POV Selena.

E de alguma forma ainda estou com o pressentimento ruim, os calafrios, as palavras que ela dizia me davam mais ânsia. Observo-a pensativa, como se estivesse editando um texto em sua mente e buscando cala palavra antes de colocá-la ali. O estranho é que em momento algum ela me olha ou faz menção, apenas abaixava a cabeça ou em vezes olhava para o nada. Ouço mais um dos seus suspiros de cansaço e resolvo falar.

– O que está acontecendo amor? – pergunto para conseguir chamar sua atenção. Uma tentativa inútil.

– Nós precisamos conversar Selena - fala brincando com seus dedos. Agora ela não tinha face alguma, estava apenas pensativa e parecendo muito decidida. Sento-me ao seu lado para nós iniciarmos a conversa após ela me pedir. Com dificuldades ela tenta se por sentada, ainda fraca ela cambaleia um pouco para o lado, mas logo se segura e consegue sentar-se encostando as costas na cabeceira da cama onde estavam os travesseiros que a ajudaram a se apoiar.

– Amor para com isso, você não pode fazer esforços, sabe disso – tento impedi-la, sem sucesso.

– Estou bem, não se preocupe – ela diz com certa frieza e grosseria.

– tudo bem, mais, o que esta acontecendo? Por que você esta assim comigo? Eu fiz alguma coisa?- pergunto e ela pela primeira vez aparenta-se meio mal mais logo põe a pose de durona.

– Não você não fez nada, acontece que... Nós, digo, a gente “Eu e você”, isso não pode mais acontecer, eu não sei... Estou confusa sobre os meus sentimentos e por enquanto eu acho que nós precisamos de um tempo, espero que você consiga entender – certa raiva me tomou por conta pela tal brincadeira, eu realmente não estava entendendo ou achando qualquer graça nisso.

– Você não pode estar falando serio, desculpa Demi mais essa brincadeira não tem graça alguma – falo para que pare com a criancice mais ela abaixa a cabeça e de uma certe forma me passa absoluta certeza no que disse. Não podia ser verdade, e se fosse, não teria motivos.

– E você realmente acha que eu estou brincando? Não tenho certeza, mais acho que nunca falei algo tão serio em toda minha vida, desculpe se estou te magoando mais, eu não sei talvez essa vida não seja para mim – ela cospe as palavras, sua grosseria e suas palavras estavam me ferindo de uma forma inexplicável. Ela não podia esta sendo sincera, tal frase não teria sentido, “talvez essa vida não seja para mim”, não poderia ser pelo fato de nós sermos meninas, isso não era o problema... Não podia ser.

– Como assim “desculpe se estou te magoando”, você não pode estar falando a verdade, e essa conversa de “esta vida não seja para mim” do que você esta falando? Por favor não me diga que é pelo fato de nós sermos...- ao tentar completar a frase ela me corta de maneira agiu.

– Sim, é pelo fato de nós sermos meninas, pelo amor de deus Selly, duas meninas ficarem juntas! Não é essa a lei do homem. Além disso, o que os outros iriam pensar e falar de nós? E a mídia? Desculpe mais eu tenho uma carreira, tenho fãs e pessoas que se espelham em mim, e preso por eles. E não venha com aquele discurso que eu sou hipócrita ou blábláblá...

Por um momento eu fiquei ali parada, sem reação. Fisicamente em sua frente eu não estava aparentando dor no momento, eu ao menos conseguia falar, a dor consumia cada mínima parte do meu peito lentamente, as lagrimas estavam sendo impedidas pelo fato de que, eu e meu corpo não estávamos conseguindo absorver tudo o que ela disse.

Faço força e meu cérebro se contrai junto com meus músculos ao tentar entender tudo o que esta acontecendo, meu rosto fica quente e vermelho ao tentar parecer forte e não chorar na frente dela.

– Por que você esta falando assim? Eu... A gente estava tão feliz, eu te amei Demi, eu te dei tudo, te dei minha alma, meus pensamentos eu dediquei somente a você, te dei meu corpo e meu respeito, mas principalmente... Eu te dei meu coração, e todo o amor que havia dentro de mim. E de todas as vezes que você disse me amar? E quando você disse que era apenas eu que importava no mundo? – as palavras voaram de minha boca, eu estava sendo destruída pela única pessoa no mundo em que eu daria minha vida.

– Não era minha intenção te magoar ou te iludir e, por favor, não chora não, vale apena, por tudo que você mais ama em sua vida me prometa apenas uma coisa? – disse encarando e parede como fizera a conversa inteira- Prometa que me esquecerá. Finja que eu não existo ou nunca existir – falou pela primeira vez me olhando nos olhos e os seus se encheram com uma Expressão de culpa logo após, mas ela para não aparentar fraqueza os desviou.

