Lullaby escrita por juvsandrade


Capítulo 6
VI




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— O que você está fazendo? — a voz de Ron ecoou pela sala, com a tonalidade variando de incrédula para assustada, quando encontrou Hermione sentada no sofá, ao lado de Fleur, costurando.

A garota nem ao menos levantou os olhos para mirá-lo, provavelmente por não querer perder o ponto de costura ou ser bronqueada pela veela, mas sorriu minimamente de lado, mostrando alguns poucos dentes e frisando os lábios em seguida. Ajeitou o pequeno embolado de lã que se misturavam com os seus dedos antes de suspirar alto e mirá-lo rapidamente pelo canto dos olhos.

— Estou fazendo um casaco de lã para o seu futuro sobrinho ou sobrinha. — comentou divertida e retornou a atenção ao que fazia. — Fleur iria pedir para Gina ajudá-la, mas Gui a avisou que Gina não é muito boa com agulhas, nem com feitiços de tricotar. — fez uma pausa para cortar um pedaço de um fio branco, da cor do modelito que fazia, e abriu mais um sorriso. — Eu fui obrigada a fazer curso de costura quando era pequena, no meu colégio trouxa. Por mais que eu achasse machista aquelas aulas, pelo menos elas se mostraram úteis.
— Você está mesmo costurando?

Para Ron, ver Hermione fazendo algo brilhante sem uma varinha era normal... Todavia, nunca que ele pensara que encontraria a garota um dia... Costurando. Ainda mais para um sobrinho dele! 
Tragou a saliva, sem saber o que dizer.

— É o que parece. — falou sem mais e acabou parando os movimentos outra vez para encará-lo. — Harry está querendo passar em Gringotes hoje, só que eu não quero que ele vá sozinho. Você poderia acompanhá-lo, não poderia?
— Gina não pode ir com ele? — Ron perguntou, não gostando muito da idéia de ter que sair de casa.
— Gina está com Gui. — foi Fleur quem avisou. — Eles forram se encontrarr com Carrlinhos no local da chave do porrtal.

— Eu pensei que o Carlinhos só chegaria daqui dois dias...
— Houve um adiantamento. — Hermione lhe explicou, esperando que ele não se irritasse por não ter o conhecimento daquela notícia de última hora. — Carlinhos arranjou alguém para ficar no lugar dele e, pelo que eu entendi, quis vir para cá o mais rápido o possível.
— Tomarra que ele não traga um dragão para darr de presente para a minha criança, como Gui disse que ele irria fazerr.
— Não se preocupe com isso Fleur, o Carlinhos não é inconseqüente dessa forma. — Ron escondeu a zombaria com a tonalidade calma, que, mesmo enganando a cunhada, não enganou a morena. — Mas eu não posso falar a mesma coisa de Hagrid.
— Não se preocupe Fleur, Ronald está apenas brincando. Ninguém dará um dragão para o seu filho. — Hermione avisou, notando o pequeno desespero que brotava nos olhos da outra. 
— Esperro que não. — a veela limpou a garganta e depois fez um pequeno esforço para ficar em pé, aceitando a ajuda que veio de Ron para realizar tal ato. — Vou procurarr Molly e tomarr um chá. Podemos terrminarr mais tarrde, “Herrmioni”. — a loira lhe lançou um sorriso amoroso como lançava a poucos. — Estou muito agradecida pela sua ajuda.
— Não precisa me agradecer por nada Fleur. Está sendo um prazer ajudar em algo.

Um pequeno sorriso um tanto quanto cruel sorriu na boca da veela antes mesmo de ela abandonar a sala. Olhou o cunhado e a garota que ela sabia que viria a ser (ou já era?) a sua co-cunhada, ajeitou o vestido e se direcionou a porta, parando na mesma para dizer: — Vou deixá-los a sós para vocês namorrarrem um pouco...

A tonalidade escarlate, que já era característica e comum aos rostos dos dois, retornou ao lugar que lhe pertencia, inundando as bochechas de ambos e deixando-os visivelmente envergonhados aos olhos de quem visse. Fleur não pronunciou outra palavra a não ser um “até logo” e se retirou do aposento, com um sorriso tão travesso e tão Weasley que provava que ela já pertencia à família.

