- Quem é você?

- Eu sou aquele que você não tem coragem de assumir. Aquele que você esconde.

- Mas, quem é você?

- Eu sou... Eu sou...

- Emma, Emma, Emma! Acorda!

- O que? Quem é? Me solta. – bati na pessoa que me puxava.

- Ouch. Você acertou a minha cara, sua vadia. – ela disse enquanto eu percebia que já não estava mais sonhando, nem dormindo. Espreguicei os olhos e vi Lizz massageando o rosto.

- Desculpe, Lizz. Eu tive um pesadelo. – eu me levantei, coçando as pálpebras. Percebi que ela já estava pronta com o uniforme da Grifinória. – Que horas são?

- 7h15min. – ela disse, e eu me virei bruscamente para ela.

- O que? Ai. Meu. Deus. – me levantei e sai correndo para o banho. Banho, roupa, cabelo, livros. – To pronta.

Quando íamos sair, Simba pulou em meu colo. Eu o coloquei em cima da minha cama.

- Mamãe precisar ir pra aula, tá filinho? – massageei sua cabeça e ele fez carinho em minha mão, mimoso.

- Vamos logo, Emma. – disse Lizz impaciente.

Ela puxou meu braço e saímos correndo para o Salão Principal. Chegando lá vimos Summer, Jorge, Luna, Fred e uma menina da Corvinal que eu nunca tinha visto na mesa da casa da última. Eu a mirei e ela era muito bonita para ter aquela cara de intelectual. Seus cabelos negros eram lisos em cima e encaracolados em baixo, muito parecido com os meus. Bem branquinha e o sorriso dela era lindo.

- Você conhece aquela menina, Lizz? – perguntei discretamente.

- Quem? – ela me respondeu com outra pergunta, procurando alguém nada discretamente.

- A menina que está do lado da Summer.

- Oh, a Marissa? – ela disse olhando diretamente para a garota. – Ela é uma amiga da Summer. É monitora da Corvinal, filha do grande construtor Greg Cooper.

- Ela é filha do Greg Cooper? – eu disse, fazendo uma cara de espanto. – Ele é um grande construtor trouxa.

- Sim, sim. Ela é mestiça, que nem você. Venha, vamos nos sentar lá. Com certeza Summer vai apresentar você a ela. – ela foi na frente na intenção de que eu a seguisse, e fiz.

Chegamos lá e olhamos para todos.

- Bom dia. – nós duas dissemos sorridentes ao mesmo tempo.

- Bom dia Lizz, bom dia Emma! – todos responderam.

- Bom dia Emma. – Disse Fred, me abraçando. Ele olhou para Lizz que também o olhava. – Bom dia, Lizz. – Ele disse, abraçando-a também e recebendo um olhar assassino de Angelina do outro lado da mesa.

- Bom dia, Fred. – Ela retribuiu o abraço e eu senti muita vontade de rir, como se alguém fizesse cosquinha em mim. Eu estava tão feliz.

- Oi, vou logo me apresentando. Meu nome é Marissa Cooper. – disse a menina da Corvinal, se levantando e apertando minha mão. – Sou monitora da Corvinal. Você é...?

- Emma Underwood. – eu disse ainda apertando sua mão. Sorri e lhe disse oi.

- Underwood? – ela balançou a cabeça indignada. – Você é irmã do Bryan Underwood? Que foi transferido para Hogwarts?

- Oh, sim sou irmã e não, ele não foi transferido para Hogwarts. Ele estudou aqui até ano retrasado, mas foi para Durmstrang. – eu sorri para ela pegando um copo de suco de abóbora.

- Não, disso eu sei. Mas ele voltou para cá né... Achei que você sabia. – ela disse me olhando desconfiada.

- É claro que eu saberia se meu irmão tivesse voltado para Hogwarts. – eu disse a ela, bebendo meu suco, mas do que convicta disso.

- Olá, irmãzinha querida. – disse uma voz atrás de mim. Eu derramei o suco em mim mesma.

- Bryan? O que... Você... O que? – eu havia me levantado e agora o olhava complexa.

- Fui transferido para cá novamente. Eu quero saber me defender das Artes das Trevas, não aprendê-las. – ele sorriu para mim e eu o olhava com uma cara de quem havia visto um louco. – Queria fazer uma surpresa.

- Bom, conseguiu né. – eu disse abraçando-o. Ele me largou e olhou para Marissa, a menina da Corvinal. Eles se encararam por um tempo.

- Oi Marissa. – ele disse corado. Se sentando ao lado do lugar onde eu estava.

- Oi Bryan. – ela sorriu envergonhada também. Silêncio. Olhei os dois desconfiada e decidi perguntar depois.

O café da manhã fora bem agradável para algo que foi bem rápido. Ambos tinham que ir pra aula e isso inclui eu e Lizz.

