a menina começou a falar de horcruxes, e explicou o que eram, os cabelos da nuca de Harry ficaram em pé, e Violet escondeu o rosto nas mãos. Ficara pálida, e o garoto não podia culpa-la. Era como o acidente do poço tudo de novo.

Quando tinham dez e oito anos, respectivamente, Lily resolvera leva-los até um sítio trouxa para terem contato com uma vida que não fosse mágica. James se entusiasmara também, e fora o caminho todo contando todas as histórias de fazenda que conhecia. Eram só duas.

O hotel moderno era imenso, mas tinha conservado os campos que se estendiam pela propriedade, com piscinas aquecidas e quadras de esportes sem graça, inclusive um poço antigo muito bonito, enfeitado com azevinho e uma hera graciosa que se enroscava na superfície de pedra quase como decoração. Das pontas que sobravam, desciam amoras e flores bem cheirosas, mas mesmo sendo bem interessante, não podiam se aproximar. O dono dizia que era perigoso demais.

Passaram quatro dias tentando se divertir como crianças trouxas normais, mas justamente nessas férias a mágica de Violet resolvera se manifestar, criando incidentes malucos durante o dia. A menina era pequena, magricela e adorável, então ninguém suspeitava que fosse ela quem transformara o bacon em sapos nojentos, ou fizera o fogão ter um treco e pegar fogo durante o jantar. Ainda assim, estavam todos atentos.

Numa noite, Harry acordara assustado, com o vento batendo em seu rosto, e percebera que Violet não estava mais na cama. Os lençóis estavam revirados, e a janela, aberta. Acordou Samantha, e os dois irmãos saíram pelo mesmo lugar, combinando de procurar Violet e, se caso não achassem, chamar os pais.

Harry se lembrava de correr pelo gramado descalço, o coraçãozinho batendo desesperado atrás da irmã pequena perdida. Samantha era mais rápida do que ele, e chegou ao poço antes. O grito dela chamou sua atenção, e correu para perto das estruturas.

Violet caminhava sonambula para perto das vinhas, e sorriu de olhos fechados enquanto pegava amoras para comer. Harry gritava seu nome, estendendo as mãos para não deixa-la cair lá embaixo, torcendo para que não fosse velho demais para ter um surto de magia e ajuda-la de algum jeito. “Vai chamar a mamãe, Sam! ” gritou, e quase perdeu a voz quando viu Violet escalar a pedra, e cair no fundo do buraco negro.

“Violet! ” Estendeu as mãos para dentro do poço, e ouviu o choro dela ecoar pelas paredes. Lá embaixo, cercada por água gelada e suja, os olhos assustados dela o encaravam em terror completo, os cabelos ruivos descendo até a cintura enquanto ela tremia. Harry nunca sentira tanto medo na vida.

Os gritos de James e Lily vieram atrás, e a mãe o tirou desesperada de perto do poço. Harry desviava de seu abraço, olhando enquanto James acalmava a menininha e fazia um movimento com a varinha para conjurar uma corda. Violet veio subindo agarrada naquilo, coberta de lama misturada com lágrimas. Assim que colocou os pés no chão, correu para abraçar Harry, e o garoto se soltou de Lily chorando também. Daquele momento em diante, prometera a si mesmo que ficaria sempre de olho nela, e que nunca deixaria que nada acontecesse à irmã.

“Harry, estou com medo. ” Violet terminou a história, trazendo o irmão de volta ao presente. “E se o que Snape falou for verdade? E se mamãe e papai forem capturados? E se essas coisas que guardam a alma das pessoas realmente existirem? Ele é invencível! ”

“Não, não é. Snape não disse que na primeira guerra as primeiras horcruxes foram destruídas? Como? ”

“Ele não falou... Só disse que foram destruídas mesmo porque não conseguiriam se regenerar de forma alguma. ”

“Então... Então calma. Vamos dar um jeito nisso. Eu vou te ajudar, não precisa se preocupar. ” Abraçou –a. Violet deixou algumas lágrimas caírem, e o apertou.

Quando retornaram, já estava perto da hora de aula, e Violet, já um pouco mais calma, seguiu os amigos para o lado oposto ao de Harry. “Violet está chateada? ” Lewis perguntou, e Harry assentiu.

“Sim, os exames estão chegando, sabe. ”

“Se eles são estressantes pra gente, imagina pra alguém que realmente quer ir bem. ” Adhara apoiou, piscando para Harry. O garoto sorriu. Ela estava bem melhor desde umas semanas antes, lentamente voltando ao seu antigo eu. Um grupo de sonserino passou cochichando por eles, e Pollux sorriu entre as cabeças envoltas em cachecóis verdes e pratas.

_

A sexta feira finalmente chegou, e as malas feitas encararam Harry assim que abriu os olhos embaixo das grossas cobertas aquecidas. Romulus já estava de pé, escovando os dentes, e Adhara sentava na cama dele, vendo a coleção de cartões de sapo de chocolate que tinham.

