Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 6
SEIS




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Bastaram alguns poucos dias para que a Corte toda soubesse do ocorrido na piscina.

Tudo tinha começado em uma festa da realeza, mas precisamente da família Lazar. Eu esperava que eles não se manifestassem sobre o ocorrido por causa de Avery Lazar, que era uma usuária de espírito e estava internada em um hospício por ter enlouquecido ao abusar de seus poderes.

- Então, – Celina Lazar tomou um gole do seu vinho antes de olhar para Lissa e para mim. – Eu espero que tenha se recuperado. Nós soubemos do incidente na piscina.

Senti Lissa enrijecer ao meu lado. Ela juntou o máximo de controle o possível para manter uma expressão neutra diante do seu segredo revelado. Poucas pessoas sabiam sobre os poderes que o espírito tinha e Celina era uma delas. Ela conheceu Lissa quando ela veio com Avery para a Corte, mas elas não se deram muito bem.

E eu sabia que Celina só estava agindo assim porque ela queria subir na sua vida social. Todos queriam a companhia da Rainha exatamente para isso.

- Não houve acidente nenhum em piscina nenhuma – eu menti da melhor maneira que pude. – É apenas um boato idiota como muitos outros.

- Ah, jura? As notícias têm circulado em uma velocidade impressionante pela Corte. Seria uma pena que alguém estivesse espalhando mentiras. – disse ela esfregando a taça.

- Seria uma pena mesmo. Pior ainda se alguém se atrevesse a jogar isso na cara da Rainha, com uma guardiã Real ao seu lado. – ela bufou ofendida e saiu.

- Quem exatamente disse isso? – perguntou Lissa me olhando. Eu mordi o lábio.

- Eu vou descobrir. E quando eu o fizer, vou socar o linguarudo que disse isso. – minha voz estava dura e irritada. Eu olhei o perímetro, em busca de algum suspeito. Eu suspeitava de que foi algum dos funcionários que tinham dito sobre o ocorrido e cara, eu iria acabar com ele assim que descobrisse.

Eu não sabia se mais alguém tinha escutado e comentado com Lissa sobre isso, mas eu tinha uma vaga impressão de que os inimigos de Lissa usariam isso contra ela. Era apenas uma questão de tempo para que eles começassem a dizer que ela estava ficando louca por causa do espírito. E isso não era algo que nenhuma de nós queria, mesmo tendo um pouco de verdade na história.

Felizmente, ninguém nos incomodou. As únicas pessoas que ficaram nos observando com olhares desaprovadores e astutos foram Nathan Ivashkov e Rufus Tarus. Eu disse a Lissa para se afastar o máximo deles se fosse possível, pois aqueles dois apenas a aborreceriam. Nathan não gostava de Lissa e não a queria no trono por causa de sua política justa. Ele quer manter o antigo governo e as antigas tradições no que se diz a respeito a realeza e aos comuns. E eu não sei se o agüentaria ouvir falando sobre política Moroi, já que esse era um dos tópicos mais quentes por aqui.

Na manhã seguinte, eu estava tomando conta de Jill, como sempre fazia. Era um cuidado a ser tomado, porque se quisessem Lissa fora do trono, teriam que matar Jill. Yeah, esse maldito quorum realmente é uma merda. Um karma a parte, por assim se dizer.

- Você quer um pouco? – a barra de chocolate que Jill comia estava praticamente tocando meu nariz.

- Eu acabei de lanchar – falei afastando a mão dela. Apesar de eu já ter comido, a ideia de comer algum açúcar extra era boa. Eu olhei para Jill.

Ela estava usando um vestido amarelo simples, que realçava seus cabelos castanhos. Os grandes olhos verde esmeralda dela estavam pensativos. Pensativos até demais.

- Está tudo bem? – perguntei. Isso a vez sair de seus pensamentos. Seu olhar deu lugar a um sentimento vulnerável. Como se ela estivesse com medo e esperando por algo.

- Eu... hum ... – ela gaguejou e tomou uma respiração funda antes de falar – Eu estava pensando. Pensando se eu vou voltar a St. Vladmir. Pensando sobre o meu futuro, se eu vou poder ter a minha vida de volta.

Eu não pude deixar de sentir uma pontada de culpa. Uma das consequências de termos revelado Jill como meia-irmã de Lissa era que a vida dela nunca mais seria a mesma. Ela agora tinha que viver como uma Dragomir, carregar o nome de princesa que ela possuía e tomar certos cuidados.

