A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

"Imaginei que poderia ser Dimitri, me procurando, mas ao abri-la dei de cara, não apenas com ele, mas com uma comitiva de seis guardiões. Isso me cheirava mal."



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Dimitri dormia tranquilamente. Sua cabeça sobre o meu travesseiro estava virada para mim, sua testa quase tocando a minha. Podia sentir sua respiração quente em meu pescoço e eu estava presa em um relaxado abraço, nossas pernas entrelaçadas. Suas feições eram tão suaves que me peguei observando-o por vários minutos, hipnotizada.

Cheguei à conclusão de que gostava de vê-lo dormir. Geralmente, Dimitri ficava tenso a maior parte do tempo. Os ombros pareciam carregar todo o peso do mundo. Os olhos sempre atentos, como se a qualquer hora um perigo pudesse surgir. O cara não dava mole, momento algum. Mas quando dormia, suas defesas abaixavam. Não que ele estivesse de guarda baixa, sabia que ao menor sinal de perigo ele acordaria pronto pra ação e daria um show, disso não tinha dúvidas. Só que era lindo vê-lo finalmente descansar e tirar aquela ruga de preocupação na testa.

Afinal, ele merecia.

Movi-me lentamente na cama em seus braços, virando o corpo para ficar de frente a ele. Me deixei olhar mais um pouco. Era relativamente tarde, para quem fosse acordar cedo como nós. Mas, bem, depois do jantar simplesmente não pude evitar em ter minhas mãos nele e as dele em mim. Em todo o meu corpo. E nus. Pois é, foi meio difícil se concentrar na hora quando os lábios quentes passeavam pela minha pele e sua língua dançava contra a minha.

Ergui a mão e toquei seu cabelo de leve. Dimitri amava meu cabelo e eu amava o dele. Uma mecha caia sobre os olhos e eu a puxei suavemente para trás de sua orelha, roçando as pontas dos dedos em sua pele. Isso o fez estremecer de leve e seus olhos se comprimiram antes de se abrirem. Dimitri piscou, acostumando com a escuridão, então sorriu ao focar meu rosto.

- Roza.

Simples assim. Apenas a menção do meu nome em russo me fazia derreter toda como sorvete em um dia de verão.

- Desculpe. Não queria te acordar, camarada.

Dimitri riu levemente e suas mãos desceram por baixo do edredom para minha cintura nua, me puxando para mais perto dele. Meu coração se acelerou loucamente com esse gesto e eu me senti esquentar, apesar de as intenções de Dimitri fossem desprovidas de qualquer interesse sexual, pelo menos por enquanto.

- Hhhmmm – ele disse vagamente roçando os lábios nos meus – Eu gosto de abrir os olhos e você ser a primeira coisa que vejo. Embora você não seja bem uma coisa, claro. Talvez eu devesse reformular a frase... Eu gosto de abrir os olhos e dar de cara com uma deusa estonteante antes de qualquer outra coisa que possa fazer ou ver.

Eu ri alto, revirando os olhos. Dimitri ficava particularmente romântico e doce depois que dávamos uma amasso e percebi que poderia se intensificar depois do sexo, embora só tivéssemos realmente feito – sexo, eu digo – duas vezes. As duas melhores noites da minha vida, claro.

- Você está especialmente carinhoso agora. – respondi franzindo o nariz. – Não que eu esteja reclamando. Apenas pontuando. Por favor, camarada, não pare.

Dimitri riu. Não, ele praticamente gargalhou por alguns segundos. O som de sua risada foi intoxicante e eu meio que paralisei. Observei encantada os seus olhos fechados com força, formando ruguinhas nos cantos. Seus dentes brancos e retos expostos. Então, rápido demais para mim, ele parou, embora o rastro de diversão permanecesse no olhar.

- Não sei onde está a graça. – reclamei, embora não pudesse evitar sorrir.

- Só estou feliz em estar com você, Rose. Só isso.

- Também estou feliz em estar com você. – sorri tocando as pontas de nossos narizes – Incrivelmente feliz.

Nossos lábios se tocaram de leve em um beijo suave, mas antes que pudesse se intensificar e tornar-se algo mais, Dimitri o interrompeu apesar do meu gemido de reclamação.

- Precisamos dormir, Roza. – explicou ele pressionando seus lábios contra o meu rapidamente e então sorriu. – O dia será cheio. Terá reunião de manhã e você ainda tem Lissa para ver.

Ele tinha razão, e eu sabia. Mas não podia deixar de deseja-lo. Já era complicado quando estávamos próximos vestidos, quando estávamos na mesma cama e nus era ainda pior conseguir organizar meus pensamentos.

