Fome Insaciável escrita por Shadow


Capítulo 22
Finding a new home?


Notas iniciais do capítulo

Faz muito tempo, hum?
Enfim, espero que gostem....



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P.O.V Livy

Eu andava de um lado para o outro pensando em como me metera naquela situação.

–Talvez seja carma- murmurei pensativa –ok, nós vamos passar por isso.

Ou não. A voz traidora em sua cabeça sussurrou nervosamente. Tudo estava bem, considerando que seu antigo grupo havia sido massacrado por uma gigantesca horda de zumbis. No entanto três dias após isso ela e os outros sobreviventes estavam perdidos, houve uma emboscada no meio da estrada e agora eles haviam perdido tudo o que tinham (incluindo suas armas e mapa) infelizmente isso tinha acontecido em uma estrada desconhecida e que aparentemente os levava para lugar nenhum. Absolutamente perfeito!- pensou sarcasticamente.

–Então... -começou Rafael, mas foi rapidamente silenciado pelo meu olhar que prometia uma morte lenta e dolorosa.

A gasolina havia se acabado há alguns momentos atrás e todos estavam jogados em pontos aleatórios da estreita estrada de terra interminável que havíamos escolhido seguir para evitar os zumbis e outros possíveis assaltos.

–Devemos montar um acampamento. – sugeriu Donnie que estava deitado sob o capô do caminhão com um olhar perdido fintando o topo da cabeça de Amélia que estava sentada em frente ao para-choque.

–Sim – concordei observando o pôr-do-sol. –Vamos entrar na mata e procurar um lugar mais coberto.

–Eu vou procurar um lugar. – disse Sebastian se levantando do semicírculo que fizemos ao redor de Amélia e espanando a poeira que se agarrava em sua calça. – já volto.

Nós esperamos a volta de Sebastian em silencio total, ninguém tinha assunto ou algo produtivo para compartilhar, pareceram horas ate a volta de Sebastian, mas provavelmente foram apenas poucos minutos.

–Encontrei um lugar razoável perto daqui.

–O que quer dizer com razoável? – perguntei.

–Teremos a cobertura das arvores, mas ainda vamos poder ver o que acontece ao nosso redor.

–Ótimo, vamos.

Todos pegamos o que restava de nossos pertences e o seguimos, a lua já estava alta quando terminamos de montar nosso acampamento improvisado que consistia em apenas dois colchonetes extremamente finos e um lençol furado. Exaustos e famintos ficamos parados observando as chamas consumirem a madeira.

–Aonde você vai? – perguntou Victor quando me viu levantar.

–Caminhar. – respondi e me afastei o máximo que pude dos outros.

Sentei-me em um tronco caído e comecei a pensar no que poderíamos fazer para continuar a sobreviver, não tínhamos comida, nem gasolina, a pouca agua havia acabado e estávamos sem armas, apenas umas facas de caça que não serviriam de muita ajuda se fossemos atacados. –Bem...eles na verdade. – pensei sarcasticamente ao lembrar-me de meu status como rainha zumbi.

–Por que tão sozinha?

–Oi, Ian.

Ian sentou-se ao meu lado e colou o braço sob meus ombros me apertando contra seu lado. Eu gostava da sensação que meu corpo tinha ao toque dele, sorri abraçando-o pela cintura.

–Queria pensar.

–E não daria para pensar estando conosco? – perguntou sorrindo, apesar de seus olhos transmitirem a seriedade da pergunta. Franzi as sobrancelhas pensando em uma resposta.

–Acho que não... – comecei – não conseguiria pensar com todos parecendo tão miseráveis e famintos...

–Verdade. – concordou relutante – mas vamos superar isso.

–Espero que sim.

–Nós vamos! – afirmou com severidade – como sempre fizemos.

–Sim.

Ficamos em silencio por alguns instantes apreciando estar nos braços uns dos outros.

–Você reparou?

–Em que?

–É a primeira vez que estamos completamente sozinhos desde aquele dia na farmácia.

–Ah. – balbuciei corando ao lembrar- me do que havia acontecido e ele riu.

–O primeiro momento a sós que temos desde que começamos a namorar.

Soltei uma risadinha/engasgo de nervosismo, ele tinha razão, além disso, não havíamos nos beijado nos últimos três dias por estarmos enjaulados com os outros na parte traseira do caminhão saindo apenas para saciar nossas necessidades e banhos rápidos (suspeito que só para o fim de não morrer por conta do fedor).

