Shooting Star escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 2
E eu tenho escolha?




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Capítulo 1 – E eu tenho escolha?

Pov's Bella:

         Encarei o espelho de corpo inteiro sem muita vontade.

         Há alguns séculos não me importo com minha aparência. Feia? Bom, atraente o suficiente para as minhas presas. Bonita? Isso era realmente importante?

         Mas, para quem tinha acabado de caçar, eu estava bem. Meu vestido preto que batia na metade de minha coxa estava impecável, como sempre. Os saltos não tinham quebrado nem nada do tipo.

         Meus cabelos cor de mogno caiam pesadamente pelas costas, encaracolados e longos. De manhã, com o sol, costumavam ficar avermelhados, no entanto, agora, à noite, eles eram sombrios e misturavam-se ao escuro. Eu gostava deles nessa hora, pois diziam meu estado de espírito eterno.

         Meus olhos vermelhos sorriram sarcasticamente para mim quando a palavra "gostar" passeou pela minha mente. Eu não gostava. Eu não gostava de nada. Talvez, exceto, minha família. Eles, sim, eu amo. Mas o mais próximo de um sentimento. Eu não demonstro, de qualquer forma.

         Não mais.

         Suspirei, virando-me em direção ao closet. Quando voltara com Jane da caçada da noite, Heidi me avisara que meu pai, Aro, queria falar comigo.

         Sei que os vampiros do mundo pensam que Isabella Volturi, a princesa Volturi, é somente uma espécie de "braço direito" de Aro. Puro engano. Mal sabem que ele é, de fato, meu pai. Bom, levando em conta que só pensam nos Volturi como "os chefões", eu posso considerar tudo. Outro engano: nós somos uma grande família.

         No closet – enorme, aliás, Heidi e Athenodora, esposa de Caius, fizeram questão de ser cheio – fui em direção ao armário com mantos. Nunca entendi essa fixação por mantos pretos, entretanto, com os anos, você se acostuma.

         Peguei o primeiro que vi. Esse não possuía capuz e nem se arrastava até o chão. Era um pouco mais longo que meu vestido e mais escuro, também. Era de mangas curtas, de forma que ficou parecendo um simples colete comprido.

         Quero dizer, tirando o enorme símbolo Volturi atrás. Claro.

- Bella? – uma voz conhecida chamou na porta de meu grande quarto. Sim, aparentemente, tudo aqui era grande. Minha família gosta de exageros.

- Sim, Alec? – perguntei, saindo do closet. Alec, assim como Jane, era meu melhor amigo. Eu não demonstrava muito o que eu pensava, ou sentia, mas os gêmeos pareciam ter o dom de saber.

         Eu ria internamente quando ouvia vampiros falarem que ambos eram assustadores e perigosos. O único perigo que eu via era... Nenhum.

 - Aro está te chamando – ele sorriu amigavelmente e eu assenti.

- Heidi me avisou quando cheguei, mas, obrigada, de qualquer forma.

         O sorriso de retribuição não veio nos lábios, somente um interno. Com o passar dos anos, meu rosto tornou-se uma máscara – você não pode mudar a expressão delas. E a minha máscara era sem sentimentos.

         De qualquer forma, e como sempre, ele pareceu vê-lo. Ele e Jane conseguiam fazer isso, eu só não entendia como. Alec acenou uma despedida e saiu silencioso como somente um vampiro conseguiria.

         Ao contrário dele, caminhei calmamente pelos longos e intermináveis corredores do castelo. Alguns quadros na parede sobre a história italiana. Alguns vampiros da guarda passavam e reverenciavam – exceto os da primeira guarda, esses eram meus amigos, e me cumprimentavam. Nunca entendia por que tanta formalidade, não importando se fosse a segunda, terceira ou caramba guarda.

         Eu era uma simples vampira. Eles eram vampiros também. Fácil.

