Alice Is Dead escrita por Miss Kwon


Capítulo 2
Capítulo 1: When Nobody Loves You


Notas iniciais do capítulo

Só pra constar, When Nobody Loves You é uma música da Kerli pela qual sou apaixonada. Significa "Quando ninguém te ama".



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O despertador tocou alto e eu me levantei morrendo de preguia, a cama era to quentinha e confortvel!Por que eu tinha que sair dela?Assim que meus ps tocaram o cho, estremeci. Que friooo!

Logo imaginei como seria esta manh normalmente: eu seria acordada por Alice secando o cabelo, gritaria com ela e depois tomaria banho.

Eu desceria as escadas e tomaria caf da manh. Ento pegaria a mochila e iria com minha irm para o ponto de nibus. Mas ela no estava ali. Provavelmente nunca mais estaria.

No ms passado encontraram fios de cabelo e um pedao do vestido de Alice, bem sujos de sangue. No meio da maior floresta de Elva (N/A: essa cidade existe e fica l na Estnia), acharam um dos sapatos dela e seu medalho favorito: a corrente era prata e bem curta com uma pedra turquesa como pingente. O medalho e o sapato tambm estavam com o sangue dela. Alice foi dada como morta, mas eu sempre acreditei que ela continuava viva. Muita viva.

Entrei no chuveiro tentando esquecer os pensamentos mrbidos sobre minha irm, ela talvez no volte nunca mais e eu precisava me conformar com isso, mas era difcil demais. Fiquei momentaneamente agradecida por ser vero, o que significava que seriam por volta de 10 horas de sol hoje. At que enfim! Sa do banho tremendo pelo ar glido que entrou. Vesti uma roupa bem quente e coloquei um ou dois agasalhos por cima. Na Estnia, no importa que voc esteja com dez blusas, uma hora voc vai sentir o frio daqui.

Desci os degraus de dois em dois, at encontrar o olhar frio de Elisa, que preparava o caf da manh.

-Eu j estava indo te chamar. Disse num fio de voz. Bom dia, Anya.

-Bom dia, me.

Logo meu pai desceu com seu terno e tomamos caf em silncio. Seria muito melhor se minha irm estivesse ali, ela sabia como quebrar climas de desconforto. Engoli rpido sem saber o que comia e ento corri para pegar a mochila. Coloquei o colar de Alice no pescoo, eu ganhara permisso da polcia de telo, aps limp-lo muito bem claro. Aquele medalho fazia parte de um conjunto simples de duas peas: a outra era um anel que pertencia a mim. Mame e papai nos deram quando eu tinha 7 anos (Alice tinha 5) e eu nunca mais o tirei do dedo. Quando encontraram a pea de minha irm naquele lugar hostil, eu sabia que precisava ficar comigo.

Sa de casa sem dar tchau, o que era costume pra mim e fui esperar o nibus. O cu estava clareando, tomando tons azuis e laranjas lentamente, embora fosse 08h30min da manh. O sol comeava mostrar sinais de que estava ali.

Comecei a tremer quando o nibus finalmente chegou. Entrei e sorri ao lembrar do aquecedor que havia ali dentro. Avistei Charlotte e sentei-me com ela.

-Tere hommikust falei sorridente e ela fez um aceno com a cabea. ltimo dia de aula. comentei.

-Exato. E estaremos livres at a faculdade!

-! Ns rimos juntas.

-Voc vai ao baile de formatura? Desviei o olhar e pensar numa forma no rude de responder.

-No... s vou pegar o diploma. E voc?

-Bem... ela comeou a mexer nas pontas do cabelo espesso vou com meu namorado.

-Voc tem um? Perguntei surpresa. Charlotte no me contava quando estava namorando, o que me fazia pensar se ela confiava em mim tanto quanto dizia. - Quem?

- o........ Daniel murmurou, provavelmente torcendo para que eu no a ouvisse.

-Daniel Belilaviski? Perguntei procurando seus olhos mel, mas ela ficava desviando, fingindo prestar em qualquer coisa, menos em mim. A puxei pelo ombro e ela escondeu o rosto com o cabelo. Charlotte!Eu te pedi pra manter distncia dele!

-Eu sei!Mas eu gosto dele e ele gosta de mim!Qual o grande problema???? Ela comeou a gritar.