Tivemos aula de Transfiguração, História da Magia e agora estávamos indo para a aula de Trato das Criaturas Mágicas... com os sonserinos. Respirei profundamente e inspirei aliviada. É claro que um dia não podia ser perfeito, tinha que ser estragado por Draco Malfoy.

A caminho da cabana de Hagrid, fui pensando nele. Eu ainda o odeio, muito... Mas, agora é como se fosse bom. Ódio bom, onde já se viu? Mas era isso que eu sentia, era um ódio bom. Como se fosse bom sentir aquilo, e como se fosse bom flutuar ao olhar para ele.

Perdida em meus pensamentos, senti algo pesado rebater contra o meu corpo e senti minha cabeça bater em algo. Caí no chão com uma gravata verde em cima de mim. Me levantei, massageando minha testa e olhei para uma garota muito bonita da Sonserina. Os cabelos dela eram algo de dar inveja.

- Mil perdões. – eu disse sabendo exatamente o que eu iria ouvir, mas mesmo assim estendi a mão para ela.

- Não, a culpa foi minha. Desculpe-me. – ela disse pegando minha mão e se levantando, batendo as roupas para sair a sujeira e eu a olhei confusa. Eu esperava que ela brigasse comigo invés de desculpar e se auto-culpar.

- Hum, sério? – eu queria que ela confirmasse pra mim que não era uma brincadeira.

- É sério. – riu. - Eu não sou tão malvada assim. – ela sorriu para mim e eu retribuí o sorriso. – Meu nome é Manuella Roberts. – ela estendeu a mão para eu apertá-la.

- Prazer, Manuella. Meu nome é Emma Underwood. – eu apertei sua mão e alarguei meu sorriso, fechando um pouco os olhos como costumava fazer ao sorrir muito. Ela me encarou por um tempo, balançando minha mão lentamente. Porque as pessoas gostam de ficar balançando minha mão?

- Você é a Emma Underwood, da Grifinória? Amiga dos gêmeos Weasley, Lizz Longbottom e... Hermione Granger? – ela disse “Hermione” em um sussurro. Me senti ofendida, odiava quando falavam de Hermione.

- Se você tem problemas com nascidos-trouxas também, porque não sussurrou o nome da Lizz? – perguntei a ela cruzando os braços.

- Não sou eu, mas um amigo meu. Ele sempre fala de vocês duas. Da Hermione, ele realmente fala mal, mas de você... – ela disse abafando um riso.

- Por acaso, esse é o Malfoy? E o que ele fala de mim? – quando ela ia me responder, Draco passou ao meu lado, olhando-me intensamente com uma cara... de nojo. Ouço uma voz grave atrás de mim. Hagrid estava começando a dar aula, então me virei e prestei atenção.

- Ele não é uma beleza? Cumprimentem o Bicuço.

- Hagrid, o que exatamente é essa coisa? – perguntou Harry quando eu ia perguntar o mesmo.

- Ele, Harry, é um hipogrifo. São criaturas muito educadas e também muito orgulhosas. Cuidado. – ele disse e os alunos se afastaram tanto de perto dele quanto do hipogrifo.

Parecia-me um animal incrivelmente dócil, mesmo pelo ar malvado que ele tinha em sua face. Mas acho que preferia ficar aqui do que chegar perto.

- Então, quem vai cumprimentá-lo? – perguntou Hagrid e eu que estava no meio de Hermione e Lizz, vi que ambas haviam se movido para trás. Imitei-as.

- Muito bem Harry, muito bem. – Hagrid disse e então eu prestei atenção que o Harry foi o único tapado que não andou pra trás. Pateta, o xinguei mentalmente.

Harry se aproximou de Bicuço, fez uma reverência e depois fez carinho em sua cabeça. Hagrid o levantou e colocou Harry em cima do hipogrifo. Harry se debatia para não ir, o medo estampado no seu rosto e eu e Lizz rolavamos de rir, só lembrando como Fred, Jorge e Summer se divertiriam estando aqui. Hermione segurava a mão de Rony e isso só me ajudava a querer rir mais.

Harry já havia dado um passeio com Bicuço e já estava ali, em solo terrestre. Hermione evitava o olhar de Rony.

- Parece que alguém aqui está apaixonada. – disse Lizz cantando afinada. Deus, que voz linda ela tinha.

- Romione, Romione, Romione. – eu cantarolei baixinho para ele não ouvir.

- Ah, por Merlin. Eu e Rony? Nunca. – ela disse corando. Eu a mandei um sorriso maroto e ela se virou como se estivesse ofendida. Mas voltou-se para mim, deu um sorrisinho e piscou, na qual Lizz não tinha visto.

- Saiam da frente! – disse aquela voz suave, agora em tom ameaçador. – Você não tem nada de malvado não é? Seu monstrengo feioso.

- Malfoy!