Hermione não se moveu no sofá onde se encontrava confortável, porém, as agulhas cessaram o movimento e repousavam em seu colo, esquecidas assim como o que há pouco ela costurava. A garota balançou a cabeça um pouco, fazendo os cabelos castanhos caírem por seus ombros e se destacarem devido ao casaco de cashmere vermelho que ela usava (e que caia excepcionalmente bem em seu corpo) e fez força para levantar o olhar para procurar o de Ron, ainda acanhada com a situação em que a veela havia lhes colocado.

— Está ficando bonito. — Ron quem falou, fisgando de volta a atenção dela e sorrindo suavemente ao completar a frase: — O casaco... — foi a vez dela lhe sorrir.

Adorava receber elogios. Ainda mais os de Ron, que por mais singelos que fossem, eram sempre dotados de sinceridade e admiração. O peito dela inflamava, quente, por notar que conseguia agradar o gosto do garoto. Era uma glória em forma de poucas palavras e um sorriso sardento.


— Obrigada. — foi o que a morena conseguiu dizer, e, ainda sim, sua voz saiu falha. — Quero aprender a costurar como a sua mãe, pois eu quero que os meus fi... — pasmada, Hermione notou sobre o que estava falando e com quem estava falando. Tragou a saliva desconfortavelmente, vendo que se colocara em um labirinto sem saída e que precisava encontrar coragem em algum canto de seu corpo para finalizar a frase, esperando que Ron não a olhasse de maneira estranha em seguida: — Eu quero fazer igual a sua mãe, quer dizer... Eu acho que é uma forma maravilhosa de mostrar o amor que ela sente por vocês, quando ela costura cada um de seus casacos. Quero que os meus filhos também tenham isso, então eu preciso melhorar e... — calou-se, notando que estava para se incriminar cada vez mais. 

Faltava apenas ela dizer: “eu quero costurar para os nossos filhos, Ron”. 
Era melhor se calar. 
Ele sorriu, sorriu de uma forma que apenas a fez o achar ainda mais belo, não lhe mostrou os dentes, mas sorriu, piscando de forma lenta, respirando de forma profunda e dizendo, sem querer, que sabia o que ela estava pensando. Que Hermione não precisava utilizar palavras para que ele conseguisse compreendê-la, às vezes. Que ele também adoraria ver os filhos dele usando aqueles casacos, ainda mais se fossem costurados pelas mãos de sua garota... 

— Eu acho que eles já estão ótimos, dessa forma. — Ron disse com uma tonalidade doce e se aproximou o suficiente, sentando no braço do sofá em que ela estava e tornando a enrubescer. — Por que você não vai ao Beco Diagonal comigo e com o Harry?
— Eu queria ir, mas eu não posso.

— E por que você não pode? — com a decepção nadando em suas palavras, Ron perguntou, mirando-a diretamente.
— Preciso organizar algumas coisas. Se pai me disse que o Kingsley virá hoje aqui e eu quero conversar com ele. Preciso perguntar sobre os meus pais... — a voz de Hermione murchou, e Ron se odiou por ter se esquecido de um assunto que a machucava tanto. — Ele já conversou comigo e disse que alguns aurores vão dar início a uma busca de foragidos e que ele pode pedir para os que forem à Austrália para tentarem localizar os meus pais. — a esperança inundou o sorriso que ela deu, e Ron colocou uma mão no ombro dela, apertando-o delicadamente e sentindo os dedos dela se misturando com os seus. — E eu também preciso escrever uma carta para a McGonagall, pois quero oferecer a minha ajuda, caso ela precise, para realizar algo em Hogwarts. 

Ron piscou novamente os olhos de maneira lenta, tentando compreender o tamanho do tesouro que possuía em sua frente. Hermione era daquela forma... Por mais que estivesse sofrendo, afundando-se na agonia de não saber onde os pais estavam, não se fechava para o mundo e não se deixava tomar pelas próprias dores. Era uma garota forte, que acolhia os pesares dos outros e tentava apaziguá-los de todas as formas, engolindo os próprios ferimentos para gerar sorrisos em outros. A luz que ela emanava... Para os olhos de Ron... Era capaz de cegá-lo...

