Desculpas Atrasadas escrita por Yue Chan, MichelleCChan


Capítulo 8
08- Passado. 2ª parte.


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorou pacas, mas aí está.
Gómen.
Próximo capítulo semana que vem, se Deus quiser.



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Os passos eram amortecidos pela grama densa que cobria a mata por onde ele havia se embrenhado em meio a um borrão vermelho quase imperceptível por causa da velocidade.

Com a pericia de um médico que excuta uma cirurgia muito importante, Kagome procurou manter seu cheiro a favor do vento para que ele não percebesse. Os passos também eram regrados para que não fizesse muito barulho. Ela precisava ter a confirmação de suas suspeitas. Tinha avisado para ele que deveria escolher e não se deixaria mais ser feita de idiota.

A lua estava cheia e enchia o solo de sombras melancólicas que pareciam lamentar o destino de estarem presas em um mundo de escuridão. Hayato estava aos cuidados de Sango, e há essa hora já dormia tranqüilo, alheio a tudo que ocorria ao casamento dos pais.

A cena foi humilhante. Os braços se uniam em uma confusão pecaminosa, iluminados pela luz pálida da lua que observava tudo do alto em silêncio, testemunha muda das escolhas erradas do hanyou. A respiração entrecortada por gemidos prazerosos e abafados era audível mesmo a distância, e os olhos fitavam ao outro simultaneamente com extremo amor e desejo.

Kagome se sentiu invadir por lembranças de uma época de amor e carinho que vivenciara ao lado do homem que agora tinha em seus braços outra mulher, e sentiu o coração doer de maneira angustiante. Dor que levava consigo qualquer rastro de esperança e alegria e anunciava a chegada de dias tristes e solitários, afinal ele havia feito sua escolha com aquele encontro, e seus olhos, quase piedosos, diziam não ser ela a pessoa com quem desejava passar o resto dos dias ou viver um amor intenso.

As lágrimas fugiram pesadas como um turbilhão de emoções pesadas e incompreensíveis.

Um passo para trás, e o tremor da verdade que se desvelava aos seus olhos cansados fizeram com que ela fosse descoberta. Os olhos dourados encontraram os negros que estavam imersos em dor e desapontamento.

Kagome sentia o chão se abrir aos seus pés enquanto uma força invisível arrastava todos os seus sonhos e sentimentos para dentro daquele buraco negro que parecia ser infinito.

InuYasha olhava surpreso, e de um salto se pôs de pé. Algo em seu peito gritando para que não a deixasse ir embora, xingando-o por ser tão impulsivo, pedindo para que tentasse se explicar, mas ele não conseguiu dizer nada que não fosse:

_Desculpe Kagome.

A voz traidora, porém saiu seca como se estivesse sendo dublado por um terceiro imune ao momento, e os olhos acompanharam a sua fuga desesperada em meio a mata, que parecia sussurrar lamentos pelo seu infortúnio.

Tudo estava acabado.


–*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-


Hayato observava os dois em silêncio.

Era verdade que tinha em mãos seu inseparável vídeo game portátil, e com ele se lançava para o mundo de Zelda* toda vez que se sentia entediado na Era Feudal, mas os olhos matutos observavam atenciosos as brincadeiras que arrancavam risadas descontroladas por parte do menor. Ele sabia que Kouga estava tentando adiantar demais a ordem natural das coisas ao querer ensinar ao pequeno a arte da perseguição e escalada em árvores, algo natural á qualquer Yokai, mas se mantinha em silêncio respeitoso.

Não queria estragar a alegria do irmão e, conseqüentemente, a sua.

Às vezes se sentia acanhado com o modo que Kouga o tratava. Apesar das suas espécies Yokais serem rivais naturais, eles não tinham nenhuma dificuldade de relacionamento, e várias vezes ele alugou o lugar de pai para o menino.

Não podia negar que sentia uma pitada de inveja do contato que Yusuke tinha com o pai, e por ele ser tão atencioso ao ponto de beirar o ridículo. Ele mesmo não lembra o rosto do próprio pai, ou mesmo seu cheiro, como se as suas memórias tivessem sido enterradas em um passado distante.

