Sobre Metal e Sangue escrita por JojoKaestle, LudMagroski


Capítulo 10
A Morte me deixa pra trás (mais uma vez)




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Partimos na manhã seguinte, Edda e Danton me acompanhando no transportador do exército – porque Rhes os convidara e Edda disse que era impossível negar qualquer coisa a ele - enquanto Zahra e Erwan foram em um dos veículos menores. A viagem era extremamente longa e conseguia parecer maior ainda com a capacidade de contar histórias que Edda tinha, mas eu não me surpreendia, qualquer um que tivesse sido criado no meio do deserto, mudando de um lugar para outro e fugindo de exércitos teria muitas histórias para contar, e Edda tinha sido uma das primeiras habitantes daquele acampamento. De repente me lembrei da minha vida em Nantes, ou antes, em Annecy do Norte, e tudo me pareceu extremamente distante e nebuloso, como se aquela calmaria e estabilidade fossem parte de um sonho distante, agora que eu nem sequer lembrava qual a sensação de acordar de manhã para ir à escola, tomar um banho todos os dias ou comer alguma coisa que não fosse enlatada...

– Auch, a Primeira e Última cidade! – Edda gritou, me tirando dos meus devaneios, enquanto acertava com força o botão na parede do transportador.

– Edda, tente não terminar de quebrar nossos equipamentos, sim? – Danton suspirou sem tirar os olhos do livro que estava lendo: “O Manual dos Transportadores WS-35: conhecimentos sobre funcionamento e reparos”, a propósito.

– E de que você vai nos servir quando não houver mais nada a ser consertado? – Edda imitou as expressões e gestos de Erwan e estirou a língua para ele, pondo as mãos na cintura, a parede metálica dando lugar ao pôr do sol atrás da maior cidade que eu já tinha visto na vida. As fábricas eram enormes, com chaminés excepcionalmente altas formando uma espécie de floresta negra no centro da cidade, para onde vários viadutos com até sete, oito pistas fluíam, a maior parte deles destruída, fazendo com que parecessem longos dedos negros agarrando o céu. As áreas que circundavam o centro eram compostas principalmente de edifícios e torres de abastecimento que se estendiam até o horizonte, e pude notar que os prédios mais próximos eram mais luxuosos - exibindo resquícios do que eu acreditava serem jardins particulares - enquanto os mais afastados pareciam minúsculos, apertados e desconfortáveis. A sombra de um grande rio serpenteava através da cidade, e em apenas uma das extremidades – onde uma lembrança fraca e suja do que um dia devia ter sido o rio ainda corria – vestígios de grandes campos de cultura se percebiam, estando as hastes enferrujadas do que um dia foram estufas erguidas como esqueletos velhos e grandes máquinas de irrigação destruídas sobre eles. A areia havia invadido as ruas de Auch, o que, junto com os montes de entulho deixados pela guerra, não permitia o trânsito dos transportadores, Danton me explicou.

A maioria de nós ficou esperando nos campos enquanto um grupo de busca liderado por Berthe entrou na cidade à procura de um local apropriado para montarmos o acampamento. A cidade era bastante grande, por isso foi decidido que ficaríamos em uma praça entre prédios comerciais, onde teríamos a proteção das construções contra o vento e o frio e ficaríamos fora da visão de qualquer grupo de fora da cidade. Foi preciso bastante tempo pra que o transporte da carga dos transportadores e dos veículos fosse feito até a praça e mais tempo ainda para que todo o acampamento fosse erguido. A maioria das pessoas estava cansada demais quando tudo terminou de ser aprontado, por isso Rhes enviou seus subordinados para que pudessem ter uma localização prévia dos recursos que iriam buscar, já que todos pretendiam passar o menor tempo possível ali antes de seguir viagem, pois ninguém montava acampamento em Auch sem terminar por chamar a atenção do Novo Governo. O grupo voltou com as notícias já esperadas: o acesso à maioria das fábricas e ruas estava impedido por demolições, mas a boa notícia era que Auch era grande demais até para os L.O.P. e alguns depósitos e prédios comerciais haviam sido deixados para trás sem grandes obstáculos.

– Aqui. – estendi uma lata de pêssego em calda para Zahra – Onde estão os outros?

– Erwan está conversando com Berthe – se afastou me dando espaço no banco –Edda deve estar ajudando Danton a colocar Sylvie para dormir.

– Achei que ela seria a primeira na fila quando Berthe anunciou comida extra depois do trabalho duro. – me recostei, olhando a fonte seca no centro da praça.

– Verdade. – Zahra sorriu discretamente, seu olhar se perdendo na embalagem a lata por alguns segundos – São comuns no meu país. Os pêssegos.