Suspeitava que Dimitri se encontrasse no mesmo estado que eu, pois ele sorriu e me puxou para seus braços, de modo que minha cabeça descansasse em seu peito.

- Durma, Hathaway. – murmurou ele, acariciando meu cabelo – Não vou a lugar algum, Roza.

Mas quando acordei Dimitri não estava na cama.

A luz entrava parcialmente no quarto, por um vão da cortina. Virei-me na cama, incomodada com o tamanho dela quando se estava sozinha. Virei a cabeça para o criado mudo para conferir as horas no relógio digital de luzes vermelhas. Eram nove e meia.

Joguei a coberta para o lado e me sentei rapidamente na cama. Estava atrasada. Muito atrasada. E onde estava Dimitri? Foi só após ter vestido meu conjunto de peças que notei um bilhete ao lado do relógio. Era um dos papeis de cartas do hotel dobrado ao meio, meu nome escrito caprichosamente pela letra de Dimitri. Abri.

Rose,

Não se atormente – ou me culpe – por não ter te acordado. Sei que você anseia por esses ‘assuntos de guardiões’, mas também sei o quanto sentiu falta de Princesa Dragomir. A reunião de hoje não será de seu interesse, já que, um, você não irá participar da ação e, dois, assim como ontem irá te entediar. E sei muito bem como você fica quando entediada. Aproveite essas horas da manhã livre e procure por Vasilissa, devem ter muito que conversar.

Sei que Ivashkov estará com ela e que você faz questão de sua presença. Vale ressaltar o quanto eu não aprovo isso? Não que – e eu sei disso – você irá se importar com o que eu acho ou deixo de achar, pelo menos com relação a esse rapaz. Só, por favor, tome cuidado, minha Roza.

Com amor,

D.”

Meu coração pulou desconcertado enquanto li seu recado. E, bem, sim eu li mais de uma vez. Dimitri me conhecia bem demais. E se preocupava comigo. E me amava. E me chamou de sua.

Dobrei novamente o bilhete e corri para o quarto que seria meu, mas que nunca fora usado. Abri minha mala e procurei pelo livro que Viktoria havia me emprestado para a viagem, se eu ficasse muito entediada em algum momento. Abri na página onde havia parado de ler e guardei o bilhete lá, sem deixar com que um sorriso tolo deixasse meu rosto no processo.

Voltei ao quarto que Dimitri e eu compartilhávamos e foi tomar um banho quente e demorado. Às dez e meia eu estava batendo na porta do quarto de Lissa. Só então me lembrei que ela e Chris haviam saído para uma festa à noite e que deveriam ter voltado tarde. Que seja, estava com saudades de Liss e se tivesse que aguentá-la mal humorada e com sono, aguentaria.

Mas o que encontrei foi uma Lissa animada e falante, com um vestido simples e solto e muita energia. Não precisei do laço e sim da nossa vida de amizade para chegar à conclusão que ela e seu namorado haviam saído mais cedo para uma festa particular no quarto.

- Então saímos sem que ninguém percebesse – Concluiu ela ao contar sobre o jantar da noite anterior, onde os Morois se mostraram enérgicos com o que estava acontecendo em nosso mundo. – Sabe, acho bom isso, eles discutirem e parecerem temerosos. Mas não passam de palavras. Se isso se voltasse para ações...

- Tatiana tem razão. – Disse abruptamente à mesa redonda próxima a janela onde estávamos tomando café da manhã. – Você seria uma boa governanta, Lissa. É sério.

Suas faces pálidas ficaram um pouco rosadas, mas sua resposta – se é que ela tinha uma – foi interrompida quando a porta do quarto se abriu e Christian entrou, seguido de Adrian.

- Bom dia, Hathaway. Como foi sua noite? – sua pergunta estava cheia de significados ocultos, o que me fez pressionar os olhos em ameaça. O que Adrian andara contando a Chris? – Aposto que foi ótima!

- Foi boa, mas aposto que não tão agitada quando a sua. – respondi em mesmo tom, fazendo-o corar. Ponto pra mim. – Bom dia, Ivashkov.

Adrian estava com o olhar longe, apesar de me encarar. Percebi que analisava minha aura e que ele sabia melhor que ninguém ali o como minha noite realmente fora. Seu olhar de tristeza apertou meu coração, mas foi rapidamente substituído por alegria genuína a me ver.

- Pequena damphir! Tão cedo? Pensei que tivesse assuntos de guardiões para resolver.

- Teria, mas Dimitri me liberou dessa. Aparentemente ele não quer que me envolva nesse assunto de sequestrar um strigoi...

