Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 5
CINCO


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! É a Bia aqui ;)
Aconteceram algumas coisas essa semana, então o capítulo demorou um pouco para ser postado, mas aqui está!
Boa leitura!



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Não pude evitar um calafrio que percorreu minhas entranhas quando Ambrose disse sobre sua tia, Rhonda. Rhonda era uma espécie de vidente que previa o futuro e sobrevivia com esse trabalho. Ela leu o futuro de Lissa uma vez e o meu, duas vezes. Ela também leu o de Dimitri.

Antigamente eu não acreditava nessas previsões, mas depois que ela disse a Dimitri que ele perderia o que ele mais valorizava - que era sua alma - e isso aconteceu, bem... Eu passei a acreditar de verdade e a ter medo no que as cartas poderiam revelar. Além disso, foi ela quem previu que eu iria matar a parte morto-vivo de Dimitri e seria presa e acusada por um crime que não cometi.

Ambrose me disse uma vez que as cartas não faziam nosso futuro, pois tínhamos como mudá-lo com escolhas. Claro que tinham coisas que simplesmente iriam acontecer eventualmente e não adiantaria nada você saber ou não porque já estava feito. Fora o fato de que cada consulta, eu me sentia mais confusa do que intrigada.

Tudo isso me fazia querer manter distância dela. A maior distância que eu pudesse.

- Eu não acho que tenhamos tempo. Dez minutos passam rápido. – falei olhando para Lissa, buscando algum vestígio de que ela tinha entendido que eu não estava afim,mas não.

- É uma boa ideia – disse ela por fim, me fazendo bufar.

- Liss, isso só vai te deixar mais angustiada do que antes.- lancei um olhar para ela – Essa coisa de consultar uma vidente não vai aj –

- Romani- corrigiu Ambrose – E ela não vai ter com o que se preocupar. As cartas não dizem exatamente o futuro e muita coisa pode mudar.

- Yeah, eu sei- cruzei os braços - Todo aquele lance de fazer a escolha certa. O problema é saber que escolha que vai ter que fazer para não ferrar a vida. Se Rhonda pudesse dizer o que aconteceria se você optasse por essas escolhas, valeria mais a pena.

Ao invés de Ambrose ter se ofendido com o que eu disse, isso pareceu diverti-lo e me dar um enorme sorriso que faria qualquer mulher cair aos pés dele.

Para mim, Ambrose era o segundo cara mais gostoso que existia, já que Dimitri ocupava o posto de homem mais sexy do mundo. Ele era um dhampir e trabalhava como massagista, e eu recentemente tinha descoberto que ele não era apenas o amante de Tatiana, mas também de outras mulheres Moroi. Para o meu espanto, ele tinha desistido de se tornar um guardião e decidiu simplesmente optar pela vida fácil na Corte.

Não vou mentir, o fato de ele ser um meretriz de sangue ainda me assustava. O pior de tudo é que ele sabia como usar seu corpo ao seu favor, especialmente por causa do bronzeado e todos aqueles músculos que ele usava para massagear e fazer outras coisas que eu não estava afim de imaginar. Ele deveria usar essa aparência para sair em revistas como GQ ou em catálogos como Calvin Klein, não desperdiçá-la dormindo com Moroi velhas.

- Oh vamos lá Rose – insistiu Lissa, claramente animada com a ideia de ir ver Rhonda. – Não é nada demais. Eu não tenho culpa de que suas previsões foram óbvias demais e as minhas não.

Ah, se ela soubesse que elas não foram tão óbvias assim. Especialmente a última.

- Mas,- eu comecei a retrucar de novo, e Lissa levantou uma mão, adotando sua pose de Rainha, mesmo vestindo roupas comuns.

- Mas nada. É só uma visita rápida, prometo. – ela disse, e se virou para Ambrose, que estava nos assistindo com olhos silenciosos. – Vá na frente, sim?

