Metamorfose escrita por Mia Elle


Capítulo 13
Capítulo XII


Notas iniciais do capítulo

Sem tempo pra responder de novo, gente D: Mas obrigada, eu li todos os reviews e eu estou MUITO feliz que vocês estejam lendo e gostando, então sintam-se todos muito abraçados e mordidos ok? HAHA



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“Tears stream down your face,
I promise you I will learn from my mistakes”

- Fix You - Coldplay

Conversar com Stefan, como sempre, deu muito a que Gerard pensar. Embora ele já soubesse disso antes, apenas agora ele via que não existia um jeito mais fácil. Ou ele falava com Frank ou falava. O pequeno ainda tinha aquela velha imagem dele na cabeça, e não a mudaria a menos que Gerard o desse motivos para tanto.

O maior sabia que teria de fazer isso, mais cedo ou mais tarde, mas era realmente muito difícil tomar coragem, e quando ele conseguia, sempre acontecia algo para cortar a conversa ao meio. Como no banheiro na segunda-feira, quando ele novamente começara com um “eu queria falar com você...”, mas alguém abrira a porta no momento, e parecera que toda a sua coragem saíra correndo com as mãos na cabeça, aproveitando a chance.

Ele achava que Frank já devia estar desconfiado, mas, por Deus, ele precisava mesmo ser tão lento? Por que se ele se dignasse a perguntar, seria mais fácil dizer, sem dúvidas.

Quando a quinta-feira chegou, Gerard ainda não tinha conseguido levar nenhuma de suas tentativas a diante, e estava quase desistindo. Primeiro, por que seu orgulho estava começando a falar mais alto, dizendo que ele não podia simplesmente dar o braço a torcer sobre o assunto. E depois, por que, bem... Por que Frank parecia não dar a mínima para ele. Sorria-lhe nos corredores, por vezes lhe cumprimentava, mais nada. Ele sentia vontade de chamar a atenção do pequeno de qualquer forma, mas o seu bom senso não deixava.

Quando a sineta bateu, ele já estava desanimado, percebendo que era mais um dia perdido em sua conta. Atravessou os corredores sozinho, arrastando os pés, com a prova de biologia (com um grande F, em vermelho no topo) em uma das mãos, e a outra segurando a alça da mochila nos ombros. Assim que chegou ao estacionamento, viu uma coisa que lhe chamou mais atenção do que o necessário e pareceu injetar coragem direto na sua veia: o mesmo carro, o mesmo menino de cabelos compridinhos com uma mesma jaqueta de couro. E um mesmo Frank na ponta dos pés para unir os lábios dos dois.

Gerard bufou, amassou a prova e jogou na lixeira, descendo a escadaria do colégio o mais rápido que pode. Acenou em despedida de alguns amigos e foi caminhando com certa raiva nos movimentos até o casal, que conversava muito próximo agora. Tentando disfarçar seu nervosismo e sua raiva, pigarreou, atraindo os olhares para si.

- Ger? – Frank indagou, as sobrancelhas unidas.

- Hm, é – ele disse, e respirou fundo depois – tem um momento para mim?

- Bem, na verdade, não – o outro garoto respondeu, abraçando a cintura de Frank e dando um beijo em sua bochecha – estamos um pouco atrasados, se me entende – e sorriu.

Frank deu nos ombros, como se concordasse. Gerard encheu a boca de ar e soltou devagar, mexendo-se desconfortavelmente no lugar.

- Ok – murmurou, virando as costas – a gente se vê.

- Por que não passa lá em casa mais tarde? – perguntou Frank, afastando-se do abraço do outro, mas rindo das tentativas dele de impedi-lo – então poderemos conversar, sei lá. Ainda estou te devendo aquele negócio do Playstation três, não é mesmo?

Gerard assentiu e saiu andando, visto que sua glicose não agüentaria ficar mais um segundo que fosse perto dos dois. Nem seu ciúme.

