Lembro que desde pequena nunca fui muito preocupada em manter, ou ter, algo parecido com uma vida social. Não gostava de ir aos parquinhos da cidade brincar com outras crianças, e nas tradições reuniões de família eu me isolava em um canto qualquer esperando ate que começassem o show de talento dos Berrys e se lembrassem de que tinham uma pequena diva na família. Era um dos raros momentos em que eu me sentia parte dela, e um dos poucos momentos que meus pais sentiam orgulho de mim, quando eu pegava o microfone. Eles sempre viam cantar como um passatempo divertido, mas eu via como a oportunidade de sair daquela cidade. Sonhava em um dia estar na Broadway cantando e atuando para milhares de pessoas , e que se aquilo acontecesse eu não pensaria duas vezes em abandonar tudo e seguir meu sonho esquecendo totalmente que um dia vivi em Lima - Ohio.

Talvez por isso, nunca me importei em fazer muitas amizades. Quando era pequena não era exatamente uma ladyzinha como as outras garotas. Não gostava de rosa ,não queria ser bailarina ou ter a mansão da Barbie, e as bonecas que eu tinham era porque meus pais compravam sem eu pedir, afinal eles queriam que eu fosse como todas as outras garotinhas.Até que as bonecas tinham utilidade ,de fato,eram ótimas expectadoras dos meus solos.

Mas ainda assim eu tinha amigas. Brittany que era minha vizinha e Santana, que vinha pra minha casa, quando os seus pais que eram amigos do meu pai Hiram, estavam no trabalho. Me lembro das nossas brincadeiras na infância.Era engraçado mas sempre que brincávamos de casinha eu era o marido de Britt e Santana era o amante que se encontrava com ela quando eu ia para o trabalho, o que era encenado por eu saindo do meu quarto e vigiando a porta para ver se alguém estava vindo enquanto as duas ficavam la dentro. Britt era doce e inocente a ponto de estar sempre contando historias sobre conversas com fadas e como os duendes estavam roubando seus brinquedos. Não demorou muito para eu entender que os duendes que ela se referia era na verdade a doente da Santana, que não era tão inocente e roubava os brinquedos de Britt dizendo que as fadas os trariam de volta assim que ela desse um beijo em seu rosto .Era no rosto até uns 14 anos eu acho.As vezes eu me perguntava porque Sant não roubava meus brinquedos também,se bem que eu não ligava pra eles então não saberia,talvez ela ate já tivesse roubado mas desistiu vendo minha total falta de interesse. Mas a verdade era que quando Santana não estava se agarrando no meu quarto com Britt,nos estávamos juntas conversando sobre como fazê-lo, e em meio a isso tudo Santana se tornou minha melhor amiga.

Então viramos adolescentes e as coisas mudaram um pouco. Quer dizer Santana mudou. Agora ela era uma líder de torcida, a mais popular, a rainha do McKinley High School. Ela era cobiçada por todos o que significava que se ela não estivesse com Britt, ela estaria se esfregando com um outro qualquer,ou outra. Britt também mudou mas ainda era a mesma menina inocente que cresceu comigo, tão inocente ao ponto de levar a mesma vida vadia que Santana levava.

O que por algum motivo louco não mudou foi nossa amizade. Claro que com toda a popularidade Santana precisava manter o status de sem coração, e como eu realmente não me importava com isso resolvi fazer um acordo com ela. Santana poderia me humilhar publicamente algumas vezes com apelidos não tão carinhosos e com banhos de raspadinhas, se me avisasse antes para poder levar roupas extras, contanto que ela e Britt entrassem pra o New Directions .Nao que eu quisesse ela competindo comigo porque Santana tinha uma linda voz,mas porque assim o clube ia ter membros suficientes pra entrar nas competições, e eu enfim ser vistas por olheiros que ia me oferecer bolsas para suas escolas.

Eu também não mudei.Ainda preferia a monotonia de ficar no meu quarto vendo as horas passarem.Enquanto as meninas da minha idade estavam preocupadas de mais em estar na moda, arrumar namorados ou entrar em baladas para maiores de idade, eu estava extremamente ocupada em casa vendo alguma temporada de Friends, ou no computador em algum desses chats de bate papo conversando com pessoas que eu nunca iria conhecer , mas que devo admitir eram tão mais interessantes do que as que convivo.

