1997 escrita por N_blackie


Capítulo 13
Harry




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Quando acordou na manhã do Primeiro de Setembro, o mundo estava mais cinza. Harry demorou um pouco para lembrar de que seria a sua última vez naquela rotina, e subitamente um sentimento incomodo lhe apertou o estomago. A realidade de precisar decidir o que faria da vida a partir do final do ano letivo lhe deixou um pouco atordoado, e antes que pudesse se censurar por estar se deixando ficar nervoso com isso, já estava querendo voltar a dormir e esquecer dos problemas.

Olhou pela janela para tentar despertar e pensar em algo mais, mas o tempo chuvoso e anormal só o deixou mais preocupado, lembrando da situação instável do pai. Estava com medo de receber notícias ruins naquele ano, e não podia deixar de se sentir injustiçado pela vida. Uma crise na família podia acontecer em qualquer outro ano, mas precisava acontecer no último ano dele?

Antes que pudesse se irritar com o universo, no entanto, sentiu-se culpado por estar pensando no que soubera sobre o pai de uma forma tão egoísta. Afinal, se ele, Harry, já estava preocupado, seu pai deveria estar muito mais, já que quem perderia o emprego era ele. Desceu para o café se criticando mentalmente por isso, e sorriu culpado para Lily antes de pegar um sanduíche e subir novamente comendo-o.

“Você viu o meu livro de poções?” Violet lhe assustou no topo da escada, e Harry deu de ombros com o sanduíche preso aos lábios, abrindo espaço para a irmã descer correndo assim que ela revirou os olhos em resposta.

Tudo parecia tão normal a seu redor que Harry estava começando a se sentir o deslocado da situação. Sam e Violet pareciam abençoadamente ignorantes dos problemas dos pais, e se limitavam a cuidar das malas em vez de pensar no que, na opinião de Harry, era realmente importante. James podia perder o emprego, por Merlin!

Balançou a cabeça aborrecido, mas refletiu rapidamente que era melhor assim. Desespero não o levaria a lugar nenhum, provavelmente era só a ansiedade que a incerteza sobre o futuro estava causando nele! Fechou a porta atrás de si com o coração mais leve, e focou em colocar as últimas peças de roupa sobre o monte de material que já pusera em seu malão no dia anterior.

Estava concentrado nas capas de inverno que iriam por cima do monte, dobrando-as e medindo para que não fossem regurgitadas quando reabrisse a mala, quando ouviu batidas suaves na porta, tão tímidas que por um segundo decidiu ignorá-las, achando que seria o vento lhe pregando uma peça. Só depois que estas se repetiram, dessa vez um pouco mais altas, gritou para que a pessoa entrasse, murmurando para si mesmo “a porta tá aberta, é só entrar, mas que coisa”.

A pessoa entrou, e quando Harry olhou para sua janela, viu o reflexo de seu pai, que parara perto da passagem esperando o filho terminar o que fazia. “Só um segundo,” Harry ergueu os polegares, e dobrou novamente a capa, sem conseguir fechar o maldito malão. James sorriu, e rugas novas surgiram em seu rosto cansado, e num gesto rápido de varinha, fechou a mala de Harry com tudo dentro, fazendo as peças se encolherem obedientes e se dobrarem sozinhas para sair do caminho.

“Putz, valeu, pai!” ele suspirou aliviado, rindo. James ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. “Eu, em, não sei ainda esses feitiços domésticos.”

“Um dia você aprende,” respondeu James, que flutuou o malão para fora da cama do filho com um sinal das mãos, “podemos conversar?”

Pronto, é agora, pensou Harry. James iria colocá-lo a par da crise, avisar que perderia o emprego, e que ele, Harry, teria de se resolver logo sobre o que queria fazer da vida, porque precisaria trabalhar nas férias, e depois, deus do céu. Sentiu o coração acelerar no peito, e respirou fundo para não parecer que já sabia de alguma coisa.

Assim, a seu lado, James parecia muito mais velho do que realmente era. Seus cabelos, antes tão pretos quanto os de Harry, estavam salpicados de fios brancos, e os juncos em sua testa, mesmo por baixo da franja, haviam ficado claramente mais profundos desde o último mês. Ainda assim, foram os olhos que denunciaram que o problema talvez não fosse o emprego de James. Atrás das lentes redondas, o olhar do pai de Harry era ansioso, mais que isso, escondia atrás dessa ansiedade um sentimento que o garoto não conseguia decifrar. Medo?

“Filho, eu preciso te contar uma história.”

