No meio do caminho, encontrei Brian e ele insistiu em falar comigo. Eu não poderia dizer não e embora essa fosse a minha vontade, tive de desistir. Pelo visto, Luka iria ter que me esperar um bocadinho mais.

-Não vai demorar, eu só quero falar uma coisa com você. – Ele insistiu, quero dizer, praticamente implorou.

-Isso eu entendi. – eu disse impaciente. – Mas que seja o mais breve possível, já era para eu estar em casa e está muito tarde.

Luka vai me matar! Pensei comigo mesma. Eu estava morrendo por dentro e sentia que em breve eu iria ser morta pelo meu marido e enquanto isso Brian só se importava em querer conversar comigo (e, é claro, que eu o escute com toda atenção do mundo).

-Tudo bem, então nós podemos ir andando? – ele perguntou convidativo. – Faço questão de te acompanhar até sua casa, aliás, o que pode acontecer? Seu marido jogar água em mim?

-Pode acontecer coisa pior, mas não quero te assustar.  – ele riu tristonho. - Ele não é tão ruim quanto parece. Só é o jeito dele,  e eu respeito isso.

-Eu sei, e é justamente sobre isso que quero conversar com você. Na verdade é sobre... Tudo.

-Sobre tudo. – repeti as palavras dele, sentindo um nó se formando em minha garganta. Que venham as facadas, quero dizer: palavras. – Ótimo.

-Fica calma garota – disse dando leves tapinhas em meu ombro, tentando me confortar, mas não deu certo. Ele tirou a mão e colocou-a no bolso de sua calça. – Eu não quero te meter medo, só quero apenas que você saiba da verdade.

-Diga.

-Sei que você deve ter percebido, e bem, quem não percebeu... –Seu sorriso de constrangido era tão fofinho... - Eu estou apaixonado por você. Você pode ter se casado com aquele lá, mas isso não mudou o que sinto por você e não mudará tão cedo, pra falar a verdade.  Não quero fazer com que você mude de ideia, e sim que saiba de tudo. –Garantiu-me com veemência - Eu te amo Naara Lee. Mais do que tudo o que eu já amei em minha vida e mais do que qualquer outra pessoa. No fundo você sabe que irá ficar comigo, e o que sua avó falou ontem só comprova que eu estou certo. No fundo você sabe que é verdade. Nós nascemos para ficar juntos.

Eu engoli a seco.

-E Perséfone, Brian? – Perguntei me lembrando de como ela estava arrasada por causa desse assunto. –Onde ela se encaixa nisso tudo? Já pensou que ela ama você e quanto ela ficará magoada se ficarmos juntos?

 -Então você está cogitando a possibilidade? –Perguntou animado, seus olhos chega brilharam. Eu deveria ter sido mais específica para,quem sabe, ele entenderia o recado direito sem criar expectativas que mais para frente só irão machucá-lo. Suspirei e tentei explicar novamente para ele, de uma outra forma mais direta e menos cortante.

-Brian, esse não é ponto e sim Perséfone, sua namorada. – Exasperei. – Ela está em casa em prantos por su... Por nossa causa.

Ele respirou fundo. Seus olhos fitavam os meus cheios de desejo e quando falou, sua voz era cheia de profundidade e verdade, que eu até esqueci com quem conversando.

-Se você quiser eu largo ela, largo minha casa, minha família, tudo. – Prometeu, tocando meu rosto delicadamente como se eu fosse quebradiça. –Apenas pra ficar com você.

Eu tive que dar um passo pra trás para soltar o ar que eu prendi involuntariamente. Senti seus olhos me acompanharem e descer até minha boca e observar meu peito arfante, parando ali tempo mais que o necessário antes de voltar para os meus olhos.

Fechei os olhos para me manter coerente e falei ainda de olhos fechados. Aquelas palavras haviam me atingido de forma tão...profunda, mas eu não poderia permitir que isso acontecesse. De acordo com ele, era a verdade. Só que eu não posso deixar que essa verdade afete as minhas decisões. Já não estava fácil para mim me decidir no quesito de romances e ele não estava deixando nada fácil para mim. Será que eu preciso escrever na minha testa “estou casada” para ele (e qualquer outro) entender que eu não quero me envolver com mais ninguém?

