Hell escrita por N_blackie
Comes e Bebes
Faltando mais ou menos três semanas para o nosso baile, decidi que estava na hora de decidir sobre comidas e bebidas, então tirei um sábado de manhã para não tomar café da manhã e chamar a "comissão unida" para uma reunião. Como todos adoram acordar de manhã quando não tem aula tive um encontro bem animado com eles na sala dos professores, que também estava – obviamente – vazia. Parecia que eu era a única animada com aquela perspectiva de comer e beber à vontade, porque a primeira coisa que Kile disse foi:
- Porque viemos aqui mesmo?
- Bom, estamos chegando perto da festa, então decidi que seria bom se fizéssemos orçamentos sobre comes e bebes.
- Eu sugeriria Dedosdemel. – Amy bocejou enquanto falava, e eu anotei o nome da doceria no pergaminho, embora duvidasse seriamente que alguém iria querer passar a formatura toda comendo sapos de chocolate e varinhas de alcaçuz. James ergueu a mão.
- Sim?
- Eu sugiro a Rosmerta. Ela é boa, legal, simpática e faz tudo. Bebidas, comida, doces. Só não sei quanto ao preço.
Enquanto eu anotava, senti uma pontada, como se estivesse sendo observada. Ergui o olhar e lá estava ele de novo, me olhando distraído. James havia mudado muito nos últimos meses desde aquela desgraçada festa do Sirius. Seus cabelos estavam mais compridos, e agora ele já não ficava bagunçando o tempo todo. Uns dias antes eu tinha o visto defender um garotinho do segundo ano de Avery, da sonserina, que provavelmente estava tentando amaldiçoar o menino. Ele e Sirius tinham parado de implicar com todo mundo, e até os professores estavam elogiando esse momento deles. Sorri levemente enquanto voltava a falar, e só ficamos a sós quando mandei Amy e Kile para falar com a Professora McGonagal sobre uma autorização para ir à Hogsmeade falar com Rosmerta e com os donos da Dedosdemel, e o restante da comissão dormiu. Melhor dizendo, estávamos tecnicamente sozinhos.
- Sabe, eu tinha outra sugestão, mas não sei se seria viável. – ele se aproximou cochichando, e franzi a testa, curiosa. – Você já viu onde fazem a comida que comemos?
- Não. Eu suponho que sejam cozinheiras, certo? Toda escola tem.
Pode me chamar de distraída, preguiçosa, mas eu nunca realmente liguei para quem fazia a comida, e realmente pensava que eram só cozinheiras que trabalhavam. Afinal, cozinhar devia ser muito mais rápido com magia. James balançou a cabeça incrédulo quando levantei a hipótese, e olhando em volta, rasgou um pedaço do meu pergaminho ("hey!" eu exclamei enquanto ele fazia) e escreveu um bilhete avisando que tínhamos saído para resolver um assunto de comida (ele realmente escreveu "assuntos de comida") e que iríamos voltar, portanto era para Amy e Kile nos esperarem. Depois, apontou para a porta.
Segui James até o Salão Principal, que só era ocupado por alguns loucos madrugadores de sábado, mas não era para lá que ele estava me levando. James entrou por uma porta atrás do corredor, e descemos uma escada meio íngreme que, pelo visto, estava indo para o subterrâneo. Quando chegamos ao corredor estreito de pedra que estava iluminado apenas por uns archotes na parede senti o coração parar. O que ele queria ali, me perguntei assustada. Já ia gritar e dizer que ele estava me atacando quando, sem aviso, James começou a andar para dentro, e comecei a ver que os quadros na parede eram quase todos sobre comida.
Ao longo do corredor havia outra escada, mas não descemos por ali, e sim seguimos até o fim do corredor, que não tinha nada além de uma parede de pedra e um quadro de natureza morta, com uma grande pera verde enfeitando uma fruteira. Coloquei as mãos na cintura e bati os pés.
- Legal, um quadro de fruteira.
- Calma. – ele riu e começou a mexer no quadro, movimentando os dedos rapidamente em cima da pera, como se fizesse cócegas nela. Franzi a testa e revirei os olhos, pronta para dizer que ele tinha sérios problemas mentais, quando o quadro começou a se mexer, e eu me lembrei de que, sendo bruxa, poderia esperar qualquer coisa. Inclusive um quadro de pera que se tornava uma porta para...
