Cavaleiros do Caos escrita por Neko D Lully


Capítulo 7
VI - Talvez amizade, talvez mais.


Notas iniciais do capítulo

Ok, aqui ficou mais no Shadow e Maria, mas o proximo vai ter mais Sonamy, com um pouco de ciumizinho por parte da Amy. Logo vocês vão saber porque. Ai, adorei fazer esse cap, acho que é porque sou viciada nesse casal, meu deus acho que nunca vou esquecer eles, mas são tão Kawais *-*. Ok, voltando a realidade vamos para a fic e aproveitar que a Akuma não esta UHU!!!

Aproveitem o Cap!



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Cavaleiros do Caos.

Sentia a incomoda luz do sol em seu rosto, a acordando e impedindo de continuar dormindo. Sentia seu corpo todo dolorido e por alguma razão o colchão que estava deitada parecia pedras de tão pontiagudos e incômodos. Sem ter mais nenhum pingo de sono começou a abrir os olhos, irritada por ter sido acordada, e ficou ainda pior quando se deparou com a luz do sol direto em seus olhos os incomodando levemente.

 Se mexeu incomoda percebendo que realmente estava deitada sobre pedras. Abriu os olhos rapidamente e se sentou naquele terreno pedregoso, mas logo se arrependeu ao sentir todo seu corpo doer a fazendo soltar um forte gemido de dor. Logo depois sentiu frio, como se grande parte de seu corpo estivesse descoberto, apesar de poder sentir um cheiro de terra molhada que a relaxava de sertã maneira, seus pulsos estavam incômodos e machucados sentindo como pareciam estar fortemente presos. Estava acabada, completamente destroçada sem poder nem levantar um músculo.

 - Finalmente acordou. – falou uma voz familiar, mas não quer dizer que seja agradável. Mirou o lugar que tinha vindo a voz e se encontrou com aquele maldito garoto moreno que estava perseguindo ela e seus amigos há algum tempo. Ele estava sentando a alguns passos de onde estava mexendo na pequena fogueira que tinha a frente assando alguns peixes. Arrastou seu corpo no chão tentando se afastar do garoto, mas ao fazer isso percebeu que seu corpo estava praticamente toda a mostra com seu vestido todo rasgado e já não estava mais calçada com os sapatos que tinha colocado de tarde. Seu corpo completamente cheio de feridas estava a plena vista e mercê de qualquer um, principalmente com seus pulsos presos por aquela corda mágica que não a deixava usar seus poderes. Isso devia ser um pesadelo. – Se eu fosse você não se movia muito. Aquele mago te deixou com vários ferimentos e cair no rio não ajudou muito então não tente nenhuma gracinha e nada vai piorar.

 Ainda alerta permaneceu em seu lugar o mirando intensamente. Ele também estava machucado, o rosto com alguns arranhões e a roupa um pouco rasgada mostrando alguns cortes, parecia cansado, debaixo dos olhos tinha algumas olheiras fracas, mas visíveis. Porem, o que mais lhe chamou a atenção foi ver que a blusa que ele usava debaixo do enorme casaco preto não estava mais lá e sim rasgada passada pelo pescoço e apoiando o braço para cima como se tivesse quebrado ou torcido.

 - Isso que dá ser obrigado a salvar alguém. – falou ele notando o olhar dela direto em seu braço. Ainda podia sentir a dor em seu ombro, mas não reclamava, nunca reclamava de seus problemas já que havia passado a vida toda com problemas, por que reclamar de mais alguns? O que tinha aprendido em sua terra era, nunca reclamar dos problemas que tinha, eles podiam piorar e tinha outras pessoas com problemas ainda piores. Se pensasse bem sua vida era muito melhor que a de muitas pessoas que moravam naquela sua terra natal. – Agora coma logo e vamos andando, temos que achar seus amigos para eu sair logo desse trabalho.

 Ele entregou um dos peixes que estavam assando na fogueira que tinha feito e o entregou para a garota que pegou o pequeno palito que atravessava o peixe com cuidado e o trouxe até si, sem deixar de mirar nem um minuto o garoto que apenas pegou o outro que tinha e o levava a boca para começar a comer, sem se importar nem um pouco se ela o observava ou não. Com cuidado ela mordeu o primeiro pedaço do peixe se impressionando que o mesmo estivesse no ponto, nem muito queimado nem muito cru. O garoto já devia ter uma experiência grande nesse tipo de coisa para saber tão bem quando a comida estivesse pronta.