— Você pode dizer na carta que eu também estou disposto a ajudar. — ele avisou, fazendo um carinho na palma da mão da morena e se deparando com um sorriso resplandecente vindo da mesma. — Eu posso não ser muito útil, mas ainda sim...

— Ah, Ron, por favor, não fale isso. — se precipitado e virando o corpo para enfim ficar de frente a ele, Hermione pareceu temerosa de encontrá-lo se menosprezando. — A sua ajuda será bem vinda, você sabe disso! 
— Eu espero que a McGonagall ache o mesmo. — Ron falou, meio divertido, escutando a risada dela ecoar pelo cômodo. — Porque convenhamos, a McGonagall nunca me achou uma pessoa muito promissora ou eficiente. — continuou, fazendo uma careta em seguida.
— Talvez seja pelo fato de você não ter se esforçado muito na matéria dela... 
— Mas qual seria a utilidade de transformar uma xícara em um rato? Não é uma coisa que salvaria a minha vida ou deixaria a bebida mais gostosa, não é mesmo?
— Ai Ronald... — Hermione falou falsamente indignada, deixando outra risada escapar do refúgio de sua boca e movendo a cabeça, em sinal de negação. — Se for assim, você poderia me explicar qual é a utilidade do Quadribol? 

Pronto.
A discussão estava prestes a ser armada.

— Por que você não pergunta para o Krum? — Ron revirou os olhos, transformando-se da água para o vinho. — Acho que ele sabe muito bem.

Hermione fez força para segurar uma gargalhada entre os dentes. Ron era tão previsível para ela e, por mais que ela se irritasse às vezes com aqueles diversos ataques de ciúmes, ela não poderia negar que se deliciava na maioria das vezes.

— Ou talvez, somente talvez, eu pergunte para você, porque caso você tenha se esquecido, você foi o goleiro do time da Grifinória e o seu apelido era rei, então você deve saber alguma coisa a respeito de Quadribol, não é mesmo? Ao menos o suficiente para me explicar qual é a utilidade dele. — sorrindo vitoriosamente por vê-lo corar em demasia e abaixar os ombros que já se encontravam retesados em sinal de briga, Hermione apoiou a cabeça no braço dele, sorrindo minimamente e suspirando tranquilamente. — Sem contar que eu estou aqui com você, então escrever uma carta para ele seria uma perda de tempo. Você não concorda?
— Absolutamente. — ele falou, com aquela típica tonalidade de possessividade aflorando. — Eu posso explicar para você qual é a utilidade do Quadribol, depois... Basta você me pedir.
— Infelizmente eu não sei qual é a utilidade de transformar uma xícara em um rato para poder lhe explicar, mas ainda assim, você deveria ter se esforçado na matéria da McGonagall. — provocando-o, Hermione sussurrou, percebendo que se encontrava um tanto quanto cansada e que o mesmo cansaço triplicava quando se acomodava no aconchego do corpo do garoto. Ela poderia dormir ali com a maior facilidade existente. 
— Você está com sono? — aparentemente preocupado, ele perguntou, afastando a franja da garota com a ponta dos dedos e mirando-a nos olhos. — Não dormiu bem essa noite?
— Não muito. Gina e eu ficamos conversando até tarde e eu acordei cedo. Acho que vou esperar você e Harry irem ao Beco Diagonal para subir e tomar um banho. Vou aproveitar e comer alguma coisa, porque não tomei café da manhã...

— Hermione, você precisa dormir e comer direito. — a mesma mão que seguia segurando a mão dela subiu para o rosto da garota, tocando-a por cima da bochecha e acariciando-a por aquela região, tendo-a entregue ao carinho que fazia e sentindo-se bem por aquilo. — Vamos para a cozinha, eu vou preparar alguma coisa para você comer. Na hora em que eu sai do meu quarto, o Harry estava entrando no banho, por isso ele vai demorar mais alguns minutos para descer, não se preocupe. — falou de imediato, ao ver o olhar dela recair sobre a escada. — Venha comigo... — ele ficou de pé primeiro, estendendo ambas as mãos para recebê-la e puxando-a para os próprios braços. 

Era boa... Aquela sensação... De ter alguém...
Alguém para se preocupar. Alguém para se dedicar. Alguém para acolher. Alguém para chamar de seu.
Alguém como Hermione... Era realmente muito bom.


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