Aqui estava eu, vestida de noiva. Um vestido branco no qual Luka e vovó escolheram, com as jóias da família e com o gigantesco anel de noivado que meu “noivo” havia me dado.

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Eu não opinei em nada nesse casamento, apenas assentia quando me perguntavam alguma coisa e só. Eu podia ter aceitado me casar com ele, mas isso não quer dizer que eu estava dando pulinhos de felicidade por causa disso.

Eu amava Raoni, muito mesmo.

Mesmo ele se mostrando um cafajeste de primeira, eu simplesmente não conseguia fazer minha cabeça ou coração esquecê-lo.

E esse casamento era a maior prova disso. Se Luka não tivesse feito a chantagem eu jamais estaria nessa situação, mas Raoni parecia realmente estava louco para eu casar com outro, pois assim que eu assumi meu noivado com Luka, ele viajou, porém ele deixou claro que estaria de volta hoje, pelo menos foi esse o recado que Izabel me deu.

  Izabel nas ultimas semanas estava nas nuvens. Até ficou sinceramente feliz com o meu casamento. Claro, agora ela finalmente tinha o que tanto queria: Raoni.

Nós íamos nos casar na igreja, hoje já totalmente reconstruída e pelo que Luka comentou, muito bem decorada. Pra mim eu poderia me casar no palácio de não sei o quê lá que Luka sugeriu que nos casássemos, mas mesmo assim eu não me importaria.

Ainda me lembro de como vovó ficou nada surpresa com a notícia do casamento relâmpago, ela apenas disse:

-Que bom! Vocês combinam... – Falou como se soubesse que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer.

Depois desse dia, foi estilista pra lá, cerimonialista pra cá me levando de um lado para outro igual a um ioiô.

Renê, o estilista, ainda dava o ultimo retoque no meu vestido. Estávamos na casa de Luka, é ele comprou uma, à vista. A casa tinha uns trezentos quartos, umas mil salas e um milhão de escadas que se eu me escondesse é bem capaz de Luka demorar décadas para me achar.

Hum, isso parecia uma idéia tão tentadora...

Alguém bateu na porta.

Não poderia ser Luka, já que ele foi a um tempão para igreja com vovó e Izabel, então só poderia ser Perséfone.

-Entra. – Gritei, já que a porta ficava do outro lado do quarto e muito longe de onde eu estava.

Um corpo moreno adentrou no aposento me sobressaltando, eu não esperava que Raoni viesse me ver, na casa de Luka.

 Ele me olhou dos pés a cabeça, ele ficou ao mesmo momento admirado e triste.

-Está linda. – Murmurou.

-O-Obrigada – Falei, sem saber o que dizer.

-Acho que devo deixá-los a sós – Renê falou, já saindo. – Sra. Shuwartz. – E abaixou a cabeça para mim e depois para Raoni.

-Sra. Shuwartz?  - Raoni perguntou assim que ficamos sozinhos.

Dei de ombros.

-É o que eu serei em poucas horas, não me importa que comecem a me chamar assim desde já.

Falei com desinteresse saindo do pequeno tablado e indo em direção ao espelho.

-Por que está tão fria comigo? –Ele perguntou, parecendo angustiado.

O encarei incrédula com o seu cinismo.

-Você me virou as costas quando eu mais precisei de você e da sua compreensão. – Cuspi as acusações – Você nem se importou comigo quando resolveu aceitar o trato de Luka, nem perguntou se eu queria! E eu ainda te pego na cama com a minha PRIMA! –Gritei. – E você quer que eu te abrace e diga que eu estou muito feliz que esteja aqui? –Perguntei com sarcasmo.

Ele me olhou tristonho, sentou na cama e pôs a mão no rosto.

-Eu não vou interferir no seu destino novamente, Naara. – Murmurou.

-Como assim? –Perguntei confusa.

Ele hesitou por um instante, como se não soubesse se era certo me contar, mas por fim decidiu falar de uma vez.

-Eu devia ter te contado há muito tempo, mas não tive coragem. – Começou.

-Continue. – Pedi, depois que ele ficou um tempo calado.

