Dead Life escrita por melisica


Capítulo 9
Can We Settle Up The Score?


Notas iniciais do capítulo

Olha só, fui rápida dessa vez, não é? Enfim, o capítulo tá aqui.
Beijos :)



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Domingo, acordei com dor de cabeça. Não me lembrava de nada que aconteceu no sábado, somente na sexta. Também, não seria difícil, aquele beijo repassava várias e várias vezes em minha mente, como um replay. Eu lembrava de cada exato detalhe, como se tudo aquilo que acontecera fosse um misto de sonho e realidade. Do sábado, só me lembro de ter brigado com Caleb, já que ele achara as minhas pílulas e simplesmente as jogou ralo abaixo. 

"- Quem você pensa que é pra fazer isso? 

- Seu amigo, Frank. 

- Não! - gritei. - Por que você não cuida da sua vida?"

Estava arrependido de ter brigado com ele, porque fazia cerca de duas semanas que eu estava morando na casa dele de favor. Respeitar as regras de sua casa era o mínimo que eu devia fazer. Levantei-me e desci as escadas. Caleb, pelo jeito, ainda não acordara. Com uma camiseta cinza, uma calça de moletom e meias, sentei-me numa poltrona da sala. Acendi um cigarro e traguei. Pelo menos aí não havia problemas, já que ele também fumava. Eu olhava para o nada, pensava em nada, até que acordei do transe. O que poderia eu fazer em pleno domingo de manhã? Hm... Que tal ler um jornal e se informar sobre o mundo Frank Iero? Hm... Boa ideia. 

Levantei-me preguiçosamente da poltrona e fui andando lentamente (leia-se: arrastando-me) em direção à porta. Quando a abri, dei um grito. Gerard, por sua vez, também gritou. 

- Você aqui? - perguntei ofegante e risonho pelo susto. 

- É... - disse ele, rindo. 

Comecei a rir na cara dele. 

- Hey... - ele franziu a testa. - O que aconteceu de engraçado? 

- Mas que gritinho fino, de mulherzinha, você deu hein? - questionei não me aguentando e rindo descontroladamente. 

Ele me olhou com uma cara de desentendido e começou a rir junto comigo. Não sei o que me deu na hora, mas eu não parava de rir, e ríamos juntos como se fôssemos amigos e estivéssemos nos divertindo.

- Chega, Frank - ele me censurou, colocando uma mecha de sua franja para trás da orelha. 

- Desculpe... - disse, controlando o riso. - Mas, então, o que você quer aqui, há essa hora, e em pleno domingo?

- Eu sei que é estranho, mas eu acordei e não consegui mais dormir. Então pensei em vir aqui pra te chamar pra dar uma volta comigo.

Eu não sabia se devia ou não. 'O que está acontecendo com você, Frank?! Você ainda cogita a ideia de querer dar um passeio com ele?  Ou será que se esqueceu de tudo que ele fez?”


- Vou me arrumar - droga, a merda já estava feita. - Não quer entrar e esperar? 

- Acho melhor não... - ele negou balançando a cabeça. - Te espero aqui fora, o Caleb pode ver. 

Subi as escadas com pressa. Fui ao quarto e peguei as primeiras roupas que vi: um jeans rasgado, uma camiseta preta, um moletom e tênis velhos. Peguei meu maço de cigarros e meu isqueiro, coloquei no meu bolso e desci logo em seguida, fechando e trancando a porta. 

- Como você está diferente de quando eu te vi na editora... - disse ele, zombando. 

- Pois é... - falei, apontando para mim mesmo. - Este é o verdadeiro Frank. Sem frescuras e sem etiquetas. Simplesmente eu - disse, brincando. Era engraçado como eu me soltava com ele. 

- Prazer, Frank - disse ele, me dando a mão educadamente. - E este - disse apontando para ele mesmo. - É o verdadeiro Gerard. 

- Prazer, Gerard... - falei, entrando em sua brincadeira. 

Começamos a nossa caminhada em silêncio. Mas era engraçado. O silêncio não era constrangedor, pelo contrário, era confortador. Como se não houvesse palavras para serem ditas, apenas sentimentos a serem vividos.

- Frank... - disse Gerard subitamente. 

- Quê? - perguntei olhando para algumas crianças que cruzaram nosso caminho. 