Ainda podia ouvir o desespero na voz de Emily Mastrano quando ela soube de nossos planos de levá-la a corte e a decisão de Jill de nos acompanhar. Eu me perguntava qual seria a resposta de Jill nesse momento se eu perguntasse se ela gostaria de viver essa vida que a colocaria como o link que ligava Lissa e a política corrupta Moroi.

- Eu realmente não sei – eu tinha optado por ser franca com ela. De que adiantaria mentir sobre uma coisa que nem sabíamos como seria? – Mas deve ter uma chance de você terminar seus estudos em St. Vladimir. O resto? Eu não tenho ideia.

- Eu só não quero ser como eles – admitiu ela. Eu sabia que ela se referia a realeza. – Viver essa vida, agir como se fôssemos superiores a todos. Eu também não quero que as pessoas me venerem e sejam minhas amigas só porque eu sou da realeza. Também não quero ter um monte de guardiões sendo minha sombra, eu quero e sei me proteger.

Não pude evitar um sorriso satisfeito quando ela disse que queria se proteger. Jill podia ser frágil e totalmente inocente, mas havia aquele fogo de determinação nela que a faria ser capaz de fazer tudo ao seu alcance – um fogo que eu tinha certeza que ela havia herdado da família Dragomir.

- Isso é uma coisa que não podemos evitar. Você precisa de proteção aqui – em todo lugar pra ser mais exata. Eu vou te proteger de qualquer coisa.

Mantenha Jill debaixo da sua asa, eu repetia a mim mesma todos os dias. Ela é a sua responsabilidade desde que você decidiu trazê-la para cá e atirá-la aos tubarões.

Ela ainda mantinha aquela pontada de determinação no seu rosto.  – Eu sei me proteger. Além disso, não tem Strigoi aqui.

- Que nós saibamos – ecoei varrendo meus olhos pelo perímetro só com a menção do nome Strigoi. – E há ameaças piores que Strigoi por aqui. Muitos Moroi que estão –

- Insatisfeitos com o governo de Lissa e querem me matar para tirá-la do trono? – ela me cortou – Yeah, eu sei. Mas eu estou tentando dizer para vocês me darem uma chance para eu provar que eu sei me defender. Eu me sinto como um bebê!

- Oh Jill – eu disse reprimindo uma risada por causa do seu pequeno lapso e porque eu me senti exatamente como ela quando tive minhas aulas com Dimitri na Academia sobre estar pronta para a batalha – Você realmente não sabe o que fala. Eu acredito que você sabe se defender e que será uma Moroi poderosa um dia. Mas nesse momento, você precisa de proteção até que Lissa consiga mudar o quorum.

Ela abriu a boca para falar, mas eu não deixei.

- Além disso, nem eu, Lissa e seus pais gostaríamos de te ver machucada. Todos nós te queremos segura e é assim que vai ser. Como você acha que ficaríamos se descobríssemos que um Moroi matou você ou algo do tipo? Sua vida é muito valiosa, Jill, e se alguma coisa acontecesse, nada te salvaria – não com a sanidade intacta, na verdade.

Porque por mais que a morte fosse um ponto final no governo de Lissa, algo desastroso como Jill se tornar uma shadow-kissed – por mais ridícula e impossível essa ideia soasse – acabaria em uma guerra civil.

Isso a fez fechar a boca e coçar sua cabeça, balançando aqueles cachos indomáveis que uma vez eu prometi ajudar a domá-los. Ela estava frustrada, eu sabia. Ela também sabia dos riscos e concordou comigo apesar de não querer nada disso.

Eu comecei a consolá-la e a explicar os outros motivos do por que era necessária toda essa proteção extra quando captei um enorme grupo de pessoas ao redor de algo. Imediatamente arrastei Jill comigo. Ela também estava curiosa para saber o que estava acontecendo.

Acabou que era Lissa quem estava lá, o que não foi uma surpresa. Dois Moroi olhavam-na aborrecidos e um dhampir estava parado ao lado deles, também ouvindo. O dhampir parecia sem saber o que fazer, simplesmente olhando para Lissa com respeito. Os olhares dos outros Moroi, entretanto, não revelavam tal sentimento.

Dimitri estava próximo a Lissa, não o bastante para deixá-la desconfortável ou assustar alguém, somente o suficiente para ajudá-la se alguém se atrevesse a machucá-la. Ele olhou para mim e Jill rapidamente, assentiu, e voltou a observar o que estava acontecendo.

- Que diabos? Ele não merece Alec, é somente um comum! – um dos Moroi disse. Ele tinha cabelos louros e olhos acizentados. Uma combinação estranha que deixava sua pele mais pálida que o normal.

