(Três meses depois.)

Era verão, e o tempo estava uma espécie de calor abafado, daqueles em que as pessoas querem apenas deitar-se em frente a um ventilador usando pouca roupa e não fazer nada o dia inteiro. Apesar disso, os dois meninos que desceram daquele carro, estacionado naquela rua cheia de árvores menos verdes que o normal devido à falta de chuva, usavam ternos pretos. Nenhum dos dois falou enquanto eles caminharam, de mãos dadas, em direção à grande casa senhorial do outro lado da rua, onde algumas pessoas, também vestidas de preto, ocupavam os bancos da varanda. 

Não cumprimentaram ninguém. Apenas adentraram a casa em busca de uma pessoa em especial. Uma pessoa que eles sabiam que necessitava de um abraço. E logo a encontraram, sentado em um sofá, conversando baixinho com uma senhora de cabelos cor de vinho, o rosto branco um tanto molhado pelas lágrimas. Os meninos se entreolharam, buscando apoio um no outro, antes de caminharem em direção ao homem e à mulher.

Assim que perceberam a aproximação, eles ergueram os olhos, reconhecendo os dois, e ficando de pé, prontamente. Frank aproximou-se primeiro, dizendo.

- Brian, eu sinto tanto – ele disse, sincero, recebendo um abraço espontâneo do homem, que imediatamente começou a chorar silenciosamente – eu sinto muito mesmo. Nem posso expressar o quanto estou triste.

Eles quebraram o abraço, antes do homem responder:

- Tudo bem, Frank, ele estava sofrendo – ele disse, a voz embargando um pouco – eu estou feliz que pelo menos agora ele...descansou – e mordeu o lábio inferior, meio que para segurar o choro ao dizer isso. 

- Sim, ele provavelmente está num lugar melhor agora – concordou Gerard, que tinha uma única lágrima rolando em seu rosto, ao pensar no amigo que partira. Depois baixou o tom de voz, e encarou Brian profundamente – sinto muito. 

Depois de se abraçarem, o homem enxugou as lágrimas de seu rosto, tentando sorrir meio forçado ao dizer:

- Meninos, eu realmente não sei o que dizer. Se não fosse por vocês, eu nem teria tido a chance de conviver com ele nesses últimos meses. Muito obrigado. 

- Pare com isso, Brian – disse Frank, sorrindo piedoso – você e Stefan mereciam isso. Nós não fizemos mais do que a nossa obrigação. 

Depois disso eles foram interrompidos por um casal, provavelmente familiar de algum dos pacientes que freqüentava a casa e conhecia Stefan, chegou para dar as condolências à Brian, obrigando os meninos a se afastarem.

Não havia muita gente ali. Em geral, só os voluntários da St. Martin, os moradores, e alguns de seus familiares, além de Brian. Gerard foi em direção à mesa onde estavam os aperitivos a fim de pegar um copo de refrigerante, pensando em como, apesar de toda a tristeza, era realmente a hora de Stefan partir. O homem passara os últimos meses sofrendo um mau bocado, apesar de Brian ter dado todo o apoio, pagando os melhores hospitais e médicos, e até se mudara para a cidade, onde alugou um apartamento, apenas para ficar perto do namorado. 

Fora melhor assim, Gerard tentava se convencer para aliviar um pouco a dor que tomava conta de si desde que, naquela manhã, ele recebera a ligação da Sra. Lee informando o acontecido. 

- Ele morreu dormindo - ela dissera - essa madrugada. Brian me ligou avisando, mas eu não quis acordá-los. Deixei para ligar só agora pela manhã. 

Enquanto tomava o primeiro gole do seu refrigerante, sentiu Frank abraçá-lo e encostar o rosto em seu peito. Ele abraçou de volta, acariciando as costas do menor, que ergueu os olhos, dizendo.

- Tudo bem? 

Gerard assentiu, sorrindo para confirmar. Frank, que também tinha os olhos vermelhos pelo choro, esticou a mão para limpar uma lágrima do rosto do maior, antes de continuar.

- Venha, vamos dar uma volta, preciso contar-lhe uma coisa – e depois, ao ver a cara do maior, acrescentou – não se preocupe, são noticias boas.

O mais velho assentiu, querendo mesmo sair dali, pois o clima pesado do local parecia intensificar seu sofrimento. Deixando o refrigerante em cima da mesa, deu à mão ao menor e seguiu-o para fora da casa. Atravessaram o jardim, seguindo para a rua calma, caminhando lentamente entre as árvores, sem dizer muita coisa. 

- E então? – perguntou Gerard, parando, ainda segurando a mão de Frank, quando eles chegaram à esquina. 

O menino sorriu, mexendo no bolso apertado de sua calça, e tirando um papel, que segurou com força enquanto falava, impedindo que Gerard visse o que era.

- Eu queria ter te contado antes, mas aí tudo isso aconteceu, e eu acabei esquecendo – ele disse, sorrindo para o maior – bem, agora que eu me formei, não preciso mais ficar em casa, não é? É como eu havia programando, já posso sair – Gerard lhe sorriu de volta, parecendo curioso com o rumo que a conversa tomava – e então eu estava olhando os classificados do jornal, e achei isso.

Entregou a Gerard um recorte, com um dos anúncios circulados a canetinha. Era de um apartamento em Nova York, com um preço muito bom. O mais velho sentiu algo afundar em seu estômago ao ler Nova York. Quer dizer que Frank queria se mudar? Desde quando isso eram boas notícias? Ficando sério de repente, ele ergueu os olhos para o pequeno, e em uma voz cheia de amargura, disse:

- Precisa que eu vá dirigindo com você para ver o apartamento, é isso? 

Frank sorriu, erguendo a mão para afastar uma mexa dos cabelos negros de Gerard que o vento havia levado para frente de seus olhos.

- Isso também – disse, acariciando a face do mais velho – mais na verdade, eu estava procurando um colega de quarto – e ergueu as sobrancelhas, sorrindo um pouco e mordendo o lábio inferior, com medo da resposta do mais velho. 

Gerard sorriu amplamente antes de puxar Frank pela cintura para um beijo, dando-lhe a sua resposta.