O Inimigo da Princesa escrita por Verdana


Capítulo 2
O cavaleiro do Rei




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  - Desculpe-me pelo barulho, senhora. - ele sorriu - Mas ainda não estou acostumado à idéia de haver uma dama nesta casa.
  Ele falava em um tom educado e sua voz era agradável de se ouvir. A pesada cota de malha estava jogada no chão, mas uma camisa simples tentava sem sucesso esconder os músculos bem definidos.
  Olhos azul-escuro a observavam por detrás do capacete, que em um movimento lento juntou-se à cota no chão. Alexandra admirou seus cabelos muito escuros por alguns segundos.
  - Bem, eu... - Dario começou, sendo prontamente interrompido pela jovem.
  - Eu não vou!! - o homem lançou-lhe um olhar de dúvida e ela continuou - Eu não sei direito o que os homens fazem com as mulheres quando estão sozinhos, mas... Eu não vou deixar que o senhor toque em mim, nem faça nada comigo!
  Ela respirou fundo. Se o pai estivesse ali, ou qualquer um da corte, já teria recebido uma advertência, talvez uma pequena punição. Mas não havia ninguém de seu antigo lar ali, e Alexandra não sentia respeito por seu marido, mesmo tendo se preparado para isso a vida inteira.
  - Nosso casamento foi apenas uma estratégia política, então não há necessidade de continuarmos com isso! Tenho certeza de que o senhor poderá arranjar-se sozinho para satisfazer qualquer coisa que poderia querer de mim!
  - Mas, minha senhora, isso seria traí-la, algo que não pretendo. Mesmo sendo apenas uma farsa, a senhora é minha primeira e provável única esposa. - ele se aproximou lentamente. Falava em um tom calmo - Não concorda que seria melhor tentarmos algo real, já que estamos presos nisso?
  - Não... Eu não quero... - a voz de Alexandra era apenas um pouco mais que um sussurro. Toda a coragem de antes fora drenada pelo olhar firme do cavaleiro.
  Ele levantou o rosto da jovem pelo queixo, aproximando seus lábios dos dela...
  - Meu senhor Dario, não sabia que já estava de volta! - Nathan exclamou e logo notou a situação que havia interrompido - Ah... Desculpe-me, eu não...
  Alexandra aproveitou a distração para sair para a rua.
  - Não há problemas, Nathan, pode ficar. - o criado iluminou-se de alegria.

  O lado de fora da casa era tão simples quanto o prédio, mas a jovem achou o jardim, de poucas árvores, bancos e flores, muito mais acolhedor.
  Sentou-se em um banco de pedra e olhou para a cidade ao longe. Devia ser a capital. No lado oposto estava um imponente castelo, em cima de um monte. Entre esses dois, vários castelos menores.
  "Devem ser todos de outros cavaleiros estimados", pensou, dando um longo suspiro. "Não quero ter de viver aqui, por mais gentil que aquele homem se finja! Todas minhas irmãs não tiveram um casamento feliz, mas não irei ser como elas e deixar que me maltratem! Não, não serei".
  A jovem olhou para o céu, tão azul quanto o fim da tarde permitia, e começou a chorar.
  - Ora, você deve ser a pequena Alexandra.
  Uma senhora falara. Carregava sozinha vários tecidos, apesar da avançada idade. Alexandra imaginou que devia ter trabalhado a vida toda, para mesmo na velhice ainda poder fazer o mesmo esforço físico do que de um jovem. O rosto bondoso mostrava um sorriso da mesma qualidade.
  - Não chore, minha querida. - ela continuou - Sei que tudo deve ser assustador, mas não há ninguém que more nesta casa que irá lhe fazer algum mal.
  Alexandra secou as lágrimas e abriu espaço para a senhora sentar-se ao seu lado.
  - Eu não quero morar aqui! Nate também me disse que ninguém iria me magoar, mas não sei se posso acreditar nele, ou na senhora! E aquele, aquele Dario! Quer a mim como esposa, mas nunca viu meu rosto! Não quero que ele me toque, nem faça o que quer que façam! - a mais velha a abraçou.
  - Mas como pode saber que ele a machucará, se também nunca soube da sua existência? Aposto como não pensou que ele também esteja assustado. - ela riu com a expressão de surpresa de Alexandra - Não há como você voltar para casa, então por que não tenta ter uma vida feliz aqui? Não precisa amar Dario.
  A jovem pensou um pouco. Se levantou, pegando um pouco para si dos tecidos.
  - Está bem, mas jamais amarei aquele homem. - a velha senhora apenas sorriu.

  Voltaram para dentro, onde Dario descansava em uma cadeira, sem a armadura. Parecia muito concentrado em seu livro, mas levantou-se quando percebeu Alexandra.
  - Senhora, eu... - novamente ele começou, apenas para ser interrompido.
  - Ainda não vou aceitar que chegue perto de mim, mas talvez possamos conviver... - o cavaleiro sorriu e fechou o livro. Alexandra entregou os tecidos para Becca e sentou-se timidamente ao lado do marido, sem olhá-lo. - E não me chame de senhora, por favor... Eu me sinto velha sendo chamada assim...
  - Está bem. Perdoe-me por isso, mas como a senho... Mas como você é uma da realeza, achei que teria de ser o mais educado possível.
  - Não precisa tentar me agradar, já sou sua mesmo.
  Diante dessas palavras, Dario segurou o rosto de Alexandra com as duas mãos e a obrigou a olhar para ele.
  - Você não é um objeto, e jamais permitirei que seja tratada como tal.
  - Pode falar assim agora, mas logo o estará fazendo! - respondeu a jovem, retirando as mãos de seu rosto e levantando-se. Ela não esperava que o homem fosse se erguer também.
  - Por que você não pode acreditar em mim pelo menos um pouco!? Meu rei poderia ter lhe dado para alguém com idade para ser seu avô, alguém que a violentaria na cama ou mesmo no chão, mas não o fez! Deu-a a mim, e em vez de tentar ser pelo menos um pouco grata, só reclama de mim por coisas que sequer fiz!
  Ela olhou para os lados, a procura de algum sinal de Becca ou Nathan. Deviam estar na cozinha, pensou. Dario a encarava, e ela não sabia o que responder. Mal começou a pensar no que dizer, o cavaleiro falou.
  - Eu pretendia passar o resto do dia criando um laço pelo menos amigável com minha esposa, mas como você se recusa a tanto, irei dar uma volta. - ele se levantou e estendeu a mão na direção de Alexandra. Esta timidamente colocou a mão sobre a dele e fechou os olhos.
  Dario virou a mão da esposa e colocou um anel com um único belo rubi em sua palma.
  - Este anel era de uma senhora, que me pediu para procurar seu neto, que estava desaparecido. Quando eu voltei com o rapaz, um vizinho me contou que ela havia morrido, e deixara esse anel como forma de agradecimento a mim.
  - E o que houve com o neto dela?
  O homem sorriu.
  - Ficou morando aqui, desde então. - ele disse. Alexandra não pôde evitar olhar na direção do corredor. Agora entendia de onde vinha a admiração de Nathan por Dario.
  - É muito bonito. O anel. Por que está dando-o para mim? Seria melhor entregar a Nate, não?
  - Tentei fazer isso, mas ele não queria, disse que era meu, por tê-lo encontrado. Quanto ao motivo... - ele deu um sorriso tímido - Eu... Bem, eu queria ver você sorrir.
  Ela não respondeu. Ficou observando o anel, já em seu dedo, enquanto o marido saía.


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