Lissa engasgou com o chá e Christian derrubou a faca de manteiga da mão. Adrian permaneceu impassível diante da novidade. Ele possuía fontes, suspeitei.

- Como assim, sequestrar um strigoi? – indagou Christian chocado. – O que os guardiões querem com isso? Morte certa?

- Andam havendo ataques na região. Muitos ataques. Suspeitam-se de que acha um enxame deles por ai e querem acabar com isso antes que seja tarde demais. – respondi.

- Strigois não são abelhas para se ter enxames deles, Rose. – corrigiu Adrian sentando-se no sofá folgadamente. – E o que você vai fazer quanto a isso? Digo, você não vai simplesmente se sentar e deixar que os outros se divirtam com alguns strigois, vai?

- Adrian! – Lissa ainda se recuperava, mas estava bem o suficiente para ralhar com o primo. – Nem diga uma coisa dessas. Rose está arriscando a vida, não se divertindo.

Tive vontade de revirar os olhos, mas não o fiz. Apenas lancei um olhar entendedor a Adrian e mudamos de assunto. Não iria entrar nessa discussão com Lissa, não agora que ela estava aqui na Russia comigo. Afinal, ela não precisava nem sonhar que estava louca para estar lá na ação com os Guardiões que iriam chutar o traseiro dos strigois.

- Então Liss, me conte, quais as fofocas da Corte?

Deixei que Lissa falasse e, embora estivesse feliz com sua presença, não consegui me ater muito na conversa. Balançava a cabeça e fazia sons de entendimento vez ou outra, mas de repente todos os acontecimentos que aconteciam naquela bolha particular dos Morois reais pareciam superficiais e tolos. Havia gente morrendo. As pessoas estavam assustadas e tudo o que Priscilla Voda se preocupava era que o tom do vestido da fulana era vulgar.

Chegou, então, o horário do almoço e estamos nos organizando para descer para o restaurante quando bateram à porta. Imaginei que poderia ser Dimitri, me procurando, mas ao abri-la dei de cara, não apenas com ele, mas com uma comitiva de seis guardiões. Isso me cheirava mal.

Dimitri inclinou a cabeça em minha direção num cordial cumprimento. Atrás de mim, Liss, Christian e Adrian se juntaram curiosos e confusos.

- Hathaway – Dimitri então entrou no quarto com mais dois guardiões, deixando três do lado de fora da porta – Perdão pela intromissão, Princesa. Mas é de extrema importância que conversássemos.

- Ahn... tudo bem. – Lissa me olhou buscando por informações, mas sabia tanto quanto ela – É algum assunto particular ou meus convidados podem estar presentes?

- É até preferível que eles estejam presentes.

Seu tom de voz era calmo e profissional, mas eu havia aprendido a decifrar as nuances de sua expressão e timbres. Havia algo errado e me provei correta quando ele me olhou em um silencioso pedido de desculpas. Prendi a respiração.

- Estamos passando por um momento complicado. Há tido ataques de strigois, e os casos só vem aumentando. Tudo indica que eles estejam trabalhando como um grupo, embora seja raro eles aguentarem muito tempo juntos. O nível de violência e perigo, principalmente na região, é preocupante. E é por isso que tememos sua estadia.

Um minuto torturante de silêncio. Lissa mal havia chegado e já estavam pedindo para que ela vá embora, era isso mesmo? Era injusto, muito injusto.

- Guardião Belikov, entendo e agradeço a preocupação. – Sua voz era controlada e inexpressiva – Mas foram designados alguns guardiões a mim em minha estadia, creio que não haverá problema. Posso ficar dentro do hotel até isso se finalizar.

- Infelizmente essa não é uma escolha sua, Princesa. Nossas ordens são para escoltá-la até o heliporto do hotel assim que estiver prota. Haverá um helicóptero esperando para leva-la ao aeroporto e de lá deverá partir para a América.

- Então peço que me leve até quem emitiu essa ordem. Tenho certeza que poderemos encontrar uma maneira...

- Princesa. – Dimitri a interrompeu – As ordens vieram diretamente da Rainha.

Meu chão desapareceu e pensei que fosse despencar.

Não. O chão de Lissa desapareceu. Corri para sustenta-la antes que ela se encontrasse com o piso de carpete. Ela estava chocada, surpresa e muito irritada. Mas manteve as aparências.

- Meia hora. Estaremos prontos em meia hora. – Disse por fim – Obrigada, Belikov.

Dimitri não fez menção para que eu o seguisse; ele, na verdade, nem me olhou ao sair com os outros guardiões. Não fiquei chateada com isso, embora me incomodasse essa situação. Mas relevei. Tinha outras coisas em mente agora: a despedida da minha melhor amiga.