- Posso te levar para um lugar onde gosto muito de ir? - pediu sorrindo. 

- Pode sim. 

Durante todo o trajeto, ele não quis me dizer para onde íamos. Até que, finalmente, chegamos. Ficava num bairro de periferia, um antigo teatro, fechado há tempos. Tinha uma construção antiga e o letreiro com o nome do teatro estava todo quebrado. 

- O que tem nisso aqui? - perguntei. 

- Calma... Já te mostro - falou e pegou em minha mão, me puxando em direção a uma porta, na qual entramos.

- A gente pode entrar aqui, Gerard? 

Ele ficou em silêncio por um instante, dentro do teatro. Olhando para as altas, antigas e imponentes colunas que sustentavam a grande construção.

- Gee - ele disse.

- O quê? - perguntei, não entendendo o que ele queria dizer com aquilo. 

- Gee... - disse ele, olhando para mim - Me chama de Gee, Frank. 

- Ah tá... - assenti e ele voltou a falar. 

- Eu conheço o cara que cuida daqui. E ele me deixa vir aqui às vezes.

- E o que você vem fazer aqui? 

- Vou te mostrar.

Ele, me puxando pela mão, foi passando por entre as poltronas do teatro, seguindo em direção ao palco. Subimos as escadas e passamos pela colcheia. Ele puxou duas cordas que ficavam escondidas atrás das cortinas, fazendo com que as mesmas de abrissem, levantando uma grande camada de pó. Abriu uma caixa de força e ligou o holofote principal. Após isso, Gerard, me levou para bem no centro do palco. 

- É isso que eu faço aqui.

- Isso? 

- É! - disse ele, parecendo empolgado. - Olhe Frank... - ele disse, apontando para onde deveriam estar à plateia. - O meu público!

Olhei para ele e sorri. 

- Eu sei que parece estranho - continuou. - Mas eu venho sempre aqui para que eu nunca me esqueça do eu já quis ser na vida.

- Famoso? 

- Não... A fama é uma consequência - ele explicou rolando os olhos. - Eu queria ser músico, Frank, músico. Queria que as pessoas ouvissem a minha música e as fizesse se sentir diferente, se sentirem melhor do que já são.

Era lindo o que ele dizia, ele estava pondo em palavras exatamente o que eu sentia quando era mais novo. 

- Eu também quis ser músico, por isso acabei vindo parar em Nova York - eu disse, sorrindo para ele. - Diga-se que não deu muito certo. 

- É... Pra mim também não deu - disse ele olhando do centro do palco para mim, que estava um pouco mais no canto do palco - O que você faz? 

- Eu toco guitarra... - sorri me lembrando da minha guitarra Pansy, ela era meu xodó, mas tive que vendê-la para pagar contas atrasadas ou seria despejado. - Mas tive que vender pra pagar umas contas. 

- Que pena... - ele parecia verdadeiramente aborrecido. - Bem, o que eu faço não tem como vender. 

- Você canta? - arrisquei. 

Ele apenas confirmou balançando a cabeça. 

- Fique aí - eu disse a ele, descendo as escadas do palco. 

- Aonde você vai? 

- Você já vai ver... - desci as escadas do palco e me sentei em uma poltrona, em frente a ele. - Vamos, Gee, cante para mim. Sou o seu público. 

Gerard olhou com surpresa para mim e sorrindo, 
começou a cantar Champagne Supernova, do Oasis. Sim, e ele cantava maravilhosamente. Ele batia o pé no chão suavemente, marcando o tempo e eu logo senti meus dedos dedilharem o ar, lembrando-se vagamente dos acordes daquela antiga música que ele escolhera. Se fosse em outra circunstância, eu estaria rindo, afinal, não havia microfone ou até mesmo instrumentos acompanhando Gerard, mas, mesmo assim, era lindo. 

Gerard não parecia se preocupar. Com as mãos nos bolsos de sua calça, ele cantava suave, de olhos fechados. Em certo momento, enquanto cantava, com o dedo indicador, ele me chamou. Levantei-me e fui lá, em direção ao palco. Minha cabeça estava na altura de seus tornozelos. Ele se abaixou e me puxou para cima do palco, ainda cantando. Ele me abraçou por trás e ficou cantando, sussurrando em meu ouvido aquelas palavras lindas. "Someday you'll find me, company to endlessly in a champagne supernova in the sky'" foi o que ele cantou, logo em seguida abaixando a cabeça lentamente em direção aos meus lábios. Com as mãos em sua nuca, o puxei para mais perto, beijando-o com vontade. E como eu o queria naquele beijo, eu não sabia o que estava acontecendo comigo. 