“Dia, ” resmungou, se arrastando para começar a se trocar. Não havia mais quase ninguém no dormitório. “Me atrasei? ”

“Não, todo mundo acordou cedo mesmo. Tem neve. ”

“Ah. ”

Se arrumou em silencio, e desceram para encontrar Hermione. Harry só acordou definitivamente quando tomou o café, e sua cabeça começou a formular todo tipo de cenário que poderia encontrar quando visse os pais de novo. Violet estava mais animada desde a conversa que tiveram, mas ainda empalidecia quando tocavam no nome de Snape.

Depois do almoço, então, o Expresso de Hogwarts finalmente partiu, deixando para trás a figura congelada do castelo. Harry respirou fundo, e flagrou Adhara mirando-o fixamente. “Que foi? ”

“Nada. ” Respondeu ela, sem tirar os olhos dele. O reflexo branco da paisagem fora do trem nos olhos de Padfoot o tornavam gelados, criando um véu entre o que ela estava realmente pensando e o que dizia num tom cínico. “Eu que pergunto. ”

“Comigo não aconteceu nada. ” Mentiu, arrependido de ter prometido à Violet que não contaria a mais ninguém o que Snape dissera a ela. Queria que Adhara parasse de encará-lo.

Um estalo na porta chamou a atenção de Harry, e Adhara se assustou com a abertura dela, colando as costas na parede instintivamente. Romulus puxou a varinha e se pôs na frente dela, e Lewis guinchou. Aparentemente o acidente com o dementador não tinha sido esquecido ainda.

Mas não era uma criatura maligna que os cumprimentava, e sim Ginny e Pollux, que entraram com cautela dentro da cabine. “Assustei vocês? ” A garota perguntou, abraçando Harry, que negou.

“Perdão pela intromissão. ”

“Pode entrar. ” Pollux tirou as luvas de couro negras e se posicionou ao lado de Adhara, que relaxou um pouco mais. Parecia meio nervoso. Ron sorriu amarelo e tentou contar uma piada sem graça, mas foi interrompido na metade do raciocínio pelo sonserino.

“Estive conversando com os membros da minha casa. Acho que alguém sabe onde meu pai está, mas não quer me dizer. ”

“Como? ” Ginny e Hermione falaram em uníssono. Pollux respirou fundo elegantemente, mas deu de ombros.

“Não sei. São sombrios e misteriosos, mas não tolos. Faz um mês. Ninguém sabe de nada. ”

“É bem capaz daqueles caras saberem alguma coisa, ” disse Ron, “quero dizer, metade é parente de um bando de ex-comensais da morte, devem ser todos malignos também. ”

Diante de Harry, Adhara rosnou. Ginny olhou feio para o irmão.

“Só porque uma família tem seus galhos podres não signifique que todos os membros dela sejam do mal, Ron. Deixa de ser tapado. “

“Ah, não quis dizer vocês, Pads! ”

“De fato, é surpreendente como algumas famílias conseguiram redenção. ” Pollux não pareceu ter ouvido nada. “Talvez meu tio saiba de alguma coisa, não sei. ”

“Não tem falado com a sua mãe, Pollux? “ Hermione perguntou cautelosa. O sonserino assentiu.

“Ela não confia em mim. Acha que sou muito jovem para entender dessas coisas. ”

O silencio preencheu a cabine. Ginny encostou em Harry para dormir, mas o garoto não conseguia mais relaxar. Tudo o que Violet lhe contara, somado às desconfianças de Pollux, giravam em sua cabeça, e quando finalmente adormeceu, chegou até a sonhar com um grupo de encapuzados que corriam atrás de Regulus e dele. Harry perguntava ao homem o que fazer e onde ele estava, mas não tinha resposta nenhuma, só gritos. Acordou assustado perto da chegada, e quando Ginny perguntou sobre o que estava sonhando, inventou qualquer coisa. Já bastava um dos dois sendo uma pilha de nervos.

“Ei, não esqueçam da festa de Natal lá em casa! ” Ron convidou enquanto Harry ia atrás das irmãs. Assentiu sem se demorar mais, beijando Ginny e deixando os amigos para trás com um grito de “tchau! ” rápido.

Encontrou Sam e Violet perto da saída, e saltaram para a plataforma à procura da família. Não demorou muito para verem, vindos da área de malas, os pais chegando com sua bagagem.

James tinha olheiras profundas sob os olhos, e sorriu apenas um segundo antes de sacar a varinha. Lily tinha a dela em mãos já, e beijou os filhos rapidamente também.

“Mãe, o que está-“

“Sh, em casa conversamos. ” James passou as mãos de forma protetora nas costas das filhas enquanto a esposa fazia o mesmo com as de Harry. O garoto sentiu-se escoltado até um canto, onde o pai tirou uma chaleira velha e mandou que todos agarrassem nela. Olhou uma última vez para trás, a tempo de ver agentes do ministério entrarem no trem.


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