Ele sorriu para ela, deu uma piscadinha para mim e liderou o caminho até o fim do corredor. Atrás da área principal do SPA, ficava o salão onde os clientes VIP eram atendidos – também era onde Ambrose trabalhava. Passamos direto pelas mulheres Moroi na manicure e massagem e fomos até um outro corredor, mais afastado e fora de vista, e adentramos ainda mais o SPA. Lá no fundo, uma mesa de recepção e uma Moroi nos esperavam. Atrás da mesa, havia uma porta.

- Ela está ocupada? – Ambrose perguntou à Moroi, e ela negou com a cabeça. Provavelmente não tinha reconhecido Lissa, porque não tinha se curvado.

Sem mais perguntas, Ambrose fez um gesto para que o seguíssemos, e juntos, entramos na sala. Tudo estava exatamente igual, o carpete vermelho, papel de parede vermelho, sofá vermelho. Era como entrar no coração de alguém, ou talvez na casa do Cupido. Rhonda estava sentada nas almofadas, como sempre, e me deu um sorriso quando me viu. – Rose, que surpresa! - ela exclamou. – Depois da sua última leitura, me perguntei se te veria novamente.

- Sim, bem... – Eu não sabia o que responder. Dizer a ela que se fosse por mim, nunca mais olharia nos olhos castanhos dela, provavelmente seria um insulto.

- Uma leitura rápida? – Ambrose perguntou, indo para o lado de Rhonda e se apoiando na parede vermelha. Com sua altura e músculos, ele ficava ainda mais atraente assim. Rhonda revirou os olhos à pergunta dele. Ela odiava a pressa que Ambrose tinha quando o assunto era suas leituras.

- Oh, claro. – Lissa disse, e se sentou em frente à vidente. Rhonda passou as mãos pelos cabelos pretos e respirou fundo. Pelo jeito, já tinha atendido vários clientes hoje. Ela retirou um bolo de cartas de tarô. Embaralhou-as um pouco, e passou-as para Lissa.

- Corte, por favor. - Quando as cartas estavam divididas em duas pilhas, a vidente puxou três delas e colocou-as na frente de Lissa. Rhonda gesticulou à primeira carta. Parecia um anjo segurando um instrumento musical, e abaixo dele, pessoas com os braços estendidos em sua direção. – O julgamento, - Rhonda disse. – Uma nova fase está sobre você, e, sendo os frutos positivos ou negativos, chegou a hora de você colher o que plantou.

Lissa observava tudo atentamente, e Rhonda retirou a segunda carta. De novo, era a imagem de anjos, um passando uma jarra para o outro. – A temperança. Os seus frutos podem apodrecer se você não encontrar equilíbrio. Emocional ou físico, não importa. Sempre se lembre de quem você é.

Minha respiração ficou mais rápida. Era como uma indireta em relação ao espírito, Rhonda lembrando a Lissa que era não deveria sucumbir ao que estava acontecendo em sua mente.

Por último, a vidente retirou a terceira carta. Era um esqueleto em cima de um corpo, brandindo uma espada. Oh, não. – A morte, - Rhonda murmurou. – Não simboliza que alguém querido partirá desse mundo, e sim que uma mudança está para acontecer. E independentemente do que você pensa, é necessário aceitá-la. Caso contrário, isso só provocará sofrimento.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, Lissa e eu tentando decifrar o que diabos tinha acabado de acontecer. A mudança mencionada por Rhonda me assustava, porque da última vez que ela tinha previsto algo assim, Dimitri foi transformado em Strigoi. Já a temperança podia significar o reinado de Lissa, ou o que a quebra do nosso laço geraria – mais escuridão vinda do espírito. Tantas possibilidades. Da última vez que tinha vindo aqui, minha leitura tinha revelado que aparentemente havia alguém que era meu inimigo – Tasha -- e que eu iria em uma jornada.

Rhonda nos deu um tempo para pensarmos, e então se virou para mim. – E então, Rose Hathaway - ela disse, - pronta para uma leitura? Ou você ainda não acredita nas minhas habilidades.

- Hmm, eu ainda não decidi isso - murmurei. – Depende do que você me disser.