–O que gostaria de fazer? – perguntei. Ele me deu um olhar e arqueou a sobrancelha esquerda como se me perguntasse: Sério? Senti meu coração bater mais rápido e minhas bochechas esquentarem.

Ian se aproximou lentamente como se soubesse que eu estava extremamente nervosa, nossos lábios se encontraram no meio do caminho e se moldaram, logo estávamos nos beijando loucamente e me encontrei sentada em seu colo.

–Livy? Ian? – ouvi alguém nos chamando e gemi em desgosto e descrença.

“Por que logo agora? Pensei raivosa.”

–Eu não acredito. – murmurou Ian apertando minha cintura antes de me deixar ir com um suspiro irritado.

–Vamos. – chamei em derrota após outras vozes se juntarem à primeira.

–É melhor alguém estar morrendo, por que se não...

–Ian! – o repreendi, mas eu sentia o mesmo.

Andamos ate os outros que se reuniam ao redor da fogueira com humor renovado. Confusos nos aproximamos procurando a fonte de tal animação e encontramos dois coelhos assados (bem...um se considerarmos que o outro já estava completamente sem carne).

–Consegui comida. – disse Sebastian levantando uma coxa em saudação.

Torci o nariz, normalmente eu preferia comer algo menos... fofo, mas meu estomago rosnou, nos sentamos para começamos a comer e eu tentei não pensar muito que esses bichinhos fofos estavam sendo devorados por mim. Ian foi o único a notar meu desconforto, mas permaneceu em silencio parecendo se divertir. Depois de comer, observei as carcaças de nossa refeição com um pouco de culpa por querer mais.

–Não pense muito sobre isso. – sussurrou ele em meu ouvido ao me abraçar por trás me içando para seu colo.

–Na verdade... eu queria mais. – confessei fazendo beicinho.

Ian riu me puxando mais para perto, a noite estava se tornando mais fria a cada momento e todos estávamos tremendo.

–Espero que não chova. – disse Rafael olhando para as nuvens que se formavam lá no alto.

Nos arrumamos para dormir, os colchonetes e cobertores ficaram para as crianças e Rafael quando confrontado sobre o assunto ele deu de ombros e respondeu simplesmente:

–Estou muito velho para dormir no chão duro e frio.

Naquela noite eu preferia sofrer dos males de outras noites antes dessa quando eu apenas apagava e nada se passava em meus sonhos. Infelizmente para mim minha onda de má sorte não havia se dissipado. O pior de tudo foi que tudo aquilo eram memorias e não apenas algo saído de minha imaginação.

“–Alguém me mate, por favor! – disse me jogando de costas na cama.

–O que houve querida?

–Nada, mãe!

Senti a cama afundar sob o seu peso, ela agora estava do meu lado acariciando minha cabeça. A dor incessante e excruciante foi passando conforme sua mão ia passando de cima para baixo de baixo para cima. Não percebi que já estava adormecendo, só notei quando sua voz risonha veio ao longe perguntando se eu estava melhor. Murmurei que estava muito melhor e senti que ela saia devagar a sua ausência me fez sentir vazia e triste quase insisti para que ela ficasse, mas o sono era tão forte que me engoliu completamente no mundo dos sonhos.”

“–Senhorita Baker – repetiu ele – lamento informar que seus pais morreram.”

“–Você ainda esta com raiva de mim por não ter contado que eu estava grávida?

“ Então essa pessoa ou coisa me puxou contra seu corpo e pude ver sua farda de soldado e as marcas de dentes e quando seus braços se fecharam a minha volta, pude sentir seu hálito podre, e o sangue fresco escorrendo do buraco onde antes havia minha pele lisa morena.

O zumbi me mordeu e eu gritei, meu grito foi mais alto que o de Ivy, o dela foi de medo o meu foi de dor, a dor é infelizmente mais forte e agonizante que o medo. Ele arrancou minha carne e começou a mastigar o pedaço que havia tirado de mim.”

“...você mudou drasticamente. Está mais forte, mais rápida e seus sentidos estão aguçados...”

“–Ora, ora... Olha só o que temos aqui Earl, uma menininha perdida. – foi a ultima coisa que ouvi antes de sentir uma dor lacerante na nuca.”

“Minha irmã deu um berro ao ver seu marido morrer, eu estava em choque por mais babaca que Malcon fosse ele não podia morrer agora que Ivy precisava dele. Earl estava rindo histericamente e Brian arrastou o corpo de Malcon e o jogou pela janela.

