1997 escrita por N_blackie


Capítulo 17
Jack




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O trem chacoalhou, e Jack abriu os olhos para a escuridão completa. Alguns gritos foram ouvidos através do trem, e o garoto sentiu os pelos do braço arrepiarem quando se sentou, numa onda de frio que o atingiu completamente.

“Leo? Violet? Rich!” chamou, tateando os bolsos até encontrar a varinha. Tinha uma leve impressão de que conhecia aquela sensação, e se suas suspeitas estivessem certas, todo mundo naquele trem estava em perigo.

Mas como Dementadores tinham ido parar no Expresso de Hogwarts?

Violet sussurrou uma resposta amedrontada, e o contorno da silhueta de Richard se mexeu à sua frente. Lá fora, o céu ficara negro, e até o sol do fim de tarde apagara. Ao lado de Jack, a voz do irmão soou preocupada, só para ele ouvir:

“Jack, não pode ser.”

“Vou procurar Adie, espera aí- “se ergueu, ignorando os protestos de Leonard para que ficasse, e abriu a porta com cuidado, esticando a varinha primeiro que o corpo.

O corredor estava deserto, e embora sua respiração formasse nuvens brancas diante de seus olhos, podia perceber que todos os grupos estavam aterrorizados dentro de suas cabines. Tateou para ganhar estabilidade, e logo começou a avançar, cada vez mais rapidamente, em direção a cabine da irmã.

“Adie!” entrou quando reconheceu os gemidos assustados de Lewis, e quando abriu, viu o grupo da irmã encostado à janela, as varinhas erguidas na direção da porta. “Calma, sou eu!”

“Entra logo, seu babaca!” a voz de Adhara estava tremula, e quando Jack se aproximou, sentiu a mão dela puxá-lo com violência para o lado dela. Harry abraçava Ginny, que claramente viera busca-lo também, e Romulus riscou a camada de gelo que cobria a janela, balançando a cabeça com incredulidade.

Outro impacto chacoalhou o trem, e Lewis soltou um guincho, as costas coladas no vidro como se quisesse atravessá-lo. Jack sentiu a mão livre de Adhara tremer em sua direção e parar diante de seu peito, como se quisesse protege-lo e ao mesmo tempo ter algum lugar para tomar impulso caso alguma coisa explodisse pela porta. A respiração dela estava descontrolada, e Jack começou a entrar em pânico. Se Adhara estava com aquele nível de medo, era porque ela, assim como ele, sabia que tipo de criatura estava entrando naquele trem.

“Ad-“tentou chamar, mas a irmã sibilou para que ficasse quieto. Jack insistiu, mas logo lembrou que a irmã com certeza lhe xingaria. Ela sempre fazia isso, diminuía seus esforços, diminuía a Jack diante de todo mundo. Por isso ele tinha aquela necessidade de ficar procurando a asa dela pra se esconder. Era mesmo um fracassado.

Ginny começou a chorar, e Jack teve vontade de acompanhá-la. Pra que tinha ido à cabine de Adhara, no fim? Só para ela lhe humilhar na frente dos amigos? Jack sentiu um aperto no peito, e uma fraqueza em todo o corpo. Queria cair no chão e chorar, e pensou no pai, que sempre impunha uma figura muito difícil de copiar, e que Jack tinha certeza de que não conseguiria jamais. Lembrou de quando era criança, como Sirius sempre levava Adhara para andar de moto, para experimentar novas peças nos tios irritantes da família. Os dois tinham a mesma risada, o mesmo jeito de sorrir, algo que Jack nunca conseguira imitar.

Os joelhos começaram a ceder, e Jack se deixou cair no chão, largando a varinha no processo. A seu lado, Adhara o chamou de longe, mas Jack percebeu apenas de longe o terror na voz da irmã. Uma sombra negra apareceu no vidro opaco da porta da cabine, e esta começou a abrir lentamente. Jack, ajoelhado, só tapou os ouvidos e apertou os olhos, um misto de tristeza profunda e confusão dominando sua mente. Não conseguia parar de rememorar as imagens de seu pai e Adhara brincando, e depois de sua mãe e Leonard enquanto ele, Jack, ficava sempre de lado, ignorado por não ser tão inteligente quanto o irmão e a mãe, e nem tão charmoso quanto o pai e a irmã. Sempre ignorado, sempre deixado de lado...

Uma mão podre envolveu a fresta que se abrira na porta, e empurrou a estrutura para abrir passagem para uma capa preta sem corpo por baixo, uma sombra deslizante que entrava na cabine como se farejasse a tristeza que Jack sentia. O garoto, ao olhar para aquilo, percebeu o que estava acontecendo com ele, e começou a ofegar entre as lágrimas, que tinham começado a cair sem que percebesse.

