Mesma rotina, de novo. Ouvir o despertador tocar, me levantar de novo, ir para aquele maldito colégio. Mas esse dia foi diferente.

Eu não consegui dormir. Se consegui, era por uns 15 minutos, depois acordava de novo, atordoado. Me sentia meio mal, suando muito e minha cabeça ficava martelando, não me deixando descansar.

E, no fundo, eu sabia que era culpa da pulga maldita.

Por que eu e ele tivemos aquela conversa tão normal naquela sala de aula vazia? Por que ele me tocou daquele jeito como se fôssemos tão próximos?

Eu vou quebrar a cara dele quando o ver hoje... Ah! Como eu quero acabar com ele.

Com toda a certeza, estava zombando da minha cara, como sempre o fazia. Me fazia usar minha força contra ele, desgraçado.

A minha cara estava péssima. Me olhei no espelho, estava com olheiras, meu cabelo não se ajeitava de jeito nenhum. Nem liguei, era melhor eu sair de casa antes de quebrar alguma coisa.

A manhã estava mais escura que o normal. Provavelmente ia vir uma chuva – melhor, uma tempestade. Ótimo, combinava bem com o meu humor.

Cheguei atrasado. Fui correndo para não me barrarem na entrada, não queria me incomodar – alguém ia apanhar hoje. E qualquer um que me irritasse seria uma possibilidade.

Demorei para lembrar que a primeira aula era no ginásio, Educação Física. Corri para o vestiário, onde me encontrei com Shinra e o Kadota.

– Nossa, espero que não chova quando eu for pra casa – Kyouhei Kadota passou a mão pelos cabelos, jogando-os pra trás.

Fechei os punhos.

– Ah! Shizuo-kun! – Shinra acenou para mim antes mesmo de eu fazer qualquer coisa.

– Ah, oi. – falei meio quieto, indo em direção do meu armário.

– Como vai, Shizuo-kun? – o maldito do Kadota me perguntou.

Quase amassei a porta do meu armário.

– Ne...O Izaya está meio atrasado hoje né, Kadota-kun? - Shinra tocou no assunto.

– Ele avisou que ia chegar mais tarde porque...

– Cara, calem a boca! – fechei o armário com força. – Mas que droga, querem me irritar pra valer, é!?

E antes de responderem qualquer coisa, o professor veio nos chamar para irmos para o ginásio. A caminho de lá, percebi a forte ventania que começava. Realmente, ia começar uma tempestade daquelas. Me arrependi por não ter ficado em casa.

Quando chegamos, o professor começou a formar grupos entre nós.

– Kyouhei, Heiwajima, Kishitani, vocês três aí que estão juntos e...Orihara! Vá lá, vocês formarão um grupo.

– O QUE?! – exclamei, alto demais.

O-Orihara?!

– Ne, Ohayo – a voz do maldito ecoou nos meus ouvidos, virei-me, ele estava lá. Parecia calmo demais...

– Não ouse dirigir a palavra para mim, desgraçado! – rugi.

– Ei, vocês! Parece que a ventania está fazendo alguams árvores baterem contra a janela da escola, vou ir lá ver isso, enquanto isso vocês façam os exercícios que direi, e não aprontem nada! – O professor logo saiu do ginásio.

O tal do treino era ficar passando a bola e treinar alguns movimentos de basquete. Ótimo. Sempre odiei esse tipo de esporte pra fracotes.

Mas o idiota e o Kadota ficavam conversando demais e não faziam nada.

– Pulga! Você não vai fazer nada é?!

– Ah, Shizu-chan, não estou com muita vontade e...

Grunhi. Senti aquela raiva violenta dentro de mim. Peguei a bola de basquete com tanta força e arremessei muito forte contra ele. Logo no estômago. Heh. O idiota não conseguiu desviar e...

Só então percebi que tinha algo errado. Ele não desviou. Caiu para trás, batendo a cabeça no chão.

– Izaya! – Shinra gritou, correndo até ele.

Logo, Kadota foi também para perto, além de outros alunos. Arregalei os olhos.

– Shizuo-kun! Por que fez isso?! – o idiota de óculos veio me acusando.

– O que ele tem!? – perguntou uma voz que eu não sabia de quem era.

