Dark Sky escrita por Nath Mascarenhas, prettysemileek


Capítulo 5
Capítulo 5 - Lua cheia.


Notas iniciais do capítulo

Adorei este capitúlo, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159602/chapter/5

Quando cheguei à igreja tomei um susto, parecia um mausoléu abandonado. Engoli em seco, queria dar meia-volta e ir para casa. Até que tentei fugir, mas Brian me segurou.

-Quanto mais rápido a gente começa mais rápido a gente termina. – E segurou minha mão até estarmos lá dentro.

-Cadê o terceiro, Raoni Green? – O Sr. White perguntou.

-Aqui! – Ele falou entrando correndo e ficando ao meu lado. –Desculpe o atraso.

Sr White grasnou alguma coisa que parecia ser “adolescentes idiotas” e pigarreou.

-Já que os três estão aqui, aqui está o que precisaram fazer – E nos entregou uma planta da igreja – Eu se fosse vocês...

-Estaria limpando e não sentado que nem um bundão, né? – Raoni pegou o papel da mão do delagado.

-Mais respeito garoto, mais respeito!  – E saiu bradando, andando que nem um pingüim.

-Você um dia vai preso.  – Constatei.

-Já fui, três vezes na verdade... – Falou, indiferente.

-Tá, bad boy... –Brian revirou os olhos  – Agora, por favor, podemos começar? Eu tenho que ir embora antes do pôr do sol.

-Por que, tá com medinho do lobisomem? –Raoni o perturbou – Mas é verdade, eu também tenho que vazar cedo.

-Então vamos? – Perguntei, louca para ir embora. – Comecem a varrer os destroços enquanto eu busco uns sacos de lixo na eucaristia.

-Beleza. – Raoni deu de ombros e pegou a vassoura.

-Vá com Deus.  –Brian sorriu pra mim.

Fui para dentro, mas antes não pude deixar de ouvir Raoni comentar:

-Vá com Deus... – Falou o remedando – Que bicha!

Sorri, ele era uma figura!

Quando eu voltei encontrei os dois no mesmo lugar que os deixei. O lixo no chão completamente intacto.

 -Por que não estão varrendo? –Perguntei brava. Putz, eu queria ir embora, por que eles não colaboram?

-Ah... Naara? –Brian me chamou, envergonhado.

-Sim?

-Como é que usa essa porcaria?! – Raoni perguntou sem dar a chance de Brian falar.

Eu me segurei para não cair na gargalhada. Os dois eram filhinhos de papai mesmo...

-Jesus, que imprestáveis meu Deus! –Esbravejei. Peguei uma vassoura e a posicionei – Assim ó, pra frente e para trás, para frente e para trás. Agora com vocês.

 Eles repetiram o que eu fiz e começaram varrer o altar e os bancos.

Eu colocava o lixo no saco e levava para fora.  Eu suei pra caramba, pra dizer a verdade.  Eu e Raoni começamos a pintar o altar, Brian atestado falta de talento e jeito continuou varrendo.

-Gente, já vou. – Brian deixou a vassoura no quanto e foi saindo. – Naara quer que eu te leve até em casa?

-Não, eu ainda tenho algumas coisas pra fazer. Mas vai lá. Até amanhã querido.

Ele quase caiu das escadas quando eu disse “querido” fazendo Raoni se dobrar de tanto rir.

-Até. – Ajeitou os óculos e saiu.

-Enfim á sós. – Raoni brincou, eu fechei a cara e peguei o pincel pra lavar. –O que foi?

-Nada. – Resmunguei. Indo até uma pia que a gente fez improvisada, perto da eucaristia.

 -Isso não parece que é nada. Por que você tá assim comigo, está chateada?

-Eu não tô assim com você, eu tô assim com a vida! –Gritei, fazendo ecos por toda igreja – Eu mal te conheço! Como eu posso estar chateada com alguém que não conheço?

-Você tem certeza? – Percebi que ele perguntou se eu não o conhecia não que eu estava chateada.

Olhei bem em seus olhos, eu sabia que eles eram familiares. Mas de onde?

-Tenho. – E dei as costas a ele.

-Putz, já vai dar seis... – Reclamei, vovó já devia ter feito o jantar.