Harry, abraçado a Ginny perto dele, sussurrou um feitiço que Jack não conseguiu ouvir, e um vapor prateado tênue saiu de sua varinha, afastando o dementador fracamente, e desaparecendo logo em seguida. A criatura olhou para o grupo como se procurasse por algo, e logo focou sua cabeça na irmã de Jack.

Fazendo força para lutar contra a aflição que ameaçava toma-lo por inteiro, Jack se obrigou a lembrar dos bons momentos, como da vez que ficara alto o suficiente para subir em uma vassoura de adulto. Sirius e Adhara o acordaram de madrugada, cada um com uma vassoura, e o levaram ao quintal da propriedade para lhe dar sua própria, embalada num papel prateado que virou cinzas num segundo, tal era a ansiedade de Jack para ver o novo brinquedo.

Sirius lhe abraçara, e os dois o levaram para as montanhas, ver o nascer do sol num ângulo que nunca tinha estado. Jack via o amanhecer vindo em sua direção, e o vento acariciar suas bochechas, e quanto se virou para agradecer o pai e a irmã, os dois estavam tão felizes quanto ele, de olhos fechados para o horizonte.

Lembrou-se de quando levavam Leonard á Floreios e Borrões, e o irmão o buscava sempre que via algum título que pudesse interessar à Jack. E lembrou-se dos abraços que Marlene lhe dava nas tempestades, e do cheiro de seus cabelos quando o envolviam no aconchego de mãe.

O roçar da capa do dementador o fez abrir os olhos, mas dessa vez suas energias estavam renovadas. Olhou atento ao redor, e percebeu que a mão asquerosa do dementador esticava-se na direção de Adhara, que estava paralisada colada ao vidro, o peito subindo e descendo acelerado e os olhos arregalados encarando o dementador. Os dedos da criatura agarraram uma corrente que pendia do pescoço pálido dela, e com um puxão, o arrebentou. Adhara fez menção de pegar o colar dele, mas o capuz com a boca do dementador começou a avançar na direção dela.

Jack ignorou a varinha que tinha caído em algum lugar e avançou nele com um grito, chocando o corpo contra o dementador, que surpreendentemente se assustou com aquele gesto. O corpo tênue da criatura não era tão sólido a ponto de ceder ao impacto, mas firme o suficiente para que Jack tivesse conseguido afastá-lo. Se equilibrando, Jack se colocou entre ele e a irmã, esperando qual seria a reação do dementador. Do lado, Harry estava procurando a varinha, que também deixara cair, desesperado, mas foi Romulus quem veio em seu auxílio, puxando a própria e apontando no rosto do dementador.

“Expecto patronum!” exclamou inseguro, e um jato prata, um pouco mais sólido do que o de Harry, que se postou entre o dementador e Jack como um escudo. A criatura tentou aspirar o ar, mas a barreira parecia impedi-lo de se aproximar dos irmãos. Frustrado, pareceu desistir de completar a tarefa, e começou a recuar para a porta da cabine. Alguns gritos de palavras de ordem foram ouvidos do lado de fora, e o trem começou a tremer ao som de passos firmes do que parecia ser um grupo de bruxos crescidos.

O dementador estava na porta quando foi atingido por um solavanco vindo do maior urso que Jack já vira, um animal em prata que começou a varrer o vagão com sua aura, limpando o ar. Os gritos continuaram, mas não eram mais de pavor, e logo um homem alto surgiu no umbral da cabine, e arregalou os olhos diante da cena de tensão. Ele usou a varinha para reacender as luzes, e Jack olhou em volta. Harry e Ginny seguravam um na mão do outro, e com a outra seguravam as varinhas do contrário; Ron e Hermione tinham se abaixado, e Lewis agarrava na saia de Mione para se proteger. Romulus apontava a varinha para a frente de Jack, da qual saia seu patrono fraco, e Jack estava na frente de Adhara, os braços estendidos na frente dela.

“Black?” o homem, na claridade, era um agente do ministério, e usava a insígnia do Departamento de Execução das Leis da Magia. Olhou no entorno e guardou a varinha, se aproximando de Romulus. “Pode baixar a varinha, menino, ele já foi.”

Jack relaxou, e quando se virou para ver como Adhara estava, se assustou. A irmã estava branca como um cadáver, e segurava o próprio pescoço petrificada. Os olhos e a boca estavam muito abertos, quase cômicos, e todo seu corpo tremia brilhante de suor. Jack a chamou, e quando o agente se aproximou, ela não respondeu, escorregando nas próprias costas até despencar no chão, inconsciente.


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