1997 escrita por N_blackie


Capítulo 35
Adhara




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O rosto de Pollux mudara muito desde a última vez que se viram. Fora em seu aniversário de quinze anos, quando uma enorme festa fora dada na Mansão e toda a família fora convidada (muito pela insistência de Druella), inclusive Regulus e sua família. Pollux tinha então catorze anos, era da altura dela, e tinha o rosto meio redondo, com olhos tímidos e esquisitos, e gostava de música de câmara e funerais. Adhara o apresentara aos amigos e à Romulus, e os dois se estranharam a noite inteira.

“Ele não para de olhar para você, é estranho.” Moony a puxara de canto para reclamar, e ela dera risada na cara dele.

“Ele é meu primo, seu idiota, que babaquice isso. Vamos, tem bolo e comida boa, pare de reclamar.”

“Pollux é estranho, estou te falando! E seu pai concorda comigo!”

“Meu pai está paranoico e maluco desde que eu cresci peitos, Moony, não leva a sério as preocupações dele. Ou está com ciúmes?”

“Eu?” Romulus ensaiara uma gargalhada, mas foi interrompido com um beijo. Quando se afastou, sua expressão estava mais serena. Adhara achava aquilo tão bobo.

Quando estavam voltando, Pollux aparecera carregando um livro preto pequeno nas mãos magricelas, e se sobressaltou quando viu os dois. Ficou muito vermelho, e quis ir embora, mas Adhara o segurara. Não ia deixar Romulus oprimi-lo mais ainda.

“Hey, o que tem aí?”

“É o caderno que te falei...”

“Com os poemas? Me deixa ver?”

Ele sorriu fracamente, mas Adhara notou o brilho sombrio com que ele olhava Romulus. Moony devolvera o olhar com a maior ira que seus quinze anos conseguiram, mas nada disseram. Pollux mantinha uma distância respeitosa dela, e balbuciava em francês quando não sabia o que dizer na língua dela. Mostrou algumas poesias que escrevera, e eram realmente boas.

“Eu gostei, você devia mostra-las para mais gente, Pollux.”

“Não sei, minha mãe disse que teatro é mais expressivo...”

“Para o inferno com o que ela pensa, faça o que gostar mais! Eu sempre faço o que eu mais gosto, e não deixo ninguém me impedir. Pode fazer o mesmo se quiser.”

Agora, olhando para Pollux quase três anos depois, era quase impossível conectá-lo aquela figura mirrada e esquisita. Estava uma cabeça mais alto que ela, e o corpo não era mais magricela, mas esguio. O rosto redondo se tornara fino, e os olhos adquiriram o charme dos Black mais rápido do que ela imaginava, combinando com a boca elegante e o nariz francês. O cabelo endireitara, mais para o lado de Amelie, e ele sabia inglês perfeitamente agora. Até os dedos mudaram, ficando longos e firmes em vez dos pedaços de presunto que eram antes.

“Não tenho certeza do que fizeram com ele, não sei mesmo.” A voz mais grossa soava preocupada e incerta, e levava um tom amargo no fundo, que ela mesma conhecia bem.

“Meu pai vai averiguar, não pode se deixar controlar por isso, ou vai ficar maluco. Eu mesma já estou assim, já briguei com todo mundo por causa disso.”

“Você, brigando? Ah, mas os anos não passam aqui na Inglaterra mesmo.”

Adhara riu do sarcasmo, e esfregou os braços de Pollux, sentindo um arrombo de carinho pelo primo. Ele sorriu em resposta, tocando a mão dela de forma firme. “De verdade, prima, obrigado pelo apoio. É uma pena que não estejamos na mesma casa.”

“Não imaginava você em outro lugar, pra ser sincera. É tão Black que vovó deve estar dando uma festa no círculo do inferno onde ela mora.”

Ele riu. Adhara ouviu alguém chamar seu nome, e virou-se para ver Prongs, Moony, e os outros acenando, as mochilas em mãos. Os olhos de Pollux faiscaram na direção de Romulus.

“Espero que não tenham restando sentimento residuais entre Lupin e eu.” Murmurou, a voz adquirindo um tom congelante. Adhara olhou de um para o outro.

“Não, ninguém tem sentimentos por ninguém aqui. Até porque Moony e eu não estamos mais juntos, você sabe disso. O quinto ano foi há muito tempo.”

“Claro.”

“Nos vemos mais tarde, então?”

“Claro.”

“Não ligue para os idiotas da sua casa, ok? Eles espalham todo tipo de boato sobre mim.”