- Frank... - começou Gerard, suspirando e interrompendo nosso beijo. 

- Eu sei... - disse tristemente. 

- Sabe?

- Sei...

- Sabe o quê? - ele perguntou, rindo zombeteiramente da minha cara. 

- Eu sei que está errado! Que droga! - falei, me largando dele e me virando. 

- Não está errado, Frank. 

- Como não, Gerard? - perguntei. - E a Amy? 

- Eu não posso fazer nada... 

- Como você tem coragem de dizer isso?

- Eu já disse Frank, não se manda nas pessoas ou em seus corações. 

- Eu... Eu tenho que ir, Gerard - falei já descendo do palco. - Não está fazendo bem a gente se ver... 

- Espera Frank - disse ele, me puxando. - Eu não vou desistir de você. 

- É... - falei, quase chorando. - Não vai desistir de mim, vai conseguir o que quer e depois que se enjoar, vai me mandar embora. Assim como você fez com a Amy. 

Gerard olhou tristemente em meus olhos, andando vagarosamente até mim e sussurrou:

- Não é assim... 

E depois me beijou com muito carinho. Algumas lágrimas começaram a rolar livremente pelo meu rosto. Gerard parou de me beijar e começou a beijar as lágrimas, secando-as. 

- Você não pode fugir de mim, Frank - ele escorregou seus dedos pelas maçãs de meu rosto. - Não agora que eu te encontrei.

Separei-me dele. O que estava acontecendo? Eu estava gostando dele, mas e a Amy? Onde ela ficava nessa história? Poderia eu fazê-la sofrer o tanto que eu havia sofrido?

- Desculpe Gerard... Mas não temos escolha - e logo saí. 

Caminhei rapidamente para casa. Gerard, Gerard, Gerard... Ele não saía da minha cabeça um instante sequer! Como isso pôde ter acontecido tão rápido, meu Deus? Será que eu amava Gerard? Não, não podia ser, devia estar louco. Mas e aqueles beijos? Nunca me senti assim antes... Nem com Amy, a mulher que eu dizia amar com todas as minhas forças, nem com ninguém. Então, por quê? Por que isto estava acontecendo comigo? 

X

Segunda-feira, mais um dia de trabalho, mais um dia no qual o "verdadeiro Frank" tinha que se disfarçar com ternos e gravatas. Mais um dia eu teria de sorrir, quando, na verdade, queria gritar. 
Desci as escadas da casa de Caleb, que estava sentado, lendo um jornal e tomando uma xícara de café. Ele era tão sozinho, tão solitário, mas era tão sonhador... Eu queria tanto que ele encontradas alguém com a mesma bondade que ele e na verdade, eu vinha pensando em apresentar Ashley para ele, sim, a amante do meu ex. 

Ela combinaria perfeitamente com Caleb, ambos eram românticos, sonhadores, tinham os mesmos desejos... E pensando bem, ela devia ser no máximo uns três ou quatro anos mais nova que ele. Ela era bonita, tinha grandes olhos azuis como Caleb, traços finos e delicados. A chamei de vadia na hora da raiva, mas na verdade, eu não reparara muito bem nela no momento em que a peguei junto de Matt. Estava decidido, num momento oportuno, eu daria um jeito de apresentá-los.

Mas mesmo assim, mesmo querendo o bem de Caleb, eu ainda estava brigado com ele. Bom, na verdade,
acho que ele que estava brigado comigo. Depois do episódio de sábado de manhã, ele nem dirigiu o olhar ou a palavra a mim. Ele estava puto por causa do escândalo que eu fiz quando ele jogou minhas drogas no ralo. Cheguei por trás dele e o abracei pelos ombros. 

- Me desculpa cara... - disse eu, sussurrando. 

Ele continuou em silêncio, fingindo que ainda lia o seu jornal muito concentrado. Não disse mais nada, apenas continuei abraçado a ele, em silêncio. Até que ele pegou em minha mão e bateu nela levemente. 