 Olhou novamente para o garoto vendo que ele já estava quase terminando o peixe que tinha pego para si. Suas mordidas eram rápidas e fortes, como se quisesse terminar rápido para que ninguém roubasse a comida. Seria isso um costume das pessoas na Terra Esquecida? Era tão perigoso que você não podia comer nem com calma e tranqüilidade?

 - Por que come com tanta pressa? – perguntou enquanto via ele dar a ultima mordida em seu peixe e jogar as espinhas do mesmo fora sem se importar onde iam parar. Sorte que aquilo não causava problema nenhum ao meio se não a garota falaria umas poucas e boas para uma aula de etiqueta para esse garoto. Ele a mirou sem muito interesse e voltou a mexer no fogo para apagá-lo.

 - Costume. – falou jogando um pouco de terra encima do fogo, tampando a madeira que tinham usado, ajeitando o solo e colocando algumas pedras encima, ficando como se nunca tivesse tido uma fogueira ali. Ao perceber que a garota ainda o mirava curiosa ele suspirou irritado e voltou a falar. – Quando se vivi em uma região onde a comida é escassa, você faz de tudo para arrumar e quando arruma tem o risco de ser roubado. Por isso é melhor comer rápido para manter o estomago cheio e sobreviver, do que degustar a comida e perdê-la na primeira mordida.

 - Não sabia que as coisas nas Terras Esquecidas fosse tão criticas. – murmurou a garota um pouco impressionada. Sabia que as condições lá eram terríveis, mas nem imaginava que estivessem tão criticas a ponto das pessoas brigarem por um pouco de comida. Dava até angustia pensar que havia crescido em um castelo com as coisas sobrando de tão fartas e teriam pessoas que matariam por aquilo.

 - Tem muitas coisas sobre aquele lugar que você não sabe bruxinha. – falou o mercenário guardando as armas que havia tirado de seus esconderijos debaixo do casaco e indo até ela a fazendo se levantar e puxando-a para começar a caminhada em busca dos amigos da garota. – Nem todos nasceram em um berço de ouro dentro de um castelo tendo tudo do bom e do melhor em abundancia como você e seus amiguinhos. Eu tive que lutar para estar vivo aqui agora.  

 - Quer que eu acredite que alguém como você lutou para estar vivo sendo que tem a aparência de um garoto de classe media daqui? Só pode estar brincando. – era verdade, o garoto tinha uma aparência bem cuidada para ser do lugar de onde era. Ele não parecia passar fome, seu corpo era bem cheio, com músculos por todos as partes que devia ser por causa de um bom treinamento, seus cabelos eram bem tratados o que indicava que tomava banho, não tinha mal hálito ou coisa do tipo, na verdade tinha até um cheio bom e usava roupas bem confortáveis e de boa qualidade. Não havia indícios que ele tinha passado por maus bocados como ele dizia. O garoto parou e se virou mirando ela com um olhar penetrante enquanto se aproximava da garota que se sentia um pouco intimidada.

 - Fui abandonado por minha mãe prostituta quando era um bebê e meu pai devia ser um ninguém vagando por aquelas terras. Meus pais de criação eram um ladrão e uma andarilho que não devia ser nenhuma santa. – falou ele com um tom forte e intimidador, fazendo a garota se encolher enquanto não deixava de mirar aqueles olhos vermelhos que estavam a escassos centímetros dos seus. – Eles nem ligavam para mim e morreram quando eu tinha oito, mortos por um mercenário bem diante dos meus olhos. Tive que me virar nessa idade, roubando coisas e fugindo de quadrilhas e assassinos, fazendo de tudo para não morrer. Com dez comecei a ser um mercenário e trabalhei duro para ser o melhor de todos. Então pense duas vezes antes de falar que sou um garoto mimado igual a você.