“Acreditarei em todos, pode deixar.”

Adhara lançou uma última olhada divertida para Pollux, ainda admirada em como ele mudara, e depois voltou aos amigos. Harry pareceu ler seus pensamentos.

“Nossa, Pollux mudou pra caramba! Quem diria...”

“Será que ele ainda vai no cemitério pensar?”

“Cala a boca, Wormtail.”

Romulus crispou a boca. “Ele continua esquisito. Você viu o jeito que ele olhou para mim?”

Adhara bufou. Não precisava desse tipo de preocupação naquele momento, e não ia deixar Moony continuar enchendo o saco e se fazendo de vítima da história toda.

“Dá pra parar? Não têm mais nada o que fazer além de ficar atacando o meu primo? Meu tio foi sequestrado, e vocês aí, preocupados se ele ainda faz ou deixa de fazer alguma coisa! Mas que inferno!”

Tirou a bolsa com raiva das mãos de Ron, e começou a ir até a sala de Remus. Tinha terminado aquele namoro um milhão de anos antes!

As aulas do sexto ano estavam pra começar, e as férias de verão foram uma grande porcaria. Remus reencontrara Nymphadora numa das festas para aurores do Ministério no começo do ano anterior, e Sirius ficara exultante em poder se reaproximar dos Tonks finalmente, e ficava chamando Andromeda, Ted, e ela para jantar milhares de vezes.

Remus ficara sabendo no namoro de Dorcas e começara a se deprimir, então era sempre convidado de honra de todos estes jantares, ficando até altas horas conversando com a auror de cabelos coloridos. Começaram a namorar no natal, e quando voltaram para as férias de verão, Tonks estava grávida e o casamento, marcado. A uma semana do evento, Romulus fora para ficar junto com Adhara, e não parava de reclamar de tudo.

“Ela é quase da nossa idade! Porque meu pai não pode ficar com alguém normal, que nem a minha mãe fez? Imagina que família legal: eu, meu pai, e uma garota que acabou de se formar e que podia ser minha irmã mais velha?”

“Deixa o seu pai viver a vida dele, Moony, se isso o faz feliz...”

“Até você está do lado dele? Vai virar santa? Santa Adhara dos fracos, oprimidos e-“

“Se continuar falando assim comigo vou quebrar a sua cara.” Se levantou do sofá onde estavam, e foi até a sacada vazia para respirar. Romulus a seguiu.

“Desculpa, não quis te ofender, sério. Só estou estressado com o rolo dos meus pais.”

“Com isso, com a merda do meu primo, com o meu pai...”

“Não estou bravo com o seu pai! Ele está bravo comigo!”

“Meu pai odiaria qualquer um que fosse meu namorado, você sabe disso! E Pollux não te fez nada!”

“Ele se acha muito! Jack falou- “

“Jack e ele têm uma rixa estúpida desde que a gente é criança, Romulus.” Adhara olhou incrédula para Moony, irritada com tanto ciúme. “Porque está vendo coisa onde não existe?”

Os olhos de criança dele caíram de tristeza, e ele desviou o olhar dela. “Você mudou, está mais legal do que eu, todo mundo acha isso e fica perguntando ‘hey, o que a garota mais legal do colégio está fazendo com aquele Lupin perdedor?’ Toda vez que eu toco no assunto você me dá uma patada, e já brigou com meio mundo desde o começo do ano!”

Adhara olhou bem para ele. Moony sempre fora quieto e retirado, gostava de ler, mas era divertido e achava que tinha alguma obrigação absurda de cuidar dela. No começo essa mania dele a incomodara, mas depois aprendera a achar engraçado quando ele a abraçava enquanto ela gritava com alguém. Ninguém realmente entendia o que ela vira nele, mas ela sabia. Moony era Moony. Só que desde o divórcio de Remus e Dorcas muita coisa mudara, e ele mudara. Ficara mais revoltado, via desastre em todos os casais, e começara a ficar paranoico e irritadiço, até que, subitamente, Adhara se vira namorando uma versão menos explosiva dela mesma.

Tentara ajuda-lo, mas a personalidade antes calma e controlada ficou fora do controle, e ele se tornara um monstro ciumento. Brigavam o tempo todo, e quando ele achava que estava perdendo, se fazia de vítima e a fazia sentir culpada.

Naquela noite não estava sendo diferente. Ele fazia a mesma expressão de coitado que já se tornara costumeira, e Adhara se via acuada na parede, a raiva borbulhando nas veias enquanto ela tentava se conter para não machucá-lo mais ainda. Romulus não dissera nada, e começava a se aproximar dela, quando a bomba explodiu.

