Doce Pecado

Cinzas

As sombras percorrem o mundo, escondendo segredos que o planeta não deseja nos revelar. Algumas vezes, essas mesmas sombras invadem a alma humana e envolvem o coração, ocultando segredos que o espírito teme mostrar. Pergunto-me o que as sombras em Alexis escondem.

Por trás de cada toque, de cada sorriso, de cada beijo... O que ela esconde? O que Alexis guarda em sua mente silenciosa, inacessível a mim? Sob o sol, como uma mulher comum, que sorri para as crianças que a cercam... Uma imagem incorreta. Alexis não é comum, seus gestos, suas palavras não são naturais, são calculadas, montadas para ocultar algo que somente ela conhece.

Respiro fundo quando percebo o olhar escuro sobre mim, um sorriso nos lábios finos. Ela sabe o que estou pensando? Ela lê minha mente nesse momento? Se sim, ela considera a hipótese de me revelar seus segredos? E o que é esse silencioso desespero que sinto nascer em mim? É como um aviso de que algo irá acontecer... Algo relacionado ao segredo de Alexis.

Sou tirado de meus pensamentos pelo riso de Aielin, que está com Alexis. Lentamente, me aproximo, tocando a cintura da bela vampira, fazendo-a se levantar, mas permanecendo em meus braços. Minha mente questiona, meu coração deseja. Por que não posso ter isso? Eu quero tanto permanecer assim: nesse jardim, com minhas crianças, com Alexis... Por que não posso?

Sei que ninguém nunca me negou esse desejo, mas também sei que não posso vê-lo realizado. Tal certeza me é dada por ela, por Alexis. O som do vento chama minha atenção e eu desvio meu olhar, observando a brisa espalhar as folhas das árvores pelo jardim. Assim como o verde que se mistura ao azul do céu, Alexis voltará a se fundir com o tempo, desaparecendo de minha visão. Encosto meu rosto no cabelo escuro e macio da mulher em meus braços. Eu só queria saber por que ela faz isso. Não, eu não sei se realmente gostaria de saber isso. Mas, pelo menos, eu poderia saber se ela vai voltar.

- Você quer mesmo saber? - Alexis pergunta. Não respondo, me limitando a estreitar o abraço com que a envolvo, e ela continua - Você acredita que há um momento certo para conseguir aquilo que desejamos?

- Sim. - respondo em um tom baixo.

- E você acredita que, alguma vez, possa acontecer de nos enganarmos? De desejarmos algo agora com todo nosso coração e com toda nossa alma, mas o agora não ser o momento certo para nosso desejo? - uma pausa - Se isso acontecer, se o momento não for o certo, conseguiremos realizar nosso desejo?

Minha voz treme e falha quando respondo: - Não.

Alguns segundos se passam em silêncio e, então, Alexis se vira em meu abraço, ficando de frente para mim, a mão aberta sobre a lateral do meu rosto, acariciando minha pele suavemente.

- Você ainda acredita que é um pecador, Amadeus? - ela pergunta.

Lembro-me das palavras de Ludwig. Você é uma rosa que pensa ser vermelha quando, na verdade, já honra o nome que recebeu.

- Sim. - respondo. Não importa o que Ludwig diga, eu ainda não conquistei minha redenção.

Um pequeno sorriso surge na face de Alexis e as pontas dos dedos dela atingem meus lábios, contornando-os.

- Você é tão inocente, padre. - Alexis diz, o olhar baixo, fixo em minha boca - Mais do que é capaz de perceber. Ou imaginar.

Ergo uma mão, tocando os fios escuros que caem sobre a face pálida, afastando-os. Deixo que meus dedos sigam, pela pele de Alexis, o mesmo caminho que os dela trilharam sobre a minha.

- Você também é. - digo sem saber exatamente por que.

Paro meu toque sobre os lábios finos e macios, sentindo-os por algum tempo e, então, descendo até o queixo. Meu coração bate forte em meu peito, implorando para que eu faça a pergunta da qual temo a resposta. Engulo em seco, olhando diretamente para os olhos escuros e deixando que as palavras escapem de minha boca:

- Você me ama?