Rhonda balançou a cabeça. – Garota, você precisa ter um pouco de fé.

- Quem disse que eu não tenho? – perguntei. – Se alguém vir para cima de mim, eu mostro a eles como tenho fé. Além do mais, eu nunca tive contato com esse tipo de magia. Preciso de tempo para me adaptar.

Ambrose balançou a cabeça, e riu baixinho. – Duas leituras, e você ainda não acredita na minha tia?

Dei de ombros, e Rhonda começou a embaralhar as cartas novamente. Oh, pelo amor de Deus, que ela não me diga que eu vou engravidar, eu pensei enquanto observava. Muitas previsões de Rhonda já tinham se tornado verdade, e eu não queria mais uma entrando na lista.

O mesmo ritual aconteceu. Eu cortei as cartas, e Rhonda retirou cinco delas e as colocou na minha frente. – Ei, por que eu tenho cinco cartas, e Lissa só tem três? – Perguntei. – Você tem preferência a mim, ou alguma coisa assim?

- Alguma coisa assim - Rhonda respondeu. – Eu recebo uma vibração, algum sinal, de quantas cartas necessito para entender o futuro do meu cliente. Com você, eu sempre preciso de mais algumas, porque seu futuro é muito confuso.

- Maravilhoso - murmurei.

- Silêncio, preciso de silêncio, - Rhonda disse, e virou a primeira carta. – A rainha de espadas. Você tem personalidade forte... – sua voz se silenciou, e suas sobrancelhas se franziram. – Mas eu também vejo grande indecisão, e juntos, esses dois elementos podem trazer grande dor. – Ela virou a segunda carta, sem abrir os olhos, como se precisasse de um complemento à primeira. – Esse sofrimento vai deixar cicatrizes, mas também vai te tornar outra pessoa.

Ela virou a terceira carta. – Os enamorados - ela disse. – Uma grande decisão paira sobre você. Escolha com o coração.

Rhonda então se dirigiu as duas ultimas cartas. A primeira era um guerreiro com pés de animal e duas figuras ao seu lado, como guarda-costas. A segunda mostrava um velho com roupas vermelhas e algo parecido com um tridente. – O diabo e o papa - Rhonda disse.

- Que irônico – murmurei e ela olhou para mim em irritação.

- Eu vejo... um relacionamento. – Eu praticamente pude sentir meus batimentos cardíacos aumentando. Era isso o que eu mais temia. Algo sobre Dimitri. – Muito amor está nesse relacionamento. – Talvez não houvesse nada de ruim na previsão, pensei. – Há uma nuvem negra se aproximando. Está muito confuso, mas sinto agonia, obsessão... Como se houvesse uma maldição sobre suas cabeças. O Papa representa uma união oficializada, mas também pode significar o contrário. Fiquem atentos à Cruz.

Minha cabeça estava girando. O que isso significava? Nossa união, ou nossa separação? E o que Rhonda quis dizer com a “Cruz”?

– Você quer que eu comece a rezar ou alguma coisa assim, já que a minha carta é o Diabo? – Perguntei a ela, usando o sarcasmo como ajuda, como sempre fazia.

- Rose! – exclamou Lissa e olhou para Rhonda. Eu ainda sabia que ela estava remoendo o que Rhonda acabara de dizer – Obrigada pela leitura. Ela foi útil e me esclareceu... Algumas coisas.

Eu franzi o cenho por esse tom sábio e misterioso de Lissa. Era como se ela soubesse de algo e estava trabalhando para esconder. Diabos! Ela sabia de alguma coisa.

Mas antes que eu pudesse dizer algo, a secretária nos avisou que tinha um grupo nos esperando. Eu me despedi educadamente de Rhonda, pensando sobre a tal cruz que deveríamos ficar atentas. O que ela queria dizer?

O grupo que estava nos esperando no lado de fora me fez esquecer as palavras daquela cigana maluca e me focar em outras coisas. Dimitri estava aqui, com Christian, Eddie e... Jill?!

