Nós permanecemos ali, abraçados por um tempo. Eu apertava Rose contra mim, tentando prolongar ainda mais aquela sensação que eu sentia. Tentando prolongar aquele momento. Nós não conversamos muita coisa, ficamos a maior parte do tempo calados, mas eu tinha certeza que estávamos compartilhando os mesmos pensamentos. Em perfeita sincronia.

Era um momento de paz e tranquilidade que eu sabia que estava prestes a acabar, pois tínhamos que voltar para Academia. Em breve, alguém ia nos procurar, se não voltássemos, então não podíamos ficar ali, juntos, por muito tempo.

Eu não conseguia me afastar de Rose e nem parar de beijá-la, mesmo enquanto vestíamos as nossas roupas. Quando finalmente conseguimos sair da cabana, caminhamos pela floresta de mãos dadas, ainda tentando desfrutar aqueles poucos minutos que ainda tínhamos juntos, antes de chegarmos à escola.

Eu olhava para Rose e tinha a impressão que ela podia sair flutuando a qualquer momento de tão feliz que ela parecia. Eu me sentia da mesma forma. Não sabia como consegui suportar passar, tanto tempo, tão perto e tão longe dela, como eu estava vivendo. Aquele tinha sido um dos melhores momentos da minha vida e eu sentia como se, a qualquer momento, meu peito não fosse suportar tanta felicidade. Rose realmente tinha me trazido uma nova perspectiva da vida, tinha me trazido novos sonhos, novos objetivos. E hoje, eu sabia exatamente que não teria mais o futuro normal  e solitário que eu tinha planejado para mim mesmo. Um novo mundo estava na minha frente.

Nós andávamos descontraidamente quando, de repente, Rose parou. Sua respiração começou a ficar ofegante e ela passou seu braço em volta da sua cintura, como se sentisse uma grande dor. Eu a olhava, tentando descobrir o que estava acontecendo, mas ela não falou nada, antes começou a olhar para um ponto, à sua frente, como se algo ou alguém estivesse ali. Mas não havia nada. Eu não pude ver nada ali.

Ela estreitou ainda mais os seus olhos e continuou focando no ponto. Definitivamente não havia nada ali.

“Qual o problema?” perguntei.

“Você não pode ver?”

Eu segui o olhar dela para o ponto vazio “Ver quem?”

“Mason”

Foi quando percebi o que estava acontecendo. Ela novamente estava achando que podia ver fantasmas. Eu não podia acreditar que aquilo ainda estava acontecendo, mesmo depois de tudo que tinha acontecido entre nós. Ela parecia tão bem na cabana, e agora, aquela reação dela estava voltando. A expressão dela se tornou ainda mais intensa, como se ela estivesse sentindo um grande mal estar. Eu realmente fiquei preocupado por aquilo, e pensei que era melhor voltarmos para que ela descansasse um pouco. Esse tinha sido um dia muito intenso.

“Rose... deveríamos voltar...” falei cuidadosamente, mas ela não se mexeu. Ela continuou olhando para o mesmo local, com uma expressão ainda mais intensa, ignorando quase que totalmente a minha presença.

“O quê? O quê foi?” ela perguntou para o nada. Eu realmente queria acreditar que ela estava vendo algo, mas não conseguia. Eu olhava para ela e para o ponto onde ela achava que Mason estava. Eu não via nada. Não, ela não podia achar que aquilo era real. Não havia nada ali. Eu não via nada ali. E isso era muito preocupante. Eu não sabia se puxava Rose para longe dali ou se espera para ver se ela se retomaria sozinha.

De repente, sua expressão se tornou em puro pânico, seu rosto estava atemorizado.

“Dimitri, tem Strig-“

Ela não conseguiu terminar e não precisou. Imediatamente vi um Strigoi saltar para nossa frente e eu me coloquei em modo combate instantaneamente. Se ele esperava me tomar de surpresa, estava errado. Eu comecei a lutar com ele, meus reflexos agindo perfeitamente. Era uma luta rápida e quando eu percebi uma mínima abertura, não hesitei, peguei minha estaca e, em um único movimento, a cravei em seu peito. Eu o observei cair por breves segundo e me voltei para Rose, rapidamente me certificando que ela estava bem. Eu a olhei sentindo meu peito apertar. Ela estava com a razão. Tinha algum problema com as wards. Ela não estava louca. Não tinha outra explicação agora, tudo era claro. Mas eu não tive tempo de falar nada com ela. Novamente ela me olhou com se uma grande náusea passasse por ela. Eu entendi. Perfeitamente. Claramente. De alguma forma ela podia sentir o perigo. Eu me virei, olhando atentamente o movimento das árvores. Havia outros Strigois. Eles estavam ali. E eram muitos.

Eu me virei para Rose com minha mente trabalhando a uma velocidade incrível, talvez por puro instinto de sobrevivência. Nós estávamos em guerra. Precisávamos alertar os guardiões da Academia. Eu a segurei pelos ombros e falei firmemente.

“Rose. Escute. Corra. Corra o mais rápido que você puder e volte para o dormitório. Conte aos guardiões.”

Ela acenou e eu podia ver o pânico em seus olhos. Eu a olhei fixamente, apertando ainda mais os seus braços, como se eu pudesse transmitir forças a ela por aquele gesto.

“Não pare. Não importa o que você ouvir. Não importa o que você ver. Não pare. Não até conseguir avisar aos outros. Não pare a não ser que haja um confronto direto. Você entendeu?”

Ela acenou novamente e eu confiei nela, totalmente, então a soltei. Inexplicavelmente o olhar que Alberta deu a Rose, enquanto Eddie a segurava mais cedo, voltou a minha mente. Eles não acreditariam nela. Eles achavam que Rose estava louca.

Ela ainda me olhava atemorizada, dando pequenos passos para trás, talvez se questionando se podia me deixar ali sozinho.

“Diga a eles ‘buria’.”  Era um código antigo dos guardiões, que queria dizer ‘tempestade’ em russo. Era muito utilizado no passado, em situações de extrema urgência que sempre estavam relacionadas a ataques massivos de Strigois. Assim os guardiões da Academia acreditariam nela.

Ela acenou, sem conseguir da uma palavra sequer. Eu olhei em volta e vi sombras saindo das árvores. Eles estavam se aproximando. Não tínhamos mais tempo.

“Corra!” Eu falei para ela e ela correu, sem olhar para trás. Eu me virei para floresta e encarei quatro Strigois vindo em minha direção. Eu não podia deixar que eles se aproximassem da Academia, eu teria que parar o maior número possível. Eu não sabia quantos eram. Eu só sabia que não me restava mais nada a não ser lutar. E foi o que eu fiz. Uma grande força surgia em mim quando eu enfrentava Strigois. Meu corpo todo reagia em perfeita sincronia. E eu lutei contra um, contra dois, contra todos que vieram. Matando um a um. Parecia um pesadelo. Quanto mais eu matava, mais apareciam. Depois de longos minutos de luta, vi, agradecido, outros guardiões surgirem das sombras, imediatamente em ação. Rose tinha conseguido chegar a Academia, ela tinha conseguido chamar ajuda.