São seis horas da tarde e eu estou na cozinha fazendo o jantar. Alec, Jane e Félix estão na sala assistindo algum filme idiota. A comida esta quase pronta só estava faltando o arroz quando a campainha tocou.

– Corvin! Vai já atender! – gritou Jane do sofá sem tirar os olhos da televisão.

Ela acha mesmo que ficar me chamando de Corvin vai me incomodar? Ah! Tadinha! Ela não sabe o quanto eu adoro isso! Se ferro!

Tampei a panela, deixando o fogo aceso e fui atender a porta. Abri e dei de cara com um homem com uns dezessete anos, não muito alto, a pele um pouco bronzeada e com os cabelos pretos e curtos, o entregador de cartas. Ele ate que é bonitinho, mas esse uniforme do correio deu uma judiada nele. Coitado.

– Boa noite! Estou procurando a senhorita Isabella Corvin Swan! Ela está? – ele falou sem desviar os olhos da prancheta em sua mão. Sua voz soou um pouco roca.

– Sou eu. O que deseja? – perguntei espantada, eu nunca recebo nada. Ele desviou seus olhos da prancheta e olhou em minha direção.

Pode ser coisa da minha cabeça, mas eu juro que o ouvi suspirar e eu garanto que ele corou antes de desviar o rosto.

– Tenho uma carta para você. – ele falou mexendo em sua bolsa. Pouco depois pegou uma carta de papel grosso e me entregou.

– Obrigada. Tenha uma boa noite. – eu disse.

– Pra você também. – ela disse sorrindo e se virou para ir embora. Fechei a porta e voltei para a cozinha. Revirei a carta em minhas mãos e vi meu nome completo na frente.

– Quem era? – perguntou Jane ainda sem tirar os olhos da TV.

Ferro! Se eles virem a carta com certeza tomarão ela de mim.

– Ninguém, foi engano. – menti. Subi rapidamente para o meu quarto, levantei meu travesseiro e escondi a carta debaixo do mesmo, mais tarde eu leio. Mas quem foi que me mandou ela? Não tenho amigos e nem parentes.

Disparei escada abaixo assim que senti um cheiro de queimado. Droga, me esqueci a panela de arroz no fogo. Entrei na cozinha, mas cheguei tarde. Jane já estava com a panela na mão e me chingando de tudo quanto é palavrão.

– Sua idiota! Olha o que você fez com o jantar! Vai já para o seu quarto e não saia de lá! – gritou ela como sempre faz.

Voltei a subir as escadas e fui direto para o meu quarto. Abri a janela e fiquei a observar. Com certeza os três vão jantar fora e me deixar aqui sozinha, de novo.

Dito e feito. Da janela vi o Siena do Alec sair e ir em direção ao centro. Então eles vão demorar um pouquinho a voltar.

Sentei em minha cama e peguei a carta. Não tem remetente, apenas um símbolo estranho e na frente, o meu nome e endereço. Abri, a carta foi escrita manualmente e com uma caligrafia muito bonita tenho que admitir, comecei a ler.

Querida Isabella Corvin Swan,

Antes de tudo, peço que leia esta carta ate o fim. Por mais estranho que possa parecer, é de extrema importância que você leia tudo.

Tenho a honra de lhe informar que você é especial, diferente. Você não é apenas mais uma humana comum. Você é uma feiticeira. Sei que é difícil de acreditar, mas é a pura verdade. Eu conheci sua mãe, Selene. Ela também foi uma feiticeira. E não se preocupe, você não é a única. Existem vários outros adolescentes, adultos e ate crianças que são feiticeiros e outros que ainda não sabem disso.

Peço que não duvide, mesmo que a maioria também tenha duvidado. Mas pense bem... Já aconteceu algo totalmente fora do sentido e que você não soube explicar porque estava com raiva ou assustada?

Acredito que sim.

Pessoas como você, como nós, são um pouco raras. Então lhe ofereço uma vaga aqui na FeitiçoTec, escola de feitiços. Gostaria muito de ter a sua presença aqui. Garanto que você vai aprender muita coisa nova. Caso aceite o meu convite, ligue para o numero abaixo e agende uma hora para conversamos melhor.

                           Grato, diretor, treinador e professor da FeitiçoTec.