Sinceramente, eu não esperava encontra Jill aqui. Primeiro, porque Jill Dragomir passava a maior parte do tempo lendo ou conversando com Mia quando eu estava de guarda. Sua mãe e padrasto estavam por aqui e eu tinha absoluta certeza de que eles estavam mais juntos do que nunca.

E segundo, porque Lissa e ela não se davam muito bem. A maior parte desse desconforto entre elas era porque Jill era filha de uma amante de Eric, e ela se sentia irritada e ofendida por causa dos atos do pai. Enquanto a pequena Jill, assustada e ressentida. Outro fato que alimentava mais ainda essa péssima conexão entre elas era por causa de Christian. Além de Jill ter contado a ele que Lissa beijou seu antigo namorado, Aaron, Lissa suspeitou que eles estivessem tendo um caso enquanto estava separada de Christian.

Eu juro que nunca tinha visto Lissa ficar tão ciumenta em toda a sua vida. Não que isso importasse agora porque ela voltou com Christian. Mas mesmo assim...

- Fico feliz em saber que você veio, Jill – Lissa disse educadamente exibindo pela primeira vez um sorriso verdadeiro. Isso seria um impasse?

Jill tropeçou nas palavras. – Eu... eer... Eu tinha que vir. Eddie foi me chamar dizendo que você tinha me chamado. Eu não pude ignorar a ordem da rainha, certo? – ela praticamente tremia sob o olhar de Lissa.

- Isso não foi exatamente uma ordem de rainha, mas sim um convite – falei pondo as mãos no ombro dela afim de confortá-la. Ela meio que relaxou com meu gesto. – Para você se divertir um pouco conosco.

- Rose tem razão. É sempre bom passar um tempo com a família – Lissa disse e voltou a olhar para Ambrose – Estamos todos aqui.

Ambrose nos conduziu por escadas que desciam, indo até o subterrâneo. Eu não tinha ideia para onde estávamos indo, mas eu podia dizer que Lissa estava na expectativa. Nós paramos em frente a duas enormes portas brancas.

O conteúdo do salão subterrâneo me deixou sem fala por um bom tempo.

- Wow – exclamou Christian com os olhos arregalados quando entramos em um enorme salão decorado no melhor estilo romano e com uma enorme piscina no centro. Era totalmente surreal.

Quando eu finalmente encontrei a minha voz, eu olhei para todos com a minha melhor expressão de sabichona.

- Eu sabia que ela tinha uma piscina por aqui! Sabia! Tatiana iria morrer de tédio se não tivesse uma.

- Eu fico imaginando como construíram esse lugar aqui – murmurou Eddie, observando cada detalhe do lugar.

- Se você tiver os melhores engenheiros, é possível construir qualquer coisa em qualquer tipo de terreno. – Dimitri disse. Eu olhei para ele pela primeira vez no dia.

Ele estava normal, usando aquela máscara de guardião atento a cada detalhe que ele usava quando estava em serviço. Eu esperava que ele me olhasse com raiva ou me ignorasse. Mas ele conversou comigo no mesmo jeito com os outros.

Eu deveria saber que ele não era de mostrar o que sentia na frente dos outros e que ele jamais se rebaixaria ao nível de me ignorar por tudo o que eu disse. Dimitri era altruísta, o que piorava ainda mais as cosias. Por que ele não podia me fazer eu me sentir miserável e uma criança por ter feito aquilo com ele? Por que ele tinha a irritante tendência de ficar normal quando as coisas não estavam normais entre nós?

As instruções de Lissa sobre nos trocarmos e aproveitar o lugar me fez voltar a atenção nela. Os únicos a protestarem foram Eddie e Dimitri, alegando que queriam ficar de guarda.

- Vocês não precisam – rebateu Lissa apontando para as portas. – Este lugar é seguro.

Foi preciso muitos minutos para conseguir dobrar pelo menos Eddie a por um calção. Dimitri bateu o pé e disse que não iria, que ele seria o responsável por cuidar de nossa segurança. Ainda havia o fato de que o comportamento anti-social e super polido dele não permitiam que um guardião fodão entrasse numa piscina cheia de adolescentes. Lissa acabou concordando com ele e eu pude ver na cara de Dimitri que ele se sentia aliviado.

