Acordei com uma ressaca triste. Sério, parecia que uma escola de samba estava ensaiando na minha cabeça. Estava claro pra caramba e eu enxergava pouquíssimo, só sei que onde eu estava deitada era extremamente confortável.

Limpei minhas vistas piscando umas vinte vezes.

Jesus, que merda eu fiz?!

Eu estava apenas com sutiã e calcinha, meu vestido estava, por incrível que pareça, rodando junto com o ventilador de teto. Minha cabeça estava encostada na barriga nua de Luka e pela  virgem santíssima! Eu acho que ele estava pelado...

Não que eu olhasse por debaixo do edredom sujo de vinho para ter certeza, mas meio que ficava meio obvio, já que o lençol somente cobria suas partes íntimas.

Levantei rapidamente e caí novamente.

Olá, meu nome é ressaca...

Caí com tanta força no corpo despido de Luka que ele se mexeu, provavelmente acordando. Espreguiçou-se e pôs a mão sobre o meu cabelo. E... Hamm...  Hum... Sabe aquela história de excitação masculina matinal?

Verdade!

Virei para o outro lado e encontrei seus olhos brincalhões em minha direção, ele abriu um longo sorriso e fez gozação:

-E aí dorminhoca, bom dia!

-Bom dia. – Murmurei toda sem graça.

Acho que ele percebeu meu constrangimento, GRAÇAS A DEUS!

-Ei, não aconteceu nada não. Você só botou os litros de vinho todo pra fora. – Vendo meu nariz franzido, ele completou: - Vomito é broxante, relaxa.

 Não pude deixar de sorrir, ele era divertido.

Ele levantou deixando o lençol na cama e sem pudor nenhum andou até o banheiro despreocupadamente.

-Dá para pelo menos cobrir? – Perguntei jogando o lençol em sua direção que agarrou bem em sua cabeça.

Ele virou-se, pois, antes estava de costas para mim, onde havia as mesmas tatuagens que as minhas. Ele olhou para baixo e depois para mim com um sorriso bem malicioso naquela cara perfeita de safado.

-Você vai ser minha esposa, é bom ir se acostumando com a minha nudez...  – Deu de ombros e voltou a andar para o banheiro.

Engoli a seco.

-Peraí, esse casamento vai ser de verdade verdadeira?! – Perguntei completamente incrédula.

Ele pôs a cabeça para fora e assentiu.

-Com tudo que eu tenho direito – Afirmou dando uma piscadela para mim.

Meu queixo caiu.

Eu já não tinha digerido essa história de casamento, agora vem essa bomba que eu teria que cumprir com meus deveres de esposa ... Ah, é demais!

- Eu pensei que seria só de fachada– Gritei assim que eu ouvi que o chuveiro foi desligado.

Depois de uns três minutos, achei seguro entrar no banheiro sem ter que passar anos na terapia para desfazer o mal feito.

Terrível engano, ou delicioso, sei lá! Você escolhe...

Ele estava ensaboando o cabelo, por isso ele havia desligado a droga do chuveiro. Ainda bem que a água quente deixa o vidro embaçado...

- Você queria me tirar de Raoni, conseguiu... Eu nunca mais serei dele. Por que não para esse estúpido jogo por aqui? – Perguntei angustiada, nem queria me casar quanto mais ter que dormir com ele.

Segundos se ensaboando calado, ele virou pra mim e respondeu:

-Esse estúpido jogo só terminará quando eu disser que acabou, mas uma coisa eu digo, está looonge de terminar...

Fechei os punhos de raiva.

Essa brincadeirinha de vingança já está indo longe demais... Quem ele acha que é? Tô pouco me lixando para os poderes dele, se ele é forte, eu sou igualmente ou até mais.

Raoni.

O nome dele veio a minha cabeça. Lembrei que Luka havia jogado a aliança que ele havia me dado no lixo. Fui lá e peguei, ainda bem que tava logo em cima.

Pelo menos eu tinha que devolver, né?

Sei que estava “noiva” de Luka, mas jogar uma aliança tão bonitinha no lixo pode ser considerado por muitas pessoas pecado.

Ah, que Luka se dane!

Peguei minhas roupas e vesti. Ainda bem que não estavam manchadas. Parece que alguém lavou a minha roupa e eu tenho quase certeza que não fui eu...

Saí e bati a porta.

Fui andando até a casa de Raoni, muitas pessoas pelo caminho ainda me olhavam feio por causa da história da igreja. E por falar em Igreja, eu tinha que me lembrar de dar uma passada lá hoje.

Cheguei ao portão dele, estava aberto. Andei até sua porta, estava destrancada. A casa estava toda acesa... Pronto! Assaltaram a casa de Raoni!