 O garoto se afastou e voltou a andar deixando a menina paralisada no lugar, olhando para um ponto morto enquanto suas pernas tremiam ligeiramente. Engoliu em seco e voltou a olhar aquele garoto que se distanciava pouco a pouco. Não sabia que ele tinha passado por tanta coisa quando pequeno e em uma faixa de idade muito curta. Talvez o tivesse julgado mal, talvez ele não fosse o garoto de boas condições que virara um mercenário porque queria como tinha pensado, talvez ele não fosse tão ruim como aparentava.

 - E porque esta me levando com você se podia ter me entregue para Valiant e acabado com isso de uma vez? – perguntou tentando mudar de assunto. O garoto não parou e puxou uma pequena linha que tinha presa no pulso e que se conectava na corda que rodeava o pulso da garota a obrigando a andar atrás dele. Mesmo se quisesse fugir duvidava que era capaz de enfrentar a força do rapaz.

 - Porque ele me deixou a cargo de você para achar seus amiguinhos. – falou o mercenário angustiado ainda andando. Não lhe agradava nada o fato de ser obrigado a ser a babá de uma garota maga que desprezava de uma maneira incontrolável, apesar de desde a noite passada já não saber mais o que sentia em relação a ela. – Vocês magos são todos iguais! Umas chatices sem tamanho!

 - Não me compare com aquele traidor!! – gritou fazendo ambos pararem de andar e o mercenário a mirar confundido. – Não ouse em me comparar com ele!! Se não eu mesma arrebento essa corda, seja lá como, e faço você virar um sapo!!

 - E por que se preocupa tanto com isso garota? Por que não quer ser comparada com alguém que é da sua mesma laia? – perguntou ele divertido vendo como a garota franzia ainda mais o cenho. Mas ao observar aqueles olhos azuis reluzentes percebeu uma coisa, não havia só raiva havia medo, e não era dele, era daquele mago. Talvez a simples menção dele a fizesse ficar com medo, ela só não demonstrava. Mas por que essa reação? Seu sorriso sumiu de seu rosto e se aproximou dela com uma expressão séria. – Tem medo dele. O que ele te fez? – a garota hesitou, sem saber o que falar agora. O mercenário se aproximou dela e colocou uma mão em seu ombro. – O que ele te fez?

 - Para ser jovem sempre ele precisa drenar energia, mas qualquer pessoa que ele drena não é o bastante para ele se manter daquela maneira por muito tempo, principalmente usando seus poderes. – falou ela desviando o olhar, sem poder encarar o garoto. Não sabia porque estava falando isso, nem mesmo havia contado para Amy e Silver. Só sabia que queria desabafar com alguém, e ele era a pessoa mais próxima. – Minha energia é excessiva, tenho mais que qualquer outro mago e é isso que ele quer. Quando eu era pequena ele tentou... Drenar minha energia usando magia negra, mas durante o processo ele tentou abusar de mim. Por pouco não consegue.

 O garoto não sabia o que falar. Devia ter sido uma experiência horrível, já viu varias garotas sendo pegas desprevenidas e abusadas por homens bêbados ou pelos próprios estupradores. Normalmente não se importava, afinal era algo de sua vida e via isso no cotidiano, não era surpresa. Mas quando ouvira aquela garota falando sentiu algo estranho em seu peito, como se ele estivesse se apertando de uma maneira incomoda. Não sabia o que era, nunca havia experimentado isso antes e não estava gostando nada de sentir agora.

 - E por que você não fez? – perguntou a garota quebrando o silencio que os havia dominado. Ela agora o mirava um tanto curiosa e temerosa, como se não estivesse certa se perguntava ou não. – Quero dizer, olha como estou, seria a reação de qualquer homem aproveitar a situação, principalmente um vindo das Terras Esquecidas.

 Um estranho sorriso apareceu nos lábios dele, fazendo um calafrio percorrer o corpo da garota. Ele segurou seu queixo,  e virou seu rosto para o lado inclinando-o um pouco, para logo depois levar o rosto até o pescoço dela, lambendo o mesmo com malicia, fazendo a garota morder o lábio tentando conter um gemido. As mãos dela estavam no peito desnudo do garoto sem saber se o empurrava ou se o puxava mais para si, não sabia o que sentia, tudo o que podia fazer era sentir como ele lambia seu pescoço fazendo seu corpo todo estremecer. Ele subiu um pouco as lambidas, dando agora também beijos, e foi para perto do ouvido.