É claro que toda aquela coragem que o menino sentira no momento de raiva havia misteriosamente sumido, mas ele conseguiu, de alguma forma, engolir seus receios e ir até a casa de Frank naquela noite. Obrigou seu corpo a deixar o carro e sair para a noite quente e estrelada que fazia lá fora, e atravessar o jardim do pequeno, em direção a porta. Esperando que Frank estivesse em casa, a fim de não perder a coragem mais uma vez, ele tocou a campainha. O silêncio e a escuridão pareciam exalar da casa, como se realmente não houvesse ninguém lá dentro, embora Gerard desconfiasse que a Sra. Iero estava. Tocou a campainha mais algumas vezes, sentindo a coragem vazar pela ponta dos dedos.

Por fim, quando toda ela já havia se esgotado, ele desistiu e virou as costas, resolvendo que era melhor mesmo que não falasse nada, já que Frank provavelmente riria da cara dele, visto que há dois meses atrás ele vivia xingando o pequeno por ser homossexual, e agora estava quase que no mesmo barco que ele. Quando estava quase em seu carro, porém, outro automóvel entrou em cena e estacionou em frente a casa. Aquele carro que Gerard odiava por que pertencia àquele garoto dos cabelos compridinhos e jaqueta de couro.

Bufou e desejou que tivesse resolvido ir embora um minuto antes, que fosse. Não o fizera, e agora não adiantava mais. Parou onde estava – no meio do jardim de Frank – e ficou esperando. O carro tinha os vidros escurecidos, de modo que ele não pôde ver o que acontecia lá dentro, mas logo Frank saiu pela porta do passageiro, fazendo sinal para que Gerard esperasse. Assim que o pequeno atravessou a rua, o carro arrancou e desapareceu na esquina.

- Ah, você veio! – Frank exclamou, andando rápido em direção a Gerard – eu achei que não viria.

Gerard grunhiu. O que ele faria agora? Toda a maldita coragem para abrir a boca havia sumido, ele ia dizer que estava fazendo o que ali?

- Hm, posso entrar? – indagou, tentando enrolar.

Frank contorceu a face e olhou para a porta de casa. Suspirou.

- Não sei...

Gerard franziu o cenho.

- Sua mãe ainda não melhorou? – Frank fez que não com a cabeça – eu acho que você precisa fazer alguma coisa para ajudá-la, Frankie...

- Tipo o que? – disse, com raiva, gesticulando mais do que o necessário – ela não me escuta! Eu falo! Você realmente acha que eu não estou tentando? Ela me ignora o tempo todo, eu não sei mais o que fazer com ela... – quando terminou, sua voz começou a embargar. Engoliu em seco a fim de se impedir de chorar novamente.

Gerard respirou fundo.

- Eu sei que deve estar sendo difícil. Mas, sem seu pai aqui, e com a sua mãe desse jeito, as coisas automaticamente passam a ser sua responsabilidade, por mais injusto que possa ser – Frank não respondeu, provavelmente por que sabia que Gerard tinha razão – eu acho que devia ir falar com seu pai.

Frank ergueu os olhos, os lábios levemente entreabertos. Analisou Gerard antes de responder:

- Eu não vou falar com meu pai! Você não sabe as coisas horríveis que ele me disse, isso está fora de questão – disse, categoricamente, virando as costas em direção a casa.

Gerard bufou. Tentar ajudar as pessoas era a coisa mais ingrata que existia. Elas sempre, de alguma forma, vão culpar você, mesmo que isso possa parecer impossível.

- Ok, Frank, mas sua mãe está assim por que sente falta dele. Se ele não voltar não vai melhorar – disse, alto o suficiente para que ele ouvisse do outro lado do gramado, o que fez com que ele parasse.

O silêncio se instalou por algum tempo. Frank permaneceu parado onde estava, de costas para Gerard, e este ficou observando o pequeno. Foi só quando percebeu que, de vez em quando, ele se contorcia em um soluço, que lhe ocorreu que ele estava chorando. Atravessou o Gramado rapidamente, passando as mãos pelos ombros do pequeno.

- Se quiser, eu vou com você – ofereceu a ajuda.

