Passava das nove da noite daquele dia. Ela estava exausta depois de horas a fio preparando seus novos documentos. Sentia-se extremamente cansada e tudo o que poderia pedir era uma noite de sono, depois de dois dias sem pregar os olhos. Levantou-se da cadeira almofadada da cozinha, e foi direto para o banheiro tomar banho. Depois, tomou um copo de uísque numa golada só e se jogou na cama com os cabelos ainda molhados. O sono veio capaz de apagá-la pelas doze horas seguidas, que poderiam ter sido maiores se certo loiro magricela não tivesse ligado pro seu celular.

- Alô?! – disse ela sonolenta.

- Alicia, bom dia! Já viu que lindo dia faz lá fora? – ele disse, após ter percebido a sonolência da amiga.

- Sorte a sua que não dá pra matar as pessoas pelo telefone. – Os dois riram.

- E então, terminou os documentos?

- Terminei. Demorou, mas ficaram perfeitos. Nem um perito reconheceria que são falsos. Agora você precisa vir aqui, pra tirarmos a nova foto. Pensou no seu disfarce?

- Tenho algo bom em mente. Estou a caminho de uma loja pra comprar meus novos pertences.

- Pensou sobre aquilo que eu te falei?

- Claro. E já até comprei as passagens do navio que nos levará a Mondragone.

- Mondragone... Ótima escolha, Giovanni. Suas coisas já estão mais ou menos preparadas?

- Si. Só faltam as roupas que eu vou comprar hoje. O mais importante já está aqui.

- Ótimo. Também vou comprar minhas novas coisas. Addio.

- Addio. Estarei ai por volta das 3.

Ela desligou o telefone. Trocou de roupa rapidamente, e prendeu os cabelos num rabo de cavalo frouxo. Pegou a bolsa e foi atrás de sua nova identidade.

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Do outro lado da cidade, naquela manhã, ele tomava café. Mais café, aliás, porque o dia começara muito cedo pra Stefano. Acabara de ouvir a gravação, e escrevia em seu notebook a matéria sobre a Máfia. Nos corredores da Italian, dizia-se que ele estava de férias, mas na verdade, as “férias” dele eram passar o dia ouvindo as conversas do celular que ele grampeara, e escrevendo, em casa. Apenas ele e uma xícara de café. Passara a noite inteira acordada no seu intento de escritor, mas falhava miseravelmente quando pensava em Alicia. Será que ele realmente deveria entrega-la? A que preço? E durante todo o dia, ele ficou assim, até que decidiu tomar um porre e se desligar do mundo. Foi até a dispensa e pegou sua garrafa de vinho favorita. Encheu uma taça para si, e ficou rebobinando a gravação até que o sono tomou-o de vez.

Mondragone... Uma palavra que jamais esqueceria.

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Já na redação da Italian, aquela fora uma manhã complicada. Diana havia pensado muito sobre tudo o que acontecera entre ela e o chefe aquele dia. Não conseguira esquecer o que sentira quando ele a beijou. Fazia muito tempo que ela não se sentia assim... Talvez porque desde que se conheceram, Stefano tomou a maior parte da vida e dos sentimentos dela.  O que acontecera aquele dia rendeu a ela sensações diferentes. Foi firme e madura o suficiente pra pensar sobre elas ao invés de apenas relembrá-las. Por isso, nessa manhã, ela resolveu falar com Felippe. Foi até a sala do chefe e entrou sem bater. Ele, pego de surpresa, finalizou a ligação na qual estava.

- Desculpa ter entrado sem bater. – ela começou.

- Que isso! Não precisamos dessas formalidades. O que te traz aqui? – ele perguntou. Na verdade, tinha quase certeza de qual era o assunto.

- Está livre para o almoço? – ela perguntou.

- Infelizmente não. Tenho almoço com alguns patrocinadores. – ele mentiu. Melhor adiar um pouco a resposta. – Mas estou livre para o jantar. Podíamos ir a uma cantina típica italiana.

- Claro. Acho muito legal.

- Encontre-me no Mama Bona às sete. Melhor irmos separados.

- Claro. Eu te entendo. Vou voltar ao trabalho. Tenho muitas fotos pra editar. Addio.

- Addio.

Ela se virou e fechou a porta atrás de si. Ele deu um soco no ar, comemorando. Tinha quase certeza de que havia conquistado a garota.

Sua vida estava dando muito certo, em tudo. O capacho do Stefan estava se saindo muito bem.  Diana finalmente era sua. Faltava pouco pra ver Alicia morta, e a Máfia seria destruída em pouco tempo. Isso é que ele podia chamar de final feliz.

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Era quase noite e estava tudo pronto. Alicia passou a mão pelos cabelos, ainda estranhando a nova forma deles. Giovanni acabara de tocar a campainha e ela se encaminhava pra abri-la. Faltava pouco tempo pra que eles fossem embora dali, e ela já começava a sentir falta de tudo. Até mesmo do carpete macio da sala de estar. Abriu a porta com a sensação de quase nostalgia corroendo a mente. Giovanni segurava duas malas grandes e carregava o novo look. Um visual despojado, o cabelo agora castanho estava curto e meio arrepiado. Vestia roupas bem despojadas, diferentemente do antigo Giovanni todo arrumadinho. Ele estava parado na soleira, dando um meio sorriso, mas olhando estarrecido pra Alicia que estava em sua frente.

- Caramba. Se eu não soubesse que você ia se disfarçar poderia jurar que errei de apartamento. – ele disse.

Ela sorriu e fez sinal com a mão para que ele entrasse e fechasse a porta. Ele assim fez. Ela foi até a cozinha e pegou as taças de champagne que tinha preparado.

- Merecemos um brinde, não acha? – ela disse.

- Um brinde então. À nossa nova vida de fugitivos de uma das maiores seitas do mundo correndo risco de morte a qualquer momento. – ele começou, estendendo a taça.

- Cala a boca e bebe logo. – disse Alicia virando a taça de uma vez só. – Agora vamos terminar nosso serviço.

Ela se dirigiu ao quarto e Giovanni a seguiu. Ela pediu que ele ajustasse a câmera enquanto ela terminava a maquiagem de sua nova “personagem”. Tudo pronto, ela sentou-se na banqueta, procurando o melhor ângulo e uma nova expressão.

- Assim está ótimo. – Giovanni disse. Um flash foi disparado. A foto foi revelada. Ela mostrava uma jovem de cabelos pretos lisos na altura dos ombros. Os olhos eram castanhos claros, quase dourados. Uma pessoa nova. Uma vida nova. Agora seu nome era Valentina Albertini. E Giovanni, que estava agora tirando a nova foto 3x4, era seu irmão Pietro Albertini.

Agora estava tudo pronto. Documentos, passaportes, malas... Só falta fugir.

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