- E daí? Eu preciso de um guardião, e Alec é meu melhor amigo. Você já tem dois guardiões. Por que mais um? – O outro Moroi, ruivo, debateu.

- Ora. Eu sou da realeza, e isso me torna um alvo dos Strigoi. Quem tentaria matar um comum, sem nada para oferecer? – Sua voz estava pingando com nojo, e o ruivo se encolheu perante a multidão. Aquilo devia ser humilhante, tanto para ele quanto para o dhampir – um guardião recém-formado, agora que eu observava mais de perto.

- Basta! – A voz de Lissa ecoou pelo espaço, alta e autoritária. Ela soou uma rainha, poderosa e imponente, e todos se calaram. – Não suportarei nem mais um minuto disso. Brigar por um guardião? Isso é baixo. Eles não são mercadoria, disponíveis para um lance. São pessoas, nossos protetores, e caso não tenham notado, estamos vivos por causa deles!

O louro bufou. – Vossa Majestade, eles podem não ser mercadorias, mas com toda a certeza são tratados assim.

- Porque ainda existem pessoas fúteis o bastante para não perceberem que eles são tão importantes quanto nós.

Esse era um velho argumento. Lissa, desde que entrou no poder, tentou mudar a posição dos Moroi em relação aos guardiões. Por incrível que pareça, ainda existiam aqueles que tratavam os dhampir como inferiores, mesmo estando nessa guerra juntos. Geralmente eram os Moroi da realeza, tão enfiados em velhas tradições e costumes que se recusavam a abrir a mente a algo novo. Algo como Lissa. Isso me irritava – muito – porque estávamos arriscando nossas vidas no campo de batalha, e éramos recompensados com olhares cheios de desprezo.

- É isso que estou tentando dizer, minha Rainha. Estou me mudando para Ohio, e minha família não tem nenhuma proteção. Meu melhor amigo acabou de se formar, - ele gesticulou o dhampir, que agora observava tudo com atenção - e eu gostaria muito que ele se mudasse conosco.

Lissa suspirou. – Se ele quiser ser seu Guardião, então que seja. Nenhum Moroi tem o poder de mandar um Guardião protegê-lo. Deve ser feito de boa vontade.

O ruivo arfou, exasperado. – Eu tenho sangue real. Dois guardiões não são o bastante!

- É o suficiente - Lissa disse com a voz afiada como uma faca. – Se você não quer correr perigo, fique dentro da Corte, ou em terrenos assegurados pelas wards. Não tirarei a proteção de um Moroi por conta da sua insensatez.

Todos estavam olhando para Lissa como se ela tivesse três cabeças. A multidão era gigantesca, e eu queria protegê-la, me jogar na frente dos olhos questionadores, e mandar todo mundo embora. Claro, se eu fizesse isso, Hans teria um aneurisma. Percebi que Dimitri estava de olho em tudo, sendo o único Guardião próximo a Rainha. Jill não podia ficar sozinha em um lugar tão cheio de gente, então fiquei ao seu lado.

Mesmo dessa distância, pude ver os olhos de Lissa, verdes como esmeraldas, brilhando. Ela ainda não tinha acabado. – Ouçam, - ela anunciou, claramente. – Não haverão brigas como essa novamente. Os dhampirs são iguais a nós, e qualquer um contra esse pensamento também estará indo contra o meu governo. Estamos em guerra, e uma luta civil é a última coisa que precisamos. Principalmente se for em conta de pessoas com pensamentos tão bárbaros. Lá fora, - ela apontou para a direção onde os portões da Corte estavam, - os Strigoi estão somente esperando por um único erro da nossa sociedade. E esse é o erro. Nos livrar dos nossos protetores, nossos amigos, que estão dispostos a morrer pela nossa causa? Será o fim dos Moroi e dos Dhampirs.

- Espero que não chegue a isso - ela continuou. – Mas não permitirei que essa raça sucumba. Não agora. Vocês acham que os Dhampirs são inferiores? Cace alguns Strigoi, e depois me diga como vocês se saíram sem a força bruta deles. Mudanças são necessárias para a nossa sobrevivência. E eu estou mais do que disposta a fazê-las. Então, por favor, como sua Rainha, como sua amiga, eu peço que aceitem essas mudanças.

- Por quê? – o ruivo perguntou. – Estávamos bem com as regras antigas. Por que mudar agora?

- Porque antigamente não era eu que estava no trono - Lissa respondeu. – E antigamente, não tínhamos que nos esconder de tudo e todos. Então, enquanto eu estiver aqui, e enquanto meus Guardiões estiverem aqui, asseguro a vocês que faremos o possível para ganhar essa guerra.

