Capítulo 20 – Outro paciente.

Era como se pela primeira vez Bella Swan tivesse dormido, era como se visse a vida pela primeira vez ou como se visse o mar pela primeira vez. Também parecia que tinha sentido o gosto de realmente viver pela primeira vez; em contraponto, sentia que tinha perdido quase 20 anos da sua vida. Ela não gostava de pensar assim.

Assim que se levantou, viu em sua janela a figura prateada do volvo C30 parado do outro lado da rua. Instintivamente, sorriu.

Bella colocou a usual calça branca, sapatilhas de mesma cor, porém um casaco de cor escura. Ajeitou os cabelos, prendeu a franja com algumas pequenas fivelas e encontrou Alice na cozinha.

- Bom dia. - a pequena disse a ela.

- Oi, Allie!

- Seu namorado está ai, esperando para nos dar carona. - a baixinha sibilou, sorrindo logo em seguida.

- Ele não é meu namorado. - Bella murmurou constrangida.

- Aham, sei. O campus todo viu aquele beijo. Ele seria o quê então? - Ela ergueu uma sobrancelha.

- Eu não sei o que ele seria, eu só... Acho melhor nós irmos. - Bella sibilou constrangida. - Mas eu sei que ele não é só isso. Ele não é somente um amigo.

Bella sempre acabava admitindo tudo para Alice, sua confidente. Sentia, de certa forma, que estava desabafando e tirando um peso da sua consciência. E pensar que Edward não seria somente seu amigo lhe dava uma sensação boa, juntamente com aquele frio na barriga. O melhor de tudo, pelo menos na concepção dela, era saber, ter uma profunda certeza, de que ele estaria ao lado dela para sempre, não importava se era da forma que ela gostaria que fosse ou se seria apenas como um amigo. Essa certeza ninguém podia arrancar dela.

Assim que entrou no carro - e dessa vez, depois de Edward abrir a porta, num gesto totalmente cavalheiresco - eles se entreolharam timidamente e trocaram um selinho.

- Vocês são tão tímidos... - Alice comentou num tom casual, quando sentava no banco traseiro. - É tão fofo.

- Bom dia, Alice. - Edward riu.

- Bom dia! – Ela sorriu abertamente em resposta. Mas desfez seu sorriso logo em seguida. – Edward, você tem visto Jasper?

- Só até às três horas ontem. Ele disse que tinha coisas a fazer. – Edward respondeu.

- Oh, entendo. – Alice sibilou e aquietou-se em seu lugar.

No caminho até a London College, Alice não conseguia deixar de pensar em Jasper. Seu coração batia forte só de pensar que poderia ter acontecido algo com ele...

Flashback da Alice – Duas noites atrás, último dia do julgamento de Jane Volturi.

- Quer carona para casa? – Jasper perguntou-lhe.

- Sim, adoraria. Bella vai ter que voltar ao hospital mesmo. – Ela deu de ombros e foi despedir-se de Rosalie e Jane. – Eu vou ao hospital te ver assim que for possível. Fique bem.

- Obrigada Alice. E quando for possível, vamos ao orfanato novamente. – Jane abraçou-a e deixou que Heidi empurrasse sua cadeira de rodas.

Quando já haviam entrado no carro, Jasper apoiou as mãos no volante e abaixou a cabeça. Alice, preocupada, perguntou se ele estava bem.

- É só uma tontura. Não tenho estado muito bem ultimamente. – Ele respondeu, esboçando um sorriso fraco. – Acho que não me alimentei direito.

- Vá a um médico, Jasper. Não fique assim. Você pode acabar passando mal de verdade. – Ela disse a ele. – Eu não gostaria que você ficasse doente.

Fim do flashback.

Jasper engolira seco. Ele gostava o suficiente de Alice para fazer o que ela pedira. Mas e se a realidade fosse outra e ele já soubesse o que realmente estava acontecendo?

Jasper era de uma família importante, estudioso, inteligente e terminaria química antes mesmo de qualquer outro aluno de sua turma. Logo, entraria para a equipe de investigação criminal e trabalharia na perícia, seu sonho de infância. Entretanto, nem mesmo um sonho de infância realizado poderia acalentar os sentimentos mais profundos. A verdade é que Jasper já havia passado por muita coisa e esperava encontrar em Alice, o conforto para tudo isso.

Na tarde do dia anterior, ao invés de freqüentar os devidos cursos na academia de polícia – Scotland Yard – de Londres, ele tinha ido ao médico.

- Seu caso é mais comum do que imagina, mas é grave. – Dissera o Dr. Roger, cardiologista. – Cardiomiopatia.

- Cardio? Isso significa que tenho problemas de coração. – Jasper declarou. – Então...

- Seu caso é hereditário, pelo que percebi nos exames que constam em sua família. Seu pai e seu avô também tiveram.