-O quê?! – Ele largou o pincel o fazendo cair e sujar todo o chão. – Tenho que ir, tchau! – Ia correndo, mas depois parou – Vamos?

-Ãh? –Perguntei confusa.

-Você realmente acha que eu vou deixar você ir andando sozinha pra casa com um monstro rondando a cidade? Nem pensar. – Voltou, e tirou o pincel da minha mão – por favor, não me faça te arrastar.

Ah se ele soubesse o que eu podia fazer com apenas um estalar de dedos...

-Tá, tô indo. –Guardei tudo antes de ir.

Ele pegou minha mão e fomos andando. Sua pele era tão macia e quente, eu queria nunca mais largá-la. Como se soubesse o que eu estava pensando, ele sorriu pra mim. Ficamos um bom tempo, calados, num silêncio agradável.

-E aí Naara, seu nome é bem diferente, o que significa? – Falou tentando puxar assunto.

-Quer dizer jovem, de espírito vivaz e astuto na língua indígena. E o seu também é diferente, nunca conheci outro Raoni. O que significa?

-Primeiro, é lógico que você não encontrou nenhum outro Raoni, pois sou único. Segundo, meu nome também é indígena, Raoni significa chefe e grande guerreiro.

-Legal. –Olhei para o céu e a lua estava começando a aparecer – Nossa como a lua é linda!

-Você sabia que não importa de onde esteja, se você fechar um dos seus olhos a lua não é maior que seu polegar?

-Sério? –Perguntei, e testei – Que legal!

 -Pronto, está entregue. –Ele falou pondo as mãos dentro dos bolsos.  

-Ah, valeu – E fui abrindo o portão.

 -Qual é? Sem um beijinho de despedida? –Reclamou.

Eu voltei e dei um beijo em seu rosto, ele pareceu um pouco surpreso e desapontado.

-Boa noite Raoni. – Falei atrás do portão.

-Boa noite Naara. –  Sussurrou e foi andado na direção oposta a sua casa.

Achei estranho, por quê diabos ele ia andando para... Ah, sei lá! Minha cabeça latejava, entrei e encontrei vovó a mesa.

-Oi vó, tchau vó. – E pulei os degraus de três em três.

-Não vai jantar?

-Tô sem fome, mas obrigada.

Corri para o quarto e me tranquei. Por que eu tinha feito isso, por que eu o beijei? Por que meu coração tava totalmente acelerado por um beijo no rosto?

Desabei na cama, acabei cochilando.

Era noite, e alguém me chamava. Quem era? Gritei para pessoa, mas ela parecia muito longe. De repente vi a silhueta de Raoni e depois sumir. Corri em sua direção e me vi na floresta, por que ele havia entrando ali, não sabia que era perigoso? Eu gritava seu nome, mas nada vinha em resposta. Ouvi um alto e assustador uivo. Meu Deus!  Era o lobisomem... Corri atrás de Raoni, ele estava em perigo e...

-Raoni! –Gritei e percebi que estava dentro do meu quarto.   

Passei a mão pela minha testa e ela estava ensopada. Levantei e abri a janela para esfriar o quarto. A lua ainda estava brilhando no céu. Olhei para o relógio e vi que era 11:45. Quinze minutos antes da meia-noite.

  Senti meu coração palpitar, olhei para a janela de Raoni e estava aberta, não parecia que tinha alguém dentro de casa. Onde será que ele se meteu?

Senti meu corpo vibrar, como se me avisasse de algum perigo. Lembrei do meu sonho e tive um calafrio. Aquele terrível pesadelo era algum tipo de aviso? 11:46. Cadê Raoni?

Fiquei aflita. Tentei deitar e dormir, mas não consegui. Estava apreensiva demais para pegar no sono. Meu coração estava batendo acelerado. E eu já sabia o que fazer. Resolvi ouvir minha intuição e saí.

Fui primeiro em sua casa, bati varias vezes, sem resposta. Segui o caminho que ele havia tomado, me encontrei bem em frente a floresta. Ouvi um barulho de pisadas, virei pronta para atacar.

-O que você está fazendo aqui? – Perséfone me perguntou, claramente não gostando da minha presença.

-Raoni não está em casa, fiquei preocupada e resolvi...