-É a coisa mais bonita que eu já ouvi na minha vida Brian, mas... -

-Mas nada. – Ele tocou o meu rosto agora com mais vontade, com a mão espalmada em minha nuca. –Eu te amo e te quero e ponto. –  A sua mão livre segurou minha cintura trazendo-me pra si com violência.

Eu sabia o que vinha depois, mas a imagem de Luka me abraçando, de Perséfone chorando e até Raoni, ah sendo ele mesmo, brotaram na minha mente naquele exato momento. Inclusive Izabel, não sei por que pensei naquela mini vaca, mas ao ver seu sorriso vitorioso meus olhos se abriram abruptamente. Se eu não queria que ele me beijasse,depois dessas cenas foi aí que eu não tive vontade mesmo.

-Não me beije. – Foi mais uma ordem do que um pedido. Ele hesitou, como se estivesse tentando processar cada palavra dita por mim.

 Eu o empurrei para longe e saí correndo desnorteada pela rua até que encontrei um banco, no qual eu me sentei abraçando minhas pernas com força e pondo minha cabeça nos meus joelhos comecei a chorar. Minha raiva estava tanta que eu nem me importei se teria alguém por perto me vendo naquela situação crítica.

-Por que está chorando? – A ultima pessoa que eu queria ver agora, falou comigo sentando-se ao meu lado.

-Nada, Raoni. Vai embora. – Gritei ríspida.

-Não enquanto você não me contar por que está assim... – Avisou-me categórico.Só faltava essa para acabar com o meu dia de vez.

-Por quê?! – Gritei irritada. –Por que você se importa tanto em saber?! - Um monte de pessoas me olhavam como se eu fosse uma aberração. Há, que irônico isso... – Já sei. Nem precisa me responder! Você vai dizer eu sou o amor da sua vida, né?

Tá, eu estava parecendo uma doida varrida, mas eu já estava no meu limite! Há uns dois meses atrás eu era uma adolescente normal... E agora?

Sou descendente de uma xamã completa mega poderosa, estou casada com um ricaço, com dois caras atrás de mim, por causa das minhas antepassadas.

-Bom, você é, mas isso não quer dizer que é por isso que eu quero saber a causa desse choro todo...

-Naara ai está você! –Brian gritou ao longe eu me encolhi.

-Ah, aí está a resposta. – Raoni rolou os olhos, automaticamente entendendo o porque de eu estar assim.

-O que você fez com ela? – Brian perguntou irritado e preocupado ao mesmo tempo.

-Te pergunto o mesmo. – Raoni sibilou. – A encontrei aos prantos. Então o que você disse a ela pra deixa-la desse jeito?

-Eu apenas... Argh, não é da sua conta. – Falou grosseiramente.

-Tudo que acontece na vida de Naara é da minha conta. – Retrucou com a mesma agressividade. Desde quando ele passou a ter tanta exclusividade sobre mim e a minha vida?

-Não vejo porquê. – Luka apareceu com aquele seu tom de desprezo e tédio habitual. – Ela não é mais nada sua e sim, minha.

Pronto a festa estava completa, só faltava...

-Amor! – Izabel gritou do outro lado da rua.

... Não falta mais.

-Aff. – Rosnei me levantando do banco. Agora eu não estava somente arrasada; eu estava furiosa – Um dia vocês vão me deixar louca!

-Naara, pra casa. – Luka falou todo autoritário.

-Desde quando você acha que manda em mim? – Perguntei irônica.

-E-Eu não estou mandando, apenas pedindo. –Tentou concertar a merda que ele havia falado, mas ninguém acreditou. A maneira com qual ele havia falado anteriormente foi estranha, como se ele tivesse um total poder sobre mim (não que ele tenha)...

-Pois, eu não vou agora. E nem me espere acordado. – Avisei, já do outro lado da rua.

Agarrei o braço de Izabel e a arrastei para longe, ela tentou se desvencilhar, mas percebeu que eu sou mil vezes mais forte que ela, então desistiu.

- Pra onde você está me levando? –Perguntou emburrada.Ela me olhava assustada, como se estivesse com medo do que eu pudesse fazer com ela.Se bem que a maneira na qual eu estava deveria estar ocasionando isso mesmo.

-Pra casa.