Bad Girl Fuckin Perfect escrita por Nikkmoon


Capítulo 8
Cap VIII: Halloween


Notas iniciais do capítulo

GOMEEEEEN! Realmente eu sinto muito pela demora, mas o capitulo esta ai, e ficou grande para compensar.
Espero que gostem.
Boa leitura.



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Cap VIII: Halloween



Tudo bem.” Respirei fundo enquanto abria a porta, tentando seriamente acreditar nessas palavras. A pior época do ano – para mim – havia chagado. Se o ano inteiro era uma droga, havia de ter o pior dos dias, e ele tinha chegado... Se para muitos o Halloween representa um dia festivo e divertido, eu o via como o pior dos meus pesadelos. Era o dia em que todos os populares e afins da escola pregavam peças nos deslocados e nerds, e adivinha quem era o principal dos alvos? Eu!


Esse ano eles pegarão leve...” Eu inutilmente tentava manter um pensamento positivo, coisa que jamais conseguia fazer. Mas quem eu queria enganar? Eles não pegariam leve, seria tão ruim ou pior como em todos os outros anos. Pior... Seria muito pior, levando em consideração o novo diretor. “Vai ser o meu fim.”


Tranquei a porta e olhei as casas ao meu redor, algumas já estavam previamente arrumas com lâmpadas de abóbora em suas fachadas para a noite que viria. Fitei fixamente a enorme abóbora do outro lado da rua, em frente a porta dos McFarlan. Grande, robusta, com um sorriso demoníaco cortado em no que agora seria sua face. Senti um arrepio percorrer minha espinha, sabia que viria muito daqueles sorrisos ainda “pelo menos eles conseguem sorrir.” Ignorei meus pensamentos e cabisbaixa, tentando fugir dos olhares sádicos das abóboras nas ruas, segui meu caminho rumo aos piores dos dias.


Fui obrigada a tomar um caminho alternativo, um atalho muito mais longo, o receio de levar empurrões e tapas antes de chegar a escola me fez mudar o percurso que fazia todos os dias. Quando estava a alguns poucos metros da escola, parei... Segurei forte a alça da mochila. Li as obscenidades pichadas em todos os muros da escola, sendo que há dois meses atrás haviam mandado pintar. Senti uma vontade enorme de dar as costas e sair correndo, me trancar em casa e jamais sair novamente. Mas eu não podia. Reprimi um choro de angustia e comecei a caminhar.


Eu olhava fixamente para os meus pés, não me atrevia a levantar a cabeça, caso esbarrasse em alguém seria por minha total e completa culpa. Atravessei o portão da escola sem problemas, mas eu definitivamente não deveria tê-los atravessado. Assim que meus curtos passos começaram a percorrer a entrada da escola rumo aos armários, antes mesmo de chegar perto de meu objetivo, fui barrada. Um grupo de aproximadamente quatro garotos (ou eu deveria dizer gorilas?) me rodearam.


– Então você querendo logo cedo, putinha? – o gorila que estava na minha frente disse, dando um passo para frente e me obrigando a dar um passo para trás para fugir de sua aproximação, o que resultou em minha mochila encostando no outro que estava atrás de mim. – Foge não, eu sei que você quer.


Não fazia a mínima idéia do que ele estava falando, e nem sabia ao certo que fazia questão de saber, mas o espanto me fez levantar os olhos. Subindo o olhar me deparei com um enorme casaco branco e azul com o emblema da escola cravado no lado esquerdo do peito. Eram os garotos do time de futebol, isso explicava o tamanho acima da media e o cheiro de suor e derrota. Estreitei mais os meus olhos para cima, ate encontrar o semblante sádico, quase de um maníaco do loiro a minha frente. Senti o medo percorrer minhas veias e aumentar ainda mais o seu fluxo quando o gorila que estava atrás de mim segurou meus braços.


– Calma, vai fugir não, putinha – o que estava a me segurar se pronunciou, fazendo os demais rirem. Mesmo não estando a sua frente e a muitos centímetros abaixo de sua estatura, pude sentir o hálito pobre dele.