Com isso, toda a multidão ficou calada. – Então, isso quer dizer que eu posso ficar com Alec como meu guardião? – perguntou o louro.

- Se Alec quiser - Lissa suspirou.

Alec assentiu para o louro, e depois de uma troca rápida de sorrisos, os dois se viraram para a Rainha. – Obrigada, - disse Alec, participando da conversa pela primeira vez desde que cheguei até Lissa. – Você é uma boa Rainha.

Ela sorriu. – Obrigada.

- Isso é ridículo, - o ruivo balançou a cabeça, vendo que havia perdido a batalha.

- Muito, eu diria - uma nova voz soou, e eu me virei, indignada, em direção a Nathan, que havia aberto caminho para ficar diretamente na frente de Lissa. – Foi um ótimo discurso, e muito convincente, mas 200 anos de tradição não vai ser mudado com palavras jovens e inocentes.

- Uma Rainha nunca é jovem e inocente - Dimitri murmurou, calmamente. – Chegar a tal conclusão, isso sim é inocência. E acreditar que tal insulto possa te ganhar alguns pontos com a realeza é ainda mais inocente. Nunca devemos atingir os outros com golpes baixos. Os nobres receberam boa educação, e todos esperam que eles façam jus à raça.

Uh-oh. Dimitri dando uma lição de vida zen em Nathan era tão hilário que eu quase ri, se não fosse pelo olhar furioso do Moroi. – Acredito estar falando com a Rainha, não com você.

Dimitri pareceu intocado pelas suas palavras. Mas antes que tivesse direito à represália, outro rosto familiar apareceu entre a multidão. Daniella. Ela foi até Nathan, praticamente queimando com tanta vergonha. – Peço desculpas, minha Rainha, Guardião Belikov.

Lissa assentiu, assim como Dimitri, e Daniella pegou no braço de Nathan. – O que está fazendo? – ele murmurou.

- Precisamos conversar - ela respondeu, mas seu olhar era tão arregalado que até um tolo teria visto o sinal que ela estava mandando para ele. A única coisa que Daniella queria era tirar Nathan dali.

Nunca havia me sentido tão grata. Não que eu fosse pular no pescoço de Nathan – embora a ideia estivesse passando pela minha cabeça naquele exato segundo – o problema era que Nathan estava expondo Lissa publicamente, e humilhando-a na frente de todos. Além de discutir com Dimitri, que já tinha provado seu valor várias vezes. Mesmo tendo sido um Strigoi.

Ele revirou os olhos, lançou um olhar desdenhoso a Lissa e um quase assassino a Dimitri, e deixou Daniella arrastá-lo de volta para sua casa. Lissa dispensou a multidão, mas alguns curiosos ainda ficaram observando toda a ação. Jill não tinha dito uma palavra ao meu lado, provavelmente chocada com os eventos, portanto arrastei-a em direção à Rainha.

Ela estava conversando quietamente com Alec e seu Moroi, e depois de um rápido olhar aliviado para mim, respondeu uma pergunta sobre as mudanças que pretendia fazer. Dimitri estava tenso como uma rocha, mesmo aparentando calma. Eu o conhecia muito bem para notar as linhas de tensão nos seus ombros.

- Adorei a lição de moral, camarada - disse, e ele suspirou.

- Espero que tenha servido para alguma coisa.

Eu duvidava disso, mas não disse nada.

***

Eu passei algumas horas a mais com Jill naquela tarde antes do meu turno terminar e eu entregá-la nas mãos de Eddie.

A confusão gerada por aqueles dois Moroi ainda me agitava. Só de pensar o ódio que Lissa tinha atraído dos nobres e a satisfação dos guardiões e dos comuns me assustava. Era como se ela estivesse em cima de uma balança, tentando equilibrá-la. De um lado, estavam a realeza Moroi exigindo que ela mantivesse os costumes e os beneficiassem enquanto do outro, estava o povo, exigindo igualdade e uma mudança no sistema.

E ambos os lados estavam querendo puxá-la para se juntar a eles. E haveria muitas consequências se Lissa aceitasse um desses lados e ignorasse o outro. Ela tinha que examinar cada ponto e cada objetivo que cada lado queria para agir.

Toda essa coisa de política e de ‘conhecer seu povo antes de agir a favor deles’ me lembrou de uma aula de história que tive há muitos anos atrás. Eu estava prestes a dormir na minha carteira se não fosse Mason me mantendo acordada ao contar sobre um cara por quem eu estava apaixonada na época.

