Casamento à Francesa escrita por lafleur


Capítulo 1
Doce Tentação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/151227/chapter/1

Doce Tentação

1

Tudo bem, estou dirigindo feito uma louca ao som de revolution de The Veronica’s. – Penso eu, enquanto costuro habilmente no trânsito caótico. Eu tinha de chegar a tempo na festa, Kanny estava me esperando em casa. Rapazes xingavam e automaticamente recuavam quando viam o quão maravilhosa era minha beleza. (Hahaha). Sedutora – Era isso que os meus superiores diziam. Sedutora, perigosa e determinada. Era exatamente por isso que eu era perfeita para o cargo de tenente não só aeronáutica, mas também do exército.

Viro o volante e cruzo à direita. – Quinze minutos – Encaro o relógio monotonamente. Viro em direção ao meu portão e freio cantando pneus. Abro o portão pequeno e cruzo meu perfeito jardim. A garagem está limpa e bem cuidada, isso é um claro sinal que o jardineiro finalmente apareceu aqui. Abro a porta da frente e então sigo correndo para as escadas. Meu scarpin de camurça ecoa no mármore brilhante que compõe o chão. Sigo para o meu quarto, aliviada – Kanny ainda está tomando banho. Jogo meus sapatos num canto do quarto e me livro do terno azul escuro que tenho de vestir. Separo um vestido tomara-que-caia preto com bordado prata e marcho sinuosamente para o banheiro. Tomo um banho rápido e objetivo. Quando saio do banheiro, Kanny me recepciona.

— Mel! – Ela me olha com desaprovação. — Estamos atrasadas! – Ela semicerra os olhos e me acusa. Eu rio.

— Não existe hora marcada para estar em festas. – Eu digo, enquanto me seco e me enfio no vestido.

— Kyle vai estar lá... – Trinco os dentes. Aquele imbecil, sem-vergonha, idiota... — Não me diga que vocês brigaram de novo! – Kanny interrompe minha série de adjetivos perfeitos referentes à Kyle. Olho para ela sugestivamente e calço minhas sandálias.

— Até parece que você não sabe o quanto ele é cafajeste! – Eu sibilo. Deslizo para frente do espelho, penteio os cabelos, coloco brincos e começo a me maquiar.

— Então dê um basta nele. – Kanny dizia encarando as unhas.

— É isso que farei hoje. – Eu dou um sorriso malicioso. Minha melhor amiga revira os olhos. — E Rodrick? – Pergunto a ela, que ruboriza automaticamente.

— Estamos indo. – Ela dá de ombros. — Não quero adiantar o processo. – Ela diz, roendo as unhas.

— Você quer perdê-lo. – Digo, enfiando-me dentro do guarda roupa a procura de uma bolsa pequena para festa.

— Não seja dramática Mel. – Ela murmura. — Vamos em meu carro, ok?

Por quê? – Eu a fito. Ela ri.

— Porque você tem o dom de sumir em festas e me deixar só. Além disso, não sei o quanto você vai beber se terminar com Kyle hoje. Então eu dirijo. – Ela balança as chaves animadamente. Cerro os olhos.

— Então coloque meu carro na garagem. – Digo, jogando a chave do meu lindo Honda civic azul para ela. Kanny pega a chave quase instantaneamente e desliza pelas escadas de mármore. Termino de me maquiar, checo a bolsa e me encaro no espelho. Há uma mulher alta, de cabelos pretos azulados que descem lisamente até três dedos acima da cintura, de olhos cor de mel, totalmente delineados e bochechas rosadas encarando o espelho. Estou melhor do que eu pensava – penso.

— Vamos? – Kanny volta quase flutuando pelas escadas.

— Vambora! – Eu digo e a puxo pela mão. Antes que ela pense em negar, pego a chave do carro dela, um daqueles sedans pretos, que somente gente séria usa, enfio-me no banco do motorista enquanto Kanny tranca a casa. Ela entra no carro e me olha de soslaio. Dou de ombros e aciono o portão automático. Kanny liga o aparelho de som do carro e eu dou marcha ré. Saio da garagem e aciono o portão novamente, para que este se feche. Kanny coloca num solo de piano.