Será que seria assim tão constrangedor ele aparecer de calção em uma piscina e se juntar a nós? Yeah, seria um pouco estranho por causa da imagem que ele passou para todos nós enquanto estávamos na Academia.

Os caras foram para um quartinho ao lado do nosso e nós seguimos Lissa. Quando ela apontou para uma mesa cheia de biquínis e maios de todo tamanho, eu olhei pra ela.

- Ok. Primeiro foi essa sala super secreta com uma piscina que eu aposto que é aquecida e que tem funcionários ao nosso dispor. Agora os biquínis. O que mais nos espera? Alguma sala com sauna e massagistas nos esperando ao lado de camas super confortáveis? Caras super gostosos para bancarem os gogo boys?

Jill arregalou os olhos com a última parte. Ops, eu tinha me esquecido de que tínhamos uma garota inocente por aqui.

- Christian explodiria se visse um show de gogo boys aqui. – Mia disse e todas nós rimos. Sua voz ficou falsamente pensativa. – Eu imagino o que Dimitri diria se ouvisse isso, Rose.

Na mesma hora, eu parei de rir, e Lissa deve ter percebido como estava constrangida, já que começou a falar de um vestido que viu em uma loja da Corte. Jill pareceu realmente interessada, mas Mia estava somente fingindo. Ela era muito esperta. Tanto faz, pensei. Só queria que a conversa não se direcionasse a mim novamente.

Eddie voltou alguns minutos depois, com o dito calção, e se sentou ao nosso lado. Lissa e Mia já estavam na água e eu e Jill, na borda. – Christian e Belikov foram verificar uma coisa. Acho que Christian esqueceu seu celular ou alguma coisa do gênero.

Ou talvez Dimitri só queira ficar longe de mim, e Christian acabou concordando, uma voz na minha consciência me disse. Respirei fundo e deixei o cheiro de cloro ao meu redor limpar minha mente, embora ela estivesse mais encardida que nunca.

***

Quando a conversa foi em direção aos Moroi que não sabiam nadar e estavam batendo os braços que nem loucos – segundo Eddie, se pareciam com gatos na água – Dimitri e Christian chegaram. Embora Christian tenha nos dado um aceno e ido direto para Lissa, beijando-a e se sentando ao seu lado, eu não queria que Dimitri tivesse me visto daquele jeito – rindo, como se não estivesse nem um pouco magoada pela nossa briga. A verdade, porém, é que eu estava. Depois que eles saíram da piscina para fazer só Deus sabe o que, eu consegui me animar um pouco e entrar na conversa, mas ainda me sentia mal por dentro.  A pouca bebida teve um papel importante na minha distração.

Seus olhos castanhos observaram tudo em um instante, e mesmo estando com a sua máscara de guardião, eu pude ver a angústia em seu rosto quando seu olhar chegou até mim. – Olá, Rose - ele disse formalmente, me dando um meio sorriso que não acompanhava sua linguagem corporal. Tudo nele gritava em tensão, como se vários Strigoi estivessem atacando a piscina.

- Oi - eu respondi, e para minha surpresa, ele se aproximou um pouco mais de mim, para que pudesse falar em voz baixa. Não houve nenhum tipo de cumprimento amoroso. Sem beijo, abraço, nem um aperto de mão. Era como se fossemos colegas, e não amantes. O que você esperava, Rose? Eu disse para mim mesma. Você acabou com ele noite passada.

- Ouvi uns rumores de que você e Lissa tiveram uma previsão de um futuro bem turbulento. – Uma sobrancelha dele se ergueu em curiosidade.

Minha boca se abriu em surpresa, e os olhos de Dimitri se moveram rapidamente para lá, tão rápido que eu não teria visto se não estivesse olhando para o seu rosto em intensa concentração. – Oh, sim. Ela previu uma união oficializada, camarada. Você não está pensando em me pedir em casamento, certo? Por que se esse for o caso, Abe acabará com você.