Foi quando a professora disse uma frase de Maquiavel que me fez ficar pensando. Como ela era mesmo? Era algo como: “Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe, e para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo.”

Bem, isso era algo que Lissa conhecia. Um pouco. E era tão irônico ela ter me feito lembrar de uma aula de história. Ugh!

Eu fui devorando um hambúrguer e um saco de fritas até meu quarto, deixando os raios solares brincarem de iluminar meu rosto. Lissa estava em um jantar com a família Badica junto com Christian, me fazendo supor que eu passaria grande parte da noite sozinha porque Dimitri também estava lá.

Mas eu estava errada.

Foi uma enorme surpresa encontrar Dimitri no quarto, especialmente porque eu jurava que hoje ele estaria em serviço até tarde da noite.

- Você não deveria estar no jantar? – perguntei logo depois de ter dado um beijo nele.

- Você quer que eu vá para aquele jantar? – ele arqueou uma sobrancelha daquele jeito legal que só ele conseguia. – Eu posso me arrumar se você quiser.

- Não! – ele riu da minha resposta automática e apertou seus braços ao meu redor. – Eu não quero que você vá embora. – meus olhos caíram em uma pasta amarela e algumas folhas em cima da cama. – O que é aquilo?

A resposta que recebi não era algo que eu esperava.

- Quando você ia me contar? – Dimitri perguntou, sua boca se abrindo um sorriso. Droga, ele provavelmente sabia qual era meu nome falso.

- Quando você perguntasse. E como é o caso, agora. – Disse, revirando meus olhos. Embora Dimitri e eu fossemos praticamente almas gêmeas, segundo Sonya, eu ainda estava envergonhada pela escolha ridícula de Hans. Holly? Estava me sentindo parte da Playboy.

Dimitri colocou as mãos nos meus braços, e me deu um olhar severo. – Roza, você sabe que isso é essencial na segurança de Lissa, certo? Como Guardiã Real, você deveria saber. – Ele enrolou uma mecha do meu cabelo em um dedo, e o gesto me distraiu um pouco. Suspirei e encostei minha cabeça no seu ombro. Sua presença perto de mim sempre me deixava melhor, mas eu estava tão ansiosa por causa do espírito, preocupada com Jill, e brava em ir para Lehigh quando tantas coisas estavam explodindo ao meu redor.

- Eu sei disso. Mas Holly? Não podiam escolher um nome melhor?

- O objetivo é camuflar sua identidade o máximo possível. Vocês não podem ser reconhecidas lá, porque não terão a proteção necessária para se defender em caso de ataque. – Ele disse. – Se algum grupo de Strigoi atacarem vocês enquanto estiverem desprotegidas... – Suas palavras deixaram o resto implícito. E em seus olhos, eu vi algo além de cautela sobre as mudanças que Lissa queria fazer, ou a vontade de proteger a Rainha. Eu vi preocupação – preocupação por mim. Porque por mais que isso fosse necessário, e uma vontade de Lissa, Dimitri ainda se preocuparia com a minha segurança.

E era nesses momentos que eu percebia a ligação entre nós mais intensamente. Eu também me importava com ele, tanto que meu coração parecia explodir quando pensava em sua vida correndo risco. Lehigh era longe da Corte, o bastante para ser impossível mandarem reforços se algo desse errado. Mal podia imaginar como Dimitri devia se sentir, sabendo que eu estava tão longe, correndo perigo. Estávamos contando com a sorte aqui, se escondendo dos inimigos e torcendo para não sermos descobertas. Era como dar um tiro em um quarto escuro – sem ver o que tem na sua frente, e o que pode te atacar se virar as costas.

- Ninguém quer isso, camarada. Não vamos ser descobertas, e se o pior acontecer, eu mato qualquer desgraçado com presas que tente machucar Liss. – Eu murmurei, minha voz abafada pelo casaco dele, mas a ideia de que eu morreria se tentasse lutar com vários Strigoi ao mesmo tempo – mesmo que fosse para segurá-los até Lissa estar segura – me deixava tremendo por dentro. Não hesitaria em jogar meu corpo na frente da morte por ela, mas não estava ansiosa por isso, também.

Dimitri suspirou contra mim, e mesmo sem ver seu rosto, eu sabia que não tinha aliviado sua preocupação, nem um pouco.

- Mas Holly? – Eu sussurrei, e ele riu, para minha surpresa. Aquela seria a pergunta mais freqüente da minha vida, depois da decisão de Hans. – Christian nunca vai me deixar em paz.