“É sobre o seu emprego?” Harry não resistiu, e se pegou desejando que esse fosse o problema. A expressão de James o estava assustando, “eu ouvi você e mamãe discutirem no outro dia, sobre acusações que Barty estava colocando em cima de você, eu não quis ouvir, mas veja, estava querendo fazer outra coisa e passei por perto-“

“Ei, ei,” James deu tapinhas nas mãos que gesticulavam apologéticas do filho, “não tem problema. Talvez eu devesse ter te contado antes, pra poupar esse sofrimento. Francamente, achei que nunca precisaria, me desculpe. Mas Harry, quero que me escute, ok? Quando derrotei Voldemort você não era nem nascido. Aliás, sua mãe e eu namorávamos a pouco tempo até, apesar de as memórias dessa época serem bem nubladas, por alguma razão...O fato é, eu o derrotei, não sozinho, mas com ajuda de muita gente importante. Fiquei famoso por isso, mas não posso dizer que seja algo de que me orgulhe.”

“Você salvou todo mundo!”

“Eu matei um homem, Harry.” O olhar de James ficou nebuloso, “um homem mau, perverso e perigoso, mas um homem. Me orgulho do que construí depois disso, de sua mãe, de você e das meninas, do meu cargo. Não me orgulho de ter matado Tom Riddle. Na época, fiquei sem saída, estávamos investigando por conta, em Hogwarts mesmo, sua vida, ele achou perigoso, sequestrou os meus pais, os pais de Marlene... Tudo é tão embaçado, meu filho. Não lembro de muita coisa, mas lembro que senti medo, incerteza, esperança, tudo num dia só. Eram tempos muito, muito difíceis. Você já ouviu disso tudo, não preciso contar de novo. O fato é, na época em que me formei, a sociedade ainda estava em cima de mim, contando a minha história, me procurando para entrevistas. A Ministra da Magia da época disse que eu era um garoto prodígio, todas essas besteiras que se diz quando alguém muito jovem faz algo que os adultos achavam impossível.” James parou para rir, como se o passado fosse uma história levemente engraçada.

“Subi rápido na Academia, tanto eu como Sirius, apesar do nojo que ele tinha, e tem, pelas leis do ministério. Cheguei a capitão tão cedo quanto entrei para o Departamento, e apesar de não ter tentado me aproveitar de toda aquela fama para conseguir isso, acho que os acontecimentos me ajudaram muito a conseguir esse cargo. Veja, Harry, deixei para trás na escolha autores muito mais velhos, muito melhores do que eu. Alastor Moody estava cotado para ser Capitão do novo departamento que seria criado, Amelia Bones também, e claro, como deve imaginar, Bartemius Crouch.”

“Moody e Amelia Bones são amigos da família.” Harry respondeu burramente, e James assentiu.

“Barty não é. Bom, você deve imaginar o escândalo que ele fez na época, mas não havia condição de fazer nada contra a decisão do ministério, até porque eu tenho a ficha limpa e conquistei o cargo de capitão com muitas missões bem sucedidas na posterior prisão de muitos outros comensais da morte. Se fosse Sirius nós provavelmente estaríamos visitando-o até hoje em Azkaban. Barty era um homem poderoso, com o argumento certo com certeza colocaria qualquer adversário em Azkaban.”

“É por isso que ele quer te pegar? Por birra com uma besteira do passado?”

“Essa ‘birra’ custou os cargos altos dele, Harry, não é besteira. Mas não, não acho que essa seja a única razão para Barty estar agindo assim. Veja, o buraco é bem mais embaixo. Estudei com Barty Jr, filho dele. E tenho quase certeza de que o garoto era um comensal da morte. Ele escapou, ninguém quis dedurá-lo, e quando revistaram a casa dos Crouch, Barty pai ficou louco e expulsou os aurores esfregando códigos de lei na cara deles. Usou toda a sua influência para manter o nome da família fora disso, até porque tinha certeza de que eu estava usando a patente de capitão para incriminar o filho dele. Esse menino, assim como eu, cresceu, e acho que está por trás de alguma conspiração, só que ainda não entendo para qual fim. O fato é, se eu estiver certo e ele realmente for um seguidor das ideias de Voldemort, ele vai querer se vingar. E eu sou o primeiro da lista.”

“Você tem que denunciar esse cara, pai! Eles podem investigar ele de novo-“

“Estou tentando, mas dessa vez o corpo do ministério é diferente. Crouch ainda tem bastante influencia, e acho que está usando-a para tentar abrir o caso do assassinato de Voldemort para me incriminar. Harry, deixe que os meus problemas eu resolvo. O objetivo do que estou te contando é outro. Quando eu tinha dezessete anos, Voldemort usou a minha família para me convencer a largar a investigação. Meus pais eram aurores treinados e experientes, e mesmo assim foi difícil não serem pegos pelos comensais. Harry, eu não posso perder você e as suas irmãs. Entende? Não posso. Preciso que se cuide, que preste atenção aos arredores, e que cuide das suas irmãs, no caso de algo acontecer a mim e à sua mãe. Acha que consegue?”

Harry assentiu em silencio, sem ter certeza de que estava fazendo uma promessa ou só confirmando que não era surdo e que ouvira a história de James por completo. O pai pousou as mãos nos ombros dele. “Não queria nunca ter que passar o peso do que fiz para você.”

E se abraçaram, Harry tendo certeza de que os seus N.I.E.M’s seriam a última das preocupações do ano.


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