Cien Fleur escrita por Bolt


Capítulo 2
Tempo?




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Fleur II
Tempo?

Era Luke, e nele eram várias das possíveis e imagináveis personalidades, todas mescladas; cada qual, conforme dizem os deterministas, adquirida de um diferente meio, período e situação de sua vida. Claro, as influências externas muito contam no desenvolvimento da psico de uma criança. E no contexto em que nosso amigo se situa, muito contam as influências de Cien Fleur. Rousseau dizia isso, e Aluísio Azevedo já havia provado tal fato, há muito em sua amplamente estudada obra literária. Mesmo não sendo Cortiço algum, nem mesmo tendo diariamente atrações como mulatas dançarinas, Cien Fleur, a diminuta praça das flores da diminuta cidade próxima à Ilha da Utopia, nunca deixava uma alma sair do mesmo jeito que nela entrou. E na maior parte das vezes, viam as almas que era bom, e lá ficavam, até que sua sede de seja-lá-o-que-buscavam fosse saciada.

Dê a um novato alguns meses, estude-o, procure conhecer o seu passado e compará-lo com o seu presente. Estabeleça-lhe uma linha temporal e divida-a em dois períodos distintos, marcando nela todas as mudanças ocorridas após a linha que inicia a era Cien Fleur. Eis aqui a missão que lhe foi dada, leitor sagaz e interessado. E eis aqui, querido amigo, seu objeto de estudo:

- Meu nome é Luke. Prazer em conhecê-lo.

Talvez, se ainda discordar mesmo após o término de suas observações, você possa argumentar contra Aluísio. Ou caso contrário tomar o partido dele, quem sabe?

* * *

          Período I         C.F.
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Perceba, leitor que me estranha, como não o situo no tempo propositalmente. Em que ano e em que século você imagina que esta história se passa? Deixo também a você o trabalho de pensar nisso, embora saber em qual época viveu Luke não tenha grande importância nestes relatos. Pense em cada hifen dos quais é composta a linha do tempo de Luke como um "Marco" , uma "Mariah", até mesmo um "hífen" ou qualquer que seja o nome que você queira dar a esta nova unidade. Quantos dias vale um hífen? Decida por si só, também. O que nos importa no momento é outra coisa.

Obviamente, é Luke, e posto que era novo morador de Greenville, e que para trás havia deixado a cidade onde se deu sua emancipação, a chamada Vila de Francesca e localizada ao norte da província de Saint-Catherine, próxima da própria Greenville...
Veio de lá com sua família, sem maiores ambições. Claro, era um pré-adolescente, não poderia ter mais do que ambições de pré-adolescentes, nada que fosse além de desejos momentâneos quaisquer. Viu, em Greenville, nada que o pudesse despertar seu interesse por muito tempo, ou de forma intensa. Havia construído em Vila Francesca uma personalidade individualista, mesmo oscilando ainda entre o egoísmo e o altruísmo, em distintas situações. Apesar de sua popularidade em Francesca ser grande, em Greenville não o foi possível construir semelhante reputação. Suas relações interpessoais tornavam-se mais escassas e mantê-las, mais difícil. Fato este que o deixava demasiado triste, fazendo-o submisso à sua própria casmurrice.
Sobre Greenville, tudo o que via era a sombra que a tornava a volúpia de seu aborrecimento.

Sem dúvidas, teria retornado à Vila Francesca assim que a ele fosse dada a oportunidade. E por ela esperou e esperou... até desistir, ao passo que já era pertencente a seu novo meio, e dele já fizera o reconhecimento. Não, não tinha nada a ver com Francesca. Nada de praias, nada de pescadores, nada de ruas estreitas e nada de casinhas pequenas à açoriana. Greenville era repleta de prédios (alguns que até achava belos, espelhados e com uma bonita arquitetura), ruas compridas e largas, postes e fios condutores de eletricidade que prejudicavam a estética das tais ruas e o faziam sentir uma crescente repulsa por estas. Via inúmeras pessoas, que iam e vinham diariamente de locais diversos, mas que nunca se cumprimentavam nem se olhavam, como se não passássem umas pelas outras. Observava aqueles que se familiarizavam e estranhava o modo com que se cumprimentavam. Ao início de tudo, Luke sentia-se, no sentido pejorativo da palavra, como um caipira.
Ao passar dos tempos, acostumar-se-ia a tudo isso, inclusive ao estado casmurro em que se encontrava. Era dele tal pensamento e era nele, após percorrida uma certa distância em nossa linha do tempo, que surgia a vontade de sair da bolha na qual se fechara. Posto que para que algo seja feito, alguma iniciativa era necessária, assim foi. E em menos tempo do que notara, o meio que o cercava ia-se pouco a pouco tornando mais atraente. E é aqui, nesta parte da história, que Luke e Cien Fleur passam a coexistir.
Exatamente onde haviamos marcado "C.F." na linha temporal.
Eis o final do "Período I".

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