– Edda sabe disso? Acho capaz ela convencer Berthe a mudar nossa rota para Almeidna.

– Almeidna... Meu pai dizia... – os olhos verdes da garota pareciam ter notado algo muito interessante nos ladrilhos poeirentos – Dizia que antes, bem antes de ele mesmo nascer, as árvores nasciam naturalmente, não precisavam das estufas de produção. Você poderia sair na rua e pegar um pêssego ou um damasco para comer, porque eles teriam nascido e crescido ali, sem cuidado algum.

– Tia Sybil uma vez me contou que havia pássaros em quase todos os lugares e dava para ouvi-los cantando todas as manhãs e ao entardecer, mas isso era quando a maioria das casas tinha jardins e as plantas cresciam sem que se precisasse tratar o solo e a água... - enfiei um pêssego na boca, a calda escorrendo pelo meu queixo, eu nunca aprenderia a comer aquilo apropriadamente – Eu queria saber, Zahra... Como veio parar em Rouen?

– Eu tinha dez anos e me perdi no deserto. O grupo que viajava com Erwan me encontrou. – manteve o olhar nos ladrilhos, a voz de repente seca, a velha estrangeira de costume voltando à tona.

– E você nunca pensou em, não sei, voltar?

– Por que você não volta para Annecy do Norte? Não há mais nada para mim em Almeidna. - Zahra finalmente me encarou e seus olhos afiados me fizeram perceber que começava a entrar em território proibido. Já se levantava quando Berthe se aproximou sugerindo que fôssemos dormir, pois já era tarde, ela disse, e o dia seguinte iria ser difícil para todos nós. Eu não fazia idéia do quanto ela estava certa.

Acordei com o peso da tenda desabando sobre minha cabeça e o som inconfundível que se mostrara presente tanto nos meus pesadelos como nos meus dias: o som de metal se rasgando e pessoas gritando desesperadas. Desvencilhei-me o mais rápido que pude do tecido e das armações e engatinhei para o lado de fora, onde pessoas corriam sem direção definida, algumas tentando levar crianças, outras tentando lutar, robôs soldados com seus grandes olhos-faróis brancos surgindo de todos os lados da praça e destruindo tudo que havia pela frente. Demorei alguns segundos para me situar no frenesi de sons e luzes.

– Deidre! – Danton chamou minha atenção a uns vinte passos de mim e me atirou um dos bastões de luta que usávamos nos treinos. O apanhei no chão e apertei o dispositivo no centro, mas no lugar de se alongar como o bastão inofensivo costumeiro o objeto se alongou em uma lâmina negra.

Deidre! – o chamado mais aflito me fez levantar o olhar da lâmina para ver o robô se aproximando com velocidade até mim. “Nas juntas.”. A lembrança da voz de Zahra nos treinamentos enquanto ela acertava minhas articulações sem piedade encheu minha mente enquanto eu me atirava para frente e me abaixava, e a lâmina atravessou o joelho do soldado como papel, fazendo-o rolar sobre mim com impacto. “Agilidade e precisão.” ela repetiu “Máquinas não sentem dor. Se quiser sobreviver, destrua-as o mais rápido que puder.” Girei enquanto me levantava, afundando a lâmina na cabeça do robô no momento em que se erguia e ele caiu depois de um leve estalar, apagado. Arranquei a lâmina com alguma dificuldade e olhei ao redor: as pessoas que corriam levando crianças tinham conseguido se afastar da luta e procuravam abrigo nas partes térreas dos prédios comerciais, mas a maioria do acampamento se encontrava dispersa na praça, lutando, apesar de o número de robôs soldados parecer ser o dobro do de humanos. Senti a adrenalina e a euforia se acumularem no meu peito e quis gritar, mas o som de um saltador aterrissando no meio da praça me fez esquecer a euforia-do-primeiro-oponente-derrotado: os ladrilhos da praça afundaram e uma fina cortina de poeira se ergueu quando boa parte das barracas e das pessoas – e robôs – caíram com o impacto. Corri mais rápido do que minhas pernas podiam permitir no meio da avalanche de pessoas que agora tentava se esconder ou deixar a praça. Gritei por meus amigos enquanto corria, apenas me calando quando uma nuvem de areia elevou-se e boa parte dela entrou pela minha garganta. Parei tossindo, os olhos começando a lacrimejar e tornando minha visão um borrão de luzes na penumbra. Alguém me acertou de lado e eu tropecei, desequilibrada, mas antes que pudesse cair uma mão me envolveu por trás e me apoiou, me arrastando para o estacionamento de uma das construções há uns vinte metros da praça.

– Rhes... – sorri, afobada, sentindo minhas mãos suarem.