-Ele namorava Alice!

-E agora ela est morta!Siga em frente Anya! Ela gritou mais, atraindo vrios olhares. Quando percebeu o que dissera ela comeou a gaguejar. Droga!Me desculpe Anya, eu no pretendia....

-Pretendia sim. no momento de raiva que se diz a verdade. Obrigada por me avisar Charlotte. Falei com ironia.

Fitei a janela me sentindo magoada e trada por Charlotte. No agentando mais o clima, peguei minha mochila e sa. Sentei sozinha no ltimo banco do nibus, onde era muito mais frio, mas para o lado da minha suposta melhor amiga eu no podia voltar.

Daniel Belilaviski costumava ser o namorado perfeito da garota perfeita, vulgo minha irm. Ele era jogador, to lindo que doa s de olhar, educado, gentil, romntico, tudo o que uma menina quer em seu prncipe encantado. Ele realmente parecia ser o cara certo para ela at o momento em que comeou a me paquerar e ento descobri que ele a traa com Charlotte. Contei para Alice, mas ela nunca acreditou em mim, ento convenci Charlotte a largar Daniel, ela o fez. Depois que Alice sumiu, implorei para minha amiga no chegar mais perto dele.

Fiquei em silncio pelo resto do caminho. O nibus estacionou na escola e eu fui a primeira a me levantei e sair. Todas as aulas foram incrivelmente, absolutamente, totalmente entediantes, como sempre. Eu me sentia mal, pior do que o comum, ento mal podia escutar o que os professores diziam.

-... Compreenderam?Bem, o que voc acha Anya Kiv? Disse o professor de matemtica certo momento. Levei um pulo ao ouvir meu nome, ento olhei o professor e tentei lembrar do que ele falava.

Filsofos?Matemtica?Os maias?Que raios era o assunto?????Respirei muito fundo e olhei a lousa, lendo com cuidado o que estava escrito ali. Eram frmulas. A frmula de Bhaskara. O que eu lembrava disso?Nada.

-Eu acho... bem interessante. Respondi.

-Tu podes fazer melhor que isto.

-Talvez eu possa.

-Ento?

- uma frmula complicada que provavelmente muita gente aqui s finge que aprendeu. Eu sou uma dessas pessoas. Falei despreocupadamente. O professor ficou em silncio, me encarando com raiva.

-Como?

- s a verdade.

E fui salva de uma bronca chatssima pelo sinal do almoo. Recolhi meu material e joguei a mochila nas costas. Sa quieta e o mais discreta possvel, eu no tinha amigos ali, mas o nmero de pessoas que me detestavam por pensar que fiz algo para minha irm sumir era bem grande.

No comi nada e no vi Charlotte em lugar nenhum, nenhuma aula, corredores, nada. Ela se escondia de mim?Ou foi embora?No importa.

Ali, sentada num banco ao fundo da cantina, onde estava bem mais frio, sozinha, comecei a pensar se algo que eu fizera valera a pena alguma vez. Eu no tinha nada para me orgulhar. Notas, beleza, personalidade, voz, talento. Nada. Excluda. Minha nica amiga no gosta de mim e bem, ela no pode ser considerada uma amiga de verdade. Namorei duas vezes em toda minha vida. Com dois nerds que a minha irm arrumou pra mim, eles enjoaram da minha pessoa na primeira semana de namoro. Meus pais provavelmente no agentavam mais o momento em que se livrariam de mim. Que vida divertida.

Levantei automaticamente e caminhei de modo estranho at o banheiro. No andei discreta como sempre, fiz um desfile de modelo no meio de todo mundo. Todos me olharam, no disseram nada. Assim que me senti segura dentro do estabelecimento vazio, relaxei e me perguntei o que havia feito.

Havia uma grande mancha de batom rosa chiclete no espelho, parecia que algum o beijara desconfortavelmente, quem beija o espelho de batom?Pelo amor. Reparei num bilhetinho escondido entre o espelho e a parede. Uma pessoa no curiosa ignoraria aquilo e sairia, mas eu era curiosa. Muito. Ajeitei alguns fios de cabelo atrs da orelha e peguei o papel. O abri e li a seguinte mensagem: Tere, Anya. Estaremos precisando de ti aqui amanh cedo. V at l como um favor a ns, em troca fizemos algo por voc. Terceira porta da esquerda pra direita. Muito confusa, guardei o bilhete e pensei em sair correndo, mas nunca me perdoaria caso no visse o que estava escondido atrs da terceira porta.