No fundo sabia que devia gostar muito dele, porque em sua memória surgem flashes que mostram sorrisos e brincadeiras, mesmo que os rostos estejam confusos e ligeiramente embaçados. Ele era muito novo para se lembrar. Porém uma imagem não lhe sai da cabeça: o choro da mãe.

Era como se estivesse vivendo novamente a cena. Ele brincava com alguém que não consegue recordar o rosto. Pela janela o brilho do sol entrava timidamente, sinal de que ainda estava amanhecendo. Houve correria, gritos e a porta abrindo com violência. Sua mãe entrou alterada e pegou em sua mão fazendo com que se levantasse bruscamente. Não conseguia ver seu rosto, mas a mão tremia como se estivesse com frio. Assustado, ele foi praticamente arrastado para fora do local. Alguém gritava coisas incompreensíveis, mas ele se concentrava na mãe com medo visível em seus olhos dourados. Nunca a tinha visto tão alterada.

Os pés pequenos tinham dificuldade em acompanhar o ritmo adulto acelerado. As mãos continuavam a tremer, e em seu imaturo coração, Hayato sofria a incerteza de não saber o que fazia a mãe andar com tanto fervor. Sentimentos se abarrotaram; o medo se misturando a dúvida fazendo crescer o desespero que por sua vez faziam seus olhos se encherem de lágrimas. Ele lembra ter perguntado o porquê daquilo, assim como se lembra de ter chamado pelo pai insistentemente, mas ela parecia estar imune aos seus apelos infantis e continuava a maltratar o solo com os passos rápidos e trôpegos. A mão vibrou em resposta ao chamado do menino e em um descuido ambos foram ao chão.

Foi nesse momento que ela o abraçou. O corpo adulto buscando consolo. Lágrimas quentes molhando a gola da camisa e ombro. Ele a abraçou em resposta ainda sem entender. Em seu mundo infantil, a única coisa que tinha certeza era que tinha pais que o protegiam e amavam e isso bastava. Não sabia o significado da palavra sofrer, tudo estaria perfeito se continuasse do jeito que estava, mas as lágrimas naquele abraço o tornavam diferente de todos os outros, e assim como toda criança pequena, que vê nos pais seu único porto seguro, ele chorou em resposta porque era jovem demais para compreender as maldades do mundo, ou as conseqüências de um ato egoísta. Reagiu como um catalisador, e sofreu a mesma dor que a mãe, não pelos mesmos motivos, mas por ser incapaz de se ver como um ser diferente.

Quando se separaram e olharam os olhos um do outro, ele viu angustia e decepção gravados nas janelas que um dia refletiram amor. O sorriso apagado e em seu lugar um esgar de tristeza de desconsolo. Nunca a mãe chorou tanto, e ele rezou para que o pai os socorresse como sempre fazia e os levasse para longe daquela realidade agonizante. Em sussurros fracos e quase inaudíveis ele clamava a sua presença reconfortante.

Mas ele não veio nem naquele dia, nem nos seguintes.

Foram embora no susto, sem levar qualquer coisa. Kagome apenas se lançara no poço com ele no colo, e mais tarde, quando as lágrimas secavam e a amargura da traição escureceu o amor que brilhava em seu coração, ela selou o poço de uma vez por todas, na tentativa de selar seu passado. Mesmo que isso significasse nunca mais ver seus amigos.

Levou dias para que Hayato se acostumasse a nova vida longe do pai e dos amigos que tanto amava. “De agora em diante, somos somente eu e você” dissera a mãe, mas ele se recusava a aceitar, e se lançava no poço sozinho na esperança de voltar, mas descobria, logo que seus pequenos pés tocavam o chão frio e indiferente que era impossível fazer a passagem sem ela, e se punha a chorar toda a sua fragilidade. a idéia de ter seu lar desfeito ainda era como um monstro de garras afiadas atravessando-lhe o coração com frieza.

Anos mais tarde, quando aprendia a se conformar, Kagome lhe contou a verdade sobre aquele dia, e desde então passou a suprir ódio pelo homem que fizera sua mãe sofrer. Ele havia sido fraco, em sua opinião, e era melhor que não voltasse a dar as caras na sua frente.