Para os meus pais eu estava vendo a vida passar la fora enquanto ficava presa em casa na frente do computador e no fundo eu pensava que uma hora ou outra eu ia ter que tomar um rumo diferente na minha vida e começar a sei la vive-la?Santana já estava começando a cansar de me convidar para sair e minha resposta sempre ser a mesma. Não. E o estranho era que depois me arrependia de não ter ido quando ela chegava me contando de como foi divertido tal lugar que eu não fui.

Em um desses chats de bate papo conheci Lauren. Ela morava a milhas de distância , filha única, e com uma vida tão tediosa quanto a minha,adorava conversa com ela. Variávamos o assunto das conversas mas no fim, quando percebia, voltamos sempre pro mesmo: Mulheres. Famosas é claro. Comentávamos coisas simples sobre como era bonita tal atriz e seu gosto por roupas mas as vezes os comentários eram mais pesados do tipo “você viu como ela tava gostosa naquela cena “ ou “cara essa eu pegava fácil”, todos de Lauren claro.

Um dia ela me indicou um filme que havia visto recentemente e adorado. Lauren tinha bom gosto pra filmes então pensei que era uma boa ideia chamar Santana e Britt para assistirem comigo,um meio de recompensar todos os nãos que tinha dado pra elas. Perguntei a Lauren o nome do filme.”Loving Annabelle”.Nunca ouvi falar mas na curiosidade aluguei o filme. Liguei pra Santana e marcamos o cineminha na minha casa. Por via das duvidas perguntei a Lauren se o filme era realmente bom assim por que se não fosse, alem de Britt não entender, iria ter que aguentar reclamação da Sant. Lauren me respondeu com um “Sim,tenho certeza que você vai adorar =)”.

No dia seguinte, Santana chegou na minha casa com Britt e um garoto alto,muito alto.

— Rach. A gente encontrou com o Finn depois do treino e ele nos ofereceu carona – Britt dizia sorrindo enquanto Sant tinha os braços cruzados

—Contanto que ele pudesse ver o filme com a gente. –Sant não gostava da idéia de mais alguém entre ela e Britt, ainda mais Finn.

Não que ele não fosse um cara legal,Finn era o quarterback do time de futebol, e foi assim que ele conheceu as meninas, e bom me conheceu. Finn queria ficar com Britt e pediu minha ajuda pra isso. Era obvio que eu não iria ajudar por causa de Santana e sozinho ele não iria conseguir, mas desde então ficamos amigos.

—Tudo Bem! – disse olhando para Santana que dava de ombros entrando pra minha casa.

Fui ate a cozinha fazer a pipoca enquanto Sant fazia brigadeiro e Finn e Britt conversavam na sala em mais uma das tentativas frustradas dele conseguir ficar com ela.

—Não acredito que o Finn esta fazendo isso – Santana estava quase quebrando a colher

—Calma Sant eles estão apenas conversando, a Britt ainda é sua- Ela sabia dos rolos de Britt, mas uma coisa é saber outra é ver, certo?

—Não sei o que ela ve nesses caras que não vê em mim.

— A gente podia começar a lista com um pênis...mas acho que é meio obvio ne? – ri pra Santana – e também eles não estão nem perto – olho para a sala e vejo Finn se aproximando, melhor acabar com aquilo, vou correndo pra sala – Eeeiii melhor começarmos o filme logo.

Santana vinha atrás de mim com o brigadeiro mas uma cara não tão doce. Coloco o filme no DVD e me certifico de ficar entre Finn e Britt. O filme começou e entre pipocas e brigadeiros ninguém realmente prestava muito atenção. No meio dele eu tentava não demonstrar o quanto desconfortável eu estava vendo filme sobre uma aluna afim da professora, no meio da sala da minha casa, com duas amigas e um amigo que pareciam estar um tanto quanto surpresos quanto a minha escolha de filme. Quando o filme acabou o silencio era espantoso:

—Acho que estou meio perdido, a Rach é lésbica? –Finn perguntou pra Santana que também tinha uma cara surpresa

— Não.Eu não sou...lésbica. Eu não sabia que o filme era assim.Foi uma amiga que me indicou.- Parece que falar que uma amiga havia me indicado um filme gay não ajudava muito. Então Britt me ajudou:

— Calma Rach, é só um filme gente, nada que a gente nunca tenha feito Sant – ela olhou pra Santana que deu um pulo do sofá e fingia olhar o relógio.