A chutei com fora e tapei a boca para impedir qualquer grito. L estavam Charlotte e Daniel, abraados, como se tivessem sido congelados daquela maneira, com as gargantas cortadas. O sangue encharcava suas roupas e me deixava enjoada. Gritei o mais alto que pude ao ler a mensagem na parede Segredos... Vocs costumam morrer por eles, no ?

Gritei e fui perdendo a fora, noo de tempo e de tudo. Vrias pessoas entraram e viram o motivo de meu desespero, algum chamou a polcia e eu fui arrastada dali. Fiquei de olhos fechado, com a imagem cravada na memria. Algum me sentou numa cadeira macia e eu encostei-me a ela, me senti sacudida e tentei observar onde estava.

-Voc Anya Kiv? Perguntou uma mulher com um uniforme azul escuro.

-S-sim. gaguejei.

-Sou a policial Vargehsburg, posso te fazer algumas perguntas?

-Sim, eu acho. sussurrei rouca pelo tanto que gritara.

-Voc conhece as pessoas que encontrou?

-Sim.

-Ento... Os nomes so Charlotte Aliist e Daniel Belilaviski, correto?

-Aham.

-Eles eram o que seu?

-Minha amiga e ele era atual namorado dela, ex da minha irm.

-Voc mexeu nos corpos?

-No.

-O que voc foi fazer l?

-Arrumar meu cabelo.

-Sozinha?

-Sim.

-Eu li tua ficha. Tua irm se chamava Alice correto?Ela foi dada como morta e voc foi acusada, mas ficou livre por falta de provas.

-Nunca mataria minha irm.

-S estou falando da sua ficha. Disseram-me que voc e a senhorita Aliist estavam brigadas.

-Sim. Longa histria.

-Interessante.

Ela me fez mais algumas perguntas que me incomodaram, ela parecia estar querendo me culpar.

A policial finalmente avisou que iria embora e me deixou sozinha. Logo a diretora chegou dizendo pode ir embora, Anya e eu fui.

O corredor estava repleto de alunos. Eles me olhavam com dio e desprezo. Ah no.

-Sabemos o que tu fizera. Disse um garoto.

-O que?

-Tu sabes. Matou Charlotte, Daniel e Alice. Sabemos que tu s a culpada. Falou uma garota ruiva.

-No matei ningum!

-Laurenn, pegue nossas anotaes, por favor? O menino pediu ruiva que deduzi ser Laurenn. Ela entregou ele uma folha e ele comeou a ler: - Tu sempre fora bastante excluda de tudo. S conversava com tua irm pouqussimas vezes e com Charlotte. Alice sempre fora incrvel, perfeita. Tu sempre fora o patinho feio. a triste verdade. Ento, tu mataras Alice e escondera o corpo dela em algum lugar. Soubemos do romance entre Charlotte e Daniel enquanto ele ainda tinha Alice, tu ficaras com raiva. Pediu tua amiga que mantesse distncia e quando viu a cena do banheiro os matou e escreveu aquilo na parede com a faca que foi encontrada no cho. Alguma defesa?

-Mentira! Comecei a chorar loucamente. Como ele podia me acusar disso?Eu amava minha irm, nunca faria mal a ela!Charlotte e Daniel me magoaram, mas eu no os machucaria! No verdade!Eu... Eu...

-Peguem a assassina.

A multido veio pra cima de mim e eu comecei a correr com uma velocidade assustadora. A escola ficou para trs e eu entrei na floresta, alguns desistiram de correr, muitos continuaram. Tropecei muitos e meus ps afundavam na terra molhada pela chuva da noite anterior. Quando os vi longe o suficiente, desviei o caminho e o cho sumiu sob meus ps.

Agarrei-me em alguma coisa que arranhou minhas mos e senti-me meio asfixiada por um momento, o ar caia sobre mim e eu me sentia fechada. Fiquei de olhos fechados, fazendo o possvel para manter a calma. Contei carneiros. Contei anjos. Contei respiraes. Fui me acalmando bem devagar, ento tomei coragem para olhar onde estava.