– Vamos levava pro armário do faxineiro – uma voz que eu desconhecia fez a tal sugestão absurda, que os demais aceitaram rindo.


Senti meus pés por um instante saírem do chão, o gorila que me segurava começara a me arrastar, provavelmente para o tal armário do faxineiro, foi então que me desesperei. Eu não sabia o que queriam fazer comigo, mas eu já estava apavorada antes mesmo de entrar na escola, me desesperar agora não seria nenhuma surpresa.


– Me solta! – tentei gritar, mas acabou por soar mais um murmuro desesperado. Tentei me debater entre as mãos grotescas que me seguravam, mas se mostrou ainda mais ineficiente.


Os risos deles se tornaram cada vez mais altos, ate que de repente senti as grotescas mãos se afrouxarem possibilitando minha fuga desesperada. Tentei correr, mas antes que pudesse dar pelo menos três passos, um pé se pós entre os meus fazendo-me cair com força e de cara no chão. Foi então que os risos deles se tornaram gargalhadas, assim como os dos demais que assistiam a tudo.


Continuei no chão por alguns longos segundos, ouvindo os risos me atingirem como facas. Mas só quando vi minha mochila caída ao meu lado eu pude entender... Grudada em minha mochila havia uma folha de caderno com os dizeres “Fodam-me” escritos em uma letra garranchada, porem legível e bem grande. Alguém tinha colado aquilo em mim logo quando entrei, e os gorilas em forma de jogadores decidiram entrar na brincadeirinha.


Fui me erguendo aos poucos, as gargalhadas diminuíram de intensidade, mas ainda persistiam. Mas, antes que eu pudesse me levantar por completo e sair, ouvi o gorila loiro que me barrou dizer:


– Como se alguém fosse querer comer uma coisa inútil feito você – e os risos voltaram a se multiplicar com tal comentário.


Sai correndo o mais rápido que pude. Meus joelhos doíam, mas eu não podia ficar mais ali servindo de chacota. Apenas quando cheguei a meu armário me permiti olhar para trás e respirar novamente. Os que antes riam já haviam ido embora, peguei então minha mochila e tirei a folha de papel, amassando-a e jogando-a dentro do armário. Guardei os livros dentro da mochila para só então passar as mãos pelos joelhos para limpá-los. Tentei ignorar os últimos acontecimentos, eu sabia que aquela não seria a ultima piadinha do dia.


–--


Nunca achei que ficar dentro da sala de aula seria a melhor coisa a se fazer, mesmo na presença do professor eu não estaria segura de sofrer nenhum tipo de brincadeira. Mas porque diabos tinha que ser justo a aula de historia? O Sr. Douglas não passa de um ser sentado diante à sala, que não representava autoridade nenhum e nem se empenhava para tentar obtê-la. E como se eu estivesse na sala da 5° serie, as crianças já adolescentes, quase adultas, começaram uma incessante guerra de bolinhas de papel. Debrucei-me sobre a carteira e tapeis os ouvidos com as mãos, não queria ouvir os berros escandalosos dos meus adoráveis colegas de classe, e nem levar bolinhas de papel na cara. Claro, eu seria o alvo principal. Não importava a sala, não importava o professor, não importava o horário eu sempre era o alvo principal! Por algum motivo todos da escola me elegeram, sem votação previa, como saco de pancas e chacota coletiva, talvez para não terem que dividir esse cargo entre eles.


