POV LUCAS

-Droga! Droga! – Gritei, socando a parede. Eu havia estragado tudo! Um simples detalhe botoutudoa perder.

Dias, semanas, meses tentando me aproximar dela e só porque eu perdi o freio umaúnicavez tudo foi por água a baixo.

Eua queria. Era mais do que atração. Eu estava obcecado. Sim, eu admito.

Mas agora eu não conseguiria mais me aproximar. Aquele idiota ficaria como guarda atrás da namoradinha. E nem mesmo ela gostaria de me ver. Duvido muito.

Eu precisava achar outra saída. Algum jeito de me aproximar por intermédio de alguma coisa.

Peregrina ainda seria minha. Nem que tenha de ser a força.

Mas como? Essa era a questão.

Nada que eu tinha pensado agora poderia dar certo. Planos ridículos, idiotas, medíocres! A menos que...

Uma risada baixa e assombrosa partiu por entre meus lábios e joguei-me nunca pequena poltrona, esfregando as mãos uma na outra, satisfeito com a idéia que me acabara de ocorrer.

Eu já sabia o que fazer. E ambos ganharíamos nessa partida.

Ian, Ian... Você perdeu, meu caro.

POV PEG

Acordei pela manhã sentindo meu corpo muito mais leve. Há tempos que eu não dormia desse jeito; a noite passada foi ótima para renovar as forças.

Ian ainda estava adormecido ao meu lado, de barriga para cima. Levantei-me e peguei uma muda de roupas na gaveta da direita, aproveitando para ir tomar banho antes que a fila ficasse grande demais.

Bocejei e fechei a porta atrás de mim.

Poucas pessoas já estavam acordadas. Eu normalmente era uma das primeiras.

Isaiah, que estava sentado num cantinho perto da sala de banhos junto com a mãe me viu e correu em minha direção. Eu agachei e abri os braços para receber seu doce abraço.

O garotinho estava crescendo rápido. Com a pouca idade que tinha, podia ser considerado mais velho por causa da altura.

-Bom dia, Peg – Lucina disse.

-Bom dia – Lancei um sorriso e ela o retribuiu.

Depois de passar pelas pessoas cumprimentando-as, cheguei ao breu da sala.

Tomei um banho rápido e fui para a cozinha - logo depois de deixar a muda de roupas suja na cesta do quarto - sabendo que Ian estaria lá.

Passei pela porta e deparei-me com Ian conversando animadamente com Fernanda. Isso fez com que eu me enchesse com um sentimento que parecia serciúmes.

Eu sabia que era ridículo, mas não pude conter. Marchei na direção deles e, com uma ousadia inesperada, colei minha boca à de Ian, surpreendendo-o com a intensidade do beijo.

-Peg... – Ele murmurou confuso por entre meus lábios, o que me fez apenas apertá-lo mais contra mim, separando-nos em seguida.

-Hã... Bom dia, amor – Ian disse desconcertado, coçando a parte detrás da cabeça.

Eu ri baixinho.

Sentei-me ao seu lado e notei pela expressão de Fernanda que ela não sabia para onde olhar.

Seus olhos me fulminaram de repente com um assombro, como se eu não fosse bem vinda ali. 

Desviei o olhar, sem dar importância.

Ficamos mais um tempo à mesa e depois retiramo-nos. Eu podia sentir no ar a raiva de Fernanda; sabia que ela me detestava, mas não tinha ideia do motivo.

-Peg, Ian! – Jamie gritou, correndo em nossa direção – Mel e Jared querem fazer um comunicado! Vamos!

Eu e Ian nos entreolhamos, surpresos.

Ele deu de ombros e seguimos Jamie, que nos levou até o quarto dos dois.

Entramos e Melanie nos lançou um sorriso.

-Sentem! Temos uma noticia para dar. Queríamos que fossem os primeiros a saber, mas com uma condição. – Ela disse.

-Condição para o que, Mel? – Ian perguntou.

Jared lançou um olhar recíproco a ela e anunciou:

-Nós vamos nos casar.

Ofeguei e minhas mãos voaram para minha boca. Um sorriso de felicidade se formou nos meus lábios.

-Isso é incrível! – Disse e levantei-me para abraçar Melanie. – Ah, minha irmã! – Demos risinhos cúmplices – Parabéns!

Ian e Jared se abraçaram e Ian felicitou da mesma forma que fiz com Mel, desejando felicidades.

-Jared! Isso é ótimo! – Abracei-o – Eu desejo tudo de bom para vocês, de coração!

-Obrigado, Peg! Não sabe como eu agradeço a você por tudo que fez para nós. Você é a melhor amiga que alguém pode ter.  

Ele sorriu.

-Bom, mas e aí, quando vai ser o casório? – Ian perguntou alegre.

-Vai demorar um pouquinho para organizar tudo, e ainda não falamos com Jeb. Será algo bem simples, com certeza. Jamie ficou encarregado de chamar todos à sala de jogos para anunciarmos. – Mel respondeu.

Admirar a expressão de minha irmã. Os olhos brilhando, a pele rosada, o sorriso nos lábios. Era perfeito saber que tudo tinha dado certo para ela e Jared depois do que ambos passaram.

-Mas tem uma condição. – Jared falou.

-Que condição? – Perguntei.

-Vocês dois serão nossos padrinhos de casamento. Topam?

-É claro! – Meu sorriso aumentou e a abracei novamente.

-E você Ian? – Perguntou Jared.