Dez minutos depois, ou talvez mais do que isso, os dois estavam no carro de Gerard, dirigindo-se ao hotel onde o pai do pequeno estava hospedado, segundo sua avó paterna, a quem eles haviam telefonado antes de sair. Gerard dirigia, prestando atenção ao caminho, visto que tinha que contar as ruas em que viraria. E Frank surtava no banco do passageiro.

- ... quero dizer, o que eu tenho que dizer a ele? Tipo, eu chego lá e falo: oi pai, volte para casa ou a mamãe vai definhar. Mas, mas, Gerard e se ele rir de mim? Pior, se ele disser que não? Não! Pior ainda, Gerard, e se ele nem quiser me ver? Ah, eu não quero fazer isso, Gerard volte... – quando chegava a esse ponto, Gerard se atrevia a murmurar algo como:

- Fique calmo, vai dar tudo certo – então Frank respirava e encarava a janela do carro por alguns segundos, antes de começar com tudo de novo.

 Esse ciclo se repetiu por cerca de meia hora, até que eles, finalmente, chegassem ao que deveria ser o hotel em que o pai de Frank estava. Era um prédio grande, todo espelhado por fora, com um jardim bonito na frente. Uma placa indicava que o carro deveria ser entregue ao manobrista antes que se pudesse ter acesso ao interior do prédio. Meio receoso por se tratar de seu carro, Gerard dirigiu até a frente do prédio, onde um dos caras grandalhões de óculos e fones de ouvido fez sinal para que ele abaixasse o vidro.

- Pois não? – o homem indagou com sua voz grossa assim que Gerard abriu a janela suficientemente.

- Oh, nós estamos aqui para ver o Sr. Iero – Gerard respondeu, visto que Frank ainda estava um pouco nervoso – é pai dele – apontou com o polegar para o pequeno.

O homem assentiu e logo os dois desceram do carro, que foi levado para algum estacionamento na parte de trás do prédio. Não sem antes observar o veículo desaparecer na noite, Gerard começou a caminhar em direção a porta frontal, com Frank calado ao seu lado.

O pequeno, se não havia se acalmado, estava disfarçando muito bem, visto que conversou civilizadamente com a moça da recepção, e até conseguiu não sair correndo quando esta interfonou para o pai. Este, ao que parecia, havia concordado em ver os dois, que foram indicados a subir ao décimo segundo andar, no quarto 597. Durante todo o caminho para o quarto, Frank permaneceu calado, porém bastante controlado. A única coisa que indicava seu nervosismo era o fato de que ele, ininterruptamente, batucava as mãos nas coxas. Era o que fazia quando, segundos após a campainha ser tocada, o pai apareceu na porta vestindo apenas uma roupa confortável e um roupão por cima, segurando uma xícara de café na mão esquerda.

Não sem antes olhar Frank de cima a baixo e lançar um olhar de desentendimento a Gerard, ele virou as costas, deixando a porta aberta, provavelmente para que os meninos o seguissem. O quarto era quase como um mini apartamento. Logo a direita havia uma pequena cozinha, com todos os apetrechos necessários, separada da sala por um balcão, onde havia algumas banquetas altas que serviam para que o mesmo fosse utilizado como uma mesa, também. Logo à frente disso, algumas poltronas de aparência confortável rodeavam uma mesa de centro onde vários jornais estavam espalhados. A cama ficava logo atrás de tudo – uma King Size com muitos edredons emaranhados em sua superfície – com uma porta, provavelmente a do banheiro – logo ao seu lado. Tudo era muito bem decorado e iluminado, dando ao lugar a aparência de um cenário de filme. Gerard se perguntou o quanto o Sr. Iero não estava pagando pela diária daquele local.

Quando terminou de analisar o quarto, reparou que o homem havia se sentado em uma das poltronas, e que Frank se encaminhava para a outra. Sentindo-se estranho com a situação, e a fim de não se intrometer num assunto tão pessoal e familiar, ele arrastou uma das banquetas da cozinha e ali se sentou, observando a cena como se não estivesse presente.

- Então, o que quer? – o homem indagou, curvando-se sobre o corpo para pousar a xícara, agora vazia, na mesa junto com os jornais.