- Só quero o melhor pra você, Frank - disse, virando-se e olhando para mim. 

- Eu sei... - disse, sorrindo para ele. 

Nos desculpamos e ele me abraçou. Depois de tomarmos café, fomos para o serviço juntos, como sempre. E nos tratamos como se nada houvesse acontecido. Chegamos ao prédio da Dark Horse em menos de vinte minutos. Cumprimentamos as pessoas do primeiro andar e dirigimo-nos ao elevador. Havia muito trabalho naquele dia. 

- Como estão as coisas com os novos clientes, Frank? - disse Caleb, me olhando de esguelha. Claro que ele estava se referindo de como iam as coisas com Gerard. 

- Ah, vamos bem. Quero dizer, estamos sendo profissionais... 

- Ótimo você tem sido um bom garoto. 

- Obrigado, papai - disse, rindo para ele. 

O elevador chegou ao nosso andar. Descemos e nos encaminhamos para nossas respectivas salas.

- Não esqueça Frank você precisa telefonar para ele e marcar um horário para ele entregar os rascunhos. 

- Ok... - respondi esperando que não tivesse que falar com ele.

Liguei para a casa dele à tarde. Depois do almoço, nem ele nem Mikey haviam atendido telefone celular, então, liguei para o fixo deles mesmo. O telefone demorou para ser atendido. Quando foi atendido, só dava para ouvir vozes. Pelo jeito, estavam discutindo. 

- Alô?! - disse a voz do outro lado, gritando.

- Oi, é o Frank Iero, da editora. 

- O quê? - disse ele. - Desculpa, não to ouvindo. 

- É da editora! 

- Quem tá falando? 

- Frank Iero.

- Frank! - não reconheci de quem era à voz. - Aê, seu viado, cala a boca aí! Oi Frank, é o Mikey. 

- Oi, Mikey, tudo bom? 

- Tudo, melhor agora... 

- Que bom! - ignorei o comentário dele, que me deixou vermelho. - Eu estou ligando para marcar com o Gerard um horário para ele deixar os rascunhos aqui na editora. 

- Puxa, que bom! - ele riu. - Mal posso esperar para ir aí junto com ele e ter ver. 

- Awn... - fiquei vermelho, ainda bem que estávamos por telefone. 

- Você sabe que é verdade... - de repente, ele pareceu ser interrompido. - O quê? Sai fora, Gerard... 

- Alô, Frank? É o Gerard... - como eu não poderia reconhecer aquela voz? 

- O-oi... - no fundo, só conseguia ouvir o Mikey reclamando e chamando Gerard de tudo quanto era nome. 

- Eu ouvi o Mikey dizer que tenho que ir aí... - ele riu. - Por quê? 

- Sim... Você tem que entregar os seus rascunhos e instruir os coloristas com essa parte de cores, luz e sombra, essas coisas - expliquei. - Na verdade, eu estou ligando para marcar uma data. 

- Por mim, se fosse hoje mesmo, eu iria. 

Fiquei quieto, sem ter o que dizer. 

- Estou com saudades... - disse ele, baixinho. 

- Ah, então o que você acha dessa semana mesmo?

- Perfeito! Eu não tenho nada pra fazer mesmo.

- Ótimo, hoje é segunda-feira... - olhei para o calendário do meu computador. - Tudo bem para você na sexta?

- Tudo sim. 

- Perfeito, então. Qualquer coisa te retorno mais tarde. 

- Frank? - ele disse, segundos antes de eu desligar. 

- Sim? 

- Desculpa... Esse não é o Frank que eu conheço, esse é o Frank cheio de frescuras. Eu quero falar com o Frank.

Foi inevitável eu não ter dado risada. 

- Fala Gerard. 

- Não, você não é o Frank... - ele disse rindo. - Ele me chama de Gee.

- Eu estou no trabalho, Gerard. 

- Me chama de Gee. 

- Não posso...

- Por favor? - mas que voz mais fofa e pidona foi aquela? 

- Tá bem, Gee... - eu disse, sussurrando o nome dele. 

Gerard deu uma risada satisfeita. 

- Posso sair com você hoje? 

Juro que por um instante, quase pensei em aceitar, mas eu não podia. 