Dimitri balançou a cabeça e riu suavemente, mas não respondeu. Do jeito que as coisas estavam entre nós, ele não me pediria nem para dançar quadrilha, muito menos em casamento. Eu não aguentava essa tensão entre nós, essa distância cheia de mágoa. Vi Lissa me dando um olhar mais afiado que minha estaca.

Ela sabia que Dimitri estava machucado, e queria que eu conversasse com ele. Eu mal conseguia imaginar como sua aura devia estar agora. Em parte, me senti grata pela falta do laço. Não suportaria ver tamanha tristeza ao redor de Dimitri.

Eu murmurei baixinho. – Posso falar com você um instante?

Ele ficou pensativo por um momento, e assentiu. Levantei-me e o conduzi a um canto da sala, onde não havia ninguém. A pessoa mais próxima era um Moroi no celular, brigando com alguém, então não me preocupei em ser interrompida.

Era agora ou nunca.

– Dimitri... – eu comecei e fechei meus olhos, pensando como começaria a me desculpar.

Dimitri foi mais rápido, entretanto. – Rose, você estava certa. Foi errado não ter te ligado e-

- Oh, não, não estava. – Eu interrompi, e ele olhou para mim com surpresa. Não era muito típico da minha parte assumir que estava errada. – Eu fui uma vaca com você. Não deveria ter falado aquilo. Eu juro que se estivesse pensando direito, não teria acontecido.

Dimitri balançou a cabeça. – Não. Você teve que passar por aquele jantar sozinha, e por isso, eu sinto muito. Mas todo o resto é verdade.

Ele estava mentindo. Eu podia ver no seu rosto, que ele não acreditava que tudo aquilo era verdade. Ele não acreditava no que eu disse, sobre suas promessas de amor serem em vão.

– Jogue na minha cara, Dimitri - eu disse. – Você sabe muito bem que aquilo tudo foi ridículo. Não tenho razões para duvidar de você, de nós.

- Como pode ter tanta certeza? – Dimitri perguntou, inclinando a cabeça. – Na minha mente, eu falo sério quando digo que te amo, que toda a minha existência se resume a você. Mas e se uma parte de mim não sente isso? E se essa parte for responsável pelo o que aconteceu ontem?

- Eu sei aonde você quer chegar com isso, e não vai dar certo.

- Rose, você tem tanta fé em mim. É suspeita para falar.

Bufei, tanto pelas suas palavras quanto pela ironia delas. Ora, Rhonda havia me dito o contrário – que eu não tinha fé – há menos de uma hora. Talvez eu tivesse fé no que pudesse ver e tocar, no que amasse.

- E não tenho somente fé em você, eu tenho amor. Dimitri, essa fase já passou e é hora de olhar para o futuro. Do mesmo jeito que eu me perdoei por ter matado Victor – minha voz ficou mais baixa quando disse seu nome - você também deve se perdoar.

- E eu me perdoei. Mas ainda assim, eu tenho medo. Tirar essa culpa de mim não vai mudar minhas suspeitas.

- Não, mas vai torná-las mais suportáveis - eu disse. Ver Dimitri sofrendo desse jeito me enchia de raiva. Raiva de Nathan, o Strigoi louro que acabou com os meus sonhos ao lado de Dimitri e transformou sua vida em um inferno. – E mesmo se houver uma parte de você que não sinta a mesma coisa, que seja diferente, eu ainda continuarei te amando. Ainda foi errado jogar na sua cara minhas frustrações.

- E foi errado não ter te ligado. – Ele disse, mas eu sabia que minhas palavras tinham penetrado a dor dele. Dimitri passou uma mão pelos seus cabelos, e suspirou. – Me perdoa?

- Só se você me perdoar também - eu murmurei, sorrindo um pouco. As coisas não estavam como antes, mas mesmo assim, parecia que meu coração tinha voado para longe, livre de todo aquele peso que estava me atormentando há horas.