-Acha mesmo que eu diria não como resposta? – Ele riu e os dois se abraçaram.

Alguns minutos mais tarde, Melanie e Jared anunciaram para todos a noticia. A pequena sala encheu-se de murmúrios felizes e alegres e os noivos foram cumprimentados por todos.

À noite, na hora do jantar, Jamie não parava de falar um minuto sequer. Ele parecia absorver a animação de todos os presentes, e muitas vezes ri com a sua agitação.

Quando terminei de comer, Mel e eu fomos até a praça para conversar.

-Mel, você não tem idéia de como eu estou feliz! É tão bom vê-la desse jeitinho!

Ela riu.

-Eu não poderia estar mais contente! Não há nada nesse mundo que eu ame mais do que Jared.

-Eu entendo, disso você pode ter certeza.

Ela riu.

-Você vai nos ajudar, não é? Preciso muito de você, Peg!

-É claro! Pode contar comigo.

Ela uniu nossas mãos.

-Obrigada, minha irmã. Não sei o que seria sem você. – Ela sorriu e eu a acompanhei.

A caverna era só festa. Jeb liberou todo o espaço que fosse cogente, contentando-se pela sobrinha.

Logo começaríamos a preparar tudo.

Já estava tarde e as pessoas começavam a se preparar para dormir. Eu e Ian rumamos para nosso quarto depois de nos despedirmos dos outros. Amanhã precisaríamos acordar cedo.

Ele virou para o lado enquanto eu trocava de roupa e fiz o mesmo depois. Deitamos em nossa cama e Ian me deu um beijinho de boa noite.

-Durma bem – Eu disse. – Sonhe com os anjos.

Eu ri.

-Pra que sendo que posso ver um bem aqui, na minha frente?

Sorri e o abracei.

-Eu te amo.

-Também te amo – Ian falou e caí na escuridão.

Enquanto beirava a inconsciência, uma imagem invadiu minha mente. Nela, varias cores indistintas passavam feito borrão, numa velocidade alucinante. Eu conseguia ouvir alguns gritos de socorro, mas não sabia ao certo a quem pertencia àquela voz. Então, o cenário mudou. O colorido passou a ser preto, e as vozes baixas, tornaram-se altas e reconhecíveis. Era Ian e Jamie. As trevas inundavam aquela imagem junto com o negro e o cinza.                                                                     

Eu assistia como telespectadora um homem procurar por alguma coisa, e embora não soubesse do que se tratava, um frio percorreu minha espinha quando tive a certeza de que era algo lúgubre. As vozes suplicantes não davam trégua, e senti que caia em um profundo abismo. Em meu subconsciente, gritei. A altura fazia com que eu aderisse uma velocidade cada vez maior e no momento em que eu atingi as pedras fixadas no chão, ao invés de morrer com a queda, finquei meus pés no sólido como se nada tivesse acontecido. O rio corria calmamente em frente à floresta, mas mal dava para vê-lo por causa da noite. De repente, aquele mesmo homem encapuzado retornou, saindo de dentro das arvores. Ele se aproximava lentamente; eu queria correr, fugir, mas estava paralisada de medo. Então, Ian apareceu ao meu lado, do nada. Sua expressão implorava por ajuda e sua boca movimentou-se num‘’por favor’’que me aterrou. O homem correu até nós e perfurou o peito de Ian com uma faca, desaparecendo em seguida. Eu caí no chão e minha mente viajou de novo, dessa vez, retornado a consciência.

Sentei-me de súbito, arfante e gritei sem querer. Tudo estava negro, não conseguia enxergar um ponto de luz sequer. Levei a mão ao peito, constatando que o ritmo do meu coração era tão igual quanto o da respiração.

-Peg? – Ian chamou alarmado, tateando os lençóis a minha procura.

-Estou aqui – Minha voz se quebrou na última palavra. Eu estava tão aterrada que mal conseguia me pronunciar direito sem gaguejar.

-O que foi? O que houve, amor?

 Mas em vez de responder, respirei fundo uma, duas, três vezes, tentando me controlar. Eu chegava a tremer de medo.

Senti Ian apertar minha cintura para me trazer mais para trás, de modo que eu ficasse sentada entre suas pernas. Repousei minhas costas em seu peito.

-Peg, o que aconteceu? Teve outro pesadelo?

Afirmei com um gesto de cabeça e Ian me abraçou.

-Não foi real, minha linda. Está tudo bem agora, eu estou aqui.

Apertei sua mão.

-Fique. Fique comigo.

-Eu estou aqui. E não vou a lugar nenhum, não sem você. Respire fundo.

Fiz o que ele pediu e repeti para mim mesma que tudo não passara de um pesadelo muito pior do que aparentara.

Em alguns minutos, estava mais tranquila. Ian apenas esperou que eu me acalmasse, prendendo-me com as mãos para que ficasse bem claro de que ele estava ali.

-Melhor? – Perguntou.

-Sim. Me desculpe por tê-lo acordado.

-Não faz mal, amor. Se acontecer de novo, me acorde, está bem? Esses pesadelos idiotas vão ver só se te perturbarem novamente.

Eu ri.

-Quer que eu fique acordado até você pegar no sono?

-Obrigada, amor, mas não precisa. Foi só um sonho.

-Está bem, então. Qualquer coisa me chame. – Embora não pudesse ver, senti a presença de um sorriso em sua voz.

Sorri também e me deitei ao seu lado novamente. 

Amanhã seria um longo dia...