Sentia as bolinhas me acertarem no topo da cabeça e nas costas, e mesmo com os ouvidos tapas podia ouvir o riso exagerado de todos eles. Eu poderia simplesmente me levantar e sair da sala, o Sr. Douglas nem notaria, na verdade, um aluno poderia morrer durante a aula que ele não notaria. Mas, caso eu levantasse seria muito pior... Antes mesmo de poder me afastar dois passos da minha carteira, eu estaria no chão e a humilhação é muito maior quando se está, literalmente, aos pés de todos para que possam rir de você. Então tudo que fiz foi continuar ali, sentada com os ouvidos tapados. As bolinhas não machucavam, a maioria das coisas não machucavam fisicamente, o pior era a humilhação, a vergonha. De repente senti uma bolinha mais pesada se chocar contra minha cabeça e escorrer pelas minhas costas. Instintivamente levantei um pouco a cabeça e levei uma das mãos ate a parte de trás da cabeça, foi então que senti algo gosmento e pegajoso entre meus dedos. Eu já sabia o que era, mas tive que olhar para minha própria mão apenas para conferir... a cola branca entre meus dedos. Não me atrevi a olhar para trás, podia ouvir os risos cada vez mais altos deles. Limpei a mão na lateral da cadeira e voltei a me inclinar sobre a mesa com os ouvidos tapados.


Ao final do período a sala se resumia a um amontoado de papel amassado. Esperei todos saírem da sala, uns saiam rindo fazendo comentários esdrúxulos ao meu respeito em alto e bom som. Quando finalmente todos haviam saído, passei novamente a mão pelo cabelo... A cola já havia secado e endurecido, o rabo-de-cavalo que eu sempre matinha baixo tinha uma faixa enorme de cola seca. Eu levaria pelo menos meia hora para me livrar de toda aquela cola.



–--



Quando o sinal para o almoço tocou senti minhas pernas bambearem por um momento. A aula anterior havia decorrido normalmente, na sala de biologia a Sra. Reymond era rígida e não permitia nenhum tipo de brincadeira ou gracinha. Entretanto, ao final daquela aula se iniciava o almoço, e nele não havia quem impedisse ninguém de fazer nada. Pode parecer exagerado, mas é verdade. Os inspetores não tinham nenhuma autoridade a não ser que chamassem o diretor, coisa que dificilmente acontecia; e mesmo que chamem, levando em consideração o novo diretor, não adiantava de muita coisa. Todos sentiam-se livres para fazer o bem entendessem sem muitas preocupações, menos eu... Se em dias normais eu já evitava a cantina como um vampiro evita a luz solar, não seria no halloween que eu me atreveria a pisar no chão engordurado de lá. Poderia novamente parecer exagero de minha parte, mas eu apenas fugia daquele jeito da cantina por ter vivido tal coisa, e mais de uma vez para aprender, e uma delas foi justamente durante o halloween.


Peguei minha mochila e segui pelos corredores, com algumas poucas decorações comemorativas pela data grudadas na parede, na direção do banheiro. Enquanto caminhava, as lembranças do almoço do halloween passado preenchiam minha mente... Meu primeiro ano na nova escola, meu primeiro ano no colegial, e pensava que tudo seria diferente, mas estava incrivelmente enganada. Não sabia bem como funcionavam as coisas por ali, e morta de fome fui para a cantina, mas antes mesmo que eu pudesse chegar a fila me jogada contra o chão. Alguns garotos riam enquanto eu tentava me levantar, minha mãe me disse uma vez que era errado bater e humilhar mulheres, mas acho que eles não conheciam essa regra, como não conheciam nenhuma outra. Quando finalmente me pus de pé um dos garotos, que ate então eu não sabia o nome, se aproximou de mim com uma bandeja. Como em muitas escolas em datas especiais, ou por algum motivo qualquer, servem comida diferente do habitual no refeitório, e para o meu azar eles seguiam essa ‘tradição’ com o cardápio do dia sendo composto com comida mexicana. O garoto se aproximou mais de mim, em sua bandeja um prato grande de feijão quente quase borbulhava. Sem aviso prévio ele derramou o feijão quente sobre minha cabeça. Senti o couro cabeludo queimar enquanto o feijão escorria e caia sobre meus outros. O garoto, que depois vim a descobrir que se chamava Matt, ria junto aos demais ate que alguém, no fundo do refeitório, gritou em alto e bom som “GUERRA DE COMIDA”. Foi então que vi tudo voar em minha direção. Tentei fugir, mas não tinha para onde ir, o chão estava sujo de molho tornando-se escorregadio demais para correr. A tal ‘guerra’ não durou mais do que um ou dois minutos, mas foi o suficiente para uma infinidade de bandejas me acertarem e eu ser coberta por todo tipo de comida que havia disponível.