— Acho que precisamos relaxar... – Ela diz e eu não a culpo. Estou com os nervos explodindo, tanto quanto ela. Eu e Kyle brigávamos frequentemente e talvez hoje déssemos um basta eterno nisso. Eu acho. Engoli em seco e dirigi normalmente pela estrada não movimentada ao som de Moonlight do Yiruma. — Mana... – Kanny hesita, então não sei o que vem pela frente. Estou quase estacionando o carro no rotativo abaixo do prédio da festa. Mordo o lábio inferior. — Não seja dura com o Kyle. – Ela diz e eu a olho de soslaio. – Mas se ele te machucar, faço-o comer terra! – Os olhos dela brilharam maliciosamente e então soltamos uma gargalhada cúmplice. Estacionei numa vaga afastada de outros carros e bastante iluminada pelas luzes fluorescentes do andar inferior.

— E você... – Começo, procurando as melhores palavras. — Não enrole Rodrick. – A olho fixamente. Kanny cora, mas sei que ela entendeu. Saímos do carro relaxadamente, rindo, descontraídas. Entrego a chave para minha melhor amiga-irmã, que a guarda dentro de uma bolsa transversal preta e discreta. Estamos subindo uma rampa que dá acesso ao elevador, quando uma voz familiar nos chama.

— Mellody, Kanny – Jenna, nossa melhor amiga de infância acena para nós. Então a esperamos e eu tenho vontade de ter bolsos para enfiar as pontas dos dedos. Kanny abraça Jenna, que logo depois me cumprimenta com beijinhos e abraço.

— Alguém está impaciente! – A voz dela vem como música até mim. Dou de ombros e então caminhamos alguns passos até o elevador.

— Estou cansada. – Digo, engolindo o que acabei de dizer. O elevador chega e nós entramos dentro.

— O nome disso é Kyle... – Jenna diz. Reviro os olhos.

— Estou começando a me irritar. – Digo, impacientemente, entredentes. Kanny olha para mim, analisando-me.

— Como está Philip? – Minha companheira de casa pergunta à minha melhor amiga, desvencilhando-me da situação. Relaxo. O elevador abre as portas e a música invade meus ouvidos.

— Não sei. – Ela murmura. – Ele veio com Kyle e Rodrick. – E pra variar os três ainda eram amiguinhos como nós somos. Mordi meu lábio. O lugar estava cheio. As luzes coloridas dançavam num ritmo em harmonia com a batida da música. Havia puffs em todo lugar, com sofás, cadeiras e até algumas salas separadas. Reviro os olhos. Melanie sabia como dar uma boa festa. O globo de luz reluzia, nos deixando cegas. Havia um open bar e garçons servindo todo tipo de comida.

— Wow. – Diz Jenna. – Melanie caprichou dessa vez, hein? – Ela estava embasbacada com tanta comida, música e garçons.

— Bom, pelo menos a festa não é desanimadora. – Nós rimos juntas e seguimos para uma mesa as sós. Vários casais dançavam no ritmo da música na pista de dança. Alguns flertavam nas mesas e grupinhos de homens e mulheres conversaram alegremente individualmente. Melanie nos avistou rapidamente e veio até nós.

— Feliz Aniversário! – Dissemos em uníssono e demos um abraço triplo em Lany. Entregamos o presente tão desejado – três boxes de DVDs a ela nessa manhã.

— Uau! Vocês estão arrasando. – Melanie nos elogiou. Ela estava como uma rainha. Um vestido de babados preto, com um decote tomara que caia e uma sandália magnífica nos pés. Ela usava um colar de pérolas cintilantes no pescoço e o cabelo solto em cachos definidos e encorpados.

— Você está arrasando também! – Sorri.

— Os rapazes já chegaram. – Ela disse, em polvorosa. Jenna revirou os olhos. Provavelmente brigou com Philip e Kanny se remexeu desconfortavelmente na cadeira – acho que era medo, receio. Fingi que ela não havia falado comigo.

— Onde está James? – Kanny perguntou e um garçom trouxe coquetel de maracujá para nós. Remexi minha taça com o canudinho.

— Ele estava conversando com os rapazes... – O olhar de Melanie varria todo o ambiente. E num momento, entraram em foco. Meu estômago girou. — Eles estão vindo! – Ela cochichou. Vi o olhar de pânico na face de Kanny. Eu estava quase na mesma, se não fosse pela raiva quase instintiva que eu estava sentindo. Jenna balançava a taça metodicamente. E então eles chegaram. Sinto mãos em minhas costas. Um frio percorre minha espinha. Estremeço e finjo que não sinto nada.

