Fomos todos para a casa de Raoni para algum tipo de reunião, não antes de dar uma rápida passada em casa para ter a certeza de que vovó já estava do sétimo sono, garantido por Raoni que escalou a parede do quarto dela e pegou ela dormindo abraçada a John. Agora todos nós estávamos discutindo uma maneira de nos livrarmos do enorme problema chamado: Luka.

Raoni, o mais nervoso de todos, andava de um lado a outro tentando pensar, Perséfone estava sentada a minha frente num estado completo de choque, Brian estava num canto lendo um livro super grosso, Izabel assistia TV, ela pouco se lixava e eu tentava não cair de sono e raciocinar ao mesmo tempo.

Ah qual é! Eram três da manhã e botar um maluco para correr cansa, sabia?

Eu estava ansiando por uma cama quando Raoni deu um murro na mesa, me fazendo dar pulo na cadeira.

Tá, confesso, eu tava cochilando.

-O que vamos fazer? – Brian perguntou fechando o livro empoeirado.

Raoni parecia imerso em pensamentos e me observava como se me olhando pudesse criar algum plano.

-Seria bom, se pelo menos nós o entendêssemos. – Raoni comentou virando se para Perséfone.

  -Luka é sedento de poder, ele ama ser o mais poderoso e quando vê uma possibilidade de ter mais ele luta até conseguir. –Perséfone nos contou.

- E não há nada que ele goste mais no qual podemos fazer uma troca? – Perguntei.

-Sim, mulheres. –Ela respondeu com desprezo – Ele tinha um perfeito harém em cada lugar que ele ia, não deve ter mudado tanto assim.

-Então precisamos de uma garota que o faça mudar de idéia em caçar vocês. – Falei prática. 

Todos me encararam cheios de significados.

-Você é perfeita para isso! – Perséfone guinchou aliviada e feliz ao mesmo tempo – Beleza e poder, tudo que ele mais venera numa pessoa só.

-Não.  –Raoni falou categórico – Ela não vai seduzi-lo.

-Gente... – Tentei falar, mas fui interrompida, eu acho que minha voz estava grogue demais para ser ouvida.

-Ah, Raoni, deixa de ciuminho besta para outra hora tá? –Ela falou revirando os olhos – Por que eu realmente quero permanecer viva nos próximos anos.

-Mas isso tem que envolver Naara? –Falou angustiado.

-Gente... Hello! Eu estou bem aqui! – Falei mais alto e balançando a mão para chamar a atenção de todos – Parem de falar como se eu não estivesse no recinto.

  Perséfone me encarou.

-Olha Naara, eu realmente não gosto de você, mas te respeito. Eu jamais lhe obrigaria a fazer nada, mas eu realmente espero que você coopere para que eu e nem seu namorado morra. –Disse dura me fazendo engolir em seco.

Olhei para Raoni e ele estava completamente atormentado, eu sabia que ele tinha detestado a idéia, mas só de pensar em nunca mais tê-lo ao meu lado faz meu coração diminuir e ficar do tamanho de uma azeitona.

-Raoni, eu não vejo outra opção, eu não consigo viver sem você! E se for essa a condição de te ter para sempre são e salvo, eu topo. –Falei decidida.

-Tem que ter outra opção! – Ele gritou – Amanhã eu vou ter um plano melhor em mente que não envolva você. – E veio em minha direção – Eu não vou deixar você nas mãos daquele crápula!

Sorri, ele me amava tanto quanto eu o amava.

-Tudo bem. – Concordei fazendo Perséfone paralisar – Mas se até amanhã de manhã você não tiver uma boa idéia...

-Eu terei! – Falou ele me interrompendo.

-Então tá decidido. – Brian falou pondo um ponto final na discussão – Se até amanhã Raoni não pensar em outra maneira de fazer Luka desistir de matá-los, nós teremos que botar o plano inicial em pratica.

Izabel finalmente desligou a televisão e veio até nós. Arrastava-se no chão e parecia uma zumbi de sono. Caiu numa cadeira e desmoronou na mesa, dormindo profundamente e até roncando.

-Aff, é melhor levar esta mini aspirador para casa. –Perséfone reclamou pondo os dedos no ouvido.     

-Não deixa que eu a levo. – Falei de má-vontade, por mim ela dormia na rua que eu tava nem aí, mas vovó amanhã provavelmente comeria meu fígado, frito. – Também tô acabada.

Perséfone me impediu e apontou com a cabeça para Raoni, que estava procurando algum livro em sua estante.

-Deixa comigo, fica com ele essa noite, tenta acalmá-lo. – Falou pondo Izabel em seu colo.

Ele realmente parecia transtornado, por isso, assenti.

-Boa noite, Raoni. –Ela gritou e ele apenas balançou a cabeça.

Levei-os até a porta e despedi-me.

Assim que voltei, vi Raoni carregar centenas de livros de uma só vez.       

-Eu sei que eu tenho algum livro sobre um feitiço... – Ele deixou-se cair na cadeira, vencido.

-Calma, meu amor. Você está cansado. – Falei o levantando e o levando para o quarto. – Pensará melhor depois de uma noite de sono.

Assim que o deixei na cama ele segurou minha cintura e foi afundando seu rosto em minha barriga. Acariciei sua cabeça e ficamos ali um bom tempo.

-Não vá. – murmurou.

Eu sabia que seria uma árdua e longa tarefa fazê-lo aceitar, principalmente por que eu não queria nem um pouco.

-Raoni, eu não quero que você fique assim, eu ainda sou sua, nada vai mudar entre nós. –Prometi.

Ele levantou o olhar, seu sorriso era sarcástico e irônico.

-Você já o viu? – Ele me perguntou seco – Ele parece um anjo...

-Quer ele pra você? –Brinquei, mas pela sua cara, ele detestou a brincadeira – Olha Raoni, eu só quero que você entenda que é você que eu amo, não importa se um anjo magnífico do mal bata a minha porta duzentas vezes, eu sempre escolherei você.

-Então diga que não vai compactuar com esse plano absurdo! –Abraçou-me mais forte.

-Não posso. Se fosse apenas por Perséfone, eu nem ligava. Mas você é a coisa que eu mais amo nesse mundo, eu já perdi meus pais eu não vou te perder também! Não sabendo que eu posso tentar... Mudar a situação. –Eu ia falar seduzi-lo, mas ao ver como Raoni já sofria resolvi mudar o resto da frase.

-Eu não quero. Prefiro morrer a te ver nos braços de outro. -Falou firme.

Tá, e eu era a rainha do drama...

-Quanto exagero... Duvido que quando você estiver com a corda no pescoço você vai muito ligar para isso.

-Não é exagero e sim eu ligaria para isso.  – Falou que nem criança de birra.

Abaixe-me para poder olhá-lo bem nos olhos, ele tentou se desvencilhar, mas eu segurei seu queixo o forçando a me encarar.

 -Eu te amo e ponto final. Não importa o que aconteça eu sempre te amarei.  –Falei profundamente sincera.

-Duvido. – Falou também com sinceridade.

-Você está duvidando do meu amor por você, depois de tudo?! – Perguntei abismada.

Nem precisou que ele me respondesse, estávamos tão sintonizados que apenas ao olhá-lo eu sabia da resposta.

Situações drásticas exigem atitudes desesperadas!

-Raoni? –Sussurrei.

-Sim? – Ele falou num tom mais baixo do que o meu e sequer me olhava, achava mais interessante o chão...

Beijei seu pescoço até a sua orelha, assim cochichei:

-Eu te quero, agora.