– Ei, idiota!


Uma voz distante, quase um murmúrio ao fundo, me fez despertar do curto devaneio. Já me encontrava no banheiro, com a mochila nas mãos e apoiada em uma das paredes. As lembranças não tinham desvanecido por completo... Aquele dia eu voltara para casa coberta de massa de tacos, feijão e uma variedade incrível de molhos, se eu respirasse mais profundamente conseguiria sentir o cheiro de chilli no meu cabelo, certo que agora estaria misturado com o cheiro da cola.


– EI, IDIOTA!


A voz distante se fez ouvir novamente, mas dessa vez estava mais próxima, com mais raiva. Levantei a cabeça e vi Lucy e mais algumas garotas me encararem. Elas também estavam aquele dia, no ano passado, jogando tudo que encontrava no refeitório em mim, mas Lucy e Matt ainda não eram um casal.


– Você adora esse banheiro, não é, coisinha? – disse cínica, andando em minha direção balançando o quadril de forma incrivelmente forçada.


Involuntariamente dei um passo para trás, mas já estava na parede. Quando foi que comecei a ter tanto medo assim? Realmente não sabia.


– Eu adoro o Halloween! – sorriu por entre os lábios vermelhos – É quando todo mundo se diverte, se diverte a suas custas e você deixa – gargalhou alto, sendo acompanhada das outras quatro garotas que eu não fazia idéia de quem seriam – Você deixa! – enfatizou rindo mais – Mas dessa vez você decidiu se esconder, que bonitinha, pena que não vai resolver.


Antes que eu pudesse piscar mais de duas vezes ou colocar minha mochila frente ao corpo como escudo, duas das garotas que estava com Lucy se aproximaram, uma de cada lado agarrando meus braços fazendo-me largar a mochila. Por um momento tentei me soltar, me debati e soltei um quase grito de protesto, um “não” quase mudo. Elas riam enquanto Lucy falava mais um monte de bobagem, uma delas abriu um box enquanto as outras me empurravam para dentro dele. Forçando-me para baixo e dobrando meus braços para trás das costas, me fizeram ajoelhar frente ao vaso sanitário. Uma delas se prontificou a ficar ao lado da válvula de descarga, enquanto Lucy agarrava meus cabelos com uma das mãos.


– Que tal lavar essa cara de merda no lugar certo?! – Lucy puxou mais o meu cabelo e com mais força ainda afundou minha cabeça dentro do vaso.


Antes que meu rosto atingisse a água minha testa se chocou com a borda interna no vaso, fazendo com que os dois pontos ainda presentes latejassem. Minha cabeça fora mergulhada ate o fundo do vaso, senti a água se chocando contra as laterais do meu rosto enquanto a descarga era acionada varias vezes. Em um reflexo inútil tentei gritar, ou talvez respirar, não sei... A água comera a entrar por minha boca e o ar estava começando a ficar escasso demais. Tentei me debater, mas as garotas me seguravam com força e Lucy pressionara demais minha cabeça contra o vaso. De repente minha cabeça foi içada para fora do vaso, respirei profunda e desesperadamente enquanto um gosto horrendo invadia minha boca. Elas riam loucamente como se a piada mais engraçada do mundo tivesse acabado de sido contada a elas, e novamente minha cabeça foi mergulhada dentro da privada. Fechei os olhos e a boca, parei de me debater e me concentrei apenas em não perder todo o ar de uma vez. Seria inútil continuar tentando fugir, apenas permaneci lá esperando que se enjoassem. Elas continuavam rindo, enfiando minha cabeça dentro da privada e dando inúmeras descargas, repetiram isso por duas vezes mais, em cada uma delas deixando-me afundada por mais tempo do que eu poderia aguentar ficar sem ar. Na terceira vez simplesmente deixaram minha cabeça dentro do vaso e saíram.