- A COZINHA! – gritei assim que James e eu passamos pelo buraco aberto do retrato. Eu provavelmente estava inutilizando meu queixo naquele momento, já que ele caiu até o chão quando vi que nada mais nada menos do que uns cem elfos domésticos corriam de um lado para o outro, alguns carregando travessas com o mesmo bolinho que os madrugadores estavam comendo em cima, outros com grandes barris de suco de abóbora circulando e enchendo jarras menores. Meus olhos nunca tinham visto tanta comida, nem tanta louça. Uma pilha gigantesca estava sendo lavada, e a pilha de pratos, panelas e afins iam até o teto. Mas isso não parecia desanimar os elfos, pelo contrário. A única coisa que parecia deixá-los mais feliz do que uma pilha monstruosa de louça e toda aquela comida por fazer era o fato de que James estava ali.
- Senhor Potter! – um elfo idoso chegou mais perto, deixando de lado o ensopado que ele estava mexendo (que imediatamente depois foi ser atendido por outros dois elfos) para ir nos atender. – O que o Senhor deseja?
- Olá, Quib! – James sorriu amavelmente enquanto abaixava para ficar da altura dele. Desci junto, e o elfo pareceu extremamente ofendido pelo fato de não haver mais ninguém para me entupir de comida. Balançando as mãos pequenas e magras loucamente, chamou uma elfa próxima, que colocou uns cinco pedaços de bolo no meu colo. Ele não parou de insistir até que comecei a comer, e então James riu e começou:
- Vamos fazer a festa de formatura, Quib, e queríamos saber quanto custaria para alugarmos as cozinhas aqui da escola mesmo por uma noite. Jantar completo, bebidas, serviço, tudo.
- Custo? – o elfo franziu o rosto todo até ficar um emaranhado de carne com um nariz pontudo no meio, como se a simples palavra o enojasse até o fundo da alma. – O Senhor não precisa pagar nada pelo serviço, Senhor Potter. Quib e os outros elfos ficam satisfeitos de agradar o Senhor e seus amigos.
- O Senhor Black não veio? – a elfo que estava me "servindo" apareceu de novo, interessada. Sorri encantada com ela. Os seus olhos tão grandes como bolas de tênis e tão roxos como contas de bijuteria brilhavam, e ela sorria sonhadora. Sirius é um canalha mesmo.
- Hoje não, Yara. – James ajeitou os óculos e eu senti uma súbita afeição por ele. Ele ultimamente estava gentil, simpático, prestativo e generoso, sem contar que nunca perdia a oportunidade para ser legal comigo. Decidi que protelaria de novo esse pensamento, e ouvi enquanto James barganhava algum tipo de pagamento para Quib, que se negava a aceitar qualquer coisa.
- Então tá, Quib. De graça, então?
- Sim, Senhor!
- Beleza. Tchau! Fiquem tranquilos, depois eu volto e pego comida! – ele falou alto quando vários elfos já vinham vindo com mais comida, e saímos juntos. Quando me vi fora da vista do elfos fechei a cara.
- Beleza? James, eu me recuso e fazer uma festa em que esses pobres elfos não ganhem nada! Me recuso! Quero dizer, eu achei que os elfos só limpassem, eles ainda cozinham!
- Eles são felizes assim. – James deu de ombros, e eu comecei a me revoltar.
- Me recuso a não pagar nada a eles.
- Eu tenho uma ideia. Elfos domésticos abominam roupas, porque significa liberdade...
- E daí? Vamos dar roupas, eles serão livres!
- Lily, acredite em mim. Hogwarts é o melhor lugar para qualquer elfo doméstico, libertá-los só os faria sofrer. Eu já conversei muito com Quib, e ele disse que Dumbledore trata todos muito bem e não se importa se eles fazem algo de errado. Famílias de bruxos são muito mais cruéis com os elfos.
- Mas a sua...
- Minha família é uma das exceções. Mas Quib sempre elogia Dumbledore, disse que nunca seria tão bem tratado.
Me limitei a cruzar os braços, conformada. Se os rumores forem verdade, realmente é melhor para esses elfos ficarem ali mesmo. Mas em hipótese alguma desistiria de dar alguma coisa a eles.
- Quero recompensá-los.
- Eu tive uma ideia.
- Qual?
- Não posso contar, envolve a decoração.
- Pode me dizer! – insisti, mas ele se limitou a rir e sair correndo na minha frente. – EU ESTOU CURIOSA! POR FAVOR!
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