- Talvez um pouco de competitividade seja bom para vocês dois. Só não passem dos limites - Dimitri disse, e eu revirei meus olhos. Às vezes, ele soava como meu pai, embora Abe não olhasse para o corpo com veneração e amor. Bem. Não esse tipo de amor, na verdade.

- Ele é o esquentadinho, e não eu - respondi fingindo estar ofendida, mas não me separei dele. Podíamos ficar assim por horas, nos braços do outro, sem se preocupar com mais nada. Mas havia tantas coisas em nossas vidas, tantas responsabilidades, e esses momentos eram como um pedaço do céu. Incomum, e mais valioso que tudo. Com a minha partida para Lehigh, raramente ficaríamos juntos. Quando o pensamento caiu sobre meu coração como uma cortinha negra, suspirei. – O que mais dói é o tempo que vamos ficar separados. Telefone não parece ser o bastante.

Dimitri ficou silencioso por um tempo. – Eu sei - ele finalmente murmurou. – Não é nem de perto o bastante. Mas é a única comunicação que teremos. E um pouco de saudade não é nada comparado à vida da Rainha. – Ele estava certo. Eles vem primeiro. Embora pelas minhas experiências tenha aprendido que nem sempre é assim, nesse caso, a regra se aplicava.

- Sim, mas se não temos tempo para nós nem aqui, imagine quando estivermos longe, ou nos feriados.

- Você achou que depois de Tasha ser presa, tudo iria melhorar? – Ele perguntou, seu tom de voz gentil.

- Não. Só mais fácil de suportar. Mas parece que nosso relacionamento continua impossível, mesmo depois de tudo que passamos. – Minha voz se quebrou no final e Dimitri se afastou para olhar meu rosto.

- Nunca vai ficar mais fácil, Roza. E sinceramente, gosto de lutar pelo o que eu quero. Principalmente quando é em relação a você. – Dimitri disse, e suas palavras estavam seladas com uma promessa, uma que eu não faria a estupidez de duvidar.

- Eu também. Vou lutar por você, contra tudo. – Murmurei, e para acentuar minha própria promessa, fiquei na ponta dos pés e o beijei, passando as mãos por trás de seu pescoço. A hesitação de Dimitri foi tão breve que quase não percebi, e ele me abraçou enquanto acariciava meu cabelo.

Meus lábios pegavam fogo junto aos seus, mas não ousei reclamar quando a mão em meu cabelo empurrou minha cabeça para trás, e Dimitri começou a traçar beijos pelo meu maxilar, e depois pelo pescoço. Dessa vez, o que pegava fogo era meu corpo inteiro, entrando em combustão com cada toque de seus lábios, com cada vez que sua mão me apertava contra seu corpo. Quando ele chegou na minha clavícula, decidi que era minha vez. Puxei seu rosto para cima novamente, e o beijei, longa e lentamente, explorando cada canto da sua boca, enquanto minhas mãos faziam suas próprias explorações – pelas suas costas, braços, ombros...

Embora nosso relacionamento fosse discreto em publico – na maioria das vezes – quando estávamos a sós, não havia restrições sobre o que acontecia entre nós. Com Lehigh se aproximando, tentei guardar tudo o que sentia quando estava com Dimitri no fundo da minha mente – como ele era quente contra mim, seus lábios macios e gentis, seus olhos ardendo de amor e desejo. Mas acima disso tudo, lembraria de como ele suspirava meu nome, de algum jeito com mais fervor do que quando estávamos sobre o feitiço de luxuria de Victor. E, sem sombra de dúvida, como meu coração estava pulando loucamente dentro do meu peito, ecoando os batimentos cardíacos de Dimitri.

Depois de alguns minutos nos beijando – embora parecesse segundos, de verdade, Dimitri me levou para a cama e se afastou alguns milímetros. Senti meu rosto se contorcendo em uma expressão de confusão. Ele deu um meio sorriso antes de pressionar sua boca contra a minha, e suas mãos foram em direção à minha camiseta. Quando suas intenções ficaram claras, Dimitri já tinha aberto os primeiros botões, traçando um beijo da minha clavícula – de onde eu o tinha afastado – até o meu coração. Minha respiração ficou mais rápida e pesada.

- Não fui um bom namorado esses últimos dias - a voz dele veio abafada pela minha pele. – Me deixe recompensá-la.

Ele vai me matar se continuar sendo um mau namorado, foi o que pensei enquanto sua boca seguia o caminho até o meio dos meus seios, onde meu sutiã – rosa e totalmente simples, para minha vergonha – fez meu estômago despencar. Eu poderia pelo menos ter colocado roupas íntimas mais provocadoras. Mas estava tão preocupada com Lissa que peguei a primeira coisa no meu guarda-roupa.