Eu olhei para trás e vi Draco perto de Bicuço. Muito perto. Perto demais. Segurei a mão de Lizz e soltei um grito quando o bicho se levantou e deu-lhe uma patada. Aquela unha grande passando pelo seu braço... eu sentia a dor do Draco só de imaginar.

- Eu to morrendo, eu to morrendo. – dizia Draco, se contorcendo no chão, com a mão contrária do braço em que estava o corte.

- Calma, foi só um arranhão. – Hagrid tentava acalmá-lo.

- Bicha. – xinguei baixinho e Lizz sorriu educadamente.

- Não é uma boa hora para piadas, Emma. – ela disse e eu assenti, percebendo o erro. Afinal, porque eu estava xingando ele? Eu não queria xingá-lo.

- Hagrid, ele tem que ir pra ala hospitalar. – gritou Hermione.

- Claro, sou o professor, vou levá-lo. – ele carregou Draco nos braços e foi embora.

Vários alunos foram atrás dele, a maioria da Sonserina. Vi Manuella tensa se metendo no meio da multidão.

- Você quer ir lá com ele? – perguntou Lizz. Seus olhos invadiram os meus e penetraram meu coração.

- Eu? Não, claro que não, ele mereceu, ele... ele... – eu realmente queria enganar a Lizz? Eu queria vê-lo sim, queria ir lá. O motivo eu não sabia, mas eu queria. – Quero. – balancei a cabeça e dei um sorriso de lado sem dentes. Ela assentiu e fomos direto para a ala hospitalar.

- Eu não acredito que ninguém pode entrar lá. – disse Lizz com raiva.

- Pois é... mas mais tarde nós voltamos aqui, certo? – eu disse e ela concordou.

As aulas terminaram e eu fui na ala hospitalar.

- A senhora está me dizendo que Draco Malfoy já foi embora daqui? – perguntei à Madame Pomfrey.

- Sim, Srta Underwood. – ela sorriu e eu a encarei. Agradeci e saí.

Corri para o Salão Principal. Ao chegar lá, vi Draco com o braço enfaixado conversando com os amigos, incluindo Manuella. “Eu sabia” disse para mim mesma. Procurando pela Lizz,vi Fred com Angelina em um canto bem afastado – ainda se falavam mal -, e depois enxerguei Jorge, Summer e Lizz na mesa da Corvinal, com Luna, Marissa e meu irmão. Fui para lá e fiquei conversando com Marissa. Ela era uma menina muito legal e meu irmão ficava olhando-a indiscretamente. Tenso. Ao terminarmos, nos levantamos e fomos para a Sala Comunal.

- Oh, preciso fazer uma coisa. – disse para Lizz que estava ao meu lado, e também para Summer e Jorge, que estavam andando abraçados.

- Tipo, o que? – perguntou Lizz estreitando os olhos para mim.

- Nada demais, depois conto pra vocês. Até daqui a pouco. – disse e corri.

A verdade é que eu ia atrás de Manuella. Queria tirar essa história a limpo com ela. Vi Marissa Cooper com meu irmão Bryan, andando pelos corredores sozinhos. Suspeitei mas logo depois assenti.

Onde eu vou achar Manuella, meu Deus?

- Boa noite, mestiça. Andando essa hora da noite em Hogwarts? Você pode ser presa sabia. – senti aquela voz atrás de mim e me virei para Malfoy.

- Cuidado, Draco. Você quebrou o braço e agora está quase inofensivo. Sou muito boa em bater em loiros oxigenados puros-sangues filinhos de papai. E presa? Não seria, expulsa?

- Uh, que medo. – ele imitou uma menina levantando as mãos e eu revirei os olhos, indo-me embora. Mas algo não deixava  ir... Draco puxava o meu braço.

- Me solta, seu nojento. – disse, batendo em seu braço bom.

- Já não basta um braço meu ser quase amputado, você quer mesmo acabar com o outro? – ele disse, sarcástico e raivoso ao mesmo tempo.

- Pois da próxima vez, ampute as próprias pernas.

- Respondendo a sua pergunta, sim, presa. - Ele vinha na minha direção, e eu fui andando para trás. O que esse canalha estava fazendo? - Eu posso prender você. Não em uma prisão, mas prender em mim.

Ele me encarou e eu o encarei. Olho com olho, mão com mão, frente a frente. Eu estava imprensada contra a parede. Fugi pelo lado do seu braço ruim, mas ele me puxou com o braço bom.

Eu olhei aqueles olhos azuis, entrando em um tipo de transe que logo eu já havia acordado.

Quando eu ia falar "me solta", senti um toque gelado em meus lábios e depois, lábios gelados em meus lábios quentes. Uma mão em minha cintura, o braço engessado separando nossos corpos, tendo o maior cuidado de não ser machucado. Senti meu coração pular várias e várias batidas. Malfoy havia roubado um beijo meu.