Segurei nas laterais de cerâmica do vaso e retirei minha cabeça com cuidado. Praticamente todo o meu cabelo e parte de minha blusa estavam encharcados.... De todas as coisas já feitas aquela tinha sido uma das piores. Porem, não queria pensar muito naquilo, não ainda. Levantei com dificuldade, praticamente me arrastando para fora do box. Do lado de fora todas as minhas coisas tinham sido espalhadas pelo banheiro e minha mochila jogada em cima de um dos boxs brancos. Recolhi minhas coisas vagarosamente, depois lavei o rosto na pia. Sentia-me imunda, nojenta. Parte do nojo não era apenas por ter sido mergulhada no vaso, boa parte dele era de mim mesma, nojo de minha inutilidade. Peguei o casaco e o vesti, fechando ate em cima e encapuzando a cabeça molhada.


Estava desnorteada e acabada demais para conseguir lembrar para onde deveria ir. Sai a esmo pelos corredores, passando por alguns sem nem saber quais eram. Em um deles, quando estava quase chegando no final, vi Antony sair de uma das salas. Não queria ter que passar por ele, mesmo encapuzada com o rosto praticamente coberto ele me reconheceria, eu exalava medo, fracasso e baixa auto-estima, e mais recentemente a mijo; ele sem duvida me cumprimentaria e perguntaria se estava bem, e eu não estava em condições de forçar um sorriso e responder que estava. Dei meia volta e subi um lance de escadas, fugindo dele como se fora o pobre professor que me causara aquilo.



–--



Ao final do dia eu estava ainda mais acabada, as brincadeirinhas idiotas durante as demais aulas continuaram, mas já não surgiam tanto efeito, pelo menos não em mim, pois para eles continuava sendo divertido. “Como aquilo poderia ter graça? Era tão engraçado assim me ver mal? Se for, porque não estou rindo?” Mas o pior de tudo era que não tinha visto Matt e os outros o dia todo, eles provavelmente tinha guardado algo para o final do dia...


Passei pelo portão sem problemas, vendo muito dos alunos correr, provavelmente animados com alguma festa de halloween que iriam. Eu não ia a festas. Porem, ao pisar no primeiro degrau que levava a um pequeno caminho ao portão principal da escola e a alguns carros estacionados na calçada, vi alguns grupos de alunos amontoados do lado de fora tanto pelo jardim quanto pela calçada e estacionamento. Tive que tirar o capuz do casaco para ver mais a frente, e vi a poucos metros de mim o que não desejava ver tão cedo, Matt e os demais. Matt estava com o mesmo semblante despreocupado de sempre e com duas caixas nas mãos, os gêmeos Timmy e Jimmy estavam do seu lado direito (talvez não nesta mesma ordem, confesso que ainda não consigo diferenciar suas sardas e gorduras) ambos com três caixas, e ao seu lado esquerdo um tanto quanto assustado estava Gary, que diferente dos outros não carrega caixas e sim rolos de papel higiênico. Eu já sabia o que aquilo significava, era a mesma coisa do ano anterior: chuva de ovo pobre!


Realmente não tinha escolha, não poderia entrar na escola e me esconder lá, seria pior, e não importasse o quanto eu corresse eles me alcançariam e jogariam os ovos em mim. A platéia que veria minha mais nova humilhação já estava toda aglomerada em pequenos grupos, alunos de todas as series. Engoli em seco, abaixei e cabeça e desci os três últimos degraus que faltavam, quando dei mais alguns passos para frente, Matt gritou:


– Não viu o que trouxemos para você esse ano, Emilyzinha? – não me atrevi a olhar para ele, mas sabia que sorria – Feliz dia das bruxas, as travessuras são antecipadas!