 - Quem disse que não estou tentado em fazer? – perguntou sedutoramente fazendo o rosto da garota corar ainda mais, logo mordeu o lombo da orelha dela fazendo um pequeno gemido escapasse dos lábios bem apertados da garota. Começou a descer sua mão que estava no queixo dela, passando pelo pescoço, indo até o ombro onde segurou a única alça que segurava seu vestido. Começou a tirar a mesma do lugar lentamente, descendo pelo ombro da garota fazendo os seios da mesma quase ficarem a mostra.

 Ela voltou a si nesse momento, o empurrando para um pouco longe de si enquanto levava as mãos presas até o seio, tampando-os e colocando a alça de seu vestido no lugar. O rosto completamente corado mostrava o quão envergonhada estava, seu corpo tremia levemente, talvez pelo frio ou pelo nervosismo. O garoto sorriu ligeiramente pela inocência da garota e tirou seu casaco indo até ela e o colocando em seus ombros, ela o mirou confusa, mas apenas se concentrou em continuar fazendo o que pensava. Levou as mãos até as cordas que tinham no pulso da garota e as separou, fazendo com que metade ficasse presa no pulso direito e metade no pulso esquerdo como se fosse duas algemas. Passou os braços dela pelas mangas do casaco e logo depois voltou a juntar seus pulsos, fazendo a corda se juntar novamente como se nunca tivessem sido separadas. Ele abotoou os botões que tinha na frente do casaco fazendo com que o mesmo ficasse como um largo e longo vestido para a garota chegando até um pouco abaixo dos joelhos dela, já que ele era bem maior que ela, umas duas cabeças a mais.

 - Como sabia disso? – perguntou a garota surpresa o mirando de certa maneira intrigada. Ele apenas sorriu para ela e fez os dois votarem a andar. Ela o acompanhou com a cabeça nas nuvens, esquecendo completamente a situação que estava. O casaco ainda estava quente por causa do corpo do garoto e tinha preso em seu tecido o cheiro do garoto que era como o doce cheiro de quando a chuva caia, um cheiro que a garota sempre apreciou. Respirou profundamente e se encolheu dentro daquele enorme casaco de tecido tão macio e confortável.

 Olhou de canto para o garoto que andava a seu lado. Ele realmente era alto comparado consigo e tinha uma pele de um moreno tão perfeito e de uma textura tão macia. Era incrível como um garoto de uma infância tão ruim como a dele podia ser tão... Bonito. O corpo tão bem formado estava praticamente todo exposto, tudo o que ele usava agora era a calça e as botas. Seus olhos vermelhos brilhantes miravam sempre para frente vendo o caminho que tinha que seguir. Havia até mesmo se esquecido que ele era o mercenário que os estava seguindo e tentando entregá-los para os que queriam trazer as trevas para seu mundo.

 De repente um holograma de um mago apareceu bem na frente dos dois, fazendo os mesmos pararem e o mirarem de maneiras diferentes. Maria o mirou um com um medo contido tentando se mostrar indiferente a presença dele, Shadow já o mirou irritado e impaciente, odiava essas aparições, não, melhorando, odiava esse mago.

 - Vejo que ela ainda não escapou, é um progresso. – falou ele divertido, sua aparência não estava das mais agradáveis. Rugas já começavam a aparecer em seu rosto, suas mãos estavam praticamente esqueléticas, seus cabelos tinham mechas brancas e pareciam estar mais finos e desarrumados. Estava envelhecendo e rapidamente.

 - Podia parar de duvidar de mim. Se não gosta porque não me deixa em paz e faz tudo sozinho? – perguntou o mercenário irritado enquanto escondia quase de maneira imperceptível e inconsciente a garota atrás de si, que não se sentia muito cômoda com a situação. – Estou farto de tudo o que esta acontecendo! Tira essa coisa de mim e eu não te atrapalho mais.

 - Se for para te tirar dessa missão vai ser para te matar, preciso de representantes enquanto estou ficando fraco e duvido que aquele cavaleiro idiota saía daquele trono. – falou o mago irritado enquanto o mercenário o mirava de maneira assassina, e Maria tinha certeza agora, se olhar matasse Valiant já teria morrido a muito tempo se deixasse para aquele mercenário. – Agora pare de reclamar, tenho uma teoria de para onde os amigos dela vão estar agora então se puder se apressar...