-Sair andando por aí numa noite de lua cheia, correndo perigo de ser devorada por um monstro?

-Sim, mas e você o que está fazendo aqui?

-Não te interessa. – Falou grosseira, me dando as costas – Eu sei cuidar muito bem de mim, sozinha.

 -Peraí, você não tá preocupada com Raoni?

-Não, por que estaria? –Ela falou, se sentando no que já foi algum dia uma árvore.

Um uivo bem alto tomou conta do ar. O pêlo da minha nuca se eriçou. Virei e encarei a floresta, de onde o som havia saído.

-É melhor você ir embora, está quase fazendo xixi nas calças. –Ela me provocou.

-Cala a boca. – Rosnei.

-Vem cá calar! –provocou-me mais uma vez.

-Eu mandei você calar essa maldita boca! – Meus cabelos estavam completamente revoltados, combinando bem com meu humor. A fiz engolir em seco.

Ouvi novamente um uivo, porém não tive medo. Minha mãe e vovó sempre me disseram para ouvir meu coração e ele me mandava ficar bem ali.

Um segundo se passou e ouvi estalos de galhos se quebrando, Perséfone deu um passo pra trás. Há! Quem tava com medo agora?

-Fique aí! –Sibilei.

-Ok – Murmurou, sua voz fraquejou no final, ao ouvir um uivo bem mais alto e beeem mais perto a fez gritar: - Meu Deus do céu!

Foi assim que o vi pela primeira vez. Ele andava devagar, como se estudasse o território. Ele possuía a pelugem negra como esta noite. Ele começou a andar em círculos ao meu redor, observando meus gestos. Eu fiquei completamente imóvel o seguindo apenas com o olhar. Ele era enorme não só de tamanho, mas como de comprimento também.

Ele me olhava como um humano, como se me desafiasse a me mover. Um instinto muito forte me avisou que eu devia estender a mão, e eu assim eu fiz.

-Que porra você tá fazendo? –Perséfone guinchou.

O lobo rosnou, como se a mandasse calar a boca. E ficou a minha frente, depois abaixou a cabeça em sinal de respeito a mim. Meus instintos me disseram que era para eu dar um passo a frente. Ele levantou a cabeça. Não sei o porquê, mas eu fiz. Comecei a alisar sua cabeça, como se ele fosse apenas meu cachorro de estimação.

-Tudo bem, Guaríni. –Minha boca se moveu, mas não era eu que estava falando, pelo menos não era as minhas palavras que saiam da minha boca – Diga a todos que sua rainha voltou!

Como se me ouvissem, outros uivos se juntaram ao do negro lobo.

-Que merda é essa? É você a rainha?!

- Por que tanta surpresa, sua Abaité? Você realmente achou que eu reencarnaria em você? – Uma risada perfeita como sinos badalando saiu da minha boca – Você não é merecedora de tal graça! Não tem coração nobre e nem muito menos sabe o valor de uma perda profunda. Você é mesquinha e egoísta, exatamente igual a todas outras suas reencarnações.

-Mas, por favor! Perdoe-me! –E caiu de joelhos aos meus pés.

-Levante-se! –Minha voz era profunda e poderosa.

-Eu faço qualquer coisa que me mandar eu juro! Mas não me maldiçoe novamente! –Suas lágrimas caiam pela sua face como rio.

-Sinto que está sendo sincera... –Comecei a andar entre o lobo e ela e parei e voltei a alisar a cabeça do lobo. – Talvez, se você cumprir com uma missão, eu te perdoe por todas suas traições passadas.

-Faço qualquer coisa que me pedir!

-Então é o seguinte. Você ajudará assim como Guaríni, a transformar meu corpo desta geração mais preparado para o que irá acontecer. Porém se fracassar, sua Iba. Nunca mais verá a luz do dia novamente! –Falei dura – Seu prazo é até a terceira Iaé, adeus.

E senti meu corpo desmaiar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dicionário indígena:
Abaité: Gente ruim, repulsiva
Iba: Imprestável, ruim.
Iaé: lua ( neste caso lua cheia/ lua magica)
Eu não criei nenhum desses termos, eles existem mesmo eu só pesquisei na internet.
http://pt.scribd.com/doc/2490261/Dicionario-TupiPortugues