- Sinto muito. – disse à Lissa – Está uma bagunça aqui, eu te disse.

- Não há porque pedir desculpas, Rose. – Lissa sorriu e ela parecia estranhamente feliz – Pelo menos nos encontramos. E estou contente de ter vindo aqui e visto o quão feliz você está! Pensei que seu castigo seria bem pior, mas agora estou tranquila em saber que está sendo um grande aprendizado. O pior já passou.

- É. – Eu a abracei forte. – Sentirei sua falta, Lissa!

- Eu também! – Ela se afastou, mas manteve os braços ao meu redor – Vamos pensar positivo. Faltam menos de um ano agora para você voltar para casa! Enquanto isso, vou me esforçar para aprender mais sobre o Espírito até conseguir te visitar em sonhos! Não quero ter que me comunicar apenas por telefonemas.

Meu coração se apertou. Ir embora. Casa. Mais do que nunca, sentia que com a família Belikova eu estava em casa. Eu tinha uma mãe atenciosa lá, até uma avó ranzinza. E tinha Dimitri. Ele e sua família foram mais do que eu imaginava e não podia suportar o pensamento de perdê-los.

- Seria bom. – respondi apenas, esperando que meu ânimo não saísse falso aos seus ouvidos – Vou te passar o telefone da casa onde estou, ai podemos nos falar.

- Melhor que isso! – ela correu para a sua bolsa e tirou seu celular – Fique com ele. Vamos encarar isso como uma promessa de que iremos nos reencontrar e assim você poderá me devolver.

Não discuti como faria normalmente. Aceitei o empréstimo e guardei no bolso da calça. Adrian e Christian haviam se retirado silenciosamente para o quarto assim que Dimitri saiu pela porta, mas agora estavam de volta.

- Rose, foi bom te ver de novo. – Christian me abraçou rapidamente – Tente não enlouquecer o pessoal aqui, viu! Na próxima vez que forem te castigar eles podem não te querer e você vai ter que ir pra algum lugar terrível!

- Cabeça de fósforo, eles me amam, isso não vai acontecer. – eu ri batendo de leve em seu ombro – Foi bom te ver também, Chris.

Ele deu um beijo na testa de Liss e saiu para seu quarto, arrumar suas coisas. Lissa olhou de mim para Adrian e interpretou nossa troca de olhares da maneira errada. Sorriu e saiu com a desculpa de começar a se arrumar.

- Rose, eu ficaria, mas...

 - Não estou de pedindo pra ficar, Adrian.  – Interrompi – É perigoso. Essa luta não é sua.

- E nem sua. – retrucou. Silêncio se estendeu até que ele viesse até mim. – Isso não é um adeus. É um até logo.

- Claro, estarei esperando por você em meus sonhos. Literalmente.

Ele riu e me abraçou. Forte. Sentia-me culpada por não o amar como ele me amava. Mas poderíamos, pelo menos, sermos amigos.

- As coisas vão dar certo no final. – ele disse – Se não, eu faço dar.

Não entendi o que ele quis dizer, mas sabia que não me responderia diretamente se perguntasse. Me limitei a erguer o rosto e beijar seus lábios suavemente. Devia isso a ele. Não era um beijo de amor, ou cheio de promessas. Era o beijo dele. Para ele. E Adrian sabia disso.

- Okay então, pequena Damphir. É hora de seguirmos nossos caminhos. – Ele sorriu e foi até a porta – Cuide-se, está bem? E, pelo amor de Deus, não faça nenhuma loucura. Não tente se mortrar para o Belikov. Ele já sabe o quanto você é bom.

Ignorei os sentindos múltiplos da frase e sorri, assentindo. E então ele se foi.


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Notas finais do capítulo

Ai Deus, os vestibulares estão me matando! Mas consegui terminar o capítulo! Como podem perceber, eles estão mais curtos. Vou tentar manter isso deixa-los mais dinâmicos para que consiga concluir a fic - espero que em breve.
Então, o que acharam da atualização? Fraquinha né? Mas estamos culminando em acontecimentos terríveis! Os próximos capítulos serão decisivos - e cheios de sangue.
Pra quem tem conta no fanficion.net, eu estou postando a fic lá também. Quem tiver conta, me siga que eu sigo de volta!!!
http://www.fanfiction.net/~mariapsalles
Outra coisa, conhecem meu blog? Se não, deem uma olhada!!
http://jardim-de-borboletas.blogspot.com.br/
Até a próxima!
xx
@mariapsalles