Eu me virei e comecei a contar tudo palavra por palavra, como eu havia prometido. O professor de Educação física entrou na sala fez a chamada e nos deixou ir para o pátio, nós nos sentamos no banco - afinal o campo estava molhado e o tempo estava nublado, provavelmente começaria a chover de novo. Eu terminei de contar a historia e depois falei sobre minhas teorias para a atitude dele. Elas concordaram que seu comportamento era estranho, mas disseram pra mim não me preocupar, que ele gostava de mim e que só estava confuso.

- Confuso? Confuso com o que? – eu perguntei.

- Sei lá, vai entender os homens! – Disse Alli. - Mas eles sempre ficam confusos quando gostam de alguém. Digo isso por experiência própria amiga. Meu ex – ela fez uma careta. – levou um século pra admitir que gostava de mim e me chamar pra sair.

- É, pega leve com ele amiga! – pediu Ang com uma cara estranha. - Vocês recém se conheceram.

- Vocês acham mesmo? – perguntei.

Elas balançaram a cabeça afirmando.

Eu me senti meio mal por ter ficado com raiva. Não arrependida, pois se eu aprendi alguma coisa nos meus 16 anos de vida, era que nunca devemos esconder o que sentimos, é sempre melhor botar para fora. Mas eu também não era nenhuma barraqueira, nunca me meti em brigas, eu tinha educação.

Então eu resolvi que no final da aula eu falaria com ele de novo. Só para mostrar que eu não estava chateada, e que eu não era nenhuma menininha mimada fazendo birra.

A aula se arrastou devagar, acabou o primeiro período e eu estava super nervosa, queria vê-lo. Eu estava sentada com minhas amigas quando eu vi Ed entrando na porta da escola, ele andava de vagar, parecia meio triste. As meninas o viram e começaram a me cutucar, eu levantei do banco para elas pararem. Quando ele estava bem perto ele olhou para cima e me viu, mas neste exato momento um menino do 3° ano passou quase esbarrando em mim, ele se virou e começou a andar de ré para poder me olhar, ele me olhou de cima a baixo, piscou para mim, mandou um beijo se virou e continuou caminhando.

Ouvi as meninas rindo atrás de mim. Eu olhei para o Ed e ele estava olhando na direção do garoto bufando de raiva. Quando ele finalmente olhou para mim eu comecei a rir baixinho, me divertindo com sua cara de ultraje. Ele baixou a cabeça e foi em direção ao auditório, eu reparei que ele também ria silenciosamente.

O garoto do terceiro ano passou por nós de novo para voltar para sala, ele me olhou e sorriu. Ele era lindo, forte... Mas era muito galinha. Me lembro que a primeira vez que eu reparei ele me olhando, ele estava com a namorada do lado, eu achei hilário. Mas outro dia ele passou sozinho por mim no corredor e disse “gostosa” pelas minhas costas e eu como tenho muito nojo desse tipo de “elogio” vulgar, me virei e mostrei o dedo do meio para ele. Ele apenas riu e continuou dando em cima de mim sempre que me via. Até que hoje essa sua atitude veio a calhar...

Eu me sentei ao lado das meninas e nos ficamos conversando até que o sinal tocou e professor deixou que pegássemos os materiais na sala de aula.

Eu voltei para o pátio com meu material. Fui na direção do banheiro, só uma desculpa para verificar se ele estava no auditório. Eu parei para beber agua e então ouvi uma voz – alguém cantando. Vinha do auditório, eu dei tchau para as meninas - que ficaram emburradas, mas não reclamaram – e fui para o auditório. Entrei de fininho, sem fazer barulho. Ele estava de costas para mim, regulando um violão e cantando – ele cantava muito bem.

Quando ele parou de tocar.

Eu bati palmas.

Ele se virou assustado, e quando viu que era eu abriu um sorriso enorme e ficou meio envergonhado.

- Uau! Você canta muito bem! – eu fui chegando perto dele.

Ele fez uma careta.

- Eu sou muito desafinado, isso sim. – ele riu.

Nós ficamos em silencio por um minuto. Ele olhava para o chão.

- Me desculpa por antes... por ter praticamente te mandado embora e....  por tudo mais. – ele ainda estava de cabeça baixa. - Não era minha intenção.

Eu não respondi, então ele olhou para cima, eu cheguei mais perto e sorri para ele – nós estávamos a distancia de um braço.

- Tudo bem. Está perdoado.

Nós nos olhamos nos olhos por um momento. Então ele ergueu a mão e ajeitou uma mecha de cabelo atrás de minha orelha, chegou mais perto ainda, colocou uma mão em minha cintura e a outra em meus cabelos. Ele se inclinou para mim, seu rosto a centímetros do meu, eu sentia sua respiração rápida em meu rosto, senti seu hálito em minha boca entreaberta. Eu fechei os olhos e seus lábios encostaram levemente nos meus, com muita delicadeza. Eu cheguei a ficar um pouco tonta com toda a suavidade daquele beijo. Foi breve, mas muito doce.