– E a pior parte e que você sabe que será impossível, que vai ser impossível esquecer tudo o que nos vivemos e por mais que pra você não tenha significado nada, foram os melhores momentos da minha vida, eu me lembrarei de você todos os dias enquanto eu viver. Eu me enganei com a pessoa a quem você é, e a quem eu pensei que fosse... Eu só não sei por que você fez tudo isso se não sentia absolutamente nada por mim? Por que ficou comigo aquela noite? Por que me fez acreditar que você me amava? O que você ganhou com isso? – tentei gritar ao tentar demonstrar minha dor o que na verdade seria impossível afinal, nem eu mesmo estava, a saber, do tamanho da minha dor, não era humano isso que eu estava sentindo muito menos desumano, era algo bem fora da realidade, era maior que tudo, somente não maior que o amor que eu sentia por ela, e queria não sentir. Ela se assusta um pouco, estava claro que eu nunca tinha ficado daquele jeito.

– Eu tive pena, tive pena quando você disse que me amava e eu não sentia o mesmo. Então eu simplesmente tentei te fazer feliz, mais eu cansei disso, cansei de mentir pra mim mesma, acredite, vai ser melhor para nós duas que isso aconteça – “pena?” penso comigo, pena nem ao menos era um sentimento, era apenas uma palavra voluntária sem um significado certo, então era somente isso que ela sentia por mim, pena? E o modo como ela disse isso a mim... A arrogância, a frieza... Ela parecia pouco se importar.

– Fez tudo isso por pena? – tentei forçar uma voz que literalmente não queria sair, uma voz falha e baixa, pouco audível mais pelo fato de estarmos sozinhas no quarto fez com que a mais nova entendesse perfeitamente minhas palavras.

– Desculpa... – como se fosse adiantar alguma coisa ela me pedir essas “sinceras” desculpas, no momento palavra alguma, nem que fossem as mais belas, me fariam sentir melhor. Eu ainda insistia em procurar algum tipo de magoa ou arrependimento em seus olhos ou em suas palavras, mas a verdade e que não existia nada... Exatamente nada, sem nenhum sentimento que fosse... Mais não. Eram os mesmo olhos por quem havia me apaixonado há muito tempo atrás, mais não do mesmo jeito.

Levantei-me com dificuldades, a dor sentida no momento tirava-me todas as forças existidas, minhas pernas quase não agüentavam o meu peso, mais com esforço me levanto e me viro de costas para ela, fecho meus olhos com força tentando conter o choro que escorria abundantemente.

– é a sua ultima palavra? – falo encarando a porta após tentar ir embora. O que eu mais queria era que ela me pedisse pra ficar, que ela implorasse o perdão necessário no momento, que ela dissesse que tudo o que ela disse foi pleno ataque de loucura, que nós esquecêssemos tudo isso e voltássemos a ser como estávamos a dias atrás, mais ela respondeu minha pergunta com o que eu já esperava pela base da conversa.

– sim... É minha ultima palavra – meus ombros sedem pelo cansaço corporal e emocional... Volto em mim, não agüentava mais ficar ali, no mesmo ambiente que o dela, era agonizante, era sufocante demais pra mim – Selena... – meu coração bate forte ao perceber que ela chama meu nome novamente.

– o que? – pergunto mordendo os dentes e respirando fundo tentando não transparecer voz de choro.

– Espero que seja feliz – solto o ar que havia guardado em meus pulmões em um bufar, era uma frase irônica afinal como posso ser feliz se não tenho motivos, como posso ser feliz se o meu único motivo acabara de me deixar em um estado de tristeza nunca sentida antes?... Mas se era pra agir com ironia e criancice também a desejaria.

– Você também... – dessa vez meu corpo se desloca com urgência para fora daquele cômodo hospitalar que por motivos óbvios não me traziam lembranças boas.

Um soluço baixo sai de minha boca enquanto as lagrimas saiam sem intervalo de tempo, minha visão embaçada pelas mesmas me fazia tropeçar, minhas pernas e o movimento do meu corpo não me ajudavam muito, era como se eu fosse cair a qualquer momento...

Passei de cabeça baixa pela recepção onde todos estavam logo eles notaram minha presença e os olhares preocupados não foram evitados por eles, os rostos de interrogação, querendo saber o que estava acontecendo, por que eu me encontrava daquele jeito, por que eu aparentava estar sentindo tanta dor... Miley me olhou confusa e tentou vir ate mim, eu apenas neguei com a cabeça para que ela não me seguisse, queria ficar sozinha, queria chorar, gritar... Entregar-me absolutamente a dor, ao sofrimento... Era somente isso que eu queria no momento.

Saio do hospital, reportes e paparazzi estavam na entrada, ao ver meu rosto e meu choro todos imaginaram que o pior tinha acontecido com a Demi. Eu andei ate o carro, ou pelo menos tentei, era difícil com todos me fazendo perguntas e tirando fotos de mim.

– Selena como ela esta? – uma mulher com um microfone de uma emissora conhecida me fez a pergunta. Respirei fundo tentando me acalmar e respondi:

– Ela esta muito bem... – entrei no carro e fechei os vidros e as portas tentando “evitar” todos e me manter sozinha, empurro minha cabeça contra o volante esbarrando na buzina talvez provocando algum som... Dessa vez eu não agüento e desisto ao menos transparecer um pouco de calma, eu realmente demonstro como eu estava me sentindo, mordo minha mão tentando substituir a dor emocional pela física, uma perda de tempo... Era literalmente o meu limite... e motivos pra viver eu realmente não tinha...