Shadow Kiss por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 1
Capítulo 1




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Aquela era uma manhã extremamente fria. Era perto do meio dia, no horário humano,  isso significava que estávamos no meio da noite, para os vampiros. O campus da St. Vladmir estava calmo e silencioso. Aparentemente todos dormiam. Eu estava de plantão e fazia minha ronda, sem que nada fora da normalidade se mostrasse.

A Academia era protegida por fortes wards que impediam os Strigois de nos atacarem, mas a vigilância era necessária em um lugar repleto de estudantes dispostos a quebrar qualquer tipo de regra.

Quando passava próximo ao dormitório dhampir, me surpreendi com Rose passando em direção ao ginásio. O que ela fazia ali, naquela hora? Andei silenciosamente atrás dela, esperando para ver o que ela pretendia. Ela parou e olhou distraidamente para umas árvores sem folhas. Eu a observei por alguns segundos, me perguntando o que ela pretendia, ainda mais com a aquele frio todo que fazia. O sol brilhava, mas o inverno em Montana era bem rigoroso. Confesso que eu estava curioso para saber qual desculpa ela me daria.

“Você é sonâmbula?” perguntei, tentando não sorrir.

Ela se virou rapidamente e me olhou com uma expressão de quem havia sido pega desprevenida. Ela usava um roupão e chinelos. Ao me ver, ela passou rapidamente a mão na cabeça, numa tenta inútil de arrumar os seus cabelos que estavam totalmente emaranhados. Mesmo assim, eu ainda a achava linda.

“Eu estava testando a segurança do dormitório. É uma droga.” Ela falou olhando para o meu casaco. Eu tive vontade de sorri com a sua observação sobre a segurança, mas percebi que ela deveria estar morrendo de frio.

“Você deve estar congelando. Quer o meu casaco?”

“Estou bem” ela falou recusando “O que você está fazendo aqui? Também está testando a segurança?”

“Eu sou a segurança. É o meu turno”

Ela ficou totalmente embaraçada, por ter zombado do meu trabalho, mas tentou fazer um rosto sério.

“Bem, bom trabalho. Estou feliz por ter testado alguém tão habilidoso. Eu deveria ir agora.” Ela falou, já se retirando. Eu não ia engolir aquilo assim facilmente, ela iria, sim, me  explicar o que ela pretendia fugindo do dormitório.

“Rose” falei, a puxando pelo braço. Inesperadamente, tocar nela me causou uma sensação, como se uma descarga elétrica passasse por mim, então a soltei imediatamente. Mesmo assim, a olhei de uma forma que ela conhecia bem.

“O que você realmente está fazendo aqui?”

Ela me olhou de forma pensativa e eu pude ver que ela falaria a verdade.

“Eu tive um sonho ruim. Precisava de ar”

“Então você simplesmente saiu? Você sequer pensou em quebrar as regras – e nem ao menos pegou um casaco?”

Ela me pareceu sincera, e eu assumi que ela estava sendo honesta, apesar de ser um motivo inusitado.  Com todo seu histórico de indisciplina, sair para tomar ar, parecia algo insignificante. E era. Mesmo assim, ela não conseguia ver que era algo estúpido. Se algum outro guardião a pegasse ali, ela estaria numa situação bem complicada e essa sua explicação não seria tão bem aceita, como foi por mim.

“É. Isso basicamente resume tudo” ela falou.

“Rose, Rose” respondi com exaspero “Você nunca muda. Sempre agindo sem pensar”

“Isso não é verdade. Eu mudei bastante”

Aquelas palavras dela acionaram uma tecla dentro de mim. Ela tinha razão. Ela não era mais aquela garota despreocupada e alegre que eu tinha conhecido há poucos meses. Os acontecimentos das últimas semanas deixaram nela um olhar triste e uma expressão mais dura. Era uma forma dolorosa de amadurecer. Ela carregava culpa pelo ocorrido e isso realmente me preocupava.

“Você está certa. Você mudou”

“Bem, não se preocupe. Meu aniversário está chegando. Assim que eu completar 18 anos, eu me tornarei uma adulta, certo? Tenho certeza que naquela manhã eu vou acordar toda madura e tudo mais”

Eu dei um pequeno sorriso, ainda preocupado com a observação anterior. Era bem típico de Rose fazer uma piada quando a conversa ficava séria e ela se sentia incomodada. Eu já conhecia isso nela.

“Sim, eu tenho certeza disso. É daqui, ao quê, há um mês?”

“Trinta e um dias” ela falou com exatidão.

“Não que você esteja contando” falei e ela deu de ombros. Eu sorri novamente, Rose sempre me divertia, mesmo nas pequenas coisas. Permaneci naquela conversa amena “Eu suponho que você também tenha feito uma lista de aniversário. Dez folhas? Espaço único? Organizada por ordem de prioridade?” eu continuei sorrindo, esperando uma de suas respostas típicas. Mas, ao contrário, sua expressão se tornou séria.

“Não. Nada de lista.”

Eu inclinei a cabeça, para olhá-la melhor, fazendo meus cabelos caírem no meu rosto. Tentei enxergar algo mais em sua expressão, algo que me desse alguma pista do que se passava dentro dela. Coloquei meu cabelo de volta para trás, eles caíram novamente. Percebi que ela observou atentamente estes meus gestos. Mas eu já era acostumado com isso.