- Desculpa Gerard... Quero dizer, Gee - corrigi - Mas não posso. Não podemos.

- Por que você tem que ser tão difícil? - disse ele, rindo zombeteiramente. 

- Não estou sendo difícil.

- Eu sei que você quer sair comigo. 

- Não quero. 

- Claro que quer. E, se você ouvisse agora sua própria voz, saberia o que eu estou dizendo. 

- Às vezes você é tão chato.

- Eu sei, e persistente também. Vamos sair hoje?

- E eu sou teimoso - rebati. - Já disse que não. 

- Você é quem sabe, até mais. - e desligou na minha cara.

Fiquei sem reação. Como uma hora ele pode ser tão atencioso, carinhoso, sensível e na outra, ser tão grosso, estúpido e rude?

Trabalhei o dia todo com um peso no coração pela forma que o Gerard havia me tratado. Estava com um misto de raiva e arrependimento. O dia passou rápido. Fui para a casa de Caleb, mas já estava cansado de ficar de favor lá, sem pagar nenhuma despesa. No caminho, decidi que quando tivesse tempo, procuraria um apartamento para eu morar e parar de atormentar Followill. Ele já fizera muito por mim. Quando cheguei, antes de Caleb, pois ele sempre demorava um pouco mais que eu na empresa, fui à secretária eletrônica dele. Haviam duas mensagens.

"Oi Frank, é o Gee. Sinto muito por hoje. Espero que seja você que esteja ouvindo essa mensagem senão... - ele riu. - Eu sei que é estranho, mas não consigo parar de pensar no dia do teatro. Preciso te ver e falar com você. Até mais" 

Houve um pequeno espaço entre a primeira e a segunda mensagem. 

"Oi... É a Amy. Já faz tempo que não nos falamos, não é Frank? Tem acontecido tanta coisa e bem, sinto sua falta. Eu tentei ligar pra editora, mas você nunca está disponível. A gente precisa conversar - ela suspirou. - Sinto muito por tudo o que aconteceu... Te amo. Tchau."

Fiquei bobo com a mensagem que Amy deixou para mim. O que será que aconteceu com ela para ela ter me ligado? Será que Gerard e ela haviam terminado? Escutei um barulho na porta, ela estava sendo aberta. Provavelmente deveria ser Caleb.

- Já chegou? Pensei que fosse demorar mais tempo na edito... - virei-me e dei de cara com Gerard rindo para mim. - Gerard?! 

- É! - disse ele, rindo. - Sempre desconfiei que as pessoas escondessem uma chave reserva atrás de algum vaso ou debaixo do tapete - disse ele, com cara de vitorioso e balançando a chave entre os dedos indicador e polegar.

- O que você está fazendo aqui? 

- Vim te ver.

- E se o Caleb estivesse aqui?! 

- Eu não sou tão burro, né? - ele piscou para mim. - Eu liguei pra lá e verifiquei que o nosso "amiguinho" ainda estava trabalhando. 

- Você não presta! - disse ainda espantado com a ousadia dele. 

- É talvez não preste mesmo... - e riu.

Fiquei olhando para ele sem saber o que dizer. Até ele quebrar o silêncio. 

- Já jantou? - disse ele. 

- Já - menti.

- Mentiroso... - disse ele, olhando com olhos cerrados e avaliadores.

- Não tenho motivos para mentir.

- Claro que tem. 

- E quais seriam? 

- Fugir de mim seria um deles. 

- Não preciso fugir de você, Gerard.

- Precisa, sim... - disse, vindo em minha direção. Ele era incrível, desde o jeito de andar dele, o sorriso, os cabelos... Tudo nele me deixava extasiado, fora de mim.

- Sabe qual é o seu problema? - disse eu, sem esperar uma resposta. - Você se acha demais... 

- E sabe qual é o seu problema? - disse ele, arrebatando a minha crítica. - Você teme demais...

Suspirei, e tentando me afastar dele, fui indo sorrateiramente a direção à cozinha. 

- É verdade, não é Frank? - ele veio andando em minha direção e parou ao meu lado. - Você tem medo de se apaixonar? 

- Não! - falei dando as costas a ele. 

- Tem sim - disse ele, me virando e levantando o meu rosto para que pudesse olhar dentro de meus olhos. - Você é lindo... 

- Para com isso! - disse, me afastando dele. - Não sou bonito...

