--- Vamos, Lottie, sorria. –Peter disse, enquanto eu ficava lambendo os dedos embaixo de Penny, comendo biscoitos.

--- Não, Pete, não agora! –Eu coloquei a mão em meu rosto, enquanto mastigava um biscoito suculento.

  Peter correu com a câmera fotográfica na minha direção e sentou-se, bruscamente embaixo da árvore. Continuei comendo meus biscoitos...

  Frida estava aprendendo a cozinhar. Ela dissera que queria ser uma boa “titia” para as novas crianças. Quando acabei de devorar meu biscoito e já ia pegar outro, Peter segurou minha mão. Olhei para seu rosto, que estava inexplicavelmente lindo. Como sempre ficava embaixo de Penny. O vento batia em seus cabelos que reluziam bastante a luz do sol. Seus olhos estavam fixos em mim e sérios, de um azul inimaginavelmente  forte.  Um ar infantil e precavido emanava deles. Estavam serenos, mas hipnotizadores. Fiquei olhando para ele enquanto ele ficava calado, também me fitando. De repente, ele quebrou o silêncio.

--- Sabe, você é linda.  Minha  pessoa linda. –Ele disse, enquanto eu ainda o fitava, atônita. –Mas, não quero uma lindinha  gordinha e doente certo? –Ele tomou o último biscoito da minha mão, enquanto percebeu minha distração e comeu-o.

--- Droga... –Murmurei.

--- Eu... Queria muito esse biscoito... –Eu estava séria agora. Enquanto eu esquecia a câmera, ele a posicionou na minha frente e tirou um foto minha, naquela hora. 

--- Não acredito, Pete! –Eu ri. Quase gargalhei. Minha cara devia estar parecendo de fome e aborrecimento. Deveria estar histericamente hilária.

  Peter gargalhou ao ver a foto. Como eu queria que ele o fizesse mais vezes. Parecia uma criança das mais lindas,  feliz   como eu não costumava vê-lo.

--- Olhe isso. –Ele me entregou a câmera.

  Meus olhos estavam baixos e fixos em algum ponto da grama. Minha bochecha parecia levemente inflada como a de uma criança aborrecida. As sobrancelhas estavam franzidas e o cabelos voando, tapando um pouco do meu nariz. 

--- Não gosto muito de tirar fotos, sabe... –Eu disse, deitando-me nas pernas dele.

Quando o fiz, ele começou a afagar meus cabelos.

--- Por quê? –Ele perguntou, pensativo.

--- É que, sempre saio fazendo algum tipo de cara estranha... Minhas fotos do colegial eram hilárias. E sempre que eu tirava fotos com a Bridget, nem parecíamos gêmeas. Ela estava sempre muito observadora e entretida com a câmera, mas estava sempre chateada. E eu sempre fazia careta. Sempre estava lá no momento errado... –Eu sorri ao lembrar-me daqueles tempos.

--- Eu sempre saia lindo. –Peter disse, de repente. Sorriu, com uma ponta de sarcasmo.

--- Ah, é mesmo? Mas você  é  lindo. –Disse, também de forma sarcástica.

--- Que bom que você acha. –Peter disse. –Bom todos em casa adoravam brincar comigo e apertar minhas bochechas incessantemente...

--- Não aperte as bochechas do nosso filho. Não o traumatize... –Eu disse.

--- Eu o amo. Quero ser um bom pai. –Peter disse, com um ar esperançoso.

--- Você será... minha mãe sempre diz que um bom marido é um bom pai. –Eu falei.

--- Sou realmente um bom marido, Lottie? Faço-te feliz? –Perguntou-me, como se não soubesse. Sim, tinha um ar ingênuo.

--- Na verdade não, e odeio você... me bate sempre e não liga quando digo que estou cansada. Nunca me leva no braço para a cama quando estou dormindo no sofá e sempre rouba meus biscoitos para eu não ficar gorda, só para não ter que me aturar quando eu ficar frustrada por estar gorda... –Eu disse, de forma amistosa.

--- E você... –Interrompi-o, colocando o dedo indicador em sua boca. Levantei e fiquei sentada perto dele.

--- Ah, Peter, como você agüenta todo este meu peso inútil ao me levar para a cama quando durmo no sofá? Como consegue não me bater quando sempre quero desistir? Como consegue ficar sempre ali e fazer algo por mim quando estou cansada? Como consegue me proibir do que eu gosto para me proteger? –Eu perguntei, sorrindo. –Como eu não te amaria depois disto?

--- Tudo por amar você! –Ele disse, me beijando, urgentemente.

Retribuí o beijo e ficamos ali, nos beijando por alguns bons minutos.