- Não há nada para perdoar, Roza - ele disse, me puxando para perto e colocando seus braços ao me redor. Eu me afundei no seu abraço, feliz por senti-lo contra mim, ouvir seu coração batendo contra o meu, sua respiração coordenada com a minha. Era como se nossas almas fossem sincronizadas, dois espelhos que não sobreviveriam sem sua reflexão.

- E a propósito - eu falei, minhas palavras abafadas contra seu peito - está na hora de mudar de companhia telefônica. A sua não é muito boa, não é?

Ele riu, e o som ricocheteou pelo meu corpo. Não pude evitar um sorriso quando ele levantou meu queixo e me beijou suavemente, como se pedindo permissão. A principio era só um roçar de lábios, mas quando abri minha boca, aceitando seu pedido, o beijo se tornou cheio de paixão, e Dimitri manteve seus braços ao meu redor o tempo todo. Foi como voltar para casa depois de um dia turbulento, e mesmo depois de nos separarmos, ainda ficamos juntos por alguns minutos.

Eu estava trazendo seus lábios de volta para os meus quando um barulho de água explodindo e um palavrão muito feio vindo de Christian me fez soltar Dimitri e ir correndo até onde os outros estavam.

- Cara, vocês não conseguem ficar nem um minuto sem guarda e já começam a... – minhas palavras foram sumindo quando eu vi o que eles estavam aprontando.

Mia tinha duas enormes bolhas de água em cima de sua cabeça. Ela poderia muito bem se passar por aquelas deusas do mar das mitologias por causa do poder que irradiava dela.

Fora da piscina e perto da borda, Christian estava pegando fogo. Literalmente. Seus punhos estavam imersos em fogo e ele olhava para Mia com um sorriso malicioso.

- Que diabos! – eu surtei quando Christian lançou uma bola de fogo em Mia, que a apagou assim que esta cruzou a piscina na direção dela.

- É só isso que você consegue fazer, Tocha? – Mia perguntou sarcasticamente. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas uma briga entre dois Moroi poderosos como eles podia resultar em problemas. Eu já tinha visto algo parecido, entre Sonya e Robert, e não estava ansiosa para uma repetição.

- Parem com isso, - Dimitri murmurou, olhando para a cena diante dele, mas não conseguiu esconder um pontada de curiosidade em sua expressão. Ele era tão eficiente que conseguiu sair do clima totalmente romântico para um profissional em um piscar de olhos.

- Ele começou, - Mia disse. – Christian não tinha o mínimo direito de testar meu elemento jogando fogo em mim.

- Eu não joguei fogo em você, foi uma faísca, e era só uma piada, Mia. Não é como se seu cabelo fosse pegar fogo. Sua frieza não permitiria isso, - Christian concluiu, ironicamente.

- Oh, cale a boca. Você não é único com problemas familiares, e nem por isso eu saio por ai botando fogo em todo mundo.

Jill observava tudo atentamente, mas parecia zangada com Christian também. Lissa, por outro lado, parecia neutra, embora a pele de seu namorado estivesse correndo perigo. – Por favor, parem de discutir. Isso é ridículo, - ela murmurou, adotando seu ar de Rainha.

- Você não bota fogo em todo mundo, você é fria o bastante para congelar o inferno. – Christian disse, e quando tanto Mia quanto Jill lançaram uma onda na direção de Christian, decidi que já era o bastante.

- Já chega! Vocês estão sendo crianças, e eu não vou ficar servindo de babá. Não sei o que começou essa briga, mas sei que ela vai acabar agora. A porta está bem ali, e quem não agüentar a presença do outro, sinta-se livre para sair.

Embora tenha dado um belo discurso, Mia e Christian ainda continuavam olhando para o outro com raiva. Era infantil demais. Brigas entre amigos aconteciam freqüentemente, e como o clima estava cada vez mais tenso, não duvidava que uma provocação pudesse provocar um pandemônio desses.

A próxima coisa que eu me lembrava era de Christian indo lançar um monte de bolas de fogo e Mia pronta para outro tsunami quando do nada os dois simplesmente foram lançados contra a parede. Do nada.