 - Desculpe, estou com carga a mais e não vou poder ir muito rápido. – respondeu o garoto desanimado não querendo continuar com isso tudo, agora mais do que tudo. Não sabia mais o que sentia por aquela garota, mas não queria fazer mal a ela, não mais. Mas ao parecer seria obrigado a isso.

 - Não me importa quem você carrega, você vai chegar lá pelo menos amanhã sem falta! – gritou o mago para logo desaparecer deixando para trás um mapa onde tinha um X marcando o lugar que eram para estar. O mercenário suspirou irritado e começou a resmungar um monte de maldições enquanto ia pegar o mapa e voltar a andar.

 A garota ficou um pouco mais hesitante em acompanhar, agora havia se lembrado do risco que corria. Tinha que escapar e avisar seus amigos do que estava acontecendo. Agora como escapar sendo que não podia usar seus poderes? Bom, conhecia aquele rio, era o rio que os magos gostavam de pegar algas especiais que eles bebiam para ficar calmas, mas que para uma pessoa desacostumada era como um sonífero. Talvez funcionasse. Sabia como fazer o chá com aquelas algas e poderia dar para ele, assim era só esperar ele dormir e pegar uma arma dele e cortar as cordas. Assim poderia ir embora.

 A caminhada não foi tão pesada, ele parecia ir com calma para que ela pudesse acompanhar. Já não sabia mais o que pensar dele, de certo modo ele era carinhoso e cuidadoso, mas as vezes podia ser bem perigoso e assustador. Na verdade não sabia como descrevê-lo. Ele parecia ser um bom amigo, tanto que chegou um momento em que ele a carregou porque seus pés estavam doendo por andar em um terreno tão pedregoso descalça. Ele mantinha seus costumes de quando estava em sua terra natal, sempre se mantendo alerta, toda vez que paravam ele encobria os indícios de que estiveram lá quando voltava a andar, suas mãos sempre estavam perto das bainhas de suas espadas ou nos bolsos que guardava as outras armas, andava perto dela, como se algo fosse sair da floresta e pegá-la... Agora que o conhecia um pouco melhor sabia que ele não fazia o que fazia por gosto, e também sabia que ele não queria lhe machucar.

 O dia passou tão rápido que nem percebeu quando o céu começou a ficar alaranjado e o sol a desaparecer no horizonte. Os dois se sentaram perto dos limites da floresta, onde as margens pedregosas do rio terminava e a mata densa começava, e montaram um fogueira para poderem descansar. Era sua chance de fazer o chá e assim fazê-lo dormir, mas agora duvidava. Estava se acostumando a ter a presença dele por perto e por isso não sabia se realmente queria ir embora ou continuar presa com ele. Respirou fundo, era o dever antes do pessoal, tinha que fazer isso para ajudar a Amy e manter seus amigos a salvo.

 - Se quiser posso fazer um chá. Tenho uma receita caseira que acho que você vai gostar e ficar mais tranqüilo. – falou timidamente tentando não mirar aqueles olhos vermelhos que a encaravam sem parar. Se levantou e foi até a margem do rio e pegou umas quatro algas, talvez isso fosse o suficiente, voltou e pegou dois pedaços de maneira ocos que poderiam ser usados como corpos e logo os encheu com a água do rio colocando a alga dentro e depois as colocando encima do fogo pendurada por quatro pedaços de madeira grossas. – Aprendi a fazer isso com os magos, eles usam as algas desse rio para relaxar o corpo e poder usar os feitiços com mais facilidade.

 - Pensei que eles só ensinavam esses feitiços malucos. – comentou o garoto erguendo uma sobrancelha, curioso. A garota era cheia de surpresa e isso lhe agradava de certo modo. Não desconfiava dela, não conseguia mais. Ela foi uma companhia e tanto esse dia e, para alguém que sempre tivera suas aventuras, sozinho, era uma situação inovadora ter alguém acompanhando. No inicio podia ter pensado que essa garota era mimada ou qualquer tipo de coisa desse estilo, mas agora via que ela de todo uma guerreira.