— É isso só um filme simples assim, e olha só já ta na hora de irmos embora – ela me deu um beijo no rosto e correu pro carro.

—Te mais Rach –Finn se aproximou e cochichou no meu ouvido – Se você quiser eu tenho um desses la em casa.- piscou pra mim e saiu também

— Não liga pra isso não Rach, se você for gay eu te aceito do mesmo jeito.- Britt disse me abraçando e correndo pro carro também provavelmente não escutando meu grito

—Mas eu não sou!

Limpo a bagunça que fizemos e subo pro meu quarto. Ligo o PC e entro na sala de bate papo.Eu queria morrer depois do que aconteceu mas antes eu ia matar a Lauren. Não demorou muito para ela aparecer e mexer comigo:

Lauren: Ei Rach. E ai assistiu o filme?

Rach: Sim assisti.Com todos os meus amigos numa sessão de cinema que eu fiz na sala da minha casa

Lauren: Oo...caramba você nunca me disse que seus amigos eram moderninhos quanto você ser gay.

Rach: Ta ai a questão Lauren. EU NÃO SOU GAY.

Lauren: Ops.Deve ter sido meio embaraçoso então, não?

Rach: Meio embaraçoso?Foi o mico do século. Qual é o seu problema por que me indicou aquele filme?

Lauren: Por que pensei que você fosse gay Rachel.

Rach:Por que você pensou isso?

Lauren: Nos só conversamos sobre mulheres e você faz uns comentários bem suspeitos então liguei os pontos.Eu adorava saber que tínhamos isso em comum

Rach: Isso em comum...quer dizer que você é gay?

Lauren: Achei que era meio obvio não? Tanto quanto era você

Rach: Mas eu não sou, não posso ser. Eu nunca beijei uma garota.

Lauren: Mas também nunca beijou um garoto certo?

Rach: .....

Lauren: Olha faz um teste. Assiste outro filme..SOZINHA...e vê o que você sente. E normal ficar assustada agora, afinal isso é meio que algo novo sobre você. Pode ser que você nem seja mesmo..só tenha curiosidade sobre o assunto, ou não

Rach: Lauren você é louca,eu não sou gay não a nada de novo pra descobrir, xau!

Sai do chat determinada a nunca mais conversa com ela e me deitei na cama cobrindo meu rosto com o travesseiro. Não conseguia dormir. As palavras de Lauren ficaram na minha cabeça e bom quando não era isso, as cenas do filme vinham. Eu queria provar pra mim mesma que Lauren estava errada e que aquilo era impossível. Então resolvi liga o PC e assistir outro filme como ela mesmo havia sugerido e assistir sozinha.Tranquei a porta afinal já tinha sido muito ruim meus amigos verem, imagina meus pais? Eles são gays, mas isso não significava que era absolutamente normal ficar vendo esse tipo de filme. Pesquiso em alguns sites e encontro um chamado Imagine me and you.

Começo a ver e ate que acho a historia interessante, mas o filme não tinha muita “ação” então não era como um grande teste de sexualidade. De repente chega a cena crucial em que elas se beijam:

— Aiii que nojo!... Espera só isso? Já acabou?Por que o cara chego justo na hora?

Okay dizer aquilo era estranho mas, pra tirar a duvida de vez resolvo ver só mais um filme. Que tipo de filme gay chama DEBS: As super espias? Deve ser um lixo, vou ver esse. Okay tudo certo ate aqui, nada de diferente:

— Anda Amy foge logo com a Lucy –

Será que disse isso alto? Silencio total. Não meus pais não acordaram,voltando pro filme.

—Caramba com a Lucy é linda,não ligaria se ela me sequestrasse também....Espera de onde veio isso?Não, não mesmo, eu não posso ta pensando isso, querendo isso. - Olho para baixo – Drogaa eu não posso ta excitada com isso.Naoo, eu não posso ser gay....posso?....Oh meu Deus, naoooo.

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