Frank pigarreou e lançou um olhar para Gerard, como se pedisse para que este fizesse alguma coisa. O mais velho apenas acenou com a cabeça para que ele prosseguisse.

- É sobre a mamãe, ela não anda nada bem. Não sei mais o que fazer com ela – o pequeno explicou, meio nervoso.

O pai riu. Não. Gargalhou.      

- Bem, já que você estragou tudo, agora assuma as conseqüências – e sorriu doce ao final, suas atitudes contradizendo o que ele dizia.

Gerard teve vontade de dizer poucas e boas para ele, mas Frank o fez por si mesmo.

- Eu não ‘estraguei tudo’, e você sabe que não. Vocês dois estragaram tudo, e tudo que eu fiz foi mostrar isso a você, já que você se negava a ver isso, que estava bem a sua frente – ele levantou-se da poltrona – e você só diz isso por que é incapaz de assumir a culpa por qualquer merda que tenha feito.

Ele já se dirigia para a porta, o que deixou Gerard em um conflito interior. Não sabia se devia levantar-se e seguir o menino, ou se devia segurá-lo e fazê-lo dizer o que ele tinha de dizer. Enquanto seu olhar ia do Sr. Iero para Frank e para o Sr. Iero novamente, o homem levantou-se e soltou:

- Espere.

- Sim? – Frank disse, virando-se. Uma de suas sobrancelhas estavam erguidas e nada em seu corpo demonstrava nervosismo. Gerard pensou que talvez, quando nervoso demais, ele perdesse o controle sobre si mesmo.

- O que me é suposto fazer?

- Bem, a mamãe está definhando. Ela não quer levantar, não quer comer, não quer nada. E talvez seja por que se sente culpada. Ou por que sente sua falta. Ou por qualquer outra coisa, sei lá. Mas o fato é que, definitivamente, tem a ver com você – ele disse, parecendo nem sequer pensar no que dizia – então eu acho que você devia assumir a responsabilidade, que é sua, e ir conversar com ela.

Vinte e sete minutos depois, Frank estava novamente no banco do passageiro do carro de Gerard, enquanto este dirigia. Ele sentia como se um peso tivesse sido tirado de suas costas, apenas por que, se olhasse pelo retrovisor, veria o carro do pai seguindo-os em direção a casa. Depois de xingar e praguejar muito, ele concordara em conversar com a esposa. Frank não sabia se as coisas seriam melhores. Não sabia se os dois voltariam a se dar bem. Não sabia como, agora tendo conhecimento da orientação sexual do filho, o pai agiria. Não sabia, mas não estava se preocupando, tampouco.

Ele estava realmente aliviado por saber que ele poderia voltar a entrar em casa sem ter medo de que sua mãe tivesse feito alguma besteira enquanto ele estava fora, e isso pagava qualquer preço que tivesse ter o pai de volta em sua vida. O pequeno foi acordado de seus devaneios por Gerard, que desligara o carro. Percebeu que já estavam à frente de sua casa, e que seu pai estacionava logo atrás deles.

- Vem? – perguntou ao mais velho.

- Hm, Frank, acho que é um momento muito íntimo, não quero me meter nem nada – explicou. Frank assentiu, vendo um pouco de razão nas palavras de Gerard.

- Mas não vá embora, sim? Fique me esperando aqui.

O maior grunhiu em concordância. Ele esperava poder ligar o carro e sumir da frente da casa antes que o pequeno tivesse tempo de se perguntar o que ele viera falar com ele ali. Ele podia fazer isso, mas enquanto o menor ia ao encontro do pai, do outro lado da rua, sua mão se negava a alcançar a chave na ignição. Mas foi super rápida ao ligar o rádio em uma música qualquer a fim de quebrar seu nervosismo.


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Notas finais do capítulo

Só queria lembrar que a história acaba no Capítulo 17, então já estamos meio que na ~~reta final~~ hehe. Só mais cinco capítulos pro fim.
Enfim, é isso. Obrigada novamente, espero que gostem de ler e assim que possível eu atualizarei novamente.