- Lizzie... – Emily murmurou – o que você acha de Blaise Zabini?

- Ele é...bonito – falei sem tirar os olhos do livro – por que?

Emily corou e abaixou o rosto.

- Nada... – respondeu voltando a comer o seu cereal.

- Você....por acaso....esta afim dele? – fui bem direta e ela corou ainda mais.

- Talvez... – sussurrou ainda de cabeça baixa.

- Fala com ele – eu disse fechando o livro.

- Esta doida? – perguntou me encarando – isso é suicídio!

- Por que? – perguntei e ela deu uma rápida olhada na direção em que ele estava, ao lado do seu grupinho.

- Pansy Parkinson.... – sussurrou e eu fiz uma careta.

- A buldogue? – perguntei e ela riu, balançando a cabeça – Ela nem chega aos seus pés.

Emily sorriu voltando a olhar para baixo.

- Mas...o problema não é esse – falou – o problema é que ela se comporta como se Zabine fosse propriedade dela...

- Pansy é uma idiota... – eu disse guardando meu livro na bolsa e me levantando da mesa – vá até Zabine e o convide para sair...

Ela concordou com a cabeça ainda com o rosto vermelho.

- Tenho que ir... – falei – nós vemos em Poções...

Saí rapidamente do Salão Principal e rumei em direção à biblioteca, pois teria que devolver o livro de Historia da Magia.

Porém, ao passar pelo banheiro do 2° andar via pequenos e imperceptíveis respingos de sangue.A curiosidade foi maior e eu adentrei silenciosamente no banheiro.

Quando eu o vi encostado na pia com a cabeça abaixada, meu coração disparou.Mas ao ver o seu estado, me aproximei dele.

- Você...esta bem? – perguntei o assustando.

Ele se virou abruptamente para trás e me fitou.Olhei para a sua mão, onde havia um corte profundo.O sangue jorrava por ela.

- Theodore... – dei um passo para frente mas ele fez a menção para que eu parasse.

- Eu estou bem... – falou rapidamente – vá embora...

- Espera! Eu posso fazer um curativo! – exclamei dando outro passo.

- Já disse para ir embora! – ele exclamou em um tom mais alto, mas não me intimidei.

Era visível a sua dor, então, dei outro passo e peguei sua mão ensangüentada.Ele relaxou ao meu toque.

Eu o puxei para a pia e limpei o sangue.Em seguida, peguei a varinha e apontei para o corte.

- Vulnera Sanentur – murmurei e aos poucos o corte foi se fechando, até ficar apenas uma cicatriz.

- Aonde aprendeu esse feitiço? – ele perguntou cortando o silêncio – É um feitiço avançado....

- Minha mãe já usou muito em mim – falei – quando eu me machucava depois de uma fuga...

Lavei minhas mãos e me olhei no espelho, vendo que o meu estado era deplorável.

Meus cabelos vermelhos estavam opacos e sem vida, minha pele parecia mais pálida que o normal e haviam olheiras, causadas pelas noites em claro.O medo de voltar a ter “aqueles” sonhos não havia ido embora.

- Como você...se cortou? – perguntei o encarando pelo espelho sujo e rachado.

- Acabei...quebrando um copo – respondeu hesitante e pude identificar, em seus olhos, que era mentira.

- Certo... – falei e me desencostei da pia – eu...te vejo mais tarde então...

- Espere! – ele segurou meu braço e com agilidade me virou de frente para ele – eu já disse para parar de me levar a poção....não quero que faça isso por pena...

- Não vou parar de fazer isso por causa do seu orgulho... – falei.

- Não é orgulho! – ele exclamou e eu arqueei as sobrancelhas.

- Admita, Theodore! – falei – é orgulho!

- Não vou admitir isso! – ele falou.

- Viu? Nesse exato momento você esta sendo orgulhoso de não querer admitir que é orgulho – falei rapidamente e agradeci pela minha frase complexa ter saido certa.

Foi a vez dele arquear as sobrancelhas.

- Me explique....por que seria orgulho não querer que tenham pena de mim? – perguntou.

- Você não quer se mostrar fraco para o seus inimigos e para as pessoas que sentem pena de você – respondi – Orgulho é manifestação do alto apreço ou conceito em que alguém se tem.Em palavras mais simples...é uma soberba ridícula.

- Use palavras menos complexas... – ele falou com deboche enquanto me empurrava para a porta – e depois volte aqui para me explicar o que é orgulho.

- Espere! – eu falei tentando pará-lo – não pode simplesmente me expulsar do banheiro! Por minha causa você não vai morrer de hemorragia!

- Ah! Claro...obrigado – falou com deboche e me soltou.

Me virei para ele.

- Você é um grosso, Nott! – exclamei.

- Tchau, Dolohov – falou encostado no batente e em seguida fechou a maldita porta na minha cara.

- Idiota... – praguejei e pude ouvir sua risada ironica abafada pela porta – Eu preciso da minha bolsa!

A porta voltou a se abrir e minha bolsa foi jogada em minha direção.Eu a peguei rapidamente e comecei a andar em direção a aula de Trato de Criaturas Mágicas.

- Muito obrigada, Srt.Dolohov... – falou Madame Pomfrey amavelmente me entregando o frasco da poção azul neon – Theodore é muito difícil de se lidar....orgulho, entende? Muitos desistiriam na mesma hora....

- Não há de que, Madame Pomfrey – falei – Bem...é melhor eu ir, tenho que dormir cedo.

Ela acenou para mim e eu saí da Ala Hospitalar rumando para as escadas.Dobrei muitos corredores e parei em frente à tapeçaria.

Passei três vezes por ela e uma porta rapidamente apareceu.

Adentrei na sala escura que era iluminada apenas pela luz da lua crescente.Me aproximei do sofá encostado na parede e olhei confusa para Theodore, que permanecia deitado no sofá com os olhos fechados.

- Theodore... – murmurei e ele abriu aqueles olhos azuis – você esta bem?

Me aproximei mais e ele se contorceu, soltando um gemido de dor.

- A marca.... – falou com a voz fraca – esta queimando....

Larguei o frasco no chão e corri para o seu lado.Seu braço esquerdo estava esticado e no antebraço pude ver a Marca Negra se mover lentamente.

Voltei a olhar para o seus olhos azuis que naquela hora expressavam angustia e dor.Eles estavam brilhantes, como os de uma criança.

No one knows what it's like

Ninguém sabe o que é

To be the bad man

Para ser o homem mau

To be the sad man

Para ser o homem triste

Behind blue eyes

Atrás de olhos azuis

 Peguei seu braço delicadamente, ainda olhando em seus olhos.Coloquei minha mão por cima da Marca Negra e ele relaxou ao meu toque.

Deitei sua cabeça em minha perna e com os olhos úmidos, afaguei seus cabelos arrepiados.

Havia um brilho em seu olhar, um brilho como o de uma criança machucada.Uma criança sozinha, sob pressão....

Theodore Nott era apenas uma criança.

But my dreams, they aren't as empty

Mas meus sonhos, eles não são tão vazia

As my conscience seems to be

Como minha consciência parece ser

I have hours, only lonely

Eu tenho horas, apenas solitário

My love is vengeance

Meu amor é vingança

That's never free

Que nunca é grátis