         Abri as portas duplas da sala do trono. Estava escura – tecnicamente. Meus olhos enxergavam como se fosse claro, somente tons de cores diferentes mostravam a escuridão da noite "adentrando pelas janelas".

         Todos os vampiros da primeira guarda estavam ali, parados como nunca. Rapidamente passei meus olhos por eles. Jane, Chelsea, Corin, Santiago, Heidi, Afton, Renata, Demetri e Félix.

         Meus tios, Caius e Marcus, estavam sentados em seus tronos ao lado do de meu pai. Resisti a tentação de revirar os olhos – todos usavam mantos e roupas pretas.

         Depois, quando Jane fala que só uso preto para sair à rua, ela não sabe por que. Ora, séculos com os Volturi faz isso com você. Que dúvida.

- Papai – segurei a ponta de meu vestido e fiz uma leve reverência – Tios.

- Bella, minha filha! – Aro sorriu alegremente para mim, ignorando reverências e tudo o mais. Deu passos leves e vampirescos em minha direção e me abraçou.

         Abracei-o de volta.

- Pedi para lhe chamarem, Bella, porque tenho uma missão para você – meu pai finalmente disse, quando se sentou de novo em seu trono.

         Não falei nada. Às vezes, ele me dava essas chamadas "missões". Eu as cumpria rapidamente e voltava para casa, mas não podia deixar de pensar que eram divertidas. Em geral, envolviam lutas, e, depois de anos treinando, isso era uma das melhores partes de ser indestrutível.

- Qualquer coisa, papai – eu disse e ele sorriu amavelmente para mim. Sei que ele se esforçava para ser um bom pai, pois, por mais que não falasse, sempre almejei uma boa mãe, alguém com quem eu pudesse conversar.

         Suspirei internamente. Ah, Aro, se você soubesse que se esforça demais...

- Preciso que vá à Forks.

         Tá. Ele me falou isso como se eu soubesse o que – ou, no caso, onde – fosse Forks. Pensei em erguer uma sobrancelha, mas meu rosto não mexeu.

- Forks é uma cidade minúscula – começou a explicar tio Marcus, em seu típico tom entediado – que fica no estado de Washington, nos Estados Unidos.

- Recebemos notícias de que estão criando um exército de recém-nascidos na região – Aro completou seriamente – e precisamos ir lá impedir, pois eles estão começando a chamar atenção. Mas queremos passar o mais despercebido possível, por isso...

- Por isso eu vou – simplesmente terminei o que ele ia fazer. Certo. Eu entendia perfeitamente.

         Quer terminar uma missão desse tipo com sucesso? Mande Jane e Alec, adoram arrancar cabeças. Ah, e mande Demetri, também, pois ele tem senso em não deixaria os gêmeos, hm, extrapolarem.

         Quer terminar uma missão desse tipo silenciosamente? Mande-me. Por algum motivo, eu sou a mais quieta. As coisas comigo são rápidas, fáceis. Usando meu dom, eu termino tudo que tenho de fazer rapidamente.

- Porém, dessa vez, estamos mandando você não para ser rápida, mas, sim, de fato, silenciosa – Aro avisou frisando o "não ser rápida" – temos pistas de que pode ser o clã romeno formando um exército, e você sabe que eles planejam nos tirar do trono.

         Assenti.

- Por esse motivo, entrei em contato com um velho amigo que mora na região e você vai hospedar-se lá. – o jeito que ele falava... Tinha algo mais, não era somente isso. Meu pai me conhecia bem o suficiente, devia saber que eu não daria um piti, o que quer que fosse.

- Velho amigo? – esse era um dos grandes defeitos de meu pai. Ele poderia ser a melhor pessoa do mundo comigo, mas não era exatamente a melhor pessoa do mundo com os outros.

- Carlisle Cullen – eu tinha certeza que já tinha ouvido esse nome em algum lugar – um vampiro vegetariano. Morou conosco por duas décadas.