“Eu não posso acreditar que você não quer nada. Vai ser um aniversário chato” falei tentando manter o tom causal da conversa e trazer de volta a diversão que ela tinha antes, mas foi inútil.

“Não importa”

“O quê você – “ eu estava prestes a perguntar o que ela iria esperar do seu aniversário, já que não queria presentes, mas então eu entendi. Ela não queria algo material, algo que pudesse ser comprado e embrulhado. O que ela queria não podia ser colocado em uma lista de presentes. Ela de fato tinha amadurecido rapidamente, havia se tornado uma adulta antes mesmo de ter idade para ser uma. Novamente, aqueles pensamentos me assombraram.

Algo também me dizia que toda a sua tristeza também tinha a ver com o fato de não podermos ficar juntos. Era algo que ela parecia já ter entendido, mas que ainda tinha dificuldade em aceitar.

Confesso que eu também usava de todos os argumentos lógicos que eu podia para convencer a mim mesmo de que nunca poderíamos ficar juntos, mas o que eu sentia por ela era tão forte que, em certos momentos, superava qualquer pensamento coerente. Realmente, eu não queria lidar com aquele assunto, não naquela hora, então mudei a conversa para outro sentido.

“Você pode negar o quanto quiser, mas eu sei que você está congelando. Vamos entrar. Eu levo você pela porta de trás”

“Eu acho que é você quem está com frio” ela falou em um tom provocativo, enquanto caminhávamos por um caminho que levava aos fundos do prédio “Você não deveria ser resistente ao frio, já que você veio da Sibéria?”

“Eu não acho que a Sibéria seja como você imagina”

“Eu imagino que é o paraíso do gelo” sua voz soou pensativa, apesar de saber que ela tentou fazer uma piada.

“Então, definitivamente não é como você imagina”

“Você sente falta?” ela perguntou, me olhando de lado.

“Todo o tempo” e como sentia. Eu queria poder voltar, mas sabia que eu estava agora no caminho que eu mesmo tinha escolhido “Às vezes eu desejo-“

“Belikov!”

Uma voz soou atrás de nós. Eu conhecia bem aquela voz. Era Alberta. Eu não pude deixar e xingar baixo. Eu tinha evitado a conversa sobre o nosso relacionamento, mas esta que nós estávamos começando agora, era sobre algo que eu queria falar, ainda mas com Rose, que me entendia tão bem.

“Fique fora de vista” falei, a empurrando para um canto, próximo a uns arbustos. Eu retornei um pouco pelo caminho que estávamos fazendo e encontrei Alberta. Aparentemente, ela não tinha visto que Rose estava comigo.

“Você não está de guarda” falei, mantendo meu tom imparcial.

“Não, mas eu precisava falar com você. Só vai levar um minuto. Nós precisamos redistribuir os seus turnos, enquanto você estiver no julgamento”

“Eu já imaginava isso” falei me sentindo desconfortável. Eu ainda não tinha falado nada para Rose sobre o julgamento de Vistor Dashkov, e agora ela estava ouvindo tudo. Eu esperava que Alberta não entrasse em detalhes, ou se não, eu teria que lidar com uma Rose bem aborrecida, dentro de poucos minutos “Eu vou ter que dar uma pausa em todo o resto também – timing ruim” completei. No dia seguinte iniciaríamos a fase de prática de campo com os alunos do último ano. Eram seis semanas em que simulávamos todo tipo de ataque Strigoi, enquanto eles simulavam guardar um Moroi. Era uma fase dura e puxada tanto para os estudantes, como para nós, os instrutores.

“Sim, bem, a rainha funciona em seu próprio horário. Celeste vai assumir seus turnos. Ela e Emil vão dividir os seus horários de treinamento. Eles falaram que não se importam com o trabalho extra, mas eu pensei que  você poderia dar umas orientações a eles, antes de partir, para diminuir o peso deles.”

“Claro” falei, sem querer me prolongar no assunto, ainda temendo que Rose ouvisse algo que não deveria ouvir, pelo menos, por agora.

“Obrigada. Isso irá ajudar muito” ela suspirou “Eu queria saber quanto tempo irá levar o julgamento. Eu não gostaria de me afastar por muito tempo. Era de se esperar que Dashkov já tivesse seu destino traçado, mas ouvi falar que a rainha está ficando incomodada em levar para prisão alguém tão importante da realeza”

Droga. Alberta tinha falado demais. Agora era fato. Eu teria que lidar com Rose. Se ia ser difícil explicar o porque dela não ter sido avisada que o julgamento tinha sido marcado, quanto mais explicar que ele iria correr sem a participação dela e Lissa. Isso era algo que eu teria que lidar.

“Eu tenho certeza que eles irão fazer a coisa certa” novamente, tentei finalizar o assunto, mas Alberta continuou.

“Eu espero que sim. E espero que só leve alguns dias, com eles falaram. Olha, está horrível aqui. Você se importa em ir ao meu escritório para podermos ver os horários?”

“Claro que não me  importo, só deixe-me checar uma coisa antes” falei apontando com a cabeça para a parte de trás do prédio.

“Está certo. Vejo você logo.” Ela disse, se afastando.


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