Eu cara num buraco escuro e me agarrara num galho semi quebrado, foi o que machucou minhas mos. Parecia haver uma imensido abaixo de mim e isso me assustava, me mexi e o galho se desprendeu mais da terra mida; com medo, escalei rapidamente e me joguei em terra firme. Ufa. O cu escurecera de novo, eu estava suja e suada, o caminho para casa era longo, mas permaneci observando aquele lugar. Como eu nunca o vira antes?

No parecia haver mais nada l, mas decidi voltar outro dia. Na volta, gravei mentalmente o caminho e me certifiquei de que ningum continuava atrs de mim. Logo avistei minha modesta casa e bati na porta. Meu pai a atendeu e me abraou muito surpreso.

-Elisa!Venha!Anya est aqui! Ele me puxou pra dentro e mame me abraou tambm.

-Estvamos to preocupados, querida!Voc sumiu!No podemos passar por isso de novo! Onde voc estava?

-Eu...

-Anya eles me soltaram. Soubemos que Aliist morreu, sentimos muito. Sabemos que ela era querida.

-Era...

-Voc a encontrou.

-Sim.

-Mais algo queira nos contar? O olhar de meus pais era significativo o suficiente para me magoar profundamente. Se fosse Alice no meu lugar eles a colocariam num pedestal e faria tudo que sua doce filhinha inocente e traumatizada quisesse. Mas no aqui s a tonta da Anya, ento eles me tratam como criminosa sem nem perguntar o que realmente aconteceu.

-No fiz nada de mais para Charlotte ou Daniel. Respondi friamente. Senti-os acompanhando cada movimento meu, como se isso denunciasse minha culpa.

-A policial que te interrogou acha que tu s culpada. Ela nos ligou.

- especulao!Vocs no acreditam na prpria filha???Eu no a matei e nem aquele namoradinho dela. Vocs realmente acham que eu seria capaz disso?! Eu estava gritando com eles e eles se encolhiam a cada palavra. Medo de mim??

-Diga-nos tu, Anya. Disse meu pai. Ficamos todos presos num silncio muito desconfortvel e eu comecei a soluar. Logo as lgrimas escorriam livremente e eu nem tentei sec-las, apenas fitei os rostos de meus pais com mgoa. Eles suspiraram levemente e eu explodi.

Arranquei o quadro da parede. Nele havia eu, Alice, mame e papai sorrindo como uma grande famlia feliz em frente nossa casa, pouco antes de Alice sumir.

-Querem isso de volta??? Gritei sacudindo o quadro. Busquem-na!Ela nos mantinha assim, ela se foi e olha s!Olha o que aconteceu nessa famlia!Eu nem conheo mais vocs e vocs acham que matei pessoas. Que tipo de famlia somos? Taquei o quadro no cho e pisei em cima, o vidro se quebrou em muitos pedaos, um deles entrou no rosto de Alice da foto, somente no dela.

O silncio voltou, minha me tambm chorava agora.

-Anya... se a Charlotte agora est.... Cad Alice, minha querida?

-O... qu? fiquei absolutamente perplexa. Quem vocs pensam que eu sou? sussurrei lamentando.

-No sabemos mais. disseram Elisa e Leonard juntos.

-Estou to feliz com a informao...

-V para teu quarto Anya, conversamos... amanh. Tem correspondncia na escrivaninha.

Surpresa com o quanto o assunto mudou e ainda ferida pelas palavras e olhares daqueles que deviam me amar e confiar, subi as escadas e me tranquei no quarto. Chorei um pouco, lembrando depois da tal correspondncia. Trmula, levantei e peguei.

Era uma carta simples, com uma caligrafia chique e conhecida. Abri e comecei a ler. Quem mandara no escrevera o remetente e o endereo estava vazio. A carta dizia: Tere pevast Anya. Tu tens que vir agora! Preciso de ti! Tu sabes bem onde , tu foras l hoje! Volte e me socorra!Eu preciso!Quero sair mas tudo est to confuso!Somente tu sabe como me libertar. Me ajude! Com amor, Alice.

A letra era dela. Exatamente igual dela.

Ento desmaiei.


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