         Meus lábios uniram-se com mais força, mas foi um gesto imperceptível para os outros.

- Como nunca o conheci? Já tenho quase quinhentos anos e nunca, em toda a minha existência, conheci um Carlisle Cullen, e muito menos vi um vampiro vegetariano, o que é interessante, pois não tenho idéia do por que alguém preferiria tomar sangue de animais, ao invés de humano.

         E não entendia mesmo. O sangue humano era simplesmente o néctar dos deuses, quando ele explodia em minha boca, era como tomar a água divina. E sangue animal parecia tão... Repulsivo. Mal cheiroso.

         Aro sorriu para mim: - Eu também acho isso, mas a mente de Carlisle ninguém poderia mudar – meu pai parecia realmente ser amigo dele, incrível – e ele morou aqui durante a época que você, Chelsea e Afton resolviam as questões de exércitos no sul dos Estados Unidos.

         Ah, claro. Era óbvio que eu me lembrava; minha memória vampírica não me permitia esquecer nada. No entanto, o único tempo que eu passara tanto tempo longe de casa fora no século XVIII – as minhas "viagens", como falei, são rápidas. E, bem, duas décadas, sendo uma vampira, é relativamente rápido.

- Entendo – foi a coisa mais inteligente que consegui dizer no momento. Por mais que amasse missões, eu não estava nem um pouco interessada em ir até Forks e ficar hospedada na casa de um vampiro vegetariano. – Vou me retirar agora, papai.

         Já ia virando para sair da sala, quando escutei sua voz, dessa vez, meio incerta. Eu sabia que tinha algo que ele não queria falar.

- Hm, Bella?

- Sim, papai?

- Carlisle possui uma, hm, família – minha incredulidade foi tamanha que eu quase ergui as sobrancelhas – e é médico.

         Isso tudo já beirava ao absurdo. Um vampiro? Médico? Tudo bem, eu tinha um autocontrole excepcional, tinha certeza de que poderia ver um humano sangrando e não atacá-lo, mas... Medicina? Ficar em um hospital – e ainda conseguir ser vegetariano?

         Quer saber, fiquei com vontade de ir para lá somente para conhecer o autocontrole do cara. É.

- Seus "filhos" – vi que ele deu um meio sorriso à palavra, e eu podia entender... Provavelmente não eram filhos de sangue, como eu e meu pai – vão à escola, e receio dizer que você terá de ir também.

         Escola. A palavra pareceu ecoar em minha cabeça por alguns segundos breves. Escola. Eu tenho mais de quatrocentos anos, nunca, jamais, fui a uma escola.

         Quando Aro disse que eu teria de ir a Forks e for discreta, não estava brincando. Quem pensaria numa Volturi em uma escola com humanos? Só essa pergunta já parecia ridiculamente estúpida.

- Claro, papai – minha voz saiu... Morta. Mas, ora, se eu era morta, faria diferença? De qualquer forma, era somente mais uma missão. Eu tentaria ser o mais rápida possível descobrindo as coisas dos romenos – se é que eles estão envolvidos – e voltaria.

         Não tinha que me preocupar em ficar com a família Cullen. Iria, e voltaria. Somente isso. Mas, caminhando de volta para meu quarto, minha mente choramingou infantilmente.

         Eu não queria sangue de animal. Eu não queria ser uma vegetariana – mesmo que temporariamente. Papai não tinha falado, entretanto, eu podia ver em seus olhos: eu tenho que ser uma vegetariana. Afinal, de que outra forma eu entraria na sociedade humana discretamente?

         Tenho certeza que olhos vermelhos não são exatamente o que todo humano vê – e muito menos sonhar em ver. Meus olhos rubros são escuros, assustador, caçadores.

         E humanos são a caça.

         E eu estava prestes a fingir ser uma. A minha existência era mesmo muito irônica comigo. Eu não merecia tanto.


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Notas finais do capítulo

Comentários? *sorrisoinocente*

Beijos, Emm