1997 escrita por N_blackie


Capítulo 29
Rabastan




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Os pés de Rabastan chocaram-se com o chão de paralelepípedos com um baque surdo, e ele ajeitou a gola do sobretudo antes de mergulhar as mãos nos bolsos e começar a caminhar. A agitada estação de trem ficou para trás, e os pedestres o ajudaram a camuflar-se enquanto tomava seu rumo ao 19º distrito parisiense, num endereço que conseguira atrás de um contato de Barty no ministério francês.

Entrou no metrô, e se enfiou entre duas senhoras para esperar, guardando o papel. As palmas de suas mãos estavam suadas, e se dera conta de que não pensara em nada para falar ao irmão quando finalmente o visse.

Uma voz incorpórea anunciou sua parada, e se levantou cambaleante e tremulo. O sol quase o cegou quando terminou de subir as escadarias, e se deu conta de que faziam muitos anos que não andava numa claridade tão grande. Alguém esbarrou nele, e resolveu apertar o passo.

O prédio de apartamentos era no tradicional estilo da capital francesa, não muito alto, mas de bela fachada. As minúsculas sacadas brotavam das amplas janelas timidamente, pontuadas algumas vezes por vasos de flores coloridas que contrastavam com o negro da porta de entrada. Um número dourado ornava a superfície, e um botão branco indicava a campainha.

Rabastan buscou o papel em seu bolso para confirmar o endereço, e leu os nomes falsos que o irmão e a cunhada haviam aparentemente adotado. Segundo o contato de Barty, simpático à causa, eles agora eram Martin e Tèrese Boucher. Com os dedos inquietos, procurou na lista de campainhas, e uma das últimas filipetas indicava que ali, de fato, viviam os Boucher. Respirou fundo e engoliu em seco.

“Sim?” atendeu uma voz distorcida pelo aparelho, em francês. Pigarreou, e respondeu em inglês.

“Estou aqui para falar com o meu irmão.”

Um som estranho veio em resposta, como uma exclamação solta, e o interfone desligou. Rabastan bufou, frustrado, e sentou-se no batente da entrada. Mergulhou o rosto nas mãos magras, e esfregou a cabeça com agressividade. Um ardor desconhecido perfurou seus olhos e fechou sua garganta. Percebeu que estava chorando quando sentiu o salgado escorrer por entre seus dentes.

Subitamente, um zumbido alto soou atrás dele. Virou o pescoço rápido em reflexo, e percebeu que a porta se abrira. Talvez o casal trouxa que vivia ali ficara com pena daquele patético homem que chorava à sua porta. Decidiu entrar, e se fosse este o caso, mataria os dois. Não queria a pena de ninguém.

Uma escadaria o esperava dentro, passando por várias portas antes de chegar ao número correspondente ao da campainha, uma porta de madeira envelhecida e simples. Estava fechado, como se os Boucher o estivessem desafiando a persistir em visita-los. Bateu duas vezes, e sacou a varinha.

A passagem se abriu, e Rabastan baixou a arma imediatamente. Era como se estivesse vendo um fantasma, e o gelo percorreu seu corpo como se tivesse de fato sido atravessado por um.

“Rabastan.” A voz de Rodolphus era profunda, como ele se lembrava, e parecia tanto surpresa como aliviada em vê-lo ali.

Ao contrário dele, que passara anos fugindo de todos, Rodolphus estava musculoso, um pouco bronzeado, e tinha uma barba castanha bem arrumada. Seus olhos estavam levemente enrugados dos lados, mas ainda eram perfurantes e alertas. O cabelo estava salpicado de alguns fios grisalhos, mas ele ainda o usava para trás. Vestia roupas de trouxa. Rabastan chegou perto do irmão, deixando a risada de alívio escapar em suspiros enquanto o apertava em seus braços.

“Eu não- “ria e chorava ao mesmo tempo. Rodolphus o abraçava de volta, e dava tapinhas paternalistas em suas costas, como fazia quando eram mais novos. Nada de loucuras, ou depressão, nublavam seus olhos.

Entraram, e finalmente a viu. Bellatrix vinha da pequena cozinha, os cabelos exuberantes presos elegantemente com uma tiara. Os olhos, pesados e languidos, faiscavam em sua direção.

“Achei que não viesse mais, estava me cansando de ficar de férias.” Disparou.

“As condições para que voltassem não foram das melhores,” Rabastan aceitou o café, e se sentou na poltrona que o irmão indicou. O casal sentou-se diante dele, “se tivesse ficado como eu, saberia disso.”

“De fato, a julgar pelo que está vestindo poderia estar vivendo na rua, Rabastan.”

“Ora, vamos, nem nos encontramos e já estão discutindo?” Rodolphus sorriu agradavelmente, e Rabastan riu. “O que precisa?”

“De vocês.”


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