“Sabe do que mais?” descruzou os braços e cerrou os punhos, mantendo-os bem perto do corpo para resistir ao impulso de cravar os dois na cara deprimida dele. “To cansada disso! To cansada de você me enchendo a merda do saco com esse mimimi de criança abandonada, como se o mundo inteiro tivesse que parar pra resolver os seus problemas! E daí que a sua mãe e o seu pai se separaram? Eles simplesmente decidiram! Você não viu briga nenhuma, nem ouviu gritos, cara! Eles só não quiseram mais! A única pessoa que está traumatizada aqui é você, e está descontando essa dor de cotovelo em mim, e nos outros! Não vou mais me sentir culpada por você, e não vou deixar você usar o meu pai e a minha família como desculpa para ficar me irritando. Pollux pode ser o quão bizarro ele quiser, eu vou continuar ajudando ele, porque ele é meu primo e eu gosto dele! O meu pai pode continuar com ciúmes, ele é assim, e eu não vou mais brigar com ele por isso! E você pode dar o fora da minha frente!”

“O que?” ele parara, sobressaltado, “está terminando?”

“Desculpa, você é surdo? Estou, dá o fora, Romulus!”

O silencio ficara palpável. Adhara se sentia aliviada por poder dizer a ele o que pensava, mas começava a entrar em pânico, morrendo de medo de perder a amizade dele. “Olha, cara, não estou negando ajuda,” deu um passo para frente, abrindo as mãos finalmente, “só não está dando mais entre a gente. Não quero perder a sua amizade, de verdade. Você é um dos poucos que eu não tenho vontade de matar...”

“Entendo. Eu vou, hm, pra casa, e vou, sei lá, pensar. Tchau, Adie.”

Ele a deixou, e horas mais tarde Sirius a encontrou sentada na varanda, chorando. No casamento, não se falaram, e Harry e Wormtail ficaram que nem corujas voando pra lá e pra cá conversando entre um e outro. Voltaram para Hogwarts, e embora estivessem na mesma cabine, era como se não existissem um para o outro. No dia das bruxas, no entanto, isso mudara.

Os morcegos sobrevoavam a mesa grifinória e deixavam cair doces e brinquedos bruxos por toda a sua extensão, quando foram cortados por uma coruja, que largou um pacote em frente a Romulus e foi embora, apressada.

Adhara estava ao lado de Harry, e viu em silencio enquanto Moony abriu a embalagem para tirar algumas fotos e um livro novo.

“Que que é isso?” Wormtail se esticou por trás de Ron para ver melhor. Romulus olhou as fotos e seus olhos encheram de lágrimas.

“Ted nasceu.”

Adhara sorrira, e Harry lhe passara as fotos conforme as via, mostrando um bebe rechonchudo de cabelos brilhantes em vermelho, ou em azul. “Ele é metamorfomago, que bacana.” Comentou, entregando –as de volta.

“E ganhei um livro novo.” Moony sorrira, “segundo meu pai, foi Teddy quem trouxe para mim. Cara, quantos anos ele pensa que eu tenho...”

“Deve ter ouvido esse conselho da minha mãe, desculpa. Quando os gêmeos nasceram eu ganhei o Hades filhote e uma vassoura de brinquedo.”

Moony se assustou de ouvi-la falar com ele diretamente, e quando os olhares dos dois se encontraram de novo, Adhara percebeu que não estava tão brava ou chateada com ele mais. Só cansada de ter perdido um amigo querido. Romulus sorriu.

E foi assim que depois de meses, voltaram a se falar. A amizade parecia ter voltado do ponto em que pararam, e o assunto do namoro virara uma piada entre eles.

Moony a alcançou na porta da sala do pai, e colocou a mão no ombro dela. “Foi mal, não quis dizer que não estou triste pelo seu tio, de verdade.”

“Eu sei, tudo bem.”

“Olha, se Pollux ainda gostar de você...” entraram juntos, e ela sentiu o rosto queimar com a insinuação, e se irritou consigo mesma por cogitar a possibilidade. “Acho que deveria tentar.”

“Não está tendo faniquito de ciúmes?” provocou. Romulus riu, e olhou para ela misteriosamente.

“Não, tenho outros interesses agora. De verdade, Harry e eu concordamos que ele está bem menos estranho agora.”

“Tá, se eu eventualmente acordar perdidamente apaixonada pelo meu primo eu aviso as duas comadres, beleza?”


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