Antes que eu pudesse andar ou correr um ovo me atingiu em cheio no ombro, exalando um cheiro incrivelmente forte. Juro, juro que tentei correr, mas em questão de segundos fui bombardeada por dúzias e mais dúzias de ovos. Não conseguia abrir vantagem em relação a eles e, de qualquer modo, conseguiam me acertar. Mas eles não eram os únicos que me perseguiam, boa parte dos alunos também corria para ver o que ia acontecerem, eu podia ouvir os risos e os xingamentos, alem dos flashs das câmeras dos celulares. Eu estava desnorteada e não sabia para onde ir para me livrar deles. Em certa rua eles me cercaram, era uma rua sem saída eu não tinha para onde correr, apenas me abaixei e recebi os ovos. Os gêmeos e Matt fizeram um circulo a minha volta e lançavam os ovos sem cessar, foi então que vi o papel branco cair sobre minha cabeça.


– Sua fantasia de halloween, uma linda e fedorenta múmia! – riu Timmy ou Jimmy, ou talvez os dois, enquanto me acertavam mais alguns ovos.


Gary me embrulhava em papel higiênico. O estoque de ovos finalmente havia chegado ao fim e eles apenas me enrolavam com o papel. Passando varias e varias vezes o papel sobre mim, enrolando-me cada vez mais.


– Agora, vamos te levar para casa! – Matt gritou.


Fiquei afoita, para casa? O que ele queria dizer com isso? E as respostas para minhas perguntas foram respondidas quase imediatamente. Jimmy e Timmy me pegaram, um pelas mãos e outro pelos pés e me carregaram ate um contêiner que servia como lixeira. Matt e Gary abriram a tampa e os dois brutamontes me jogaram lá dentro.


O cheiro podre do contêiner invadiu minhas narinas quase me causando ânsia. A lixeira estava praticamente cheia, o caminhão de lixo provavelmente só passaria no dia seguinte. Meu corpo afundou entre os sacos de lixo e os resto de comida jogados diretamente lá dentro. A escuridão dentro do contêiner se fez quando fecharam a tampa. Dentro da enorme caixa de metal eu não podia ouvir o que vinha do lado de fora, e não tinha muita certeza se eles poderiam ouvir o que acontecia dentro, porem gritei, gritei o mais alto que pude. Meu corpo mergulhado no lixo, sendo devidamente comparado a ele. Reprimi o choro, pois a ânsia de vomito aumentava. Ergui as mãos acima de minha cabeça e forcei a tampa para cima. A tampa não demonstrou resistência e se abriu facilmente, achei que me trancariam dentro da enorme lixeira, mas talvez por pena não fizeram. Escorreguei, definitivamente, para fora do contêiner, quase caindo desengonçada, mas chegando ao chão com facilidade.


Sentei-me no chão frente ao contêiner por um longo momento, tentando arrumar forças para me levantar. Eu havia corrido, corrido muito mais do que achei que poderia, mas não adiantou. Fui alcançada, humilhada, servindo de chacota e piada para todos, mergulhada em 1,20m de puro lixo, sendo relacionada e igualada a tal. Agora, eu estava coberta de ovo pobre, papel higiênico e mais uma infinidade de coisas que não fazia, e nem queria fazer, noção do que eram.


– Belo Halloween você teve, Emily – murmurei, passando a mão pelos cabelos tirando deles o excesso de-sei-lá-o-que.


Levantei lenta e dolorosamente, a vontade de chorar era já incontrolável e algumas lagrimas quentes escorriam por meu rosto sujo. Caminhei, quase mancando, para longe dali. Minha perna doía, quando Timmy e Jimmy me jogando dentro do contêiner minha perna bateu na lateral de metal da grande lixeira. A perna não doía um terço do que todo o resto doía, todo o resto da alma.


Não fazia idéia de onde estava, apenas segui reto. Uns 30 metros do contêiner encontrei minha mochila, pegando e arrastando-a pelo alça continuei minha lenta e manca caminhada.