Os dois gemeram com o impacto e pareciam mais perdidos que um animal que acabara de ser sedado. Os dois me encaravam com os olhos arregalados.

- Rose.

Dimitri tocou meu ombro e apontou para alguém atrás de mim. Quando meus olhos caíram na figura ajoelhada e ofegante de Lissa, eu não hesitei em correr até ela.

Lissa encarava as palmas das mãos, totalmente assustada e inconsciente da minha presença. Foi preciso que eu a chacoalhasse e dissesse seu nome várias vezes para que ela finalmente falasse.

- Eu fiz isso – ela ergueu seu rosto e seus olhos se encontraram com os meus, fascinados. – Eu não acredito que eu fiz isso.

- Liss...

- E não foi com as mãos que eu invoquei esse poder. Foi com a mente – ela sorriu amplamente – eu só queria que eles parassem, porque eu via na aura de cada um que eles já estavam na beira de perder o controle... E eles não pararam. Eu tinha que impedi-los.

- Você os impediu, mas deveria ter me chamado ao invés disso. Eu poderia ter feito isso com simples força bruta. Você não deveria ter usado espírito.

Ela balançou a cabeça – Não, eles não iriam parar do mesmo jeito.

- Você está bem? – Christian se ajoelhou na frente dela, seus olhos azuis brilhavam com preocupação. Ela assentiu.

- Foi você quem usou aquela mágica? Foi incrível! – Mia disse.

- Inesperado – Eddie concordou.

- Eu sabia que usuários de espírito tinham algum poder dos outros elementos, mas não achei que eu pudesse fazer uma coisa assim. – ela ainda se sentia maravilhada com a descoberta. Já eu, nem tanto.

- Eu vi Robert fazendo isso. E para falar a verdade, não é uma coisa que você deve fazer novamente. – eu a ajudei a se levantar. – Você está se sentindo bem?

Ela passou as mãos pelo cabelo e assentiu. – Só estou me sentindo um pouco cansada.

Podia apostar que ela estava se sentindo um pouco mais do que “cansada”, mas não discuti com Lissa. Nas poucas vezes que o espírito se manifestou em mim, eu quase enlouqueci, e depois que os efeitos passaram, não sabia o que teria acontecido se Dimitri não estivesse lá. A mesma coisa devia acontecer com Lissa e Christian, que me olhava com preocupação pelo o que tinha acabado de acontecer.

- Liss... – eu comecei, mas ela me interrompeu antes que eu pudesse dizer outra palavra.

- Eu sei. Eu sei que foi errado fazer isso. – ela disse, sua voz soando leve demais, como se estivesse tonta. Coloquei uma mão em suas costas, apoiando-a, enquanto nos afastávamos das outras pessoas.

- Não é só isso, - eu disse, - é a escuridão. Só vai piorar se você continuar usando o Espírito. Não importa a situação, Liss, tente evitar usá-lo. – Já tinha dito aquilo tantas vezes, mas continuava repetindo do mesmo jeito. Porque eu sabia o que aconteceria se Lissa perdesse o controle, sem ter alguém shadow-kissed para ajudá-la. Ela ia perder a sanidade, pouco a pouco, assim como Robert e Sonya.

E eu não podia deixar isso acontecer.

- Eu tento, Rose, ok? É difícil. Eu preciso ajudar quando vejo uma situação dessa. É como uma compulsão. – Ela balançou a cabeça, e olhou de mim para o resto dos nossos amigos. – Prometo que vou tentar me controlar.

O problema, porém, é que eu não tinha tanta certeza de que ela ia cumprir essa promessa.

****

Notas finais:

Esse capítulo foi dificil de escrever, por causa da previsão da Rhonda e a briga na piscina, então... como foi? Bom, mau... nos diga o que vocês acharam!

Ah... e uns spoilers do próximo capítulo:

"– Eu tenho sangue real. Dois guardiões não são o bastante!"

.....

"- Não fui um bom namorado esses últimos dias - a voz dele veio abafada pela minha pele. – Me deixe recompensá-la."


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