Dimitri deve ter sentido meu desconforto, porque hesitou, e para minha surpresa, começou a rir. – Roza, se você acha que não está sexy... – ele sussurrou, seu sotaque russo acentuando suas palavras. – Então não tem ideia do corpo que tem.

Oh, e meu próprio corpo me mostrou isso enquanto suas mãos desabotoavam o segundo botão da minha camisa, seus lábios logo em seguida. A espera era torturante, cada botão demorando quase um minuto para ser retirado, até que meu controle chegou ao limite, e eu fiz um som de protesto. Dimitri me ignorou, e ao invés de acelerar as coisas, subiu a boca mais um pouco, voltando ao botão anterior, e quase me deixando louca.

- É assim que você quer me fazer perder o controle? – perguntei, mal conseguindo proferir as palavras, com a minha respiração irregular.

- Oh, não. Isso acontecerá outro dia, Roza. – Ele disse, com a voz pesada. Então eu não era a única ficando louca com essa provocação. O auto-controle de Dimitri não era tão perfeito quanto ele dizia ser, embora com certeza fosse melhor que o meu. – E quem sabe você possa estar usando um sutiã amarelo de bolinhas quando isso acontecer.

Mesmo louca de desejo, dei um tapa no seu braço, tão fraco que ele nem deve ter sentido, e finalmente minha camisa ficou com todos os botões abertos. Dimitri colocou as mãos nos meus ombros e empurrou a camisa pelos meus braços, sua boca me beijando levemente segundos depois de sua mão me acariciar, e para deixar o jogo mais justo, virei meu rosto para o lado e dei uma mordidinha de leve na orelha. Dimitri suspirou fortemente, e seus músculos ficaram tensos.

Sorrindo em satisfação feminina, passei minha boca pelo lado do seu pescoço – não beijando, só provocando – quando senti uma sensação fria no meu estômago. Como se tivesse engolido gelo, e meus braços começaram a formigar. O sorriso desapareceu do meu rosto em meros segundos, mas foi o necessário para que Dimitri sentisse que algo estava errado.

- Rose? – ele perguntou, sua voz grossa por conta do que estava acontecendo, mas agora, uma ponta de preocupação estava à mostra. – Rose, o que foi?

Balancei minha cabeça, deixando cair meus braços ao meu lado. Franzi a testa, tentando entender o que diabos estava errado com o meu corpo. Como se eu estivesse doente, mas o sentimento não era inteiramente físico. Também havia algo me puxando emocionalmente, no fundo da minha consciência.

O olhar preocupado de Dimitri se intensificou. – Rose? Fale comigo.

Parecia uma corda, querendo me levar a algum lugar. De certo modo, me fazia lembrar do laço entre eu e Lissa, quando ela-

Oh, Deus. O laço. Lissa.

Meus olhos se arregalaram, mas antes que Dimitri pudesse fazer mais perguntas, coloquei minha camisa no lugar – que já estava no chão, depois do que Dimitri havia feito - me virei e saí em disparada em direção à porta. Ouvi meu nome sendo gritado, mas a única que passava pela minha cabeça era Lissa. A necessidade de ir a algum lugar? Alguma parte inconsciente do laço que ainda me avisava se ela estava em perigo.

Não havia quase ninguém no corredor, com exceção de alguns guardiões fazendo patrulha – que me lançaram olhares desconfiados e alarmados - e Dimitri, vindo rapidamente atrás de mim. Podia ouvir seus passos atrás de mim, no chão do prédio Administrativo, e sabia que mesmo correndo o máximo que pudesse, ele me alcançaria.

Os aposentos da Rainha eram próximos à minha suíte, e assim que parei em frente às portas duplas cuidadosamente decoradas, bati com meu punho, com toda a força. – Liss!

Ela sempre mantinha as portas fechadas, obviamente, mas levou um segundo para que eu ouvisse os trincos se abrindo, e o rosto vazio e chocado da minha melhor amiga me assombraram. Algo estava errado. Muito errado, já que isso não era conseqüência do espírito.

Lissa se atirou nos meus braços, me puxando para dentro em um abraço, e deixei a porta aberta. Frações de segundos depois, Dimitri entrou no quarto e ajeitou os trincos para que ninguém nos interrompesse. Lissa se afastou de mim e sentou na cama, olhos verdes brilhando em raiva, e o resto de sua expressão neutra, exceto pelas linhas de tensão nos seus ombros. Havia uma folha de papel dobrada na mesa de cabeceira da sua enorme cama king-size, e pelo jeito que ela olhava para ele, como se fosse o Diabo na Terra, aquilo tinha a ver com o que estava acontecendo. Dimitri percebeu o olhar que lancei a ele, e em um rápido movimento, abriu o papel e leu-o. Seu rosto se fechou em linhas de preocupação e fúria – algo que não eu não via muito – e ele silenciosamente passou a folha para mim.