“Não, não poderia ser isso! Não, não, não, não, não! Eu continuei parada, tentando virar e confirmar o que meu raciocínio mórbido concluiu, mas minhas pernas recusavam-se a mover-se pelo menos a ate que o choro me tirou do estupor. Ah Meu Deus, o bebe! Forcei meus músculos a descongelarem e o vi ali jogado envolto em sangue e rodeado de zumbis. Isso não pode estar acontecendo! Eu estou louca só pode!”

“Eu não tinha rumo, apenas seguia em frente correndo loucamente com uma criança moribunda no colo. Aos poucos fui perdendo velocidade, estava cansada e com fome, não tinha como continuar, o bebe havia parado de chorar e estava frio, seus membros pendiam moles havia alguns minutos, não o meu pequeno, ele se foi! Foi-se como todos os outros!”

Havia tantas memorias confusas e misturadas, antes, durante e depois do apocalipse zumbi. Senti-me ser sacudida e pessoas chamando meu nome, mas eu ainda estava presa naquelas memorias.

–Livy, por favor! – ouvi a voz desesperada de Ian chamar.

Abri meus olhos, finalmente saindo daquele inferno, eu estava ofegante, suada e tremula vi que todos estavam me cercando com diferentes níveis de preocupação e curiosidade.

–Graças a Deus. – disse Ian me abraçando fortemente. De todos os outros ele era o que mais parecia preocupado e desesperado. – Achei que você não iria acordar. – tentei falar algo, mas tudo o que saiu foi um murmúrio débil e baixo. – Shiu. Foi apenas um sonho ruim.

–Antes fosse. – consegui murmurar entre lagrimas.

–O que quer dizer, criança? – perguntou Dr. Rafael com os olhos arregalados em descrença.

–Nada, esqueçam. – me forcei a dizer, mas ao que parece ninguém iria querer voltar a dormir depois disso.

–Livy, você estava gritando como se alguém estivesse arrancando sua pele com um estilete cego, por favor, nos diga o que aconteceu. – pediu Amélia.

Respirei fundo tentado me acalmar ainda abraçada a Ian como se minha vida dependesse disso. Victor segurava minha mão livre e esperava pacientemente ate me acalmar, ele já havia presenciado um episodio desse uma vez e também já sabia de tudo o que havia acontecido comigo.

–Você deveria dizer. – disse ele simplesmente.

Acenei rapidamente e ele apertou minha mão em apoio, os outros ouviram calmamente minha historia, contei tudo o que me lembrava de ter acontecido comigo desde o primeiro dia e deixando quase nada de fora. De certa forma foi terapêutico e me deixou mais calma e leve.

–Caramba. – disse Rafael quando o silencio esmagador tomou conta do lugar após meu conto acabar.

–Caramba. – repetiu Donnie com os olhos vidrados.

–E você só tinha 15 anos?

–Unhum. – murmurei distraída.

–Quando isso começou eu tinha 18. – disse Ian apenas para eu ouvir.

–Você é três anos mais velho que eu.

–Acho que sim, depende de quando você faz aniversario.

–Novembro. – respondi enquanto ele acariciava meus cabelos. Assustei-me quando Ian riu. – o que é tão engraçado? – pedi irritada.

–Desculpe, é que eu também faço em novembro.

–Realmente?

–Sim. Dia dezoito e você?

–Dezesseis.

–Se não se importam – interrompeu Donnie – acho melhor irmos dormir.

–Ou tentar. – disse Sebastian sombriamente antes de virar-se de costas para nós e deitar.

Voltamos as nossas posições de dormir, Ian e eu ficamos de frente para outro esperando o sono voltar. Eventualmente conseguimos dormir, apesar de estar com medo do que eu poderia sonhar.

___X__

A luz do sol que se infiltrava por minhas pálpebras me acordou, mas não fora apenas isso... Havia um certo som ao fundo que incomodava meu subconsciente, que me colocava em alerta e me mandava acordar rapidamente. O som parecia mais perto, em algum lugar a minha esquerda onde Donnie e Amélia estavam dormindo.

Levantei rapidamente acordando Ian que estava com os braços a minha volta. Havia três zumbis se aproximando, dois ainda estavam um pouco longe para causar algum estrago, mas um estava se aproximando cada vez mais de Amélia. Corri e o agarrei pelo pescoço, enquanto isso Ian gritou para os outros acordarem, o zumbi fazia grande esforço para alcança-los e rosnava loucamente para mim.