Eu li tudo, mas não posso acreditar! Eu... sou uma feiticeira?

Eu me levantei e comecei a andar de um lado para o outro em meu quarto. É estranho, mas eu penso melhor quando faço isso.

 Tá certo! Eu admito que já aconteceu coisas estranhas e que eu nunca soube explicar.

 Uma vez Alec estava com uma lata de refrigerante na mão, ele estava me dando sermão por alguma coisa. Eu me lembro que eu queria muito que aquele refrigerante caísse na blusa branca dele e de repente a lata explodiu. Eu sei que fui eu que fiz isso, pois ele ficou muito assustado e ficou repetindo sem parar que nem apertando a lata ele estava.

 Outra vez Jane ficou me chingando porque eu não limpei o chiqueiro do quarto dela. Na hora eu quis muito que ela calasse a boca e de repente ela apenas mexia a boca e nenhum som saia dela. Apenas ela ficou muda, pois eu ainda pude ouvir a televisão ligada.

E a coisa mais estranha que aconteceu foi há dois dias.

Eu estava no banheiro grande penteando o meu cabelo, eu sempre penteio no minúsculo banheiro do meu quarto, mas é que lá não tenho nenhum espelho de um tamanho bom, e meu cabelo já é muito comprido. Félix apareceu correndo pelo corredor em frente o banheiro vindo em minha direção, achei que ele fosse entrar no seu quarto que fica bem ao lado, mas não. Ele entrou no banheiro trombando em mim e me fazendo cair de costas no chão.

Ele começou a rir tanto que chegou a ficar vermelho. Ainda no chão a minha única vontade era de mata-lo, o olhei com ódio. Quando ele olhou pra mim sua cara vermelha ficou branca como a neve, seus olhos se esbugalharam e sua boca ficou entre aberta, como se ele tivesse visto um fantasma. Ele saiu correndo de volta para o corredor gritando por socorro.

Sem entender nada, olhei em volta procurando pelo motivo de ele ter saído gritando daquele jeito. Paralisei quando vi o reflexo do meu rosto no vidro do box.

Meu rosto estava normal, apesar da palidez pelo susto. Porem meus olhos... eles que antes eram de um castanho claro, naquele momento estavam de um azul bem forte. Assim que me acalmei um pouco eles escureceram, voltando lentamente para o castanho.

Sai de minhas lembranças e agi rápido, esta quase na hora deles voltarem.

Desci, peguei o telefone e disquei o numero que veio na carta. Eu não tenho nada a perder mesmo.

– FeitiçoTec, boa noite! Meu nome é Rayane Wilians. Em que posso ajuda-la? – disse uma voz carinhosa do outro lado da linha.

– Boa noite! Eu recebi uma carta de vocês e...

– Ah! Você deve ser a senhorita Isabella Corvin. – disse ela me cortando.

– Sim, sou eu mesma. – afirmei. Estranho, eles já esperavam minha ligação. – Gostaria de agendar uma reunião com o diretor para resolver alguns assuntos.

– Mas é claro! Diga-me o dia e a hora querida.

– Pode ser amanha? – perguntei.

– Sim. Por favor, anote o endereço. – Rayane me pediu.

Peguei uma caneta que estava do lado do telefone e anotei na carta mesmo.

Legal! Não é muito longe da minha escola.

– E a que horas? – ela me perguntou.

– Ao meio dia está ótimo. – respondi.

Eu conheço o lugar e não vai ser difícil chegar ao endereço. Posso ir depois da aula de amanha.

– Então, ate amanha. – despediu Rayane.

– Até e obrigada. – desliguei o telefone e fiquei uns cinco minutos olhando a carta. Tentando absorver o que aconteceu.

Não acredito que isso esta acontecendo comigo! pensei pra mim mesma e me peguei sorrindo.

Comecei a ouvir um som de carro se aproximando, é o Alec.

Segurei firme a carta com a mão esquerda e corri para a geladeira para pegar alguma coisa para correr. Acabei pegando uma maça mesmo, já que estava bem na frente.

Corri de volta para o meu quarto, assim que fechei a porta escutei a porta da entrada sendo aberta.

Deitei em minha cama e comecei a mordiscar a maça, pensando no que me aguarda, amanha vai ser um grande dia.