- É sim - ele disse ainda imóvel. - Você é mais do que bonito, é especial. 

- Claro, eu e a metade do mundo - disse eu, cínico, me afastando dele. 

- Por que você é tão amargo, Frank? 

- Não sou amargo, apenas realista, Gerard - expliquei. - Eu sei que você não é o bom samaritano, pelo contrário, deve ter toda mulher ou cara que quer. 

- De que vale o universo se eu só quero uma pessoa? - ele foi colando seu rosto ao meu, respirando ofegantemente perto de minha orelha. 

- Para, Gee...

- Não posso, não consigo Frank... - ele disse com os lábios perto de meu pescoço, então pude sentir seu hálito quente contra minha pele. - Será que você não percebe que você é meu? Que você vai ser só meu? - ele disse colocando minha franja para trás. - Que o destino quer assim? Não vê que eu te quero Frank? Quero tudo, te quero todo pra mim... 

Afastei-me e olhei em seus olhos. Naquele dia, seus olhos estavam mais claros do que o normal, um verde lindo. Coloquei minhas mãos em seu peito e senti seu coração batendo descompassadamente. Subi minha mão para seu pescoço, para seu rosto. Fitando-o cegamente, passei a mão por aqueles lindos cabelos. Daquela vez, foi mais forte que eu, coloquei as duas mãos em seu pescoço, segurando-o, e o puxei para mim. Gerard correspondeu ao meu beijo. Entreguei-me àquele beijo, sem medo. Foi maravilhoso. Era incrível sentir os braços dele me envolvendo em um abraço forte e protetor, era maravilhoso sentir nossos corações baterem acelerados, era fantástico como o mundo parava de girar quando eu estava com ele. Com Gerard era tudo tão mágico, parecia-me que eu havia nascido naquele instante e que tudo ao meu redor era novo. Como conseguia viver antes sem conhecê-lo? Eu pude sentir que cada célula do meu ser necessitava loucamente dele para viver. Aquilo era mais que atração. Só podia ser...

- Você não ouviu uma palavra sequer do que eu disse né? - ele falou rindo. 

- Desculpe... - disse, rindo sem graça. 

- Não faz mal... - disse ele, me abraçando, fazendo com que eu apoiasse minha cabeça em seu peito. - Está feliz? 

- Feliz? - não sei o que me deu na hora, mas comecei a chorar. Gerard me abraçou fortemente até que as lágrimas cessassem. - Desculpa Gee... Eu não sei o que aconteceu.

- Arrependimento? - arriscou, sem tom de voz era triste. 

Olhei para ele espantado. Como ele podia dizer aquilo? Mas, na mesma hora, vi que, em seus olhos, havia um misto de brincadeira. Ele simplesmente riu me levou para o sofá e lá sentamos de forma largada. Ficamos em silêncio, só ouvíamos a respiração um do outro. 

- Como o mundo é louco, não acha? - disse ele, olhando para o teto. 

- Louco? 

- É... - ele assentiu com a cabeça. - A vida tinha tudo para poder nos fazer ficar separados, mas, mesmo assim, não conseguiu. 

- O que você quer dizer com isso? - franzi o cenho. 

- Que o que sentimos um pelo outro foi mais forte que o destino. 

- Mais forte que o destino? - disse, rindo. 

- É! - ele afirmou. - Você não acredita no destino?

- Não, nunca acreditei nessas coisas. Acho que cada um rege sua vida.

- Não, Frank... - ele acariciou minha bochecha. - O destino rege nossas vidas. Cada encontro, palavra, ato... Tudo já estava previsto pelo destino, era do destino que nos apaixonássemos. 

- Então, quer dizer que tudo o que acontecer entre nós dois é obra do destino? 

- Mais ou menos... Não é porque é coisa do destino que temos que simplesmente nos sentar e esperar acontecer. 

- Faz sentido... 

- Faz, mas eu sei Frank, sei que foi o destino que te pôs no meu caminho. 

Ri para ele. Gerard demonstrava ter uma ideia completamente diferente do que eu imaginava dele. Era um sonhador e eu adorava cada detalhe dele, cada pensamento, cada palavra, cada ato. A partir daquele dia, acreditei que existisse destino, e deixei o nosso futuro nas mãos dele.


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