Quando completou seis anos, viu sua mãe reabrir o poço. Os olhos cansados e tristes imploravam a presença do carinho dos amigos que não via a quatro anos, e eles tornaram a voltar a era Feudal.

Para Hayato foi à morte de seus sonhos infantis que idealizavam e guardavam a imagem e recordação de um lugar mágico e maravilhoso, onde o sol parecia maior e mais brilhante, e onde a grama parecia crescer mais verde e viçosa. Tudo o que viu foi um lugar normal, sem encantamentos e que guardava a pessoa que não queria voltar a ver. Seria melhor que a mãe não tivesse reaberto o poço, mas depois de rever os amigos, essa visão mudou. Não valia a pena enterrar todo um passado por causa de uma pessoa que podia evitar caso aparecesse.

Mas ele nunca apareceu de fato e talvez nunca voltasse a aparecer.

Um borrão passou por seus olhos e, no segundo seguinte, Hayato se viu no chão com algo pesado sobre as costas. A boca estava entreaberta de surpresa, enquanto a grama parecia querer se hospedar na maciez de sua língua.

_Isso é o que você ganha por ficar tão distraído. - Kouga disse rindo.

_Não. Isso é o que ganho por concordar em ficar perto de vocês dois. – Respondeu desgostoso por ter grama roçando em seus lábios.

_ Não seja tão ranzinza! Deveria se divertir mais.

_Quem sabe assim que você sair de cima de mim para que eu possa me levantar?!- falou irônico.

_ É mesmo!- disse rindo. – Nem me lembrei desse detalhe.

O Yokai lobo saiu de cima do menino que tornou a sentar limpando o máximo de sujeira possível. A blusa estava marrom por causa do pequeno descampado que teve a sorte de estar bem debaixo do seu peito.

_Que legal! O único pedaço de terra sem grama e é justo nele que eu caio. Sou muito sortudo mesmo.

Kouga sentou-se ao seu lado e Yusuke sentou junto. Hayato examinou o seu agora sujo vídeo game portátil e depois de limpar a tela, o enfiou no bolso. Não seria muito inteligente arriscar jogar com os dois tão perto.

_ Ainda não me disse como está indo na escola nova. – disse meio pensativo.

Hayato o encarou por alguns segundos tentando até compreender o porque da pergunta.

_Minha mãe disse algo a você?- perguntou meio receoso.

_ Nada que seja novidade. Disse apenas que colocou você em outra por causa de alguns encrenqueiros.

Sem jeito pela resposta, o hanyou se atentou em atirar algumas pedras que estavam próximas.

_ Está tudo bem. – saiu menos sincero do que esperava.

_Tem certeza?
_Sim.

_ Pois não é o que parece.

_ Porque acha isso?- tentou ser natural apesar de estar ansioso por dentro.

_Está estranho, calado... E a sua mãe anda muito agitada, como se tivesse que resolver um problema.

_ Ela é assim mesmo. Vive cheia de problemas no trabalho.

Kouga prendeu seus olhos nos dele, fazendo Hayato sentir-se incomodado. Era como ser despido apenas com um olhar.

_Pois para mim parece que tem algo a ver com um filhote de Inu*.Tem certeza de que está tudo bem com você?

O garoto engoliu seco a preocupação do Yokai descobrir a verdade. Se isso acontecesse ele ia ter um acesso de fúria como das vezes passadas. Kouga nunca escondeu que o queria bem como á um filho, mas sabia passar lições e sermões como ninguém e a simples lembrança disso fazia calafrios subirem pela espinha de Hayato. A personalidade Yokai forte e orgulhosa que tinha o fazia explodir ante a qualquer ato de fraqueza. Quantas vezes não se perguntou se o pai agiria da mesma maneira, ou se era tão temperamental quanto ele?

_ Tenho. –disse enfim.

O olhar dele foi amenizando até deixar o sorriso moleque de costume.

_ Que tal treinar um pouco?

Aliviado por ter acabado o interrogatório, Hayato balançou a cabeça negativamente e apontou para a perna engessada com os olhos. Não seria prudente tentar treinar com Kouga com a perna engessada.



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Notas finais do capítulo

Reviews?Não me deixem na mão, por favor!