Subi as escadas de quatro em quatro até o quatro dele e entrei esbaforida. Tive que me segurar na porta para não cair para trás.

   Raoni estava despojadamente deitado, dormindo pesadamente, enquanto Izabel o abraçava pela cintura, também dormindo.

Não sei que espírito bem feitor baixou em mim naquela hora, pois, não gritei, não xinguei ou fiz qualquer tipo de escândalo. Talvez meu subconsciente já estivesse esperando por uma traição dessas, sei lá.

Bati na porta aberta umas três vezes e Raoni deu um pulo quando me viu.

Ah, só uma um pequeno detalhe, eles claramente estavam nus.

-Naara! – Ele gritou de espanto.

-Sim, esse é o meu nome. – Disse fria e com desprezo – Só vim aqui te entregar uma coisa – Avisei que nem uma pedra de gelo me vencia.

Andei em sua direção e botei na sua mão o anel.

Ele fechou a mão sem olhar o conteúdo e ficou me encarando confuso e surpreso com a minha presença inesperada.

Respirei fundo.

-Está tudo acertado, eu vou me casar com Luka. – Eu lhe comuniquei indiferente – Espero que vá, mas se não for eu entenderei.

Ele assentiu olhando para o anel em suas mãos.

-Acho que não devo e não quero usar mais este anel – Lentamente seu olhar deslizou sobre o meu corpo e focalizou em meus olhos – Brevemente usarei outro, na mão esquerda.

Dizendo isso dei meia-volta e saí.

Assim que fechei a porta atrás de mim deixei as lágrimas que eu guardava caírem e inundarem todo o meu rosto.

Corri, não sei pra onde ou em que direção. Só parei quando trombei com alguém.

-Calma. –Brian segurou meus ombros – Vai tirar o pai da forca?

Olhei para ele e sorri com sarcasmo.

-Não achei graça. – Falei dura.

-É, foi péssima. – Concordou e passou o braço pelos meus ombros, guiando-me.

Paramos bem em frente a igreja. Ela estava bem melhor do que me lembrava. Já ia perguntar qual foi o milagre quando vi o olhar cansado de Brian.

-Você praticamente a reconstruiu toda sozinho! –Falei admirada.

Ele deu de ombros.

-Vocês dois estavam ocupados do e eu precisava esfriar a cabeça. – Falou se sentando na escadaria, agora pintada.

-Também tô precisando esfriar a cabeça. – Confessei, pondo minha cabeça em seu ombro.

-Quer desabafar? – Ele me perguntou solidário.

-Bom... Vou me casar com um cara que eu mal conheço, acabo de pegar meu namorado com outra, tenho poderes malucos, morro de culpa pelo incêndio dos meus pais e ainda botei meu castigo nas costas de um coitado. – Suspirei – A vida pôde ser mais complicada?

-Ah... Não. – Ele franziu o nariz, fazendo-me rir.

Algumas garotas passaram e derem um sorriso para Brian, toda envergonhadas. Olhei para ele, que dava tchauzinho para as garotas, com cara surpresa.

-Sem comentários – Ele murmurou depois que resolveu me dar atenção.

-Desde quando você virou o gostosão do pedaço? –Perguntei não resistindo a curiosidade.

-Desde que eu ganhei essas belezinhas aqui. – E apontou para os seus bíceps.

    Pela primeira vez que eu realmente olhei para Brian depois daquela confusão toda de salvamento dele.

Seu cabelo estava mais ondulado, ele não usava mais óculos e com certeza, estava mais forte, sequer usava as roupas feias que usava por aí antes. Ele nem parecia mais aquele nerd que eu conheci no supermercado.

Outro grupo de meninas o cumprimentou com o mesmo sorriso de flerte.

-Daqui a pouco vou ter que entrar na fila se eu quiser falar com você. – Falei brincando.

Ele riu, mas olhou-me sério.

-Pra você eu vou ter sempre tempo. – Ele afirmou com veemência profunda.

-Por quê?

-Por que você me enxergou quando eu estava invisível. – Falou – E isso eu jamais vou esquecer.

-Ahhh. Não faz assim que se não eu choro! – Falei o abraçando.

Nós rimos até alguém pigarrear.

-Dá pra largar minha noiva? – Luka falou em tom de gozação.

-Claro! –Brian me largou no ato.

-Naara, ainda bem que está aqui. Marquei a data para o nosso casamento.

-Sério?! – Esse cara não perde tempo.

Ele sorriu e assentiu.

-Acabei de falar com o padre. – E me puxou para eu me levantar – Vamos nos casar daqui há duas semanas...

-Já?! – Eu e Brian falamos juntos.

-Quanto antes melhor! – Seus olhos brilhavam de uma felicidade maléfica.

Engoli a seco.

-Seja lá o que Deus quiser... – Murmurei.