- Sim, meu pai morreu de insuficiência cardíaca. – Ele falou novamente, porém, ainda chocado com a notícia. – Eu não sei o que vou fazer.

- É apenas uma questão de controle. Alimentação saudável, medicamentos corretos e vamos tentar colocá-lo na fila de transplantes. – Roger dizia.

Assim que Jasper saiu do hospital, ele mal sabia o que faria. Quer dizer, e a academia de polícia? E seus planos para o futuro?

Logo cedo, pela manhã, ele decidira que contar a notícia aos seus amigos seria a melhor opção, principalmente dizer a Alice porque havia sumido. Não seria fácil esconder por muito tempo e iniciar o tratamento o quanto antes seria o mais prudente a ser feito.

- Bom dia, Jazz. – Edward sorriu.

- Bom dia. – Ele respondeu, sorrindo da mesma forma. – Gostaria de conversar com todos vocês.

- Você vai nos falar porque sumiu ontem, não é? – Alice supôs. – Fiquei preocupada.

- Eu fui ao médico. – Ele disse baixo, quando todos fizeram silêncio. – Eu desmaiei alguns dias atrás e uma ambulância da academia de polícia me levou para o hospital, porque eu não reagia.

Nesse instante, Bella pôs uma mão sobre a boca. Certamente, lembrando-se que vira, apenas de relance, um jovem louro estirado sobre uma maca.

- O que foi, Bella? – Edward perguntou-lhe.

- Houve uma troca de prontuários e quando você estava desacordado, seu prontuário chegou a mim. Mas ainda não havia sido preenchido. Fui eu que... – Ela arregalou os olhos. – Oh deus.

- Então você já sabe. – Jasper sibilou.

- Sabe. O. Quê? – Alice perguntou devagar. – O que você está querendo dizer? O que você tem?

- Cardiomiopatia.

- O quê?! – Emmett, pela primeira vez, esboçara uma reação. – Que merda é essa agora?

- É uma doença do coração. O músculo do coração fica fraco e pode parar. – Ela explicou, baixo, com os lábios tremendo. – Oh deus. Eu passei os olhos pelo prontuário e disse ao Dr. Cullen que iria entregar a Ângela, porque estava errado.

- Oh, cara. Por quê? – Emmett abaixou a cabeça.

- Você só tem que tomar medicamentos, não é? Isso pode ser reversível, diz que sim! Diz que pode, Bella! – Alice tremia, soluçava e chorava.

Algumas pessoas ao redor que a olhavam viam o desespero vir à tona e quase sair pelos poros. Jasper abraçou-a, acariciando sua nuca e sussurrando um “vai ficar tudo bem” em seu ouvido.

- E agora? – Edward perguntou. – Podemos conseguir passar você na fila não é?!

- Eu não sei. Eu não consigo entender essas coisas. Meus pais estão confusos, minha mãe está quase entrando em depressão. – Jasper abaixou a cabeça e suspirou pesadamente.

- Depende do caso. Se ele tiver somente até dois anos de vida, ele já é colocado como prioridade. Depende do peso, grupo sangüíneo, altura, compatibilidade do órgão. – ela tentava explicar, tentando não se perder em suas próprias palavras.

- Mas o médico disse que eu tenho que fazer exames rotineiros e tomar remédios, então tudo está bem, por enquanto. Eu achei que deveria contar a vocês porque são meus melhores amigos. E ainda está no começo, então tenho boas chances. – Ele sorriu novamente.

Emmett despediu-se de Jasper e seguiu para o grande ginásio. Rosalie esperou que Alice se despedisse dele e caminhou ao lado dela para as salas de oficinas de arte e costura, ao passo que Edward e Bella foram os últimos a seguirem seu caminho.

- Rose, o que vai acontecer? – Alice parou próxima a porta da oficina.

- Por enquanto, nada. Vai ficar tudo bem. Jasper tem pais importantes, vai conseguir um doador. – A loura abraçou a garota esguia, tentando confortá-la. – Vamos para a aula, ok?

- Eu achei que tudo ia ficar bem agora, Parece que onde estou algo de ruim acontece. – Bella murmurou. – Isso não está certo. Jasper não merece.

- Todos nós sofremos neste mundo, Bella. – Edward ajeitou uma mecha do cabelo atrás da orelha dela.

- Mas não é justo. Eu mal o reconheci aquele dia. – Ela abaixou a cabeça. – Vou falar com seu pai. Deve ter um jeito de fazer com que ele consiga o transplante... Embora não seja justo com as outras pessoas que estão na fila.

-A vida não é justa.

- Mas são vidas em jogo.

- Sem desespero. Estamos todos juntos nessa. Nós vamos ver e fazer até o impossível para ajudá-lo. – Edward declarou.