Ele afastou o rosto para olhar nos meus olhos. Depois nós ouvimos uma voz no corredor, nos separamos, ele rapidamente pegou um caderno e fingiu que escrevia algo nele.

A vice-diretora entrou no auditório olhando com uma cara desconfiada para nós dois.

- O sinal já bateu, o que a senhorita ainda está fazendo aqui?

- Eu já estava indo embora...

- Ela veio me perguntar sobre as aulas de musica e saber dos horários. – ele me interrompeu.

- Que bom que você já conseguiu alunos, mas vocês podem conversar amanha, eu vou fechar a escola, - ela disse caminhando de volta para a porta, depois olhou para nós. - vamos?

Saímos do auditório, ela trancou a porta e nós fomos em direção a saída. Quando iamos saindo ela chamou o Edward e pediu para falar com ele “a sós”. Eu disse tchau para os dois, e fui para casa. Minhas amigas me ligaram uns 5 minutos depois e eu quase fiquei surda com os gritos que elas deram quando eu lhes contei o que havia acontecido. Alli e Ang praticamente imploram para dormir na minha casa, elas queriam saber dos detalhes como sempre. Mas eu não queria uma festinha do pijama hoje, e nem minha mãe – ela odeia planos de ultima hora – e eu queria ficar sozinha para pensar. O que eu faria quando o visse de novo?

Eu dormi e acordei com essa pergunta, pois eu não tinha resposta para ela. Eu devia falar com ele ou esperar que ele viesse falar comigo? Ele observaria a aula de inglês, que seria só no 4° período. Então eu devia procura-lo no recreio ou não?

Eu cheguei na escola nervosa, ainda não sabia o que fazer. Achei minhas amigas no portao da escola, dei um beijo no rosto de cada uma e entramos. Elas logo começaram a me perguntar sobre ontem e eu disse que contaria na sala de aula. O sinal tocou e eu ainda não havia visto o Edward. Fomos para nossa sala e contei tudo nos mínimos detalhes para elas.

A aula tava um saco! Ainda mais chata do que de costume. Eu olhava o relógio a cada 5 minutos, e isso fazia com que as horas passassem ainda mais devagar. Eu esperei até o segundo período para pedir para ir ao banheiro, - eu precisava ver se ele estava na escola.

Ele não estava, pelo menos não no auditório. Eu fiquei um tempo no corredor fingindo que tomava agua, mas nem sinal dele.

Voltei para minha sala e aguentei a ansiedade até o recreio. Quando Alli, Ang e eu saímos da sala fomos direto para o banheiro como sempre, depois passamos na frente do auditório espiando discretamente para dentro só para ter certeza de que não tinha ninguém lá.

Será que ele não viria no seu primeiro dia de observação? Não ele viria sim. Pelo menos eu esperava que sim. Ficamos sentadas no saguão ouvindo musica até o sinal tocar. Fomos para a sala e esperamos ansiosas. A professora chegou seguida por Ele. Eu quase tive um ataque do coração. Ele entrou na sala de cabeça baixa, a professora o mandou sentar no fundo da sala – onde eu já esperava que ele se sentasse – na classe ao lado da minha.

Ele veio na direção da sua classe e então olhou para cima e seu olhar cruzou o meu por um segundo, e ele baixou a cabeça novamente. O que isso significava? Ele estava com a mesma cara de quando me mandou embora ontem.

Ele se sentou, sua mesa estava quase encostada na minha. Se ele estava esperando me evitar – háhá - ele estava no pior lugar para isso.

- Oi. – eu disse séria. Eu estava chateada com seu comportamento.

Ele respirou fundo e me olhou de lado.

- Oi. – ele deu um sorriso estranho.

A prof ª começou a passar a matéria no quadro eu copiei quieta, sem nem olhar pra ele. Mas eu podia ver pelo canto do olho, que ele me encarava. Mesmo assim continuei copiando sem me importar.

Acabei antes de todo mundo – eu conseguia copiar bem rápido, mas minha letra ficava horrivel. Eu me virei para olhá-lo, com uma cara séria e com os olhos semicerrados. Ele olhou pra baixo e suspirou.

- Me desculpa. – ele sussurrou. Mas a sala estava tão quieta que algumas pessoas se viraram.

Eu arranquei uma folha de fichário e escrevi:

Pelo que dessa vez?

Passei a folha para ele. Ele suspirou, mas respondeu e me devolveu:

Por qualquer coisa que eu tenha feito que tenha lhe incomodado.

Eu estou incomodada por você estar tao estranho, por não ter me dado nem um “Oi” direito. O que aconteceu?

Depois nós conversamos, ok? Eu vou estar no auditório no final da aula.

Eu li, fiz uma careta e guardei o bilhete no bolso.

A professora explicou a matéria, passou exercícios depois os corrigiu. E assim acabou o período. Ele deixou a sala com a professora. As meninas olharam para mim, e eu só dei o papel da nossa pequena conversa para elas, elas leram e me devolveram o papel sem dizer nada.

A aula de biologia passou rapidamente, talvez porque eu adorasse o professor e porque ele sempre nos liberava mais cedo. Eu fui direto para o auditório.