 - Na verdade os magos são muito ligados ao meio natural, por isso estudamos tudo que tem haver com o meio. – falou a garota sorrindo levemente para ele com um ligeiro vermelho no rosto. O céu já tinha escurecido e por estar nublado no momento não tinha nenhuma luz natural alem do fogo da fogueira que tinham aceso. – Estudamos todas as receitas medicinais de plantas, os chás mais variados para manter a calma, as ervas venenosas... Tudo o que tiver haver com o meio ambiente.

 - E para ser um mago você tem que nascer mago ou você vira um sem mais nem menos? – perguntou ele curioso a mirando interessado. Era estranho ele estar perguntando sobre uma coisa que antes não gostava, mas estava curioso sobre a garota, queria saber mais, era uma coisa que não conseguia entender.

- Tem duas maneiras. A primeira é você nascer de um mago, como eu, e a segunda é você conseguir matar um e “roubar” seus poderes. – falou colocando aspas em “roubar”. Não era exatamente, na verdade quem matava um mago tinha o direito de ficar com os poderes dele, era como se essa energia procurasse um novo dono e com isso ia para a pessoa mais próxima, no caso quem matou seu antigo dono.

- E por que você tem mais poder que os outros magos? – perguntou novamente. Essa era uma questão que estava em sua cabeça a algum tempo e agora tinha arrumado a chance perfeita de perguntar.

 - Quando Amy ia nascer a mãe dela ficou doente, então minha mãe ofereceu a própria vida para que a rainha pudesse viver e ter seu filho, mas ela estava grávida de mim e quando eu nasci, no mesmo dia que a Amy, minha mãe morreu cumprindo o trato com os deuses. – Maria tirou os dois pedaços de madeira de perto do fogo e entregou um para o mercenário enquanto ficava com outro o mirando de maneira distraída. – Talvez com esse sacrifício, para me compensar, os deuses me deram mais poder , como se quisessem que eu protegesse o poder que eles tinham colocado em Amy.

 - Aquela onda de energia que aconteceu quando ela descobriu que os pais tinham morrido? – perguntou e a garota assentiu. Depois os dois ficaram em um completo silencio, Maria tomou seu chá pouco a pouco, mas mesmo assim foi a primeira a terminar, já que Shadow estava muito perdido em seus pensamentos para beber alguma coisa.

 A garota deitou levemente no chão a alguns centímetros do garoto e fechou os olhos, apenas para descansar enquanto ele não bebia o chá, mas acabou dormindo por causa do forte cansaço que sentia. O garoto a mirou dormida, vendo o rosto dela iluminado pela luz da fogueira, não podendo evitar levar uma mão ao mesmo e tirar alguns fios de cabelo do rosto da garota. Amigos? Talvez, mas essa palavra lhe incomodava um pouco, não que o desagradasse, gostaria de ser amigo dela, mas algo dentro de si o dizia que aquilo não era o que realmente queria. Que, talvez, só talvez, quisesse algo mais.

 Olhou para seu copo e bebeu o resto do conteúdo que tinha dentro do mesmo. Realmente aquela bebida relaxava, mas talvez relaxava até de mais. Começara a ficar com muito sono, seus olhos quase não se mantinham abertos e seu corpo estava mole. Deitou nas pedras atrás de si e fechou os olhos, querendo apenas descansar um pouco, mas logo que suas pálpebras se fecharam caiu em um sono profundo e pesado.

 Pouco tempo depois a garota abriu os olhos assustada se repreendendo por ter dormido. Rapidamente se sentou e olhou para o lado, o garoto já tinha adormecido e só devia acordar no outro dia de tarde. Se ajoelhou perto dele e tirou uma de suas espadas da bainha, utilizando a mesma para cortar as cortas que lhe prendiam o pulso. Logo que se viu livre se levantou e abriu o casaco negro que tinha sobre o corpo estalando os dedos para se colocar em uma roupa mais decente e cômoda. Nada mais que uma bota negra que chegava até a metade de sua canela e um vestido de mangas cumpridas azul escuro que na parte da frente chegava até metade das cochas e na parte de trás ele descia até as dobras de seu joelho.