– Deidre, fique onde está. – ele olhava por trás de um pilar para o lugar de onde tínhamos saído, onde pessoas gritavam e, pelo barulho, eu imaginava que o saltador estava derrubando um prédio. O estacionamento era grande e por algum motivo ainda continha muitos veículos, o que era uma vantagem. Escondida na escuridão do lugar eu podia ver os robôs avançando para os prédios onde a maioria das pessoas tentava se esconder, aparentemente eles não haviam nos notado.

– Auch não deveria estar vazia? – me apoiei atrás do pilar e toquei seu braço para chamar sua atenção.

– Nós fomos traídos. – Rhes finalmente me encarou e seu rosto tinha uma expressão tão grave que eu soube naquele momento que estávamos perdidos. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas e ele segurou meu rosto entre suas mãos – Deidre, escute. Pelo menos desta vez, escute. Corra para o transportador, o mais rápido que puder, leve o maior número de pessoas que conseguir. – tirou a capa velha dos ombros e a envolveu nos meus.

– Não – delicadamente afastei suas mãos – Eles estão em maioria, eu vou com você – mostrei a lâmina escura – Zahra me ensinou, não sou mais uma completa inútil.

– Não é questão de utilidade, Deidre. – Rhes virou-se como quem escuta alguma coisa, mas pareceu desistir da idéia e se voltou para mim novamente – Podem derrotar soldados com algum treino, mas um R.E.S. já seria suficiente para machucá-los, e aqui estamos lidando com L.O.P.s e saltadores.

– Nós derrotamos R.E.S.s em Tulle. – ergui uma sobrancelha, orgulhosa.

Rhes ia responder alguma coisa, mas virou-se abruptamente no momento em que um robô surgiu há alguns passos de nós. Ouvi o típico estalar da arma e o disparo veio na direção de Rhes que desviou por pouco com seu sabre, fazendo a lâmina voar longe e desaparecer na escuridão. O soldado apoiou a arma para atirar uma segunda vez quando Rhes avançou sobre ele, o corpo do inimigo se chocando contra o pilar, a mão pressionando sua cabeça com força, enquanto o robô atirava às cegas. Abaixei-me instintivamente – não que fosse adiantar muito – e os disparos subitamente cessaram. Um dos tiros acertara Rhes, porque ele afastou-se mancando de uma perna e o robô caiu no chão, com o metal da cabeça completamente deformado pela pressão de sua mão. Mais robôs surgiram o outro lado do estacionamento, correndo entre os veículos, disparando em nossa direção, e com eles um L.O.P. que sorriu ao ver Rhes.

– Vá, Deidre! – se virou para os inimigos e uma arma compacta pareceu sair de dentro de seu antebraço, surgindo entre a manga do uniforme e seu pulso. Continuei firme no mesmo lugar e ergui minha lâmina, pronta para a batalha. Rhes se virou ao perceber que eu continuava lá e parou por um instante, suspirando pesadamente, em seguida me erguendo em um dos braços com agilidade e correndo em disparada para longe do estacionamento.

– O que está fazendo? – tentei gritar enquanto era carregada para fora do estacionamento e seguia rua acima na direção dos campos, vendo o grupo liderado pelo L.O.P. nos seguir tão rápido quanto podiam. Nossa velocidade diminuiu quando nos deparamos com uma rua bloqueada por um monte de concreto e ferro retorcido, o que deu tempo para um dos soldados ajustar a mira e disparar na nossa direção. Afundei a cabeça no pescoço de Rhes quando o disparo veio e senti o corpo dele se deslocar brevemente para frente, o suficiente para fazê-lo cair de joelhos do outro lado de escombros.

– Você está bem? – perguntei alarmada, me soltando de seus braços que haviam me mantido erguida mesmo quando ele caíra – Rhes, precisamos ir, vão nos alcançar...

Ele se ergueu com dificuldade e vi que sua perna esquerda tremia como se fosse incapaz de suportar o peso do corpo. Enfiei a mão no bolso do casaco, esperando que o toque na fotografia de meus pais me desse alguma esperança, porque os olhos cinzentos de Rhes só me mostravam o quanto tudo estava perdido... E se nem ele conseguia fingir que as coisas iam terminar bem, era porque realmente não iam. No lugar do papel liso meus dedos encontraram o frio do metal e eu os fechei sentindo a pequena bola se acomodar na minha mão. Bombas de fumaça. Edda as tinha me dado para treinar com os explosivos porque elas não causavam grande dano, mas ainda eram úteis quando uma fuga rápida era necessária. Ativei duas delas, as atirando sobre os escombros e segurei a mão de Rhes, correndo o mais rápido que a perna ferida dele deixava – o que não era muito – para os velhos campos de cultivo onde os transportadores estavam. Pude ver pelos esguios e tímidos tons de rosa que o sol começava a nascer no horizonte distante, mas atrás de nós a cidade estava coberta pela noite, pelas chamas, pelo desespero e a morte. Imaginei se todos que eu conhecia estariam bem, se estariam de alguma forma conseguindo resistir, mas meus pensamentos foram afastados quando Rhes caiu de súbito no meio do campo. O puxei do melhor jeito que podia para trás de uma das grandes máquinas de irrigação e deitei sua cabeça em meu colo.