Nunca demorei tanto para chegar em casa, fora quase uma hora de lenta e dolorosa caminhada. Passei por uma infinidade de abóboras sorridentes, todas pareciam caçoar de minha patética existência. Algumas pessoas arrumavam suas abóboras nas calçadas, me encaravam torto, olhavam-me com nojo, porem, nenhuma se prontificou a me ajudar. Não adiantaria em nada.


Parei frente a porta de casa, a Sra McFarlan olhava-me incrédula do outro lado da rua, porem não disse nada, como todos os outros. Retirei meu tênis com cuidado, tentei ao maximo limpar as mãos antes de tocar na maçaneta da porta, porem não tive tanto êxito. Entrei em casa com os tênis nas mãos e segui direto para o banheiro. Larguei os tênis imundos no piso branco do banheiro, e sem ao menos me importar com as roupas enfiei-me embaixo do chuveiro ligando-o em seguida. A água quente bateu em meu rosto e correu rápida por meu corpo coberto, foi então que desabei. Sentei, buscando apoio na parede, debaixo do jato quente do banheiro e me pus a chorar.


O choro compulsivo tomou conta de mim mais rápido do que eu achei que fosse possível. O caso era que eu o havia reprimido o dia todo, e agora ele se punha para fora com toda a força que tinha. Ainda aos prantos tirei o imundo casado e o joguei no canto do banheiro. A água quente tirara uma pequena parte da sujeira, mas eu ainda continuaria suja depois que me lavasse, imunda por dentro. “Você deixa” isso não saiu e minha cabeça o dia todo. Eu realmente era uma inútil, eu deixava, eu realmente deixava sem o mínimo de resistência fazerem o que quisessem comigo. Deixei que me humilhassem na entrada e me lançassem ao chão, deixei que me usassem como alvo para brincadeiras idiotas, deixei que afundassem minha cabeça dentro de um vaso sanitário, deixei que me cobrissem de lixo e me tratassem como tal todo dia. Eu realmente deixava que tudo aquilo acontecer! Deixa por medo de que se tentasse reagir tudo piora, mas piorar como? COMO?


Passei a mão pelo rosto retirando resíduos de ovos, papel e de lagrimas grudados nele. Porem continuei sentada, a água caindo sobre mim. Eu deixava, e eles faziam sem dó, deixava por não ter forças para reagir, mas ninguém ao menos tentava me ajudar, nem por pena. Se fosse um animal maltratado por um bando de adolescentes todos se comoveriam, se prontificariam a ajudar, a deter os agressores e a cuidar do pobre animalzinho. Mas eu não valia nem esse mínimo esforço? Eu sabia que estava sozinha, que teria que me virar sozinha, porem uma parte de mim, ainda que pequena, esperava que alguém me ajudasse. Mas acho que covardes não merecem ajuda.


Retirei as calças e a camisa largando-as junto ao casaco, e me encolhi no outro canto do banheiro, com a água batendo em meus pés. O cheiro forte de lixo tomara conta do ambiente. Talvez esse sempre fora o meu cheiro, lixo, algo podre e que deve ser descartado, mas que é tão ruim que ninguém tem coragem de por a mão e jogar fora. Chorei mais compulsivamente com a tortura metal, como se a física já não fosse o suficiente. Me encolhi mais ate que a água não batesse mais em meus pés, o suficiente para que só respingasse em mim, sendo apenas atingida superficialmente pelo exterior e dilacerada completamente por dentro.



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Notas finais do capítulo

Como dito antes, eu realmente sinto muito pela demora em postar. Fiquei sem tempo por um período e sem vontade de escrever, então no ultimo mês (e neste ainda) me afoguei em livros para tentar ter inspiração para voltar a escrever, e aparentemente deu certo. Tentarei postar com regularidade, não em grande quantidade por ter outra fic, mas pelo menos com uma frequência maior durante o mês.
A historia se caminha para mudanças, então, podem esperar mais do proximo cap.
Espero que tenham gostado. Criticas?Elogios?
Beijos e ate!!



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