–Sebastian! – ouvi alguém gritar – Sebastian, a faca!

Os dois outros zumbis passaram por mim e por mais que eu soubesse que eles poderiam se cuidar não conseguia deixar de pensar que eu deveria fazer alguma coisa para ajuda-los. Agarrei o pescoço do zumbi com mais força e arrastei ate uma arvore onde bati sua cabeça varias e varias vezes ate que ele finalmente “morreu” de vez. Virei para ver como os outros estavam e um dos zumbis estava caído com uma faca cravada em sua cabeça e outro avançava em cima de meu grupo. Comecei a ir ate eles quando um disparo me fez parar, o zumbi caiu como uma marionete cujas cordas haviam sido cortadas, nós olhamos para onde achávamos que o disparo havia vindo e lá no alto de uma arvore havia um homem com um rifle.

–Então, como vão vocês? – disse ele acenando cordialmente com rifle.

______XX_____

Na mesma estradinha de terra que havíamos abandonado nosso carro agora havia varias pessoas e três carros, todos possuíam algum tipo de arma, branca ou de fogo, presa ao corpo ou em suas mãos prontas para serem usadas.

–Carter, o que falamos sobre se afastar do grupo? – disse uma mulher alta e de pele negra que parecia ser a líder daquele grupo de estranhos.

–Nunca se afastar demais? Enfim, encontrei esse pessoal perdido lá atrás. A baixinha ali matou um zumbi com as próprias mãos.

A mulher me analisou como se eu fosse um pedaço de carne, e fez o mesmo com os outros e depois de alguns momentos de consideração ela parecia estar satisfeita com algo.

–Eles podem vir conosco, desde que sejam revistados para qualquer tipo de arma que possam estar escondendo.

–Isso não vai ser um problema – disse Ian.

–Realmente? – perguntou ao arquear uma sobrancelha.

–Fomos assaltados há três dias, estamos sem armas, agua ou comida. Há única arma que tínhamos era uma faca que agora esta em posse do seu amigo ali.

–Muito bem. Subam e fiquem quietos, há alguns pequenos grupos de canibais ao redor dessa área, estamos indo para um lugar seguro.

–E onde seria isso?

–Vocês vão ver.

________XX________

Estávamos viajando com aquele grupo há algumas horas em completo e desconfortável silencio, nenhum dos lados estava tentando falar com o outro. O que de certa forma tornava tudo ainda mais desconfortável se possível, após nos enfiarem na parte de trás de um furgão com janelas pintadas de preto sem o mínimo de cerimonia ou gentileza e simplesmente arrancarem com o carro sem nem ao menos dizerem para onde íamos e sem nos pedirem para ir seja lá para onde for com eles, estávamos em alerta total e com a imaginação correndo solta.

–E se eles forem como aqueles malucos que tentaram nos comer? – perguntou KW com o rosto demonstrando toda a sua apreensão.

–Não seja idiota, eles não se parecem com aqueles esquisitos. – murmurou Sophia, apesar de não parecer ter tanta certeza.

–Acho que não, provavelmente são só estranhos mesmo. Talvez muito cautelosos, mas acho que isso já não é tão ruim ou sem sentido nas atuais circunstancias...

–Algum dia vocês vão ter que entrar em detalhes dessa historia. – disse Ian ao me interromper.

–Talvez, mas por enquanto estamos indefesos e sem ideia de para onde vamos ou o que faremos ao chegar ao nosso destino.

–Realmente. – concordou.

–Podemos tentar pegar suas armas, eu percebi que poucos possuem armas de fogo, se nós os dominássemos poderíamos ter uma chance. – murmurou Sebastian.

–Muito arriscado. – sussurrei ao mesmo tempo em que Ian disse – Uma chance de sermos mortos.

–Rapazes – começou Dr. Rafael ao notar o clima – talvez seja melhor apenas ficarmos quietos e esperar uma chance de fugir? – sugeriu.

–É o melhor. – concordei.

–O carro esta parando.

Voltamos a fica em silencio sentindo o carro diminuir a velocidade rapidamente até parar e esperamos ansiosos para o que nos aguardava do lado de fora.

–Bem vindos ao nosso lar – disse a mulher sorrindo ao abrir a porta.

Quando a luz do sol entrou nos cegando temporariamente, não pude deixar de sentir que havia algo errado.


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Notas finais do capítulo

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