– Não posso mais continuar. – disse simplesmente, segurando minha mão entre seus dedos delicados.

– Você não precisa, nós vamos ficar bem. Eles vão consertar sua perna, do mesmo jeito que fizeram com seu braço e...

– Deidre. – Rhes me calou – Eles não podem me levar... O sistema vai se desligar em alguns minutos.

Só fiquei olhando para ele, como se não pudesse entender o que estava acontecendo, mas eu entendia muito bem. Lágrimas desceram pela minha bochecha, mas eu as afastei e engoli em seco, tentando fazer minha voz soar natural.

– Você... Você tem que ser forte.

Rhes sorriu e foi como se meu coração tivesse se partido em milhões de pedacinhos. Ele tirou uma pequena engrenagem preta de dentro de um dos bolsos e a apertou em minha mão.

– Essa peça tem todas as informações que você precisa. – pôs um dos dedos sobre meus lábios, quando tentei protestar – Abra-a quando estiver sozinha e mostre-a para meus subordinados, mas não deixei que ninguém além de você saiba do que está nela. Vai entender, mas agora não há tempo... Só... – me olhou nos olhos – Prometa.

– Eu prometo, prometo, nem que seja a única promessa que cumprirei em minha vida. – Rhes pareceu aliviado - Você tem certeza de que... – fechei a mão com força em volta da engrenagem, as lágrimas correndo com tanta avidez sobre meu rosto que sequer podia enxergar Rhes propriamente – Eles não podem ligar o sistema novamente... quando tudo estiver bem?

– Não, Deidre... – sorriu tristemente – Você vai ter que ser forte... mais uma vez.

– Por favor, por favor, não me deixe sozinha. – minha voz não passava de um sussurro embargado, uma lágrima correu pela minha bochecha e caiu sobre a testa de Rhes, a limpei com dedos trêmulos e afundei minha cabeça na sua nuca. A alvorada brilhava através das cortinas de lágrimas, o dia nascia, alheio a dor que entorpecia meu corpo. – Sabe de uma coisa, Rhes? Eles dizem que robôs não sentem e que por isso não devem despertar nada nas pessoas. Como pode ser que sinto como se estivessem arrancando o coração do meu peito?

Rhes enlaçou sua mão na minha.

– Simuladores de emoções danificados. – sentenciou depois de um tempo com seriedade e deixou um pequeno sorriso escapar de seus lábios – Sinto muito, Deidre, você terá um caminho tão longo pela frente e as coisas acabaram tão fáceis para mim que me envergonha.

– Levar tiros tentando proteger uma garota idiota não parece fácil.

– É fácil porque você está aqui, no final. No meu final. – desta vez fui eu que o silenciei. Beijei-lhe a testa com delicadeza como despedida e aconcheguei sua mão na minha. Mordi os lábios com tanta força para não irromper em um choro alto que a pele ressecada arrebentou. Não sei quanto tempo passamos ali, só lembro-me do gosto férreo na minha boca e que segurava a mão de Rhes cada vez mais forte, aterrorizada.

– Deidre? – sua voz interrompeu a minha dor e o olhei cheia de esperanças. Ele diria que estava na hora de irmos para os transportadores. Diria que já gastamos tempo demais naquele deserto pedregoso e destruído, diria que é hora de ir para casa, que o orvalho da manhã me faria pegar um resfriado. - Obrigado – e seus olhos cinzentos perderam a luz, os dedos lentamente se desprenderam dos meus. Fiquei olhando para o rosto dele, parte de mim querendo que seus olhos piscassem mais uma vez, parte de mim sabendo que isso nunca mais aconteceria. O aperto em minha garganta se tornou forte demais para suportar e me debrucei sobre ele, deixando que as lágrimas lavassem meu rosto enquanto os soluços sacudiam meu corpo cansado. “Estou cansada de ser forte, droga!” gritei contra seu peito, tão alto que senti minha garganta se rasgar, e chorei mais uma vez, sem me importar se o mundo acabava ao meu redor.


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Notas finais do capítulo

Sorry.

Joana

[Lud: http://www.youtube.com/watch?v=Da6bBKLPEGg Essa música representa esse momento da vida de Deidre. Escutem e chorem conosco.]



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