“Á aclamada Rainha Dragomir,

Sendo jovem e inexperiente com os assuntos relacionados à Corte – e assim dizendo, ao próprio povo – suas decisões parecem ser sábias o bastante aos olhos de uma criança, talvez, mas não aos olhos de uma sociedade. Não somente causará uma guerra civil, como um pandemônio na causa contra os Strigoi, onde nenhuma complicação deve ser adicionada. Principalmente por uma garota usando uma coroa.

Sua família tem longos precedentes, e ótimo nome na linhagem real. Entretanto, seu governo é limitado perante ao quorum – o que, segundo decisões infantis, também precisa ser mudado. Somente um indivíduo impõe-se à sua totalidade. E a perda desse indivíduo resultaria em conseqüências realmente desastrosas.

Repense suas decisões. Seu Trono é tão frágil quando uma pirâmide de cristal. E não hesitarei em quebrá-lo pela base. Com a vida de quem te apóia, com a vida de quem te ama, e com o seu próprio sangue. Um cristal de cada vez será esmagado, até que Sua Majestade pense de acordo com as tradições há tanto tempo estabilizadas. Isso é um aviso. O próximo será acompanhado de sangue.”


Eu prendi a respiração. Não. Era isso o que eu mais temia, o que eu estava esperando que acontecesse. Eu sabia dos riscos e Lissa também se caso ela se tornasse rainha. Mas eu esperava que não acontecesse assim tão cedo. Tinha esperanças de que ela conseguisse acabar com nossas diferenças de um modo pacífico.

Infelizmente, isso não aconteceria. E juntando isso mais o fato de que minha melhor amiga e todos os que ela amava estavam sendo ameaçados de morte me deixou mais irritada ainda. Eu só vi que tinha fechado os punhos com tanta força e dado uma boa amassada no papel quando Lissa me cutucou.

Ela permanecia séria, mas havia um misto de preocupação em suas feições. – Rose...

- Você sabe que eu te protegerei com a minha vida,certo? – Lissa só passou a me encarar quando eu disse aquilo. Eu sabia que estava soando um pouco histérica. – Não importa o quão sério e perigoso forem as coisas, eu não vou te deixar na mão e deixar Moroi irritados ou Strigoi te atacarem, você sabe. E eu vou encontrar quem te mandou isso. Eu prometo.

Um olhar na direção de Dimitri me mostrou exatamente o que eu esperava. Aquele olhar protetor estava em seu rosto, e eu sabia que, enquanto estivesse alguém lá fora tentando tirar Lissa do trono, ele não descansaria. Estávamos juntos nessa, como em todas as outras vezes.

Esses desgraçados querem assustar a Rainha? Bem. Vão ter de passar por cima de mim, primeiro.

18/09 - Esqueci de ter colocado os spoiler do próximo capítulos D: Mas como prometido,aí vão:

- Eu acho que a sua necessidade por calor corporal pode ser saciada de outras maneiras. E que são bem mais viáveis. – Ele murmurou, sua voz bem baixa no fim da frase. Eu dei outro sorriso a ele e me virei para ir embora – de propósito.

- Um pouco pior – ele disse me olhando. – Quero dizer, se você considerar o fato de que alguns de seus amiguinhos decidiram discutir política vampira em um local público infestado de humanos.


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Notas finais do capítulo

Olá gente!
Demorei para aparecer,mas aqui estou eu :D A escola anda tomando 100% do meu tempo,ainda mais semana que vem e na próxima que terão as bimestrais x_x até no feriadão eu não tive tempo nem pra respirar porque minha irmã e mãe estão aqui para fazer uma visitinha e comemorar meu aniversário (que foi dia 12/09 agora. 16 aninhos #cry)! Portanto eu não escrevi nada! Vou até revisar os outros capítulos pra entrar de novo no ritmo da estória!
Para quem lê a Some Things Never Die,tenho a notícia ruim de que não poderei atualizá-la tão cedo. Estou escrevendo muito devagar por causa dessa loucura que virou meu tempo,então me desculpem =/
Esperam que gostem do capítulo e me desculpem essa falta de atualização,ok?
Comentem & recomendem!
Beijos, Feeh P.