Ele respirou fundo.

-Olha, sabe aquela sensação de que nos conhecemos há anos? – Eu assenti e ele continuou: - E é verdade, nós realmente nos conhecemos. Eu, você, Luka, Perséfone e até Izabel nos conhecemos há muito tempo. Há séculos que a história se repete num circulo vicioso, por várias encarnações suas, eu venho interferindo no seu destino de uma forma extremamente egoísta.    

Fiquei completamente confusa.

Que história é essa de todos nós nos conhecermos, história que se repete, minhas encarnações... O que tudo isso significava?

Vendo a minha feição ele explicou:

-Há quinhentos anos, todos nós morávamos numa tribo aqui mesmo em Dark Sky, mas que antes era só floresta por aqui, lógico. Luka, que antes se chamava Kaluanã era o sucessor a Cacique, você era a sua prometida, eu era o irmão dele, Izabel sua irmã e Perséfone era sua melhor amiga.   

 Eu sempre te quis, mas como desde pequena você era a prometida de meu irmão eu não tinha coragem de traí-lo. Porém, você e a tribo sempre foi minha maior ambição, Luka nem parecia ligar para um futuro que eu tanto almejava. Ao saber que meu amor por você era recíproco, um amor louco e desenfreado tomou conta do meu coração.

Tive até coragem de matá-lo. Assim, tendo você e a tribo, pensei ser o homem mais sortudo do mundo. Como eu estava enganado! Perséfone, era a minha ex noiva, mas mesmo estando com você e a rejeitado jamais deixei de vê-la. Eu te amava, mas não conseguia ser fiel a você, não conseguia ficar com uma só.

Izabel era uma pessoa tão invejosa que me enfeitiçou, ela e você eram as xamãs da tribo e eram extremamente poderosas, ela fez um feitiço para eu me apaixonar por ela, temporariamente, mas tempo o suficiente para você nos flagrar juntos.   Você ficou tão brava, tão brava... Que a matou.

 Porém antes de morrer, Izabel lhe contou que Perséfone era minha amante. Traída pelo marido e melhor amiga, você nos amaldiçoou. Para Perséfone, você a sentenciou a ser sempre uma pessoa sozinha e solitária, em todas as reencarnações. E para mim, você pegou mais pesado, você me fez imortal para que vagasse sozinho para sempre, vendo tudo se deteriorar. Porém, em me tornar imortal, você acabou me dando a sua vida.

Você morreu, e depois disso a cada século, uma nova Naara renasce, se apaixona por mim, conhece Luka, eu faço tudo para te tirar dos braços dele, mas é traída por Izabel e Perséfone e no final, nós nunca ficamos juntos.

Meu queixo quase batia no chão, metaforicamente.

-Você é o quê? – Perguntei louca da vida. – É por isso que eu nunca confiei em você!

Tudo que ele me falou veio junto com uma avalanche de lembranças dolorosas, a gente como indígenas, brasileiros, franceses, italianos...

   Ficamos um tempo calados, pois, eu não conseguia pensar em algo coerente.

-Então por que agora, você simplesmente desistiu de mim? – Perguntei, quando conseguir falar.

Ele olhou para mim e riu amarelo.

-Eu sempre acabava te decepcionando e você nos amaldiçoava novamente. - E veio na minha direção tocando o meu rosto, limpando minhas lágrimas - Mas desta vez, eu quero te ver feliz, meu amor, não importa com quem seja.

Eu tirei o seu braço do meu rosto com violência.  

-Você é um traidor! – Acusei-lhe. –Nunca mais me chame de meu amor!

Ele olhou para baixo, mas quando percebeu que eu tomava distancia dele, veio na minha direção.

Porém quando ele conseguiu me alcançar, eu já estava ao pé da escada colocando o véu sobre meu rosto, Renê dava os toques finais no meu visual.

-Você ainda me ama? – Ele me perguntou, já sabendo a resposta.

-Infelizmente, sim. – Falei honestamente, pra que eu ia mentir? – Mas eu não gosto de você agora.

Limpando as lágrimas, fui de encontro ao meu destino.