-Você pirou? –Perguntei completamente incrédula – Eu te dei a maior força e é assim que você me agradece?!

-Naara deixa de ser melodramática. –Murmurou revirando os olhos – Só acho que você não quer que nossa querida vovó saiba do que anda fazendo por aí, ou quer? Pra mim tanto faz, a única coisa que me importa mesmo é Raoni.

-Por que você o quer? –Perguntei tentando fazê-la esquecer desta maluquice – Ele não é velho pra você?

-Ah tá, idade são só números.

-Então, ou eu lhe entrego meu namorado de bandeja ou você me entrega pra vovó? –Falei pausadamente tentando fazer que isso fizesse sentido. Não, não dá.

-Nossa, ainda bem que você entendeu direitinho. – E sorriu daquele jeito meigo dela.

-Você só deve ter enlouquecido de vez. – Falei categórica. – Se quiser falar com vovó que eu dormi na casa de Raoni, beleza, fale até com o papa se quiser! Tô nem aí! O máximo que você pode conseguir, o que eu duvido, é que ela me bote pra fora de casa. Aí mesmo que você não vai conseguir Raoni nunca, por que se eu não tiver lugar pra morar eu vou morar onde, já pensou nisso?Aposto que não.

Levantei e fui à direção de Raoni, que me abraçou pela cintura. Olhei para Izabel que nos fitava com um olhar malévolo. Ainda teve a coragem de sussurrar quase inaudível:

-Você me paga!

-Tô morrendo de medo. – Sussurrei irônica de volta.

Assim que todos terminaram com suas pipocas, Perséfone e Brian foram para uma direção e Raoni, Izabel e eu fomos para outra. Izabel parecia determinada a chamar atenção de Raoni a qualquer custo.

-Olha, Rô – É, ela começou a chamá-lo por esse apelido idiota –O sol já está se pondo!

-Sério, se você não nos contasse, eu juro que nunca saberia. – Falei sarcástica.

Raoni me olhou confuso e ela fingiu estar magoada.

-Calma prima... –Falou naquele tom de criança.

Cínica, cínica, cínica! Eu botei uma cobra pra dormir ao meu lado! Aliás, grande ofensa as cobras...

-Estou calma, calmíssima! Ficarei quase zen se você for agora pra casa. – Falei seca.   

-Ah, tá tão legal aqui... –Falou fazendo charminho barato para Raoni. –Além do mais Rô...

-...E eu temos compromisso. – Completei a interrompendo.

-Temos? –Falou com a testa vincada.

-Sim, sabe... Aquilo que combinamos, ontem. – Falei acariciando seus braços.

    -Ah, tá. Tchau Iza. –Falou rápido me puxando pra casa dele.

Homens serão sempre homens!

Soltei um beijo pra ela que nos encarava de boca aberta.

Se quiser jogar querida, tudo bem, mas só lhe aviso que eu não estou acostumada a perder...

-Essa garota é demoníaca! –Falei assim que ele fechou a porta.

-Sério? A Iza? –Perguntou, não acreditando.

-Seriíssimo! E pare de chamá-la de Iza, é inapropriado e eu não gosto.  –Falei dura.

-Cara, seu ciúme tá subindo pra cabeça! –Avisou, pegando uma bebida.

-Antes fosse. Mas ela é má! Não quero você perto dela. –Falei.

Ele chega engasgou e me olhou pasmo.

-Naara, você é minha namorada não minha dona, você não pode simplesmente me proibir de ficar perto de ninguém. – Falou – Além do mais, Iza... Bel é um doce de criança.

-Criança que está apaixonada por você! –Rosnei.

-Sabia! Naara, seu ciúme tá virando paranóia. Primeiro com Perséfone, tá que com ela têm um pouco de fundamento, mas agora com sua própria prima, que deve ter o quê uns quinze anos?! Fala sério...

-Ela está determinada a tirar você de mim, Raoni! – Já estava desesperada pela sua confiança. – Acredite em mim!   

-Pode ser. Mas e daí? Ela é só uma menina mimada acostumada a ter tudo que quer, ela deve  ter ficado chateada por não ter o que quer desta vez.

-E nunca terá, né?

Ele sorriu e me beijou.

-Não,nunca. Agora vê se relaxa, por que eu não a quero nem se ela se atirar em mim! Credo, eu não sou pedófilo Naara.  –Falou se jogando no sofá.

Essa eu ri. Fiquei mais tranqüila, é ela só era uma pulguinha, que incomodará, mas quando for embora não deixará nem marca em nossas vidas.

-Ah, por falar em se atirar... – Puxou-me para sentar em seu colo. – Você tá me devendo uma.

-Nunca mais diga essas palavras novamente! –Bradei.

-Tá, só se você fizer o que prometeu. – Foi me deitando no sofá e pairando sobre mim.

Olhei bem em seus olhos e sorri, eu o queria mais que tudo, não queria? Por que então eu não deixava rolar de uma vez?

Uma buzina insanamente alta fez Raoni cair de costas no chão. Quem quer que seja que estivesse na porta parecia ter grudado o dedo na campainha.  

-Olá, Dona Rúda! – Raoni falou todo simpático.

-Cadê a minha neta?! – Ela falou brava.

-Oi vó! – Falei me levantando do sofá – Aconteceu alguma coisa?

-Espero que não. Agora já pra casa, agora! – E apontou para fora – E você Raoni, nunca mais chegue perto de minha neta novamente, tá me ouvindo?

-Vó a senhora não pode fazer isso!

-Não posso?! Experimenta me desobedecer!

Eu praticamente voei pra casa e encontrei Izabel na cozinha, com a perfeita cara de inocente.

Ela olhou pra mim, com um sorriso vitorioso no rosto.

-Agora estamos quites. –Sussurrou para que a vó não ouvisse.

Ah, ela não sabia com quem estava se metendo...

Cheguei perto dela e falei baixo, mas ameaçadora.

-Olha aqui, se você quer fazer esse joguinho comigo, beleza, to dentro. Mas fique sabendo que eu nunca jogo pra empatar e sim pra vencer. – E apenas com o olhar fiz seu copo virar molhando ela toda. –Ops, eu acho que você ainda faz xixi nas calças né, bebê?

Sorrindo a deixei no vácuo com uma cara furiosa.

Antes de sair eu virei e com a cara mais simpática do mundo que eu consegui fazer, disse:

-Você pode até me separar de Raoni, mas ele nunca vai te querer, garota. Se enxerga, ele além de ter bom gosto não gosta de pirralhas.

-Mas o quê? – Ela me fulminava com o olhar.

-Ah, só mais uma coisa! Ficou obvio que vai ter troco, né? – Sorri.

Deixei-a no vácuo, com uma cara de quem ia soltar fumaça pelas ventas.

No que diabos eu tinha me metido? Ah, mas eu não ia entregar meu lindo namorado de mão beijada pra aquele projeto de vagaba, não mesmo!

Só por cima do meu cadáver, talvez nem assim...