— Vamos dar uma volta, Lany. – James, o namorado dela, a convida para uma dança. Melanie vai quase flutuando com ele. Sugo o resto do meu coquetel com canudinho.

— Ham... – Kanny olha constrangida para mim. – Eu volto em instantes. Qualquer coisa, já sabe. – Era só ligar no celular. – Eu já ouvira isso trezentas vezes em no mínimo cinquenta festas. Ela sai de mãos dadas com Rodrick, que tem feições gentis e pacientes. Jenna puxa Philip pela mão e então Kyle desliza para o meu campo de visão.

— O que há? – Ele se senta em minha frente, mexendo em meu joelho. Desvio o olhar. Não olhe, não olhe. Era o que minha mente dizia.

— Você ainda pergunta? – O veneno intoxicava minha voz. Levantei-me e andei entre as pessoas que dançavam agitadamente. Eu estava ciente que Kyle estava me seguindo. Infelizmente, minha visão periférica de tenente nunca falhava. Ele me puxa pelo braço.

— O que está acontecendo, Mellody? – A voz dele era grave e alta, lutando contra o barulho da festa. Eu estava prestes a falar, quando a piranha do inferno aparece.

— Olá Kyle! – Ela finge que não estou lá e coloca-se na frente dele. Aproveito a deixa, puxo meu braço e sumo entre a multidão.

Pego um copo de vodca misturado com algo que parece ser sprite e me dirijo ao balcão do bar. Sento-me. Bebo periodicamente.

— Tenente Hawkeye? – Uma voz feliz e amistosa interrompe minha vontade preponderante de chorar. Engulo mais um pouco de vodca e viro-me. É Yohan. Um amigo antigo, da universidade.

— Olá Yohan! – Eu digo, feliz por alguém conhecido ter aparecido. Ele faz continência e eu rio para ele. — O que o trás aqui? – Pergunto, fitando o movimento da pista de dança.

— O aniversário de Melanie. – Ela fala alto, tentando fazer sua voz sobressair no turbilhão de sons. Ele também conhecia Melanie, desde a faculdade. — Ela sabe como dar uma festa hein! – Ele diz casualmente, acompanhando o movimento da multidão.

— Não é a toa que ela é formada em marketing. – Digo sorrindo. O garçom passa com mais copos de vodca. Pego mais um. Yohan olha para mim, preocupado.

— Por que está bebendo tanto, Mel? – Ele pega gentilmente em minha mão. Ignoro.

— É só... O cansaço. – Grito. Ele não parece ter se convencido. E eu também não queria dar explicações. Vejo a vaca imunda, Elizabeth, tentando arrastar Kyle, sem êxito, para um canto. Reprimo a vontade de rir. Yohan olha para onde estou olhando. Ela percebe.

— Ainda com o Kyle? – Dou de ombros e dou um ultimo gole. — Vocês vão casar um dia. – Ele fala com descaso. Engulo um nó com a palavra casar. O garçom passa mais uma vez, mas agora com uma bebida que sai fumaça azul. Pego uma.

— Yohan, foi um prazer revê-lo. – Digo, apertando uma mão dele. – Mas tenho uma coisa para fazer. – Sorrio maliciosamente. – Até breve! – Ele solta minha mão, com uma expressão de desentendimento e então eu marcho em direção à Elizabeth-vaca e Kyle, que discutem. Aproveito que estão concentrados e deslizo para o lado, fingindo esbarrar em Elizabeth. Jogo a bebida esfumaçante no cabelo dela.

— Ops... – Coloco a mão frente à boca, fingindo horror. Ela cerra os olhos, irritada.

— O. Que. Você. Acha. Que. Eu. Sou? – Ela sibila. Algumas pessoas nos olham, gargalhando.

— Uma vaca imunda. – Murmuro, fitando as unhas. Ela levanta as mãos para tocar no meu cabelo, mas em um segundo, dou um tapa rápido, afastando a mão dela do meu cabelo. — Nem pense nisso. Ou você sairá com o braço quebrado! – Eu explodo, exasperada.

— Venha cá, temos de conversar. – Kyle me puxa pelo braço, deixando a vaca de cabelo azul plantada. Sou arrastada até uma sala pequena, onde Kyle me joga no sofá e fecha a porta, a prova de som. — O que deu em você, Mellody? – Ele me encara, como se eu tivesse assassinado filhinhos de gato.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Casamento à Francesa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.