– Eu não sei! – Shinra exclamou – Ele...está com o rosto vermelho...não sei se está respirando direito...

– Ele falou que não estava se sentindo bem, acho que ele estava doente! – Kadota disse em seguida.

D-doente?

– Ei! Precisamos levá-lo logo na enfermaria!

A pulga...doente? Foi por minha causa que...

Fui me aproximando, sem expressão. Ele jazia no chão com os olhos fechados, deitado meio de lado, com a face corada e parecia que estava sentido dor.

Tch...droga.

– Eu vou levar ele lá! – Kyouhei começou a se aproximar.

– NÃO – exclamei – Saia, idiota! Você não tem forçar pra carregar esse maldito!

O que estou dizendo?

Me aproximei, abaixando-me. Levei meus braços ao redor de Izaya – que parecia agora estar ofegando de leve. Alguma coisa martelava no meu peito e eu não sabia o que era. O levantei e segurei-o nos braços. Olhei para sua face corada. Ele entreabriu os olhos.

– Shizu...chan...? – ele murmurou.

– C-cala a boca! – Virei o rosto – Eu vou levar você pra enfermaria!

Comecei a andar com a pulga no colo, com Shinra me seguindo.

A ventania estava muito forte. Ouvi um barulho forte de vidro se quebrando – olhei para cima e vi que uma das árvores quase tombava contra um dos blocos do colégio. Comecei a andar mais rápido. A enfermaria ficava no bloco contrário, ainda estava meio longe.

– Shizu...chan...

Não respondi.

Quando chegamos lá, deitei-o em uma das camas. A enfermeira começou a examiná-lo e Shinra nunca saía do lado dele. Teve uma hora que até pegou na mão do Izaya. Não entendi. Quando a pulga acordou, eu não estava mais no quarto, mas observava de espreita pela porta. Ele agradeceu ao Shinra e...o idiota de óculos corou.

Aquilo me deixou meio atordoado.

Shinra você...e o Izaya...?

Balancei a cabeça. Fui andar pelos corredores aleatórios até encontrar um bebedouro. Fiquei olhando a chuva cair violenta lá fora.

Ele estava doente...Por que o trouxe para a enfermaria? Devia ter deixado ele morrer lá...

A visão da face corada de Izaya enquanto desacordado me fez ter uma sensação de frio na barriga.

Mas o que...?

Fiquei me remoendo nisso por algum tempo. Talvez, uma meia hora. A chuva tinha feito um estranho estrago no bloco do outro lado, uma árvore tinha tombado, mas só quebrou uma janela. A árvore estava inclinada, como se tivesse caído de cansaço. Será que iam pedir para eu pegar ela e coloca-la de novo no lugar? A idéia me fez sorrir.

Resolvi dar uma outra olhada na pulga antes de ir para casa. Provavelmente iam deixar, visto o estrago da ventania. Fui chegando devagar, para que ele não me visse. Percebi que a enfermeira não estava, devia ter ido ver se alguém não tinha se machucado. Mas Izaya ainda estava na cama e...parecia não estar sozinho.

– K-kadota-kun...- parecia ser um gemido.

Arregalei os olhos. Me inclinei para ver.

Tive um súbito frio no peito que quase tive um solavanco.

Kadota estava de alguma forma abraçado nele...Izaya estava...

O que...?!

Fechei os punhos, mas fiquei desnorteado. Não sabia se entrava e quebrava tudo ou...

Grunhi. Era a primeira vez que eu tinha esse impasse idiota...eu...eu...

Quando vi, estava correndo. Quase tropecei no corredor, mas não me importei. Só queria correr, avistei o bebedouro que havia tomado água antes, o levantei tão rápido e o joguei pela janela, gritando algo que nem eu mesmo entendi.

Corri novamente, saí do bloco, a chuva me pegou tão violenta que logo em seguida já estava ensopado.

Mas que merda....!!!!!

A dor era tão forte que eu não estava entendendo. Por que isso?! Eu estava tendo um ataque ou algo assim?!

Eu sabia...ninguém gosta de imperfeições. Muito menos a pulga.

Esse pensamento veio tão rápido, quanto as gotas violentas de chuva que molhavam meu rosto.

Por que eu não admitia que fossem lágrimas.