 Sorriu e tirou o casaco do garoto fazendo uma capa aparecer no lugar para cobri-la do frio. Voltou a se ajoelhar do lado do garoto e colocou o casaco sobre ele, mas logo que o fez viu o braço pendurado dele, os ferimentos do rosto e do resto do corpo. Não podia deixá-lo assim, afinal ele tinha salvado sua vida quando caiu no riu não? Fez suas mãos tomarem um brilho azul e as colocou sobre o corpo do garoto, fazendo todas suas feridas se curarem e tinha certeza que o ombro do garoto já estava melhor.

 Retirou suas mãos e o mirou com o pouco da luz do fogo que sobrara. Sua mente ficou em branco e seu corpo começou a se mexer sozinho, levando seu rosto até o dele lentamente. Acabou fechando os olhos e encostando levemente seus lábios nos dele em apenas um leve roce. Em pouco tempo se separou dele ainda sem perceber o que tinha feito até seu cérebro finalmente voltar a funcionar e ela se afastar em um salto colocando uma mão na boca. Não podia ter feito aquilo, não poderia ter feito aquilo.

  Se afastou dele um pouco cambaleante e fechou os olhos tentando se concentrar no lugar onde Amy poderia estar, em sua energia que ainda vagava pelo ar e indicava onde ela estava. Mas ainda estava um pouco confusa e nervosa por isso não pode se concentrar totalmente.

 - Leva manus tempore et spatio, ubi lux – falou para logo estalar os dedos e desaparecer do lugar onde estava antes deixando o garoto sozinho

 Não podia acreditar no que havia acontecido. Acabara de se tele-transportar para o lugar onde os dois estavam, com energia suficiente para pegar a garota e poder fazer o ritual e encontrava com aquela cena. O garoto comodamente dormido e a garota não estava! Quando pegou um dos copos de madeira que tinha ali percebeu o que tinha acontecido, ela o havia feito adormecer e conseguiu cortas as cordas mágicas que tinha feito para impedi-la de usar magia.

 Se aproximou do garoto, furioso, e lhe deu um chute direto no estomago fazendo o mesmo acordar no mesmo instante, só que sem ar algum por causa do chute. Ia usar seus poderes para fazer a criatura dentro do garoto apertar o coração do mesmo e matá-lo, mas alguma coisa aconteceu, não conseguia fazer a criatura dar um só movimento, como se algo o estivesse bloqueando. Ia usar um feitiço mais poderoso quando ouviu o barulho de metal raspando no couro e sentiu um pequeno frio no pescoço.

 Olhou para o garoto e viu que ele já havia se recuperado, se encontrando em pé a sua frente com a ponta de uma de suas espadas em seu pescoço, ameaçando cortar o mesmo a qualquer instante. O olhar avermelhado do mesmo reluzia furioso enquanto segurava a outra espada com força caso precisasse de uma defesa extra.

 - Não encoste em mim. – ameaçou apertando um pouco mais a espada contra o pescoço do mago que o mirou também um pouco irritado, mas ao mesmo tempo hesitante. Estava na desvantagem agora que não podia ameaçá-lo com a vida dele, mas mesmo assim podia lançar feitiços ainda mais poderosos.

 - Então vá buscar a garota que te passou a perna e dessa vez não falhe! Estou cansado de ter que cuidar de tudo sozinho. – falou o mago desaparecendo logo em seguida deixando o garoto um pouco mais relaxado. Não poderia fazer a manobra que fez para se levantar se seu ombro estivesse ainda machucado o que só poderia significar uma coisa, aquela garota o havia ajudado antes de ir embora. Mas por que? Eles eram de lados opostos, por que ela ajudaria o inimigo?

 Também podia sentir que ela havia neutralizado aquela criatura que tinha dentro de si, devia ter sido de maneira inconsciente já que não havia falado nada daquilo sobre ela. Isso o havia ajudado agora, mas ainda tinha muitas coisas pela frente, o problema era que não queria mais fazer o que estava fazendo. Se pudesse arrumar uma maneira de escapar disso...

 Suspirou e começou a andar, indo na direção que devia seguir para encontrar o que antes era sua presa, agora era sua duvida.      


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Notas finais do capítulo

Esse cap até que não ficou tão grande, mas imaginem essa parte no outro cap, não deixaria o outro muito grande? Ainda bem que dividi. To achando que a fic ta ficando maior do que eu esperava, acho que vai chegar a ter dez para mais caps. Pelo menos